O Mistério de Winter escrita por Marykelly


Capítulo 13
Alguns meses depois.


Notas iniciais do capítulo

Oii, título meio irônico. [Anos depois].
Estava olhando alguns textos meus e acabei caindo nessa fanfic, bateu uma saudade enorme e uma louca vontade de concluir. Se ainda tiver alguém aqui, boa leitura!!



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[TEXTO EM PRIMEIRA PESSOA] SAM

Sempre que eu acordo, a minha mente tem apenas alguns segundos de total leveza. Alguns instantes insignificantes em que não penso em nada, em que tudo parece estar em perfeita paz e plenitude. A sensação é indescritível. Se eu pudesse ter um único sentimento para eternizar, seria este. Durmo todos os dias esperando por isso. Em dias como estes, esse momento tão insignificante é tudo que tenho, é o mais próximo que chegarei de felicidade. 

Estou apenas vagando entre as semanas, o tempo é como um borrão. Ao contrário de antes, minhas lembranças estão recuperadas e eu já não deveria me sentir perdida e sem rumo, há alguns anos eu daria tudo para estar junto à minha família. Agora tudo que rezo todos os dias é para que eles estejam o mais longe possível. 

Tate errou. Todos erraram. e a maior culpada disso sou eu. Eu lembro de tudo, tudo que aconteceu no meu passado, tudo que aconteceu enquanto eu estava em coma induzido, em uma ilusão controlada com Tate e Corm. Algo na minha mente saiu fora do esperado, algo que eles não calcularam. 

Assim que eu acordei do sonho induzido, passei dias sem conseguir comer ou andar por conta própria, só depois de semanas consegui ter noção do que estava acontecendo, mas já era tarde demais. Todas as minhas lembranças tinham sido lidas. A fuga do meu pai quando eu ainda era criança, a aliança dele com os outros líderes da revolução, a construção dos refúgios e ilhas de espionagem a identidade de todos os infiltrados que eu conheci, locais, planos, armas, pessoas. Tudo que tive contato durantes toda minha vida. Agora estava na mão de Emilia Nall, chefe de combate à traidores e responsável por torturar e matar todos que eu conheço. Emilia foi atrás de todos os distritos de refugiados, matando e torturando sem piedade.  Eles estavam com muita informação.  Um planejamento que precisou anos para crescer,  de muito sacrífio, demais. Esperando pacientemente, se infiltrando invisível onde nem  todos de nós sabíamos dizer precisamente quem eram. Isso que a deixava louca. Emilia precisou torturar muitos de seus homens, levá-los até a beira da morte só para ter certeza. Ela declarou guerra contra todos nós, a cidade estava sitiada. Com a lei, ela pôde matar descontroladamente. Mas ainda não tenha achado meu pai. 

Pro inferno ela e seus ataques. Que me torturasse até a morte. Vê-la perdendo seu controle por algo que não podia ter, valia a pena. O fato de não conseguirem matar meu pai dava esperança não só para mim, mas para muitos de todas as regiões. As ações brutais dela estavam baixando a popularidade do governo, o fato de não termos mais nada a perder nos fez revelar tudo que conseguimos capturar de informações. Eles agora tinham que lidar com nossos ataques internos enquanto ainda se preocupavam em justificar as mortes e manter as aparências, tentando parar com a revolta pelos atos de tortura e manipulação que fizeram por anos. Estavam sobrecarregados. Precisavam eliminar todos de nós antes que fosse tarde demais... a população não estava engolindo mais com tanta facilidade suas mentiras... e as revelações que fizemos para todos começava a fazer mais sentido. 

Eu sabia que metade das pessoas que conheci já deviam estar mortas, ou em cabines como a minha. Amarrados e sendo torturados até que implorem para morrer. Conseguir informações não era mais o objetivo principal dos nossos torturadores. Era a vingança, nos filmavam para mostrar ao nossos conhecidos que eram capturados. Era o prazer em ver a nossa dor. A mera menção da nossa derrota os fazia se deliciar, o fato de sofremos com a dor alheia os fazia pensar que estávamos derrotados. Mas só nos dava mais força. 

