Seus Olhos escrita por Beatriz de Moraes Soares


Capítulo 2
Coquetel de boas vindas


Notas iniciais do capítulo

Capítulo um pouco atrasado, mas está aqui.

Espero que gostem e por favor, comentem.



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Aquele dia finalmente acabou e logo outro se iniciou. Passei o dia e parte da tarde dormindo, a medicação que a Dra. Schwartz me indicou foi muito forte e por isso, fiquei com esse sono imenso.

Estou em minha cama, girando de um lado para o outro. Os efeitos dos remédios já haviam passado, mas eu continuava deitada evitando o mundo lá fora. Então se ouve um tremor vindo do lado direito da minha cama, mais especificamente do criado-mudo. Abro rapidamente meus olhos e vejo que é meu celular, em primeiro momento acho que é a Dra. Schwartz, mas assim que o pego e miro diretamente no visor, aparece o nome de Meredith nele.

Deslizo o dedo sobre o ícone verde e aceito a ligação:

– Alô? – digo.

– Val! – grita Meredith, animadamente – Cadê você? Já são sete e meia! Estão todos aqui, só falta você, sabia?

– Meredith... – sussurro desanimadamente.

Eu havia me esquecido completa e totalmente da recepção de Meredith e Pete. Mas então repenso, de qualquer maneira meus pais não iriam gostar muito que eu saísse com menos de 48 horas após uma crise, com isso o melhor era não ir.

– Valerie Novack, venha logo ou irei te buscar pelos cabelos!

– Sabe o que acontece, Meredith...

– Não interessa Valerie. Eu fico fora por dois longos anos e quando eu volto, estou prestes a me casar e você é minha madrinha, então você simplesmente não aparece na minha recepção?

– Mered...

– Shiiiiiii! – chia ela – cale sua maldita boca.

– Olhe, sua hostilidade e agressividade...

Ela desliga. Irritada por decepcionar Meredith, jogo meu celular no outro quarto e me enrolo em meus lençóis, voltando a novamente dormir.

– Cadê ela?

Grita uma voz feminina vinda de longe, mas bem audível de onde estou. Dou um salto e levanto de minha cama assustada e vou até a porta de meu quarto.

– Me desculpe mesmo Sra. Novack, me desculpe por ela.

Diz uma voz masculina, um pouco mais distante que a voz feminina.

– Cala boca, Peter! – diz a voz feminina, que agora posso perceber que pertence a:

– Meredith! – grito ao avistá-la no corredor, em um piscar de olhos, ela já está ao meu lado, me puxando pelo braço e me arrastando de volta ao meu quarto.

– Valeria, un traditore! Come hai potuto farmi questo? Dio!– grita ela, algo que acredito ser italiano.

Os pais de Meredith são da Itália e então ela herdou esse jeito um tanto... Escandaloso dos Italianos!

– Meredith... – sussurro.

– Taci, Valeria! Taci! – grita.

– Dá pra parar de falar italiano, pelo amor de Deus. Você sabe muito bem que eu não entendo nada do que você fala.

– Ingrata! – bufa ela.

– Ei, isso eu entendo perfeitamente – digo.

– Melhor você calar essa sua boca, Valerie. Estou furiosa com você! – diