A Bela e o Caçador escrita por Machene


Capítulo 4
O Espelho




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/394143/chapter/4

Cap. 4

O Espelho

Katrina Karita não estava esperando visitas tão boas na sua festa de aniversário. Talvez seu trio de amigas a visitassem novamente, como todos os anos, mas não fazia a menor ideia que Gon e Killua, enfim, se apresentariam diante dela, Kelly e Gene. A mais nova se anima ao trocar ideias com o Freaks. A amiga, por outro lado, torce o nariz a cada meia palavra dita pelo Zaoldyeck e se envergonha pelas suas provocações levadas, por isso passa mais tempo com o casal menor.

O cinema seguido do fliperama em um típico dia bom na cidade acaba alegrando o grupo, se adiantando na frente para deixar Leório e Liana andando mais atrás propositalmente. Quando em cinco minutos o calor repentino vence, eles resolvem se refugiar debaixo de barracas expostas fora da lanchonete mais próxima e se deliciam com casquinhas de sorvete enormes. Os loiros ficam na mesa dos casados enquanto Gon e Gene sentam com Killua, mas o rapaz logo nota Kelly afastada.

Consumindo por uma estranha sensação, ele se aproxima da mesa sem responder aos outros aonde vai e senta ao lado da jovem. Gon e Gene observam com estranheza, mas Leório e Liana em pouco tempo começam a rir um para o outro, despertando intensa curiosidade em Katrina. Porém, Korapaika retém sua atenção em um telefonema e se afasta para conversar sossegado no celular.

– O que você quer? – Kelly começa ríspida, tentando manter o olhar no sorvete de chocolate.


– Não posso me sentar aqui? A praça é pública. – ela ergue os olhos e forma um bico.

– Por acaso está tentando me irritar de novo? Não pude tirar uma foto decente com o Gon e a Gene por sua culpa e essa mania de colocar orelhas na minha cabeça!

– Pelo menos não foram chifres. – a garota franze o cenho e ele ri – Tá bom. Desculpa, mas o Gon tirou foto com a cabeça naquele pôster de Thunder Cats e você não me deixou sair nela!

– Não tenho culpa se a Liana estava enchendo a paciência gritando para a gente se apressar.

– Então ficamos quites. – ele dá de ombros e volta a beber seu suco.

– Mas você não veio sentar aqui apenas para reclamar comigo por isso, ou veio?!

– Na verdade... – Killua passa a movimentar os cubos de gelo com o canudo verde, apoiando o queixo na mão esquerda – Eu ouvi da Gene que vocês duas conheceram a Katrina pelos Karita.

– É verdade. Contudo, é uma longa história. – o rapaz se aproxima um pouco mais.

– Ah, conta vai. Como você chegou até os Karita? Melhor ainda, o que foi fazer na ilha deles?

– Eu já tinha ouvido os boatos sobre as riquezas da Ilha Rosa Cercante. Resolvi aí que seria um ótimo lugar para morar. Fugi de casa e consegui chegar lá roubando o bote de um pescador.

– E por que você fugiu? Estava a fim de ter uma grande aventura?

– Eu odiava a minha casa. Minha família pode trabalhar como caçadores de recompensas, na fachada, mas eles não se importam em matar alguém para capturar sua vítima. A mamãe evita se sujar com sangue e prefere treinar meus irmãos para agirem da mesma forma. Na verdade aquela dupla de pestes nem liga. Eles mais parecem hackers! Mas minha irmã tem aptidão controlando a alcateia da família. A vovó era a única que me apoiava. Enfim, dois dias depois de fugir eu escrevi uma carta para Gene e mandei um falcão levá-la. Sempre fomos amigas próximas, então me senti na obrigação de avisar onde eu estava, mas, é claro, pedi que ela mantivesse segredo.

– Sua família cria lobos? Legal! Na época você já conhecia a tribo Karita?