Fui obrigada a assistir todos os vídeos de Corm sendo torturado até a morte, dezenas de sessões de tortura. Ele implorava para que o matassem. Passei a noite inteira gritando e chorando de dor por sua morte horrível. No dia seguinte arranquei o dedo de um dos torturadores com uma mordida. 

Não descontaram em mim, mas sim nele. Tate. Sabiam de nossa relação. Era a forma mais cruel de todas de nos fazer sofrer, usar o que sentíamos um pelo outro para nos torturar. Sofrimento mútuo entre mim e ele, pela dor nos infligida fisicamente e por ver um ao outro sendo torturado. Era uma agonia que parecia interminável. 

 Nunca pensei que desejaria que Tate estivesse morto, mas desejei. Se isso o livrasse de todo aquele inferno que estávamos passando. Ele estaria em paz. 

Me culpo por esses pensamentos. Principalmente por saber que causei tudo isso pelo medo de vê-lo morrer. Fugi de casa sem permissão. Vim atrás dele na cidade, no meio da sua missão. Levei Corm comigo. Fui capturada e tudo que fizeram foi para me manter a salvo. A substituição da minha memória, se infiltrarem na ilusão induzida para me ajudar, me trazerem de volta a realidade em segurança. Mesmo que o plano tenha falhado, tudo foi alterado e articulado para que eu ficasse a salva no final. O caos que estamos vivendo agora é por minha causa, porque fui ingênua demais a ponto de pensar que eu poderia chegar aqui e simplesmente levar de volta para casa o homem que amo. 

Estou causando o sofrimento de milhares, causei um estopim para a guerra. Se há dor e culpa maior que essa, eu não consigo sequer imaginar. Não me importo mais comigo, minha morte no final nem sequer suficiente. Quero salvá-lo. Saber que posso tentar salvar pelo menos uma vida, a que mais amo depois da minha família, me dá forças para continuar lutando para viver.

Mas como? Como conseguirei salvá-lo se nem mesmo consigo salvar a mim mesma. 

— Está acordada? - a voz fraca e trêmula de Tate me faz abrir os olhos. 

— Sim. - Sussurro. 

— Você precisa comer, vai morrer se não ingerir alguma coisa. - Ele implorou. Virei o rosto para o outro lado, o prato com a papa estava do meu lado, eu teria que me inclinar para comer com a boca, como um cachorro. Eu já não comida há dois dias. Me recusei esperando que isso causasse alguma reação. Estava definhando. Não fazia diferença para eles. - Sam. Amor, por favor. Preciso que coma.

Eu o ignorei e continuei olhando em direção a parede, não fazia ideia de que horas seriam. Ouvi os gritos ao lado, eram diferentes. O que significavam que havia um novo vizinho de câmara de tortura. Não quis identificar se era uma voz conhecida, logo logo saberíamos.

— Conversa comigo. - Ele pediu. - Qualquer coisa, só para eu saber que está bem.

— Me desculpa. - Pedi, lutando para não olhá-lo.

— Todos sabíamos que isso podia acontecer. Nos metemos em terreno inimigo. Um inimigo poderoso. Mas não acabou, estão lutando.

— Quem? - questionei, forçando a voz sair. - Estão todos mortos! Ou bem ao nosso lado sendo torturados. Não há ninguém lá fora. 

— Você verá. - ele me encara, me passando toda sua convicção, erguendo seu queixo para não demonstrar nem um pingo de dúvida. Mas seus olhos não me enganam, eu o conheço. Consigo ver seu medo. - Você verá.

Ouço o barulho da porta sendo destravada, meu coração começa a disparar. Sacudindo descontroladamente. Logo a minha visão embaça e sinto a ânsia de vômito. Olho para tate em busca de qualquer sinal de esperança, mas ele está tão destruído quanto eu.

Não sei quanto tempo mais iremos aguentar.

 


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Notas finais do capítulo

Capítulos menores e história mais rápida. Estou pegando o ritmo e me atualizando.



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