Mantendo O Equilíbrio escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 28
Capítulo 28


Notas iniciais do capítulo

Dica de cast para Murilo Lins?
Acho que não há pessoa mais "murilística" que o ator Channing Tatum http://instagram.com/p/YyoxvUgCDf/ ♥

E tem Murilo nesse post.
Enjoy.



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Dona Bia não trabalha aos domingos, por isso que, ao me certificar que Murilo estava dormindo na sua cama, decidi preparar logo o almoço. Ela deixou praticamente no ponto de só esquentar, mas acabei incrementando mais pra poder me distrair. Deixei a TV ligada num canal de séries procurando um foco diferente, acontece que quase de súbito me veio a história do porta-retratos quando um na TV se espatifou num terremoto. Verifiquei o almoço para não queimar e saí para checar o território. Estava de volta ao meu filme espião para esconder as evidências.

Silenciosamente passei pelo quarto do meu irmão e me certifiquei de que ele estava mesmo apagado. Segui para o meu pra pegar o CD que tinha colocado debaixo de uma pilha de livros e cuidadosamente o levei para a sala. Liguei meu notebook, coloquei o CD e fui checar as imagens. Eram perfeitas. Escuras, sem som, altamente hilárias. Naquela hora eu não tinha prestado atenção nas feições do meu irmão, agora tinha tudo em perfeita visão. Coloco de volta à capa e, antes de levantar, me pergunto o que esses seguranças devem ver no dia-a-dia, além das próprias emergências do estabelecimento. Ainda bem que existe lei que proteja essas imagens, no entanto cá tenho um CD com algumas. Quer dizer que as pessoas podem conseguir também se tiverem os contatos certos... como o Diogo deve ter pago esse “serviço” eu me pergunto. Sei nem quando vou vê-lo novamente ou se ainda vou vê-lo... a cidade não é tão ovo assim.

Trilha citada/indicada: Limp Bizkit – Take A Look Around

http://www.youtube.com/watch?v=b3ZB4cuzMdI&feature=fvst

Alcanço o box-porta-retratos na mesa perto do sofá e com todo cuidado tento abrir. Mexendo nela sinto que tem algum objeto solto dentro, de tamanho pequeno, que bate por dentro enquanto puxo para descolar os lados. É um pen-drive. Me vem à cabeça aquele instrumental típico do Missão Impossível, enquanto o analiso em mãos, numa mistura que começa com o baixo, o prato da bateria e então a guitarra. Ironicamente, olho para os lados checando o ambiente – digo ironicamente por causa da música “Take a Look around” do Limp Bizkit que é tema do filme. Com esse impulso, coloco o pen-drive no meu notebook pra vasculhar.

Dou uma olhada geral, entrando em todas as cinco pastas dispostas, encontrando várias fotos comprometedoras do ambiente de trabalho do meu irmão. Deviam ser os caras que armaram pra ele e essa são as imagens de vingança dele. Há, não acredito que achei esse diamante! Esse povo devia cuidar de prestar atenção quando bebem demais, porque merda todo mundo faz, mas ninguém se liga naqueles que estão mais sóbrios, tirando fotos e filmando tudo.

Filmando...?

Caço a pasta de vídeos e... lá está: “acidente com a impressora”. Nem me digno a ver, tenho a memória ainda um pouco fresca daquele dia. Apago na mesma hora.

Não acredito que ele tenha pensado nesse esconderijo... Eu poderia sumir com esse pen-drive, mas logo ele iria descobrir. Não, a melhor pegadinha é aquela que o outro nem sente que já foi pego... Minha mente maquina e decido deixar o pen-drive onde encontrei, do mesmo jeito, dando a ele confiança que não foi descoberto. Até ele ver que não tem mais meu vídeo vai demorar... Agora sim estou um longo passo a sua frente. Ninguém mandou mexer comigo.

