Never Again escrita por Maga Clari


Capítulo 8
Capítulo 8 - E então, vai ficar ou não?




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Pan arregalara os olhos.

Onde estaria Wendy, afinal? Que mania de sumir de repente! Ela sempre fazia isso...

Pan começara a suar frio, sua pulsação estava mais forte. Fizera papel de ridículo outra vez; as pessoas da plateia cochichavam qualquer coisa. Devem estar esperando o final da...

— A PEÇA! Ai meu Deus, eu quase me esque...

— Ei, Peter Pan! — ele virou-se e deu de cara com um sorriso ocultado pelas cortinas — É você mesmo, vem cá! - Wendy o chamou, ansiosamente.

Pan correu até as coxias e puxou-a para o palco antes mesmo de ouvir o que ela tinha a dizer. Prosseguiu com as falas, como se não houvesse tido qualquer interrupção.

— Então, Bucaneira Dil, a quê devo a honra da sua presença?

— Vim dar-lhe um presente, afinal — Wendy ofereceu-lhe um riso sapeca, espiando de esguelha a plateia.

Tinky rodopiou em torno da cabeça de Pan, batendo as asinhas incomodamente. Ele tentou tirá-la da frente, num gesto de impaciência.

— Qual o problema? — Pan cruzara os braços, com irritação — Ela é... O quê, Tinky? Ela não é ameaça! É só mais uma menina...

— Uma menina pirata, você quis dizer — Wendy se aproximou do menino-perdido, sem desviar os olhos dele por um segundo — Admita que tem medo, Peter Pan.

— Nunca!

— Tem sim. Medo dos meus sentimentos — falava pausadamente, esboçando um sorriso — Por isso troquei-o pelo...

Contudo, antes que terminasse, Wendy fora interrompida por um súbito brilho ofuscante; todos foram atraídos pela estranha luz através das janelas do anfiteatro. A lua não podia estar refletindo tanto assim naquela noite, alguma coisa certamente estava acontecendo.

— John, John! — Miguel puxara nervosamente as vestes do irmão — O que está havendo? Eu estou com febre? Ou... dormindo? Me belisca!

— Miguel — John apertara seus ombros, tentando parecer calmo — Vamos descer e buscar Wendy.

Os dois irmãos Darling correram pelas escadas laterais e num pulo chegaram ao palco. Se não vissem com os próprios olhos, não acreditariam.

— Ai meu Deus! — John exclamou, fitando o grande navio que ficava, pouco a pouco, mais nítido.

Tinky, que logo se empolgara com a ideia de voltar para casa, empesteara o palco com todo o seu pó mágico.

Wendy, John, Miguel. Todos voaram ao som de exclamações de surpresa, vindas do público. Certamente, imaginaram tratar-se de apenas mais uma parte da peça. Sendo isso ou não, o fato é que em questões de segundos nossos quatro amigos flutuaram até o navio. Estavam a ponto de entrar quando Wendy deu por falta de mais alguém...

— Você não vem?

Wendy estava parada no parapeito da janela. A janela lateral do anfi-teatro. Seus olhos encaravam o menino-perdido, incentivando-o a pegar sua mão.

— E se for o Gancho?

— Gancho morreu, não se lembra?

Pan levantou o rosto em direção ao navio. Alguns dos piratas antigos acenaram alegremente com bandeiras brancas e dizeres como "Voltem para casa"; "Trégua", e coisas do tipo. Wendy o observava com a cabeça ligeiramente inclinada, como sempre fazia. Seus cabelos escorridos refletiam a tal luz cegante.

— Mas...

— Não era isso que você queria? Fugir de novo?

— Wendy — Pan se pronunciou como se não tivesse ouvido a última pergunta — E quanto ao meu presente?

— Vai ter que subir aqui e buscar - um riso sapeca ecoou pelo ar à medida que a menina voava cada vez mais alto.

Há alguns anos, era ela quem estava insegura em partir. Agora os papéis se inverteram. Mas afinal, que mal faria em dar só uma voltinha? Iria até lá receber o presente e voltaria num pulo...

— Estou começando a me lembrar... Acho que já sei do quê ela está falando - Miguel cochichou para o irmão, que logo riu entendendo as entrelinhas.

— Anda, vem logo! - Wendy o encorajou, sorrindo.

Mas nada fazia o garoto levantar voo. Olhava desesperado para Tinky, que apenas dava de ombros e derramava mais e mais pó.

— ANDA LOGO, PETER PAN! VAI MESMO RECUSAR O PRECIOSO DEDAL DA MINHA IRMÃ? - John gritou lá de cima, de modo travesso.

— Não adianta, eu não consigo e... Você disse o quê?

— É, Pan, esse é o seu presente, não é, Wendy? - Miguel falou displicentemente, dirigindo-se à irmã.

— POXA, MIGUEL, ESTRAGOU A SURPRESA! - ela fechou a cara, aborrecida. Pouco a pouco foi perdendo altitude, o que logo chamou a atenção de todo mundo - Espera, o que está... Ei, por que não consigo mais subir?

— Tinky disse que você precisa ter pensamentos felizes... Do contrário, eles te trazem para baixo - Pan falou sem encará-la. Ele estava recostado à parede tentando lembrar-se de onde ouvira isso antes. Dedal... Ah, é mesmo, aquele negócio que tanto guardara...

Mais uma vez, a lucidez tomava conta da mente do jovem-garoto; mais uma vez as turbinas voltavam ao seu trabalho e o levava à luz da compreensão. O sonho. A história que Wendy o contara. Era dela! Era dela de quem ganhara esse misterioso dedal, será que era este mesmo que ela pensava ter em suas mãos para entregá-lo?

Será que devia devolvê-lo? Será que já era outro? Algo o dizia que devia ir lá entregá-la...

— Mas... É só que... — Wendy aterrizara novamente na janela à sua frente — Foi involuntário.

— Ei, era isso que queria me dar? — ele estendeu o dedal — Porque se for, estou devolvendo como presente meu — brincou, colocando-o no dedo anelar dela — Ainda quer ele?

— Pan... — ela riu, achando graça da situação — Isso chama-se beijo, não se lembra?

— Ah... Desculpa, eu me confundi. E então ainda quer ele?

— Depende, ainda quer o meu dedal?

— Claro! - ele abriu a palma da mão, sorrindo, como fizera tantos anos atrás. Os garotos e os piratas riram da ingenuidade dele.

Wendy, por sua vez, não fizera nada senão aproximar-se do menino e beijá-lo da mesma forma que aconteceu quando tinha doze anos. E da mesma forma ele ficara azul... roxo... rosa!

Como que por magia, os dois flutuaram tão alto, mas tão alto, que pareciam alcançar as estrelas; subiram na parte superior do navio e ficaram por um bom tempo contemplando o céu noturno, balançando os pés no ar.

— E então, Peter Pan, já se decidiu se vai voltar com a gente para a Terra do Nunca? - um dos piratas o chamou.

Pan apenas desceu os olhos para o anel nos dedos de Wendy, sorriu para o horizonte e olhou de esguelha para o pirata, de modo travesso.


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