My Tiger escrita por Escritora


Capítulo 3
Irmãos


Notas iniciais do capítulo

Espero que os três leitores que estejam acompanhando achem esse capítulo bom 'u'



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Kelsey chegou em casa depois de meia hora. Seu pai se desculpou por ter atrasado e deu a desculpa que estava colocando os quadros na parede da sala. A garota sabia que ele tinha se esquecido dela, mas não se preocupou muito pois suas únicas tarefas do dia seria organizar o quarto e ajudar a sua mãe a colocar os moveis no lugar.

O seu almoço fora um sanduíche congelado, porque a cozinha ainda não estava toda montada. Faltava ligar o fogão na rede de gás e organizar os alimentos na geladeira. Concluiu que, o mais difícil em organizar seu quarto era o fato de querer coloca-lo da mesma forma que na antiga casa. O cômodo que dormiria de agora em diante era maior e as várias janelas deixavam a luminosidade natural entrar.

A saudade era grande e Kelsey pensou que iria chorar ao ver novamente o papel com o numero da Manu. Precisava urgente comprar um telefone, essa era a meta dessa semana. Colocou a cama debaixo da janela que dava para a rua e o guarda-roupa na parede que ficava a porta. Suas caixas com foram abertas com cuidado para não marcar as roupas, que na maioria eram de tons preto, cinza e marrom. Os sapatos foram colocados em ordem para a escolha ser mais fácil e os livros apoiados em uma prateleira.

Sentiu um calafrio ao pensar que no dia seguinte teria que voltar para a escola. As instalações eram diferentes, a decoração espontânea e os alunos pareciam ser ricos. Kelsey, após arrumar o quarto, ficou um longo tempo olhando para a janela do quarto, tentando ver quem eram seus vizinhos. Percebeu que o bairro era de família, na maioria das casas havia crianças e os adultos estavam naquele momento voltando do serviço.

― Kelsey, querida, venha aqui em baixo! Temos visita. – gritou sua mãe da sala.

― Estou indo - respondeu um pouco seca.

Kelsey tirou o pijama e colocou calça jeans e uma camiseta branca - bem maior que sua numeração, mas confortável. Desceu para ver quem estaria visitando-os com um pouco de receio. Não queria encontrar a pessoa toda descabelada, porém não achou o pente que tinha colocado em cima da cama antes de ir para a escola.

― Anda Kelsey, ele está com pressa.

― Não se incomode senhora Hayes – respondeu a pessoa com uma voz calma.

Kelsey desceu as escadas hesitando e pensando quem seria, ninguém sabia que eles tinham se mudado e muito menos sua família conhecia alguém na cidade. A garota viu o terno marinho e logo um rosto com expressão acolhedora.

― Senhor Kadam? – perguntou confusa, após parar perto de sua mãe que servia um chá ao homem.

― Senhorita Kelsey – ele a cumprimentou – venho em nome da escola lhe dar as boas vindas, não tivemos tempo de lhe apresentar formalmente para os alunos.

― Tudo bem. Eu...

― Amanhã se a senhorita quiser fazemos isso no anfiteatro da escola. Recebemos um novo aluno também, mas ele se recusou a fazer isso.

― Eu acho... Que... Não precisa. Obrigada.

― Bom – ele se levantou após tomar o chá – Então tudo bem. Senhora Hayes seu chá estava divino. Lembra-me bastante o do meu país.

― Obrigada, que bom que ele foi do seu agrado.

― Já estou indo então. Até amanhã Kelsey.

Kadam se despediu e entrou no seu carro, um conversível preto de marca alemã. Kelsey continuou confusa e não estava entendo o porquê tinha que se apresentar tão formalmente na escola. Ela era somente uma aluna, isso não era algo demais.

― Educado ele, não? – comentou sua mãe sorrindo.

― Muito. – respondeu.

― O que aconteceu Kelsey? Desde que chegamos você está com essa cara desanimada.

― Nada mãe. Estou ainda me acostumando a nova vida... Não se preocupe.

― Olha, não vou me preocupar por enquanto, mas se continuar assim me fale. Farei o possível para que fique confortável. Não quero meu bebê triste. – sua mãe falou, sentando ao lado da filha e a abraçando.

― Mãe, não sou mais bebê – respondeu Kelsey e retribuiu o abraço – O ano que vem já termino o colégio.

― Você pensa que não sei disso. Mas, não quero que você vá embora. Acho que um dos motivos que fizeram seu pai concordar comigo em morar aqui, era o fato de ter uma universidade bem perto.

― A senhora pensou em tudo. – a garota sorriu e se levantou indo em direção ao quarto.

― Pensei em tudo, sou uma mãe esperta. – gritou depois que a filha se afastou.

Kelsey deitou na cama e adormeceu, acordando somente no outro dia. Não sabia o que tinha acontecido para dormir tanto. Olhou a sua volta e novamente levou um susto, a luz do Sol estava bem no rumo do seu rosto e por segundos a deixou tonta.

Arrumou-se como fez no dia anterior e seu pai a levou para a escola, dessa vez não teve a ajuda de Kishan para chegar à sua sala, então obrigou-se a lembrar, com muita dificuldade, onde era. Chegou à porta da sala e viu que a sua carteira tinha sido trocada, no lugar que estava havia escrito Alagan Dhiren Rajaram. Mais mudanças, pensou descontente.

Kelsey sentaria mais no fundo e em uma fila encostada na parede. Colocou seus materiais em baixo da mesa e apoiou sua cabeça, esperando a aula começar. Escutou várias vozes e até reconheceu a de Kishan.

― Ren, essa é sua sala. Não desaponte o senhor Kadam. – sussurrou o moreno com calma e parecia não querer que alguém ouvisse.

― Desculpe por ontem, ter quebrado... Seu braço. – respondeu Dhiren.

― Tudo bem, só não fique se lembrando dela. Acredito que será melhor assim. – Kishan falou.

― Tem certeza que preciso estudar? Você sabe que isso é desnecessário.

― Eu sei, mas o Sr. Kadam acha que temos que agir como pessoas normais enquanto não descobrimos como acabar logo com...

Kelsey não olhou para frente afim de ver se o braço de Kishan estava realmente quebrado. A garota escutou a carteira ser arrastada e levantou um pouco a cabeça para analisar se o tal Ren havia se sentado.

O moreno estava com os cabelos um pouco despenteados e jogados no rosto, impedindo Kelsey de ver os olhos azuis. A garota percebeu que ele tinha um jeito majestoso de fazer coisas, como colocar o caderno na mesa ou se sentar semelhante a algum rei ou príncipe. Ren analisava o jardim, estava muito concentrado em parecer normal e carismático.

Apesar de a garota acha-lo bonito, elegante e com o rosto de uma pessoa confiante, também, acreditava que era o tipo de cara que deveria ter fama de galinha. Normalmente, de acordo com Manu, os rapazes que apresentam um nível de beleza muito além da capacidade das meras mortais eram impossíveis de se domar e se achavam "o cara". Ren, de acordo com Kelsey se encaixava nessa definição.

― Idiota. – falou baixinho ainda olhando para ele.

Kelsey não esperava reação do rapaz, mas ficou surpresa quando ele se virou, olhou para ela e sorriu, mostrando os dentes brancos. Os olhos do rapaz eram realmente hipnotizando e a garota não conseguiu parar de olhá-los.

― Algum problema? – perguntou Ren.

― Hã? O... Que? – respondeu baixo com vergonha e pensando na possibilidade dele ter escutado a palavra "idiota".

― Você falou alguma coisa? – Interrogou novamente com um tom irônico.

― Na... Da. Não falei nada. – disse ainda mais baixo e gaguejando um pouco.

Ren a ignorou e se virou para frente, já que o professor tinha entrado e a sala começava a ficar cheia. As garotas passavam por ele sorrindo, dando tchauzinho e uma encorajou-se a perguntar se ele conhecia a escola, dando a desculpa que se não conhecesse ela poderia mostrar. Os professores, diferente de Kelsey, estavam animados e comentaram que Dhiren era indiano, portanto estaria na escola pelo resto do ano.

O recreio chegou rapidamente e Kelsey se sentou na mesma mesa que antes, a fila do lanche estava pequena então ela decidiu pegar algo. A comida da escola parecia ser boa, tinha sanduíches vegetarianos e normais, porém com peito de peru. Havia suco disponível nos sabores morango e laranja e também, chá. Kelsey voltou a mesa que continuava vazia e começou a comer.

― Posso sentar aqui? – perguntou alguém e ela levantou a cabeça.

Era Ren, seu uniforme estava um pouco aberto mostrando do seu peitoral bronzeado. Seus olhos azuis, novamente fizeram ela se perder um pouco na realidade e ficar em silêncio sem saber o que dizer.

― Não sei. – disse baixo.

― Então vou sentar assim mesmo. – ele falou de forma rude, mas com um sorriso de lado.

Ren tinha colocado em sua bandeja três sanduíches vegetarianos e ainda um copo de chá e suco de laranja. Kelsey estava surpreendida com o tanto de comida que havia naquele pequeno prato e na rapidez com que ele comia.

― Aceita? – Ren perguntou depois que percebeu que Kelsey olhava para ele.

― Não, obrigada – respondeu quase como se fosse um sussurro.

― Olha, eu acho que até hoje ninguém percebeu sua presença porque você fala baixo demais. Ainda bem que tenho bons ouvidos.

― Eu... Na... Não... Pedi...

― Minha opinião? É, eu sei. – disse com sarcasmo.

Ren conseguira deixar Kelsey irritada e incomodada, ele estava chamando muita atenção. As pessoas estavam olhando para a mesa e ela sentiu como se estivesse em um filme de terror. Quando estudava no outro colégio demorou a se acostumar com a cantina. No começo das aulas ficava na sala de aula, mas ali na nova escola era proibido ficar na sala.

― Sr. Kadam disse que você era aluna nova. E que talvez quisesse se apresentar. Ainda bem que não quis, porque se falasse que estava disposta a fazer isso ele iria me obrigar a fazer o mesmo.

Kelsey fez silêncio e continuou a comer seu sanduíche.

―Está gostoso? – Ren pergunto, todavia a garota não respondeu – Ah! Está certo, você vai me ignorar! Que atitude, como é a palavra mesmo?... Śiśu... Infantil.

― Estou... – tentou falar enquanto mastigava e para não cuspir na mesma colocou a mão em frente a boca – Comendo. Mastigan... Do

Ren ficou atônito quando percebeu que ela realmente estava mastigando e até se sentiu um pouco chateado com a situação. Pensou que deveria ter se sentado com Kishan ou com o Sr. Kadam em sua sala.

― Já vou indo – comentou e se levantou atraindo olhares para enquanto atravessava o refeitório.

Kelsey queria atacá-lo ou de certa forma somente ignorar mesmo, mas sabia que seria impossível fazer isso. Ren tinha uma presença muito grande e dava para perceber que sempre era alvo de olhares curiosos, inclusive do dela.

A garota se levantou e colocou a bandeja no lugar de vasilhas sujas para as cantineiras lavarem. Saiu do refeitório e percebeu que também atraiu olhares de algumas garotas. Kishan encarava curioso desde quando Ren sentou junto com ela.

Kelsey estava perdida, não para se localizar, mas sim, para entender o porquê de todos a olharem como se tivesse cometido um crime. Foi até o banheiro lavar as mãos e viu um grupo de garotas. Sem querer, ao se aproximar delas, acabou escutando a conversa das meninas.

― Vocês viram o aluno novo? Ele chegou ontem!

― Aqueles olhos. Aquele corpo. Ele não é irmão de Kishan? – falava uma toda animada.

― Sim, ele é irmão do lindo do Kishan. Amy disse que ele chama o irmão de Ren.

―Ren?! Isso é muito fofo.

Kelsey estava já entediada daquela conversa até que escutou seu nome ser pronunciado.

― Dizem que uma tal de Hayes, sentou com ele hoje no recreio. Parece que ela também é aluna nova. Será que eles se conhecem?

― Hayes? Nossa que nome. Deve ser atirada, para já entrar em uma escola e pegar o outro aluno novo. Essas são as piores.

Kelsey pela primeira vez em toda sua vida se sentiu traída, não por alguém mas por si mesma. Sentiu-se traída por ter aceitado que Ren tivesse sentado junto com ela no recreio. Deveria ter feito o que Manu disse uma vez “se sentir que não está confortável perto de uma pessoa saia de perto dela”

Deveria ter feito isso, saído de perto de Ren. Não bastava ter o desejo de ignorar.

Foi para sala e sentou antes mesmo do recreio terminar, estava determinada a pedir que Ren se afastasse dela se ele viesse conversar ou comentasse algo. O sinal bateu e os alunos e professores entraram, menos Ren que parecia estar atrasado.

― Licença – ele disse dez minutos depois da aula começar.

― Toda senhor Rajaram. – o professor respondeu.

― Antes de entrar posso fazer um comunicado? – Ren perguntou.

― Sim. – o professor respondeu com uma expressão de quem comeu e não gostou.

― Aquela garota ali – ele apontou para Kelsey – não tem nada comigo. Quem foi o babaca que inventou isso logo no meu primeiro dia de aula?


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Notas finais do capítulo

E ai? O que acharam, precisa melhorar algo? Vou lançar uma campanha " Leitores fora do anonimato" será que vai funcionar? rsrsrs