Ele me olhava com uma cara assustada, não sabia se olhava para mim ou para as fotos. Seus olhos estavam arregalados e ele estava muito perdido nos próprios pensamentos.

–Deixa eu adivinhar. - falei - Está pensando "o que é isso? Ela descobriu?" Sim, eu descobri.

–Do que está falando? - ele riu tentando disfarçar - Eu não estou entendendo Page.

–Está sim, Vini, não precisa mais mentir, olha essa sua atitude não foi nada legal. Por que faz isso com o Blame?

–Mas... - ele tentou pensar em algo mas viu não me convenceria então sua expressão mudou bruscamente - Ele é um idiota, não merece as namoradas que tem. Quer dizer, por que vocês gosta dele? Sentem pena dele?

–Na verdade sinto pena de você. Se ele é assim tão idiota, por que sente tanta inveja dele?

–Inveja? - ele soltou uma gargalhada- Não tenho inveja do Blame, ficou doida?

–Por qual outro motivo você faria isso com ele? Por que deixá-lo vulnerável te deixa forte? Que covardia.- perguntei firme - Você tem inveja, e ele não é um retardado mental ou algo do tipo, então se eu fosse você, ficava longe da gente.

–É? Ou o quê?

–Ou nada, só fique. Se quiser pagar para ver, tudo bem, é um país livre mas acho que é melhor se ocupar procurando amor próprio. Saia daqui.

Ele relutou.

–Saia daqui! - gritei o mais alto que pude.

Vini saiu pela porta com o olhar transbordando raiva, quando ele saiu um peso pareceu se aliviar dentro de mim. Sorri sozinha. Me levantei e fui recolher as fotos.

Observei o quanto Rebeca era linda e me perguntei o que acontecera com ela, eu nunca a tinha visto. Pensei que perguntar isso para o Blame seria arriscado, mas mesmo assim eu queria que ele estivesse preparado para esquecer esta parte da sua vida e seguir em frente comigo.

Decidi que perguntaria depois, agora que precisava descansar muito. Me joguei na cama e fiquei apenas pensando. Tentei não me lembrar dos meus amigos que eu deixara para trás, já estava cansada de chorar por hoje.

Olhei no relógio e ainda eram três da tarde. Suspirei entediada, não ter nada para fazer é sempre algo frequente nos sábados da minha vida. Mas eu queria mesmo ficar deitada olhando para o teto sem fazer absolutamente nada. Eu gostava dessa sensação de estar à toa.

Coloquei uma música para tocar no som. Eu não sabia qual iria tocar porque havia um CD lá dentro há dias e eu não me lembrava qual. Então meus ouvidos se animaram ao ouvir Pumped up Kicks, uma de minhas músicas favoritas em todo o mundo.

Eu cantava mentalmente e quando chegou no refrão eu não me segurei e comecei a cantar alto.

–All the other kids with the pumped up kicks, better run, better run, faster than my gun. - ri sozinha mesmo.

Estava tudo bem para mim que minha vida podia acabar agora que eu não teria do que reclamar. Sentia falta dos meus amigos, claro, mas eu tinha família, namorado e novos amigos.

Tudo andava tão perfeito que era de se desconfiar. Talvez um dia Vini voltasse a infernizar a minha vida mas quem liga? Eu já não estava nem aí para ele mais.

Algo que tive que admitir para mim mesma era que talvez eu tenha gostado dele, mesmo que apenas um pouco. Depois que confessei isso mentalmente, mais um peso se desprendera de mim.

Ainda restava algumas coisas pesando e eu só precisava saber o que era, quem sabe assim eu conseguiria seguir minha vida sem peso sem nada, apenas com a leveza de um sorriso ou de um beijo, por exemplo.

Queria que esse peso se desprendesse logo de mim, mas eu sabia que não era assim tão fácil.