Capitulo 9: Inside Out

Tomo consciência lentamente quando sinto algo se remexer perto do meu pé, mas o que é isso?! Ainda de olhos fechados tento me lembrar da noite passada, mas a partir de uma parte, minhas memorias se tornam borradas e mal me lembro se estou em casa ou não.

Mas me lembro perfeitamente da conversa que ouvi – sem querer, eu juro! – entre Ryu e seu irmão mais velho, Tohru.

Então quer dizer que Tohru sempre soube que Ryu tinha sentimentos por mim? E nunca me contou! Que safado! Tudo bem que é o irmão dele, mas mesmo assim. Eu tinha ficado no escuro por anos sem saber disso. E admito que fico um pouco envergonhada pelo o que foi dito naquela conversa.

Eu tinha pensado por um tempo sobre Tohru mas não me lembro de em nenhum momento essas coisas acontecerem. Eu nunca corri dele, nem ficava sem graça ou envergonhada, muito menos sentia essa intensidade toda que sinto agora. Talvez eu nunca soubesse diferenciar os sentimentos.

Quem sabe o que eu sinto, ou sentia por Tohru ainda permaneça, mas agora eu sei o que significa. Eu nunca pensei em ficar para sempre com Tohru, só gostava de estar com ele.

Mas sentimentos sempre estiveram com Ryu, mas eu nunca percebi isso ... Ate agora.

Abro os olhos espantada ao me dar conta do que acabei de pensar e quando acho que não pode piorar, vejo Tohru parado ao lado da minha cama junto com Ryu e minha mãe.

Hã, eles estavam me vendo dormir? É isso mesmo?

Com certeza minha cara deve ter denunciado meus pensamentos pois Tohru é o primeiro á se explicar.

–Chi! Estávamos esperando você acordar – Ah sim, faz sentido, bem mais do que os três ficarem me observando dormir. Esse pensamento é assustador, quem sabe eu acabe falando enquanto eu durmo? – Você está se sentindo bem?

Ergo-me e sento na cama com as costas encostadas na cabeceira da cama. Percebo que Ryu é o mais distante de todos, como se tivesse medo, ou algo do tipo. Mas por quê?

O que será que eu fiz agora meu deus?!

–Na verdade não – Respondo confusa e assustada – Porque Ryu está tão longe assim?

Na verdade longe é eufemismo, ele estava quase fora do meu quarto, encostado na porta com meio corpo para fora.

Minha mãe ri e minha mente automaticamente entra em alerta.

Prepara-se Chizuru que vem algo para você se envergonhar pelo resto da sua vida!

Mas inesperadamente quem responde é Tohru enquanto minha mãe continua sentada ao pé da minha cama rindo.

–Ah bem ... Aconteceu que você ‘sem querer’ ingeriu algum tipo de álcool na festa, Chi – Tohru me olha fixamente mas está sorrindo largamente, como se o fato de eu ter ficado bêbada acidentalmente fosse a melhor coisa do mundo – Ryu a trouxe para casa e eu fui busca-los. Então logo que chegamos explicamos para sua mãe o que aconteceu, por isso não se preocupe, mas eu realmente não consegui arranjar explicação para ela sobre você querer levar Ryu para dormir na cama junto com você.

Meu rosto se petrifica ao ouvir isso, acho que minha alma foi para outro plano porque eu não consigo sentir mais nada, nem os olhares que todos me dão, inclusive Ryu.

EU. NÃO. ACREDITO. QUE. FIZ. ISSO!

Tento vasculhar minhas lembranças, mas não acho nada disso. Ate que uma cena me vem à mente.

Eu tonta, tentado me equilibrar e Ryu me segurando me ajudando a deitar na cama, na imagem seguinte percebo que Ryu está tentando se soltar de meu abraço de urso e tento puxa-lo para a cama junto comigo. Minha mãe entra no quarto e simplesmente olha para cena sorrindo, ate que Ryu pede ajuda á ela e consegue – com muito sacrifício – me desprender de Ryu. Eu resmungo, mas logo paro ao sentir o travesseiro macio em minha cabeça e antes mesmo que eles me percebessem, já havia dormido.

Volto para a realidade ainda petrificada, não sei como agir, nem o que dizer. Não, espera, eu tenho o melhor álibi que poderia existir!

–Eu estava bêbada – Digo exasperada – Não sei como, mas estava, então isso não deve ser levado em consideração, assunto encerrado!

Cruzo os braços em meu peito e percebo que na minha memoria tinha uma falha durante a cena do quarto e que nela eu ainda estava de vestido, mas agora eu percebo que estou de vestido ainda, mas esse é o que eu uso para dormir, que a proposito é muito curto, curto demais!

Eles seguem meu olhar e percebem para onde eu estava olhando.

–Sua mãe trocou a sua roupa Chizu – Ryu diz olhando de longe para mim e percebo que ele esta usando seu boné novamente, mas está cobrindo boa parte de seu rosto.