Fecho o box-porta-retratos com um sorriso maléfico nos lábios, implodindo o que seria uma boa gargalhada maldosa para não chamar atenção. Só preciso de um bom esconderijo para meu CD, as novas evidências. Penso em locais bem inusitados, o importante é fazer com que ele nunca pense num lugar desses... como o porta-retratos, que é bem óbvio ao mesmo tempo que pareceria que ninguém pensaria nessa obviedade. Rodo toda a casa, checo a cozinha pra tirar o almoço do fogão e acabo voltando pra sala. Sentada, fico a observar cada detalhe da sala na procura desse esconderijo perfeito.

Encontro um.

Per-fei-to.

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Por todo resto do domingo ninguém ligou da casa dos Garra. Não liguei também, melhor dar um espaço pra eles... devem estar enrolados com essa coisa toda de família e do acidente, precisam de um tempo apenas para eles. Isso não significa que não me deixou bem curiosa, porque me peguei várias vezes roendo unha e pensando sobre isso enquanto curtia uma preguiça com meu irmão no sofá da sala.

Se ele soubesse que está tão tão perto das suas “evidências’... se ele soubesse que elas existem e que tenho posse delas... Espero pelo momento certo. Nesse meio tempo faço um carinho na peste que estava com a cabeça deitada no meu colo esperando a ressaca passar. Ele não tinha visão suficiente pra me pegar planejando ao longe meu plano.

Acabei por contá-lo a história que não terminei no outro dia sobre o tal segredo. Ele ficou tão chocado quanto eu, disse pra eu tomar cuidado com essas informações que eu tinha, o que era bastante irônico, pois parecia que ele falava de si mesmo não sabendo. Fui atriz e disse que sabia o que estava fazendo, ou pensava saber, até porque Djane planeja contar tudo. Tínhamos que nos preparar para essa batalha, eu lhe disse.

- Eu também?

- Sim, ele vai precisar de todo apoio quando souber. Não é uma coisa fácil de se lidar... mesmo não sendo mais criança. Imagina se mamãe e papai te escondessem uma coisa dessas? Vinícius já não se dá bem com eles, com essa história então...

- Como que Djane deixou que isso chegasse a esse ponto?

- Sei lá como ela aguentou... penso que tenha sido sua insegurança. Com o tempo tudo foi piorando, como aquela história de uma pequena mentira que vira uma bola de neve. Uma hora a pessoa fica sem saída, ou amassa essa bola ou deixe que ela te amasse.

- Você realmente se apegou a eles, né? Acho legal isso... Pode contar comigo também, pra qualquer coisa, você sabe.

- Valeu... Falando nisso, você não me disse o que tinha pra falar comigo, de sexta-feira na casa de Djane, lembra?

Ele levanta minimamente a cabeça com um olho semicerrado, acho que tentando lembrar, esperando a ficha cair. Então se senta direito no sofá, me deixando um tanto apreensiva. Se fosse qualquer besteira, ele já teria falado sem rodeios, não ficaria fazendo suspense.

- É que... quando eu tava no banheiro, antes de ir embora, eu ouvi um pedaço da conversa do Vinícius com a Becca. E foi bem estranho.

- Estranho como? Conta.

Sento melhor no sofá para ficar virada pra ele. Murilo gesticulava com as mãos, indeciso de falar ou como contar. Suas expressões ficaram bem claras quanto a isso.

- Eu num sei se é legal eu contar, sabe? Vai saber do que eles estavam falando... posso ter entendido errado.

- Diz desse jeito mesmo. Eu te contei sobre a bomba, mereço um retorno, né?

- Ok. Bom, eu ia abrindo a porta do banheiro quando ouvi que eles passaram pro quarto, falavam baixo, mas consegui ouvir uma parte. Eles entraram no quarto e deixaram a porta entreaberta...

- E o que eles falaram?

