O Mistério de Winter escrita por Marykelly


Capítulo 11
O fim do Mistério? Part I


Notas iniciais do capítulo

Depois de anooooos, estou eu aqui novamente. Espero que me desculpem pela demora, a faculdade é mais complicada do que imaginei. Mas ta aí um capítulo que terminei agorinha, eu já comecei do zero umas 3 vezes, então espero que dessa vez tenha ficado bom.
Boa leitura. Bjs

Ah. Obrigada pelos comentários, mesmo com a demora, e com as recomendações. NOBODY, você é simplesmente sensacional



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Não era nada fácil se manter consciente de quantos dias já haviam se passado desde que tudo mudou. Se alguém lhe dissesse que tinham sido meses ela não discutiria. Era estranho como as suas prioridades mudavam. Antes possuía o tempo na palma da mão. Tudo planejado. Cada segundo.

Era tudo tão perfeito. Tão... traiçoeiro.

Por que não lhe pareceu, nem por um momento, que todas as suas lembranças eram tão falsas?

Era estranho como as suas prioridades mudavam. E ainda mais estranho como as situações mudavam quando se sabia a realidade. Sam se xingou por dentro, agora ela não tinha coragem para decidir se queria saber.

− Alguma coisa que você me contou − Ela contorceu os cantos da boca para baixo. − Qualquer coisa. Aconteceu de verdade?

Tate a encarou por alguns segundos, escolhendo cuidadosamente o que iria falar. Se acomodou na cadeira a apoiou os cotovelos nas coxas. Optou por algo mais simples:

− Quando estávamos na biblioteca e você estava escondida.... com medo dos trovões. Eu lhe contei que fui expulso da escola, e que também saí de casa. Eu fazia muito isso com você, quero dizer... falar sobre coisas. Sempre que tinha uma tempestade, eu ficava por perto e te contava algo que você queria muito saber. Ou algo que rendesse uma boa conversa. − Ele balançou a cabeça e olhou pra baixo, se rendendo as memórias. − E pensar que houve um tempo que era só com isso que eu me preocupava.

− Sabe porquê você tem medo de trovões? − Ele continuou quando viu que ela se mantinha impassível.

Ela moveu a cabeça, negando. − Eu não... me lembro.

− Algumas semanas depois de eu ter saído de casa... eu estava andando pela estrada, sem rumo e pensando seriamente em desistir de toda aquela maluquice e voltar para casa. Foi quando eu ouvi um choro, o seu choro. Fiquei um tempo procurando de onde vinha até perceber um carro completamente amassado de encontro a uma árvore. Eu não me recordo direito, mas haviam dois homens atravessados no vidro do carro. Mortos. E você estava... no porta malas. Estava tão... você sabe... já estava lá há alguns dias, eu acho. − Ela engoliu em seco enquanto seus dentes tremiam de frio.

Já era quase perto do amanhecer, para ela as coisas ficavam terrivelmente mais assustadoras nesse horário. E se tinha algo que a acalmaria... era ouvir tudo que ele pudesse falar. Ela precisava ouvir. Tentou se imaginar como estaria naquele dia, provavelmente machucada e assustada.

− O carro bateu perto do trilho. Tudo que você ficou ouvindo foi o barulho do trem, passando e passando Toda vez que você ouvia o som, ou um barulho semelhante, entrava em pânico. Você também ficou com claustrofobia, mas superou depois de um tempo.

− Acho que dessa parte eu não terei a mínima vontade de lembrar.

− Você era bastante pequena, acho que não terá uma lembrança muito forte dessa época. − Esclareceu. − Se lembra do lugar que vivia?

− Só alguns flashs, mas nada muito claro. Ele nos tirou de casa e nos levou para um lugar bem distante do centro da cidade. Não tínhamos muitos problemas em nos camuflar, não que eu me lembre. − Sua voz quase não saía. Tinha ficado rouca. E quase ficado louca antes de sentar na maldita cadeira e esperar que algo a livrasse daquilo tudo...

− É, algo assim. − Tate concordou. − Quer mesmo que eu continue a falar?

Essa era a hora em que finalmente teria que enfrentar a si mesma. Alguém que ela desconhecia. Ouvir sua própria história como algo inédito.

Tate suspirou. Ela estava esperando o momento em que ele explodiria, gritando o quanto ela havia sido difícil de lidar, mas até agora nada. Ela apenas respondeu: − Continue de onde parou. Por favor.

− O lugar era quase invisível de tão comum. Respeitamos regras bastante rígidas quanto a exposição. Aos nosso olhos, era apenas alguns trailers na floresta. Ficava longe o suficiente para não precisarmos sussurrar e perto o bastante para nos misturarmos com o resto da população.

− Espero que essa parte de se misturar com o resto da população fosse valer para mim algum dia.

− Não era bem assim... − Tate contestou.

− É, eu sei bem como era. − ela o interrompeu, sem evitar que a recente lembrança viesse.

.

***

.

Tate e ela estavam se aproximando quando ela ouviu um grito.

− Samantha? Meu Deus! Hanna, ela está aqui!

− Encontrem Lucas, diga que a encontraram. Rápido!

As vozes ecoaram na sua mente.

Depois de um bom tempo na escuridão, ela retornou meio grogue.

Estava deitada.

− Pai? − Ela o chamou. Ele a olhava, carrancudo.

− Eu disse para você não sair daqui. E você não me ouviu. Faz ideia do que causou?

− Me desculpe.... eu queria...

− Eu desfiz uma operações inteira, coloquei todos atrás de você.

Ela sentia as lágrimas descendo pelo rosto, mas não ia enxuga-las. − Queria ver como é lá fora.

− Isso não é brincadeira querida, você precisa crescer e parar de enxergar o mundo como uma fantasia. Você quase morreu. Te pegaram porque não tinha identificação, você teve sorte, muita sorte.

.

***

.

− Sabe o que fazem com pessoas sem identificação? São considerados delinquentes e levados para os centros de reparação. O mesmo acontece com sem-tetos e criminosos. − Tate dizia cada palavra lentamente, vendo os efeitos que causava nela. − E sabe o que fazem na reparação?

− Eu faço alguma ideia.

− Não, não faz. Seu pai fugiu de lá por um bom motivo. Não é só desumano, alguns experimentos chegam a ser doentios

" Pelo tempo que servi lá, soube que isso já acontece há décadas. Antes do seu pai surgir com essa ideia de que o Estado devia ser transparente, as coisas aconteciam por baixo do pano. Utilizavam uma parte da internet que é difícil rastrear para se comunicarem. Mas as pessoas interessadas, como seu pai. Estavam convencendo cada vez mais pessoas de que precisavam saber sobre o que era feito. E foi ficando difícil de explicar. A mente ardilosa daquelas pessoas uniram o útil ao agradável. Colocaram seu pai de fachada, em um programa de ajuda bem superficial enquanto eles faziam a coisa toda bem debaixo dos nossos narizes. "

Lucas dera a alma no trabalho, o colocaram na frente pois sabiam o quanto ele era honesto e que as pessoas acreditariam que se ele era assim. Ele foi usado para encobrir pesquisas ilegais.

Ele deve ter se sentido tão mal quando descobriu o que estava encobertando.

− Tate, como você foi parar lá? Quero dizer... você ficou comigo, não ficou? Como acabou servindo ao Estado? − Respirou fundo, até agora as coisas que ouvia ia de acordo com que desconfiava. Mas tinha tanta coisa que ainda não se encaixava...

− Depois que seu pai viu que não poderia lutar sozinho, ele fugiu. A fuga acabou ficando famosa, outras pessoas que sempre estiveram contra o sistema foram atrás dele. Pessoas que estão tão dentro do sistema que acredito que ninguém desconfie. Só aí ele teve noção do quando já estava sendo feito para destruir o Estado. E não hesitou em entrar. O trabalho do seu pai é uma das etapas de treinamento de iniciantes, como eu, para praticarmos o processo de infiltração.

− Nossa... isso é... − Ela se levantou e começou a andar pela sala. Já podia ver o sol despontando no horizonte. − E ninguém desconfia de vocês?

De nós. Ela se forçou a se lembrar.

− Existem muitos exames. Provas de lealdade. Isso desestimularia qualquer um que esteja mal intencionado. Só pessoas realmente loucas passariam por isso, ou com a alma completamente entregue a causa. Para eles... nenhum de nós têm uma lealdade que chegue a esse ponto. Esse foi o erro nº 1 deles.

Seu nervosismo só aumentou.

− Eu sei que é informação demais. − Tate levantou e foi para perto dela. − Mas você precisa saber. Só assim vai entender o que está acontecendo agora. Estou tentando ser o mais cauteloso possível.

Ela encolheu os ombros quando as mãos de Tate deslizaram por eles. − Eu não consigo. Estou tentando, mas ainda não consigo ver o motivo de ter escondido...