– Claro que não! Se tivesse me encontrado com eles antes, provavelmente não teria enviado aquela carta! Eu achei que seria fácil viver na ilha, mas se não fosse pela minha flauta os animais teriam me comido viva. Como eu era muito pequena, ficava difícil escalar árvores para colher sua penca de frutas e mal encontrava água doce para beber. Felizmente fui achada pelo pai da Katrina.

– Então você toca uma flauta e controla os animais? Parece legal. E como a Gene te achou?

– Do mesmo jeito. Nenhuma de nós duas tinha medo de sair sozinha, mas no caso dela, essa espertinha convenceu os pais a ajudar minha família a me procurar e simplesmente saiu de perto deles quando vieram visitar a cidade. Os Karita simpatizaram com ela também e acharam demais a sua habilidade com os animais. A partir daí, sempre que podia a danada vinha nos ver.

– Os pais dela têm uma lanchonete em casa e moram ao lado do casarão da sua família, não?!

– Sim. Os Dilatam são legais. E sorte dela não ter irmãos. Pelo menos não tem preocupação com o risco de ver a sua preciosa coleção de cd’s sendo colocada em leilão na internet. Além disso, esses meus pais são bem protetores e conservadores. Querem manter peças de gerações da família, como vasos do casarão, intactos. No fim eu precisei voltar pra casa. – ela suspira e suga o sorvete a ponto de derreter, percebendo o sorriso e o olhar divertidos do Zaoldyeck – O que foi?

– Seu rosto está sujo. – Kelly encara o sorvete como acusado de fazê-la passar vergonha e dá uma rápida passada de mão sobre a boca – Continua sujo.

– Se importa de me passar o guardanapo? – ainda sorrindo, Killua entrega a caixinha inox e beberica o suco do copo quase cheio de uma única vez.

– Sabe... Acabei de me tocar que nem sei seu sobrenome.

– Ah, é Nikoro. – ele arregala os olhos por um breve momento.

– Nikoro? Então você é da família Nikoro, os famosos caçadores de Lista Negra.

– E você é um Zaoldyeck, da famosa família de assassinos. Por que isso é importante?

– Não, é só que... Fiquei um pouco surpreso. Meus pais admiram muito seu trabalho.

– E os meus o serviço de vocês. Seria altamente estranho se eles se encontrassem.

– Concordo. Melhor nem pensar nisso. – Kelly acena positivamente e os dois riem.

– Ei pessoal, vamos voltar! – Leório acena com o celular – Já está ficando tarde.

Compreendendo o aviso de que a organização da festa está finalizada, o grupo novamente se divide entre o carro de Leório e o de Liana. Eles estacionam em frente à casa alugada de Pokkuru e Ponzu, caminhando o curto percurso até a residência 202, e entram antes de Katrina no escuro.

– Oh pessoal, vocês se esqueceram de ligar a... – ela mal tem tempo de completar a frase.


– SURPRESA! – todos os presentes gritam e a fazem rir encabulada.

– Ai não, uma festa surpresa! – a loira cobre o rosto e as amigas a abraçam aos risos.

– Te pegamos de jeito! Confabulamos com todo mundo para essa festa surpresa.

– Agora entendo por que você fez tanto estardalhaço para sairmos.

– Mas a Kelly é atiçada mesmo. – Gene ri e começa a fugir da brava amiga.

– O que achou Katrina? – Mench guia a amiga até a mesa de jantar cheia de quitutes e um bolo com quatro camadas – Deu trabalho, mas sei como você adora creme de manteiga.

– Que amor Mench. Eu amei! Agradeço a todos pela festa, embora eu tenha dito...

– Não importa o que disse, porque nós gostamos muito de você e faríamos qualquer coisa e a qualquer hora pela sua felicidade. – Liana acende a vela e a luz chamusca para todo lado no rumo da canção de parabéns – Faça um desejo Katrina querida! – a moça fecha os olhos e finge assoprar o rojão incandescente antes que se apague por conta própria.