Olho para ele de volta e aceno positivamente com a cabeça. Ele não pareceu demonstrar nenhuma reação quando Tohru disse aquela coisa constrangedora.

Tohru se levanta bruscamente e eu me assusto.

–Bem Chi, vamos indo. Eu tenho que ir embora hoje á tarde, ah e não se preocupe trarei Haruka para fazer uma visita assim que o medico libera-la – Ele sorri largamente mais uma vez e vai caminhando a passos lentos em direção á porta. Ryu o acompanha e minha mãe vai logo atrás, e eu fico sentada desolada em minha cama.

Ah cara por tudo sempre tem que ser tão difícil?!

Quando eu não achava que a situação ficaria pior, percebo meu telefone tocando e vejo quem é, e logo me arrependo de ter atendido.

–Bom dia Chizu – Ouço a voz de Ayane saindo pelo auto falante do telefone celular.

Ah deus, será que fiz mais alguma coisa para que eu me arrependa amargamente pelo resto da minha vida?!

–Bom dia Ayane-Chin – Respondo tão animada que certamente ela deve ter desmaiado de sono.

–Nossa que animação hein, então como você está?

–Estou bem, eu acho – Me lembro de como minha manha já havia começado e percebo que esse ‘estou bem’ é completamente falso.

–Imagino, ah a propósito pegaram quem estava misturando bebidas alcoólicas com os refrigerantes e sucos, você não foi a única vitima. Era amigo de um aluno e acabou sendo expulso da festa, olha você perdeu, mas acho que a sua noite deve ter terminado muito bem, ainda mais porque estava com Ryu – Sua voz se altera para o modo malicioso no fim da frase.

Sinto o meu mau humor piorar para péssimo humor. Mas porque ela teve que lembrar disso agora?!

–Na verdade nem me lembro, afinal eu estava bêbada. Á proposito se você, por acaso, ouvir uma historia estranha sobre eu ter puxado Ryu junto comigo para a minha cama já digo logo que é ...

–você fez o que?! – Fico impressionada com o tom de sua voz, não sabia que a voz da Ayane-Chin podia atingir essas notas tão altas.

Eu estava bêbada! – Exaspero-me e sem perceber acabo batendo a cabeça na cabeceira da cama. Ai, essa doeu mesmo. Culpa do Ryu! Não sei por que, mas a culpa é dele!

–Já ouvi essa desculpa antes Chizu, tsk – Sua voz agora atingiu o nível máximo de malicia – admito que a subestimei, mas não acho que você poderá continuar com isso.

Hã? Do que ela está falando?

–Não sei o porque mas sinto que não devo perguntar o porque você disse isso – Uma aura depressiva me cobre da cabeça aos pés agora.

–Ora você esqueceu? Durante a festa você teve vários pretendentes, inclusive o Joe, mas você usou Ryu para parecer que vocês eram namorados e afasta-los. Na verdade acho, não, eu tenho certeza que Ryu deve ter ficado muito aliviado com isso – Ela solta uma risadinha como se lembrasse de algo – Alias todos eram da escola, então eu acho melhor você continuar com esse teatrinho, senão eu não sei o que pode acontecer.

Ah cara, por essa eu na espera, mas me lembrava disso. O que também me lembra do ... Qual era o nome dele mesmo? Esqueci. Acho que a doença de esquecer nomes do Ryu passou para mim. Enfim ele também deve estar achando que estamos juntos, mas ele não tentou dar em cima de mim. Acho que eu já estava ficando bêbada quando falei aquilo para ele.

Nós moramos perto um do outro e foi ai que tudo começou.

Estremeço só de pensar nas minhas palavras, mas Ayane-Chin tem razão. Ao menos na escola terei que deixar do jeito que está.

–Você tem razão – Digo em derrota – Mas quero que você me ajude, afinal, você tem mais experiência nesse assunto de garotos, ao contrario de mim.

–Mas é claro que te ajudarei Chizu – Não sei o porquê mas sua voz soa maligna, como se ela já estivesse tramando algum plano – E para começar nos encontraremos ai em meia hora.

–Por quê?! Outra festa não!

–Você quer ajuda ou não? Posso te dar umas dicas.

–Você fala como se eu quisesse dicas para conquistar Ryu – Estreito os olhos.

–Ah mas é claro que não, sem minhas dicas você já conseguiu isso – Enrubesço imediatamente. Ela tinha que lembrar disso! Embora eu ainda não saiba o que ele tenha visto de tão irresistível em mim.

–Na verdade Ayane-Chin gostaria de falar com você algo a respeito disso tudo ...

–Pelo telefone não, eu já estou saindo de casa e já estou ai, ate logo – Ela desliga na minha cara e eu fico encarando o telefone celular em minha mão sem entender esse desespero todo em vir até aqui.

Enquanto isso, cruzo as pernas em meu peito e as abraço. Se isso for o que eu sinto mesmo, o que eu deveria fazer?