− Eu sei, não vou te pressionar. − Ele suspirou e voltou para a cadeira.

Não sabia o que Tate esperava dela, nem agora nem depois. E não queria pensar nisso.

Seu coração começou a bater disparado quando ela associou algo que ele tinha lhe dito.

− Tate

− Hm?

− Me diga que não entrou infiltrado pela reabilitação. Por favor. Me diga que não fizeram experiências com você.

Não sabia se estava pronta para a resposta. Mas de certa forma já sabia. Estavam rodeados de lembranças ruins.

− Na verdade, nós três entramos. Nós três passamos por experiências, Sam.

− O que te fizeram? − Não aguentou mais segurar. − O-oque fizeram com o Corm? E como ele entrou nisso? E como eu entrei nisso? Meu pais não..

− Ei, calma. Eu vou te contar tudo. Só... fique calma, está bem?

Ela sentia como se algo ruim fosse acontecer, não conseguia ficar parada, era impossível ficar calma. Qual era o problema dele? Devia jogar tudo de uma vez, e não ficar fritando sua mente como ele estava fazendo.

− Eu fiz parte do grupo de experimentos de uma droga que afetava a percepção de escolha e a disciplina. Eram apenas testes, mas funcionou em muitos. Os outros morreram. Mas o fato é que, nos transformamos em robôs. Aceitávamos as ordens deles sem questionamento. Eu matei pessoas, gente que eu conhecia. E não senti nada. − A angustia era praticamente palpável na sua voz.

Tinha que ser sempre assim. Sempre angustia, dor, perda, raiva. Tate teve sorte de sobreviver aos testes, mas os outros...

Ela não iria pedir mais detalhes sobre isso. Não era uma sádica. − Deve ser assustador não ter controle sobre seu corpo. − Sussurrou.

Ele limpou a garganta e continuou. − Não sei bem como foi a do Corm, mas sei que era bem mais complexo. Vocês dois não deviam ter entrado nisso, era a minha missão. Mas eu não sei o que deu na sua cabeça. É claro que isso foi coi dele. Nunca soube que afeição era essa que você criou pelo Corm. Ele só te metia em confusão. − Tate bufou.

"Acontece que... você é a filha do Lucas White! É claro que saberiam quem era no instante em que colocassem o olho em você, aquele idiota não me escutou. Vocês foram descobertos alguns dias depois. Bem... foi aí se iniciaram as experiências com você. A segurança queria te matar naquele segundo. A intervenção de um dos líderes foi crucial para te salvar. Ele era um dos nossos, e te reconheceu. Conseguiu convencer mais alguns que você seria mais útil viva. Só nisso que ele foi ouvido. Logo depois começaram o processo de extração de informações da sua mente. Mas Corm ferrou com plano deles, você sabe... te fazendo esquecer de quase tudo."

− A ideia dele foi louca. Mas completamente genial. − Ela se sentiu melhor ao rir da situação. Isso só acontecia quando não se estava mais na pior. −Isso deve ser estranho pra vocês. Ver alguém que conhecem há tanto tempo... não lembrar nem do seus nomes.

− É, foi... difícil.

− Eu não sei o que faria se fosse ao contrário. − Refletiu.

− Não quero que passe por isso nunca. − Ele olhou para baixo. − Machuca muito.

− Eu devia te amar muito. − Concluiu, simplesmente. Tate ficou sem reação, esperando alguma coisa. − Você sabe...para arriscar a minha vida e a de tantas pessoas, já que eu tinha informações que podiam ser usadas como arma.

− O que isso tem a ver? Você não foi por mim.

− É claro que fui. − Ela o olhou como se ele fosse um idiota por não saber daquilo. − Está obvio. Você disse que missões de infiltração como essa sempre existiram, se eu só me interessei a ir na mesma época que você... Eu acho que fiquei preocupada com você ou algo assim. Po-r quer está rindo?

Ele mordia os lábios para se conter. − Acho que é porque você iria preferir levar uma facada do que admitir isso. Mas é bom ouvir.

− Isso é bobagem. Eu não sou assim.

− Mas você era assim. Agora você não tem o peso lembranças ruins. Está livre.

.

***

.

− Hm... eu tenho algumas dúvidas. − Estava mais aliviada agora. Tate estava fazendo café da manhã para eles. Mesmo tendo virado a noite, ela sentia que podia passar uma semana sem dormir.

− É só perguntar.