– E para quem vai o primeiro pedaço do bolo? – pergunta o senhor Netero.

– Bom, eu não sei. Sou grata a todos pela festa, e como foi surpresa estou incerta sobre quem acabou planejando tudo, embora pareça ter sido um complô. – todos riem – Melhor. Vou dedicar o bolo inteiro a vocês, assim ninguém precisa ficar com ciúme. – os convidados retornam a rir e a anfitriã começa a dividir as camadas em pequenas fatias.

Minutos mais tarde e os convidados se reúnem em excesso. Korapaika estreita os olhos todo o tempo, a cada vez que um Caçador ou Caçadora se aproxima da bela loira. Katrina não percebe as insinuações entre os elogios dos membros da festa, mas ele sim. E mais alguém nota algo além.

– A festa está muito calorosa. – uma voz suave comenta atrás do rapaz.


– Ah, é você Senritsu. – o loiro suspira e larga o copo de bebida sobre a mesa ao seu lado – O que quer dizer? Sabe bem qual é a intenção dessas sanguessugas aqui presentes.

– Sei sim. Já disse várias vezes que as batidas do coração são muito sinceras, mas não estava me referindo aos convidados e sim aos organizadores da festa. – os dois olham os ex-examinadores – Eles simpatizam bastante com aquela moça, e isso é uma coisa boa a meu ver.

– Eu não acho. Será mais difícil contar a verdade no final.

– Talvez... Está colhendo boas informações sobre ela e a tribo Karita?

– Mench me entregou uma escuta hoje de manhã, com a desculpa de trazer uma torta para a Katrina. Mas, por enquanto, ela ainda não disse nada de interessante. O que você acha dela?

– Ela não é o tipo de pessoa que terminaria uma amizade porque a pessoa mentiu para poder protegê-la. – eles se viram à jovem sentada no sofá e cercada pelas amigas – A melodia do coração dela é amorosa, acolhedora e confortante. Eu me sinto muito tranquilo na sua companhia.

– Bem, ela realmente ilumina o ambiente e deixa as pessoas a sua volta mais felizes.

– Certamente não é uma habilidade, mas um dom que poucos têm.

– Sim. E por que está me lançando esses olhares estranhos a noite toda?

– Sabe Korapaika... – o homem baixinho deposita seu copo de bebida ao lado do dele – Esta é uma caçada pela sobrevivência dessa moça, mas também pela extinção do Genei Ryodan. Pode até ser um caso pior se, a julgar pela sua ligação hoje à tarde, existe mais um grupo de assassinos dos procurados na Lista Negra envolvidos nessa perseguição. Desculpe-me por dizer isso dessa forma, contudo, você não acha que devia ser sincero com essa moça?

– Se ela souber que mesmo dentro desse cativeiro já não está segura, se descobrir a intenção real de seus convidados, será complicado convencê-la a ficar aqui, especialmente porque precisaria continuar andando pelo condomínio como se nada tivesse acontecido, para não levantar suspeitas.

– Eu não digo por isso. – Senritsu entra na sua frente e aponta o indicador para seu coração – Estou falando dos seus sentimentos com relação a essa situação.

– Como assim? – Korapaika desvia o olhar e o amigo faz redemoinhos com o dedo.

– Por favor, não se faça de bobo. Eu sei como você fica quando o assunto é a sua tribo. Tente me enganar, mas as batidas do seu coração irão delatá-lo. – Korapaika franze o cenho e ele ri – As duas tribos, tanto a Kuruta quanto a Karita, tiveram destinos semelhantes, assim como Katrina e você. Imaginei a princípio que iríamos encontra-la na mesma situação de quando um dia nós dois nos conhecemos naquele trem. Você estava muito frio, abatido, isolado e ao mesmo tempo seguro das suas decisões e ambições. Contudo, essa jovem se mantém alegre e recatada, embora tenha um passado tão doloroso. Isso serviria de inspiração para qualquer um.