- Ouvi Becca dizer algo como “temos que dar um jeito nisso”. Mencionou uma briga que tiveram antes do acidente, de algum “acordo” que eles fizeram e que ninguém poderia descobrir, principalmente a família dela. Tinha alguma coisa com o pai dela também, que ela falou num tom mais brincalhão, só que isso eu já não ouvi bem.

- Estranho. Vinícius falou alguma coisa?

- Não muito. Só concordou que tinham que resolver o tal assunto, falou do tio dele que parece que não tava sabendo e acho que se desculpou de alguma coisa... Fiquei de te perguntar se sabia algo sobre o assunto e esqueci. E então?

- Não, não me vem nada na cabeça sobre isso. Apesar de ela ter mencionado quando estava indo embora que tinha um casamento no dia seguinte, que por isso não poderia ir à reunião informal dele de sábado e ele não poderia acompanhá-la porque o pai dela parece que não gostava dele. Algo assim.

- Misterioso... você vai perguntar sobre?

- Não. Acho melhor não... pelo menos por enquanto. Isso é coisa que ele tem que resolver por ele mesmo, acho. Ainda tem muita coisa da vida dele pra reorganizar agora que está de volta. Não deve ser fácil, melhor não interferir.

- Hum. Ah, outra coisa. Como sucedeu a madrugada? Essa com os trovões? Você disse que ele te ajudou... como foi isso?

- Er... ajudando.

Murilo levanta uma sobrancelha daquelas suspeitas e sua feição logo muda pra desconfiado. Pra evitar maiores casos, até porque eu também tentava não pensar muito sobre isso, resolvo usar de alguns detalhes pra ele não notar a omissão de fatos, como num resumo mesmo, pois a mentira sempre se encontra nos detalhes. Não tendo como ele saber do ocorrido, ele não vai sacar a diferença.

Não que eu esteja mentindo, só... não quero dividir todos os fatos. Porque com ele funciona desse jeito, é minha defesa para quando ele toma essa postura de protetor, então tenho que falar “muito” – vulgo enrolation – pra não ter que ir a fundo ao assunto, pois se eu respondo brevemente, as coisas ficam mais suspeitas. Com breve dar de ombros, mostro que não teve algo demais para se preocupar, então olho não diretamente em seus olhos para não dar alarme.

- Fui pro quarto de hóspedes dormir. Era até cedo, eu que tava morrendo de sono... deixei ele com a lanterna e fiquei com a luz do meu celular. Quando foi na madrugada e os trovões começaram, fui pra sala porque comecei com... aqueles meus ataques nervosos... então queria ficar quietinha, porque no quarto eu parecia mais apavorada. Aí... ele apareceu na sala com a lanterna... acho que tava acordado pelos trovões muito altos, sei lá... ele num disse. Quando me viu naquele estado... bom, ele ficou sentado comigo no sofá, conversando para que eu mudasse o foco e não ficasse com tanto medo. Com alguns joguinhos, ele me distraiu até que as coisas passassem. Foi uma boa estratégia, temos que admitir.

Ele baixa a guarda, fitando-me com pesar. Ele sabe o quão desconfortável eu fico quando se trata de trovões, tantas noites eu o perturbei com isso. Não é a toa que eu odeio esse tipo de reação “natural” minha, porque além de me atingir, acabo fazendo os outros se preocuparem. Pior que é inevitável, pior mesmo que um simples medo de agulhas... Disso acho que ninguém deveria rir, eu mesma não o faço. Digo dos trovões, não das agulhas, pois mesmo não sendo fã também, disso eu sei que é válido rir.

- Parece mesmo uma boa estratégia. Vou agradecê-lo quando o vir.

- Aí você quer terminar de me matar, né?

- O quê? Eu tenho que agradecer, oras... ele cuidou de você. Sabe quão difícil é te proteger das coisas? O que tem eu falar “obrigado” pro cara?

- Tem que eu quero deixar isso de lado, sabe que eu não gosto de ficar comentando isso. Já o agradeci, é o bastante...

- Rum. Tem certeza que é só isso?

