Capítulo 19

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Recolher

Naruto virava mais um gole de água ardente para queimar sua frustração. Três ou quatro copos virados anteriormente, o fez ficar disperso quanto ao que ocorria ao seu redor.

Não havia mais festival.

Todos se recolhiam para suas casas assustados, não sabia se a visão tinha sido muito afetada pela bebida, mas associava a correria a uma grande manada desembestada.

Quando percebeu que um exército de ninjas da ANBU estava apostos, foi que distinguiu Sasuke entre eles, aproximando-se ouviu confuso sua ultima fala...

... Toque de recolher

Toque de recolher em Konoha? Quanto tempo se passou enquanto engolia seis ou sete goles de cachaça?

O suficiente para prepararem-se para uma guerra, concluiu.

— O que há de errado? — perguntou confuso.

— O que há de errado? Fede como um gambá, está bêbado, e por sua incompetência estamos sendo atacados!

— Atacados? Não está havendo nada por aqui... — afirmou sem compreender.

— Pedi pra ficarem ninjas na circunferência da floresta. A casa de Sakura está completamente revirada! — ralhou enraivecido.

Naruto demorou um longo momento para associar o que se passava e insatisfeito com o que constatou, uniu as sobrancelhas numa carranca.

— Ah... Então a causa desse estardalhaço todo é por sua protegida? Eu devia ter adivinhado Sasuke! Está cego! Você mesmo quem liberou os homens para o festival não se lembra? O que está querendo insinuar?

— Não insinuo as coisas. De onde tirou aquela carta com a liberação de Suna?

— Foi o próprio Gaara quem assinou a maldita carta, e eu também assinaria para ter longe de minhas terras uma criatura como aquela.

— Cortarei sua língua antes que possa usá-la para ofender Sakura novamente. — ameaçou e Naruto deu uma risada amarga.

— Não é óbvio? Ela mesma que planejou fazer isso para pôr minha lealdade em dúvida!

— Fala como um louco! Ela esteve comigo desde que a vi encurralada por você naquela floresta. O que queria com ela? A troco de quê poderia querer colocá-lo contra mim? — Sasuke perguntou cheio de ira, sabendo que o que separava sua espada do pescoço de Naruto era a imensa consideração que tinha por ele.

— Ela não quer que você saiba o que eu sei.

— E o que é que sabe, Naruto?

— Não acreditaria em mim. Terei de te provar que ela não é o que aparenta.

— Poupe o trabalho. Está bêbado, e provavelmente apaixonado por minha esposa. — disse direcionando-o um olhar repugnante. — Prendam-no. — ordenou aos homens que com um pedido de desculpas no olhar, seguraram Naruto e em vão tentou se libertar.

— Vai se arrepender, Sasuke... Vai se arrepender...

Bêbado!

Censurou- o Sasuke, dando as costas ao estado lastimável ao qual alcançou. O soltaria quando não estivesse dizendo asneiras, e voltasse a ser útil na proteção da cidade.

Os moradores estavam em suas casas e os ninjas armados de vigília, caso percebessem o menor alarme, tinham recebido a ordem de lhe avisarem imediatamente.

Embora duvidasse que algo acontecesse. Só um louco declararia Guerra a Konoha, agora uma das mais fortificadas de toda a região, fora que seu tino apurado não identificava perigo. Estava apenas irritado... E preocupado com sua Sakura.

...

Uma lágrima tão gelada como o frio que se apossava do seu coração foi limpa com brusquidão da face.

Seu maior erro foi apaixonar-se por Sasuke.

Devia ter seguido com o plano inicial, de conseguir o máximo de ajuda que pudesse em Konoha e antes que pudessem notá-la ali, partisse para outro lugar, talvez com um nome diferente ou os cabelos curtos. Pensou que seu jeito recatado e pouco atraente, fosse ajudá-la na pretensão de parecer invisível, mas não foi assim... Sasuke a notara.

Tarde demais.

Sentada na cama do quarto que ocupava sempre que estava na casa de Sasuke, moveu suas mãos a bolsa que trouxera consigo do casebre, com a desculpa de que precisava trocar a roupa de festa.

Mexeu nos tecidos, encontrando no fundo da bolsa dois frascos diferentes, mas ao escutar um barulho na porta, guardou-lhes rapidamente.

— Já parou com a choromela garota?— perguntou a empregada trazendo consigo um chá. Parecia arrogante, mas nitidamente queria consolá-la. Confiava nela. Ingênua.

— Temo que este chá não sirva para os meus nervos, talvez algo mais forte, um vinho talvez... — disse tentando parecer bem, entre uma melancólica fungada de nariz.

— Oh não diga besteiras! Bebidas fortes são para homens, por isso o vinho está no quarto do menino Sasuke, enquanto o chá de camomila está no seu! — repreendeu-a deixando o copo esfumaçando sobre uma bandeja na cama.

— Sasuke já voltou? — perguntou ansiosa.

— Ainda não... Agora beba isso e trate de dormir!— ralhou saindo do quarto.

Pobre coitada, lhe ajudou e muito, não com o chá, mas com as informações.

Assim que ela bateu a porta, voltou a mexer na bolsa, pegando um dos fracos. Ergueu- o em sua mão, vendo o líquido incolor, guardou nos seios e vagarosamente abriu a porta, certificando-se de que não havia ninguém por ali.

Em passos silenciosos, entrou no quarto de Sasuke, procurando na penumbra da noite pela mesinha de canto. O jarro de vinho, bem à vista.

Derrubou o líquido ali dentro agitando e colocando de volta no lugar, quando seu braço encostou no vidrinho que caiu no chão rolando para o canto e fazendo um barulhinho agudo.

Fechou os olhos para amenizar a própria aflição, quando inclinou-se para procurar o frasco, escutou a voz que a fez estremecer de susto.

— Sakura...

Virou-se a fim de encará-lo, mas não conseguiu. Não seria capaz de olhar em seus olhos, então apenas correu até ele abraçando-o.

— Está tudo bem... — tranquilizou-a passando a mão em seus cabelos.

— Onde você estava?

— Dando toque de recolher na cidade, colocando os ninjas na espreita e Naruto na cadeia.

— O que?

— Isso mesmo que ouviu. Você nunca quis me contar, mas sei que ele te causa problemas, ficara lá até voltar à razão.

Sim, havia percebido muito bem as desconfianças que Naruto tinha em relação a ela. Estava o tempo todo olhando-a, ou parecendo querer intrometer-se em seu relacionamento com Sasuke. Era bom que ficasse preso, um problema a menos.

— Isso é besteira... — disse fazendo pouco caso. — O que me importa é você. Está muito encolerizado, precisa acalmar-se para pensar com clareza Sasuke. — Sakura orientou massageando os ombros largos e tensionados de Sasuke, que fechou os olhos tentando relaxar. — Que tal um pouco de bebida? Ajudará com os nervos. — sugeriu já afastando-se para pegar o odre de vinho e despejar dentro do copo, oferecendo-o.

Sasuke virou de uma só vez, sentindo o frescor na garganta e limpou a boca com as costas das mãos.

— Vem deixe-me te ajudar, está cansado. — disse abrindo sua blusa e deixando seu abdômen exposto, logo tirando-a.

— Não dormirei tão cedo. — afirmou friamente.

— Neste caso, me permita passar a noite aqui com você... Estou um pouco... Amedrontada. — disse ela vacilante, ao descer duas mãos para o inicio das calças de Sasuke, ele a ajudou descendo e tirando-a completamente.

— Então vá se deitar logo. Tomarei um banho antes de me recolher. — disse ignorando o olhar dela para sua seminudez, mas ela o impediu de virar-se com uma segunda atitude extremamente ousada.

Tirando as alças de sua camisola e permitindo-a cair aos seus pés.

Sasuke ficou paralisado.

Jamais colocara os olhos em algo tão perfeito quanto a mulher à sua frente.

Quando por extinto tentou avançar sentiu um forte tontura na cabeça, fazendo-o recuar segurando a cabeça ao olhar para baixo. Foi quando sua visão embaçada viu um frasco estranho no chão. Esforçou-se novamente para olhá-la.

— O que... Você pôs, na minha... Bebida... — perguntou cambaleando numa nova tentativa de andar, mas logo seu corpo cedeu ao veneno tombando sobre a cama.

Sakura limpou outra lágrima egoísta, e inclinou-se para pegar a roupa da ANBU do chão. Não seria difícil adaptar o uniforme e escapar de Konoha... O quanto antes.