− A minha família... eu podia me lembrar deles, não de como eles eram de verdade, mas ainda assim podia. Então porque não foi o mesmo com vocês dois? Por que optaram por se excluir completamente?

− Você não podia ser lembrar de quem nós éramos ou acabaria pondo tudo a perder. Se nos reconhecesse, mesmo pensando ser outra pessoa, estaríamos ferrados.

Corm apareceu na cozinha no mesmo instante em que Tate sentava à mesa.

− Você está bem? − Ela o perguntou. Sam tinha quase certeza que ele não tivera uma noite muito agradável. Talvez os passos dela pela casa a noite toda não tenham ajudado.

− É, baby. Eu estou bem. Só me diga em que parte da história estamos. − Ele também se sentou.

− Tate estava falando como você agia como um idiota a maior parte do tempo.

Sam falou isso tão distraidamente enquanto comia que Corm não conseguiu não rir. − Quando foi que você ficou tão sincera?

− Eu acabei de dizer isso. − Tate concordou.

− Do jeito que vocês falam até parece que eu era uma criatura maligna. − Ela resmungou. − Eu era?

− Antes não... − Corm murmurou. − Mas depois você começou a operar apenas no modo missão. Foi estranho.

Sam encolheu os ombros, saber daquilo a deixava pensativa. Era esquisito falarem dela assim.

− Eu não achava... − Tate começou, tentando ajudar.

− É claro que não, você dormia com ela. − Corm interrompeu. Sam sugou o ar ao mesmo tempo que engolia a comida e se engasgou. Sua visão se embaçou com as lagrimas enquanto ela tossia e lutava para respirar. Com a voz embargada, disse: − O-o que?

− Ué? Você sabe que namoram há muito tempo, certo?

− Ai, meu Deus. − Sam se encostou na parede e se deixou escorregar até o chão. Com suas bochechas em chamas. Corm ria e Tate espalmava a mão no rosto.

− Sabe o que eu disse sobre um dia conseguirmos conversar os três sem estresse? Esquece. Você não dá um minuto de folga, Corm. − Tate resmungou.

.

***

.

− Eu sei que sou um poço de sutileza. − Corm a ajudou a se levantar da caverna que criou no canto da cozinha. − Já disse para não ligar para o que eu digo.

− Não acredito que falou disso. − Choramingou.

− Eu sei, mas teriam que falar disso algum dia.

Tate ainda estava na mesa, fingindo interesse pelos farelos.

− Eu já disse o quanto você foi louco por apagar a minha memória? − Ela mudou de assunto. − Foi incrível. Eles não sabiam que o efeito era passageiro, não é?

Corm engoliu em seco e olhou para Tate, que apenas assentiu. Como se tivesse autorizando algo.

− Você não acha que eles fariam de tudo para reverter a sua situação? − Corm questionou. − Você é uma carta na manga e tanto. O melhor trunfo.

Ela ia responder algo mas sua voz falhou, ela ficou com a boca aberta, esperando que saísse algo enquanto a voz de Corm ecoava pela sua mente. E depois a voz dele se tornou a voz do assassino da sua mãe.

Você é nosso melhor trunfo.

Não se preocupe, não vamos deixar que usem você contra seu pai.

− Por que está falando no presente, Corm? Eles ainda planejam me fazer algo? − Ela parou. − Ou... já fizeram? Com nós três. É por isso que estamos aqui?

− Sam... − Tate começou. − Tente ficar calma. A coisa toda exige um pouquinho de compreensão. Não vai ser nada fácil explicar.

− Falem de uma vez! − Ela olhava de um para o outro.

− Lembra quando eu disse que não conseguiríamos chegar nos abrigos? − Corm perguntou. Ela balançou a cabeça freneticamente, concordando. − Bom... não conseguiríamos mesmo chegar, mas não era pelo motivo que eu disse... era por que... não tem pra onde ir.

− Não tem para onde ir? Estamos presos? − Ela ofegou.

Presos numa cidade?

− Sim. Estamos presos, mas não da forma que você imagina. − Tate afirmou. − É mais algo mental do que físico.

− O que você está querendo me dizer?

− A experiência com você não acabou, está acontecendo. Nesse momento. O objetivo é recuperar as suas memórias. É pra isso que estou aqui, me enviaram para te ajudar nisso.

− Em outras palavras... você está sonhando.


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Notas finais do capítulo

HUHU, gostaram? Querem me matar? KKK Eu entendo. Bjs e até a próxima.



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