- Murilo, num começa, tá? Melhor voltar pro filme que eu só tô esperando acabar pra poder ir dormir. Tá quase na cena que os caras vão voar pelas janelas.

- Pô, Milena, num conta sobre o filme.

- Você já assistiu, que mal tem?

- É que eu num lembro mais, então “shiu” que eu quero descobrir como eles vão sair dessa situação.

Rio do seu bico investigativo. É bom saber que posso desviar rápido do assunto sem que ele perceba, tanto que tudo acontece tão naturalmente por estar acostumada a isso. Quando se tem um irmão como ele, tem que se aprender rápido alguns truques antes que tudo caminhe pro lado errado. O fato é que, quando se acostuma a ter esse controle, a coisa tende a desandar quando surge alguém para competir sobre.

Murilo ajeita o travesseiro no meu colo para se acomodar melhor, vidrado na televisão em uma hipnose para descobrir a ação do assassino. Sabendo do final já nem ligo para o filme, me deixo cair em pensamentos de novo, permitindo tê-lo em mente mais um pouquinho... Quanto mais me pergunto por que não devo pensar nele, mais me torturo porque a resposta sempre me leva a pensar novamente e entro nesse ciclo de pegadinhas. 

Ele me teve ali, exposta, entregue e cabeça-dura... me enfrentou quando quis erguer minhas paredes para evitar o que não devo sentir. O pior mesmo não é o fato de criar esses muros ou puxar o controle de volta das mãos dele, é saber que pelo mínimo de tempo que ele me roubara isso, ele teve posse da razão... porque ele está certo, fui e sou fraca a ponto de pedir que a única noite que tanto nos significou fosse apagada. Eis mais uma verdade que tenho que admitir: não podemos seguir nossos próprios conselhos, temos que esperar alguém de fora pra nos dizer tamanha coisa que está a nossa frente.

Talvez eu tenha estado tanto do outro lado dizendo as coisas para as pessoas, ajudando-as mesmo não entendendo o porquê de seus problemas, que me esqueci de como nem sempre vamos fazer esse papel. Ou talvez só queria evitar ao máximo ser fraca, tanto que fui fraca por achar que isso fosse possível. Confuso é pouco pra se dizer disso.

Com o fim do filme, meu irmão levanta, desliga a televisão à distância, dá boa-noite e meio trôpego segue para seu quarto. O controle-remoto da televisão que ele jogou no sofá deita ao meu lado como um objeto qualquer que eu teria fácil acesso. É lembrete o bastante de que o controle da situação que tanto prezo deslizou para outras mãos e que tenho que pegar de volta. Nem que eu tenha que roubar para conseguir que as coisas voltem a se ajeitar... Então, inconscientemente, ele me força mais uma vez a ser criminosa.

O suspiro que foge de mim chega a ser resignado. Fica claro que mesmo longe ele consegue embaralhar meus pensamentos e me deixa sem ação, porque também não dá pra fugir. Uma última olhada no controle-remoto da TV e vou para a cama. É, não dá pra ter o controle de tudo... apenas nos jogar nas expectativas. Aquelas que nos anima da mesma forma que nos assusta por se sentir tão ligada a isso.

A prova maior disso é a mensagem que visualizo no celular antes de dormir, a hora que poucas palavras te dão a certeza que algo bom é possível de se conseguir e te deixam temerosa do quanto isso pode chegar a machucar. As palavras são de Djane, diz que tenho razão, que esse domingo lhe mostrou que ela tem chances que tanto buscou para acalmar seu coração de mãe. A marca de tempo da mensagem data fim de tarde, me fazendo desejar ter visto um pouco antes para que pudesse ligar e perguntar, saciar um pouco dessa curiosidade que me sobe. Mas me contento, as coisas estão andando.

FIM DA PRIMEIRA TEMPORADA


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Notas finais do capítulo

Último capítulo da temporada, mas tem muitos ainda por vir, prometo.



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