– Está falando especificamente de mim? – o loiro ergue a cabeça, mas o seu olhar permanece triste e sombrio na direção do chão – Se nos colocassem diante de um espelho, o reflexo não seria o mesmo e, certamente, o dela seria mais agradável. Ela ainda tem um lar, uma família.

– E você também. – Senritsu sorri ao ver o amigo encará-lo com surpresa – Seus amigos dão luz à vida de trevas na qual você escolheu viver Korapaika, assim como Katrina tem suas amigas. Uma família não se constitui apenas de laços sanguíneos. Às vezes, uma amizade pode ser valiosa de um jeito mais significativo do que o parentesco com pessoas que estiveram ao seu lado sempre. Ela sabe disso. E você? – Korapaika arregala os orbes em reflexão e se distrai por um momento – Bem, eu peço desculpas novamente se o aborreci, mas senti necessidade de falar. Preciso ir agora.

– Já está indo Senritsu? – Katrina se aproxima – Ah, fique mais um pouco.

– Eu lamento, mas preciso acordar cedo amanhã. Quero conhecer a cidade.

– Entendo. – a anfitriã tira do cabideiro perto da porta o chapéu do pequeno homem – Sinta-se livre para me visitar a qualquer hora. Sua companhia me agrada.

– Eu digo o mesmo. Acho que vamos nos reencontrar em breve. Até logo.

Acenando, Senritsu entra no carro de Leório e se vai de carona com o médico. Aos poucos o número de convidados se reduz até restar Hanzo e Tompa para se despedir. Devagar, o bom ninja careca beija a mão de Katrina e elogia sua beleza. Tompa prepare-se para fazer o mesmo, contudo, Korapaika o faz recuar com um olhar nada amigável e ele se vai com apenas um aceno.

– Que festa agitada! Não achei que quase todo o condomínio fosse comparecer.


– Ora Liana, não foram vocês a organizar isso tudo?

– Mas Neon trouxe os convidados. – ela suspira cansada e senta confortavelmente no sofá a menos de dez centímetros de Kelly e Gene.

– Não gostei daquela Anita. – Kelly comenta de braços cruzados – Era muito metida.

– Ela me pareceu um pouco ranzinza. – Gene diz – Mas isso você também é. – ela ri quando recebe um olhar torto da garota e se debruça para o lado em seguida, chegando perto de Gon – Eu achei o Hanzo engraçado. – o garoto se ajeita no braço do sofá e ri.

– É mesmo. Lutei com ele no Exame de Caçador e o Hanzo é muito forte.

– Mas você venceu, não foi?! Conta o que fez. – observando atentamente do sofá em frente, Korapaika não consegue deixar de sorrir pensando que para Gene o amigo Gon deve ser um herói.

– Eu dispenso essa história. Vou para a cama. – Killua começa a subir as escadas.

– Oh traste, você dorme na casa alugada a treze metros daqui! – Kelly anuncia.

– O Leório ainda não chegou e eu estou com sono, então vou dormir aqui mesmo.

– Killua, pergunte à Katrina se pode antes de subir a escada! – Gon grita.

– Ah, tudo bem, mas não sei como fica o caso da Kelly.

– Por que acha que ele vai dormir justamente na minha cama?

– Porque a minha está ocupada com as minhas roupas. – Gene ri.

Mal ela termina, Kelly marcha até o andar de cima e acaba sendo seguida pelos amigos no caso de fazer besteira. Em alguns minutos de conversa, Liana também resolve se retirar com mais de um propósito. Em sua mente, Korapaika e Katrina já deveriam estar juntos. Os loiros ficam de frente um para o outro e permanecem calados por algum tempo até o rapaz tomar a iniciativa.

– Gostou da sua festa? A casa parecia muito cheia.


– Ah sim, eu adorei! Não esperava que fossem preparar uma surpresa, principalmente você.

– Eu juro que não sabia sobre a festa! Vim descobrir hoje de manhã.

– Enquanto Neon me arrastou para cá com a conversa de ver minhas flores artificiais, não?!

– Sim. Mas, em nível de curiosidade, por que não acha que eu poderia preparar uma festa?

– Não quis dizer isso. Apenas me parece que você é um homem mais... Isolado. – ele ri.

– É. Talvez eu deva passar essa impressão mesmo, mas eu fui um homem isolado até desejar ser Caçador e conhecer meus amigos. Fiquei um tempo afastado deles, como pode notar, por causa do trabalho. – ele abre um singelo sorriso – Fico contente em ver que estão bem.

Katrina se sente extasiada temporariamente. O sorriso de um conhecido não deveria tecer seus órgãos intestinais como um grande novelo de lã. Sentindo-se quente e sabendo claramente os estragos que uma reação emocional muito forte pode fazer com seu corpo, ela puxa ar lentamente.

– Aconteceu alguma coisa? Sente-se mal? – a moça ergue a mão em pedido silencioso de paz.


– Estou bem sim. É apenas um mal estar. Devo estar cansada da festa.

– Neste caso eu posso acompanha-la até o quarto. – antes que Katrina possa responder, luz e estrondos cobrem repentinamente o ambiente e a porta se abre com um rangido.

– Vai chover daqui a pouco. – Leório entra apressado – Cadê todo mundo?

– Liana já foi para a casa. Eu vou chamar as meninas. – apressadamente, ela sobe a escada.

– Interrompi alguma coisa? – o médico sorri e senta com cautela ao lado do amigo atiçado.

– Não. Ela já tinha me dito que não se sentia bem e eu me ofereci para acompanha-la até o...

– Ah Korapaika, lembre-se de ser mais profissional! – ele o repreende fingindo seriedade – A Katrina é uma dama. Você não pode tentar ataca-la numa noite de chuva. Arranje outra forma de seduzir sua fonte. – o loiro só não esmurra o amigo porque a dita jovem surge com Killua e Gon.

– Por que está com essa marca vermelha no braço Killua?

– A Kelly azunhou ele. – Gon ri – Eles não tiveram um bom começo.

– Jura? – Leório levanta – Achei que estivessem se dando bem lá na lanchonete.

– Impressão sua. – o garoto cora e coloca as mãos nos bolsos – Vamos embora? Boa noite.

– Boa noite. – os demais falam simultaneamente e os três entram no carro, deixando o casal a sós novamente e em silêncio até Katrina comprimir os lábios e olhar furtivamente a escada.

– Então... Acho que vou dormir. Foi um dia cheio. Boa noite.

– Só um instante Katrina. – ela para de andar no mesmo instante e quase se arrepia; essa é a primeira vez que ele diz o seu nome e tal suavidade a espanta – Posso perguntar algo? – a moça o consente com um balanço de cabeça – Desculpe a indiscrição, mas... Como conseguiu essa doença?

– Como sabe da minha... – ela pausa e sorri vagamente – As meninas não diriam, então foi a Liana que deu com a língua nos dentes, certo?! – Korapaika abaixa a cabeça, um pouco acanhado.

– Sinto muito tocar nesse assunto. Imagino o quanto deve ser difícil para você, e quero que saiba desde já: não é curiosidade. Como... Como amigo, eu quero saber. – Katrina desvia o olhar e suspira várias vezes até resolver sentar no sofá.

– Está bem. Por favor, sente-se. – ele se acomoda ao seu lado e ela então começa – Um grupo de turistas veio à nossa ilha anos atrás. Ela era frequentada constantemente e o barco que trazia os visitantes estava sempre repleto de guardas e médicos. Todos sabiam sobre as preciosidades da nossa terra e a existência da tribo Karita servia como parte da sua boa excursão. Os estrangeiros passavam por um caminho entre as árvores frutíferas para chegar até à tribo. Todos eram bem-recepcionados por nosso povo. Mas um dia... – ela pausa e suspira, evitando se afligir pela revolta – A minha bisavó foi violentada por um homem ruim de um desses grupos. Ele ficou para trás e esperou que ela se afastasse dos outros. – Katrina franze o cenho – E quando o seu pai descobriu já era tarde. Ela engravidou. No nascimento da minha avó, a mãe dela morreu no parto por uma febre forte. Poderia ser coincidência, mas a filha sofreu os mesmos sintomas de desmaios caso se emocionasse demais e ficava facilmente doente.

– Aí a ilha virou uma reserva ambiental. Era um estado de quarentena.

– Sim. A tribo inteira foi medicada, contudo, nenhuma vacina servia para ajudar minha avó.

– Mas tem um antídoto. Ela se recuperou quando casou com seu avô?!

– Quando perdeu a virgindade. – Katrina especifica e sorri diante a vergonha dele – É. Essa é a solução. Na época ninguém imaginava que isso não era apenas coincidência. A vovó se curou, mas minha mãe ainda assim nasceu com a mesma doença. Apenas depois que ela casou com meu pai a suspeita se confirmou. Eu nasci doente, porém, mamãe se curou. Isso acontece porque existe uma troca de consanguíneos entre o casal na primeira vez. – mesmo respondendo cientificamente a pergunta muda do rapaz, a moça não consegue deixar de se envergonhar – Eles se ligam física e espiritualmente, além do sentimental. É como se o marido compartilhasse a dor da esposa, e então ela não sofre mais como antes. Durante a gravidez, a criança também partilha o sangue da mãe.

– E a dor dela diminui mais ainda. – ambos sorriem com o pensamento.

– Infelizmente... – a loira volta a se deprimir – Fiquei doente aos doze anos de idade. A febre foi tão forte que todos temeram pela minha saúde, então meus pais saíram da ilha com meus tios para buscar um médico. Eu fui curada, mas seguindo aquele senhor veio um grupo de assassinos. – Korapaika engole em seco – Aquela altura do campeonato, a existência da tribo Karita virou um boato, uma lenda. As pessoas passaram a acreditar que todos tinham morrido por uma misteriosa e estranha doença. Seria inconveniente se o médico idoso falasse para alguém sobre sua visita.

– Então os assassinos mataram o pobre senhor. – Katrina lamenta em aceno afirmativo.

– Em seguida eles atacaram a tribo. Felizmente, nessa época Kelly já havia sido encontrada pelo meu pai e sua habilidade de conversar com os animais através da música foi útil. Usando sua flauta, ela tornou o ataque mais difícil com a ajuda dos linces e dos lobos. Mesmo assim, o terrível líder dos assassinos se uniu a uma aliada e matou meu pai e minha mãe. – ela segura um soluço e compadece o loiro – Vovô faleceu quando tentou me proteger e às outras crianças. – Katrina leva a cabeça para o alto e suspira – Quando eles se foram, deixaram um rastro de morte. O veneno se espalhou pela terra e pelo ar durante dois dias. Isso bastou para matar dez membros dos quarenta. Vovó foi uma que morreu doente. De alguma forma nós nos recuperamos e estabelecemos a nova residência no interior no topo de uma cachoeira, bem nas entranhas da floresta.

– Eu lamento. – Korapaika retém sua vontade de segurar a mão da donzela – Mas você tem a Liana e as meninas. Além disso, está cercada de pessoas que te adoram.

– É verdade. Deus sabe como sou agradecida à minha estrela da sorte por ter tantas pessoas sinceras ao meu lado. – o rapaz desvia o olhar, mas Katrina não nota e sorri – Obrigada por ouvir.

Continua...



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Bela e o Caçador" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.