Parte 3

Enxugo as mãos nos bolsos da calça jeans, por conta de estar transpirando um pouco mais do que devia. Respirando fundo, engolindo em seco, tamanho nervosismo que toma conta de mim.

Tentar uma aproximação não vai me matar, certo? Afinal, não é um bicho de sete cabeças. É apenas David e sua única cabeça loira. Loira e linda... E provavelmente, com cabelos que exalam uma fragrância realmente agradável. Tão – ou mais - agradável como observar o sol se pondo.

Sou só um garoto qualquer, sentado em frente à sua casa, apenas observando o movimento... Ou não. E se David desconfiar de algo?

“Talvez isso seja uma má idéia.” – penso, já levantando para entrar em casa novamente. Porém, antes que possa girar os calcanhares, o vento sopra mais forte, agitando meus cabelos, e me obrigando a dar mais uma olhada ao redor.

David.

Ele vem sorridente como sempre, mas desta vez, vem sozinho, e não acompanhado de sua irmã como nos outros dias. Um sorriso bobo e involuntário desponta em meus lábios, e eu permaneço imóvel ali, apenas o observando como sempre. Entretanto, desta vez ele está me vendo observá-lo, o que faz meu coração acelerar consideravelmente.

Oh, não.

Não pode ser.

Arregalo os olhos ao ver que David não está exatamente andando em direção à sua casa, mas em minha direção. O que me deixa apenas duas opções: Entrar em casa correndo, como se não tivesse o visto (o que seria completamente idiota, pois ele sabe que o vi), ou ficar ali parado, agindo normalmente e tentar iniciar um diálogo decente com ele; algo que passe de “oi, tudo bom?”, pois isso seria realmente embaraçoso.

O nervosismo me consome. As mãos geladas e o coração acelerado, e pra completar, as minhas pernas não querem colaborar. Ah, minha nossa, ele está chegando. E agora, o que eu faço?

- Hey. – ele diz. Oh, minha nossa, que voz linda. Havia sonhado várias vezes com a sua voz, mas em nenhum dos sonhos, chegara a ser tão bonita como na realidade. Ele sorri meio desconcertado, provavelmente por conta da minha demora para responder. Arregalo os olhos. Preciso dizer algo logo.

- Posso te abraçar? – meus olhos se arregalam mais ainda ao perceber o que disse. Limpo a garganta e David solta um “hã?”, não entendeu o que eu quis dizer, ou realmente não ouviu. Eu rezei para que fosse a segunda opção. Levanto-me do chão rapidamente, me apressando em consertar o que disse. – D-Digo, posso te ajudar? – enfatizo a última palavra, e ele sorri.

Aquele sorriso oh-tão-charmoso que me faz estremecer por completo. Ele tem um piercing no lábio inferior, e isso o torna mais sexy do que já é. Por um momento, fico com o olhar fixo na jóia, hipnotizado, sendo invadido por uma vontade de morder o piercing, precisando segurar fortemente os ímpetos de fazê-lo.

- Ah, eu apenas o vi aqui sozinho, então resolvi vir dar um alô, já que somos vizinhos. – ele fala com o tom de voz baixo, bastante gentil, exatamente como eu imaginei. Hey, já não estou mais tão nervoso quanto antes. Deve ser algo em David que me acalma.

- Oh, claro. – sorrio amigavelmente, tentando não demonstrar expressão alguma em meu rosto, mas falhando completamente. – Sou Pierre Bouvier. – estendo a mão para cumprimentá-lo.

- David Desrosiers. Prazer. – ele leva a mão macia e quente até a minha, cumprimentando suavemente. Oh, David. O prazer é todo meu. Ele suga o piercing do lábio para dentro da boca de uma forma extremamente sexy (mesmo que ele não tenha essa intenção), e nesse momento, minhas pernas bambeiam. Deus, como pode existir um ser tão perfeito quando David?

Um silêncio repentino – e levemente incômodo - invade o local. Minha nossa, e agora? Preciso urgentemente de um assunto. Mas sobre o que falar? Futebol? Filmes? As crianças da África?

Entretanto, antes que eu possa dizer algo, a voz de Desrosiers soa bem próximo ao meu ouvido. Mais próximo do que deveria. – Eu sei, Pierre. – beeem mais próximo do que deveria. Ele sussurra de uma forma provocante, e eu sinto seu hálito quente em minha pele, fazendo com que os pêlos do meu corpo se arrepiem e...

Espere. O que ele sabe?

Fim da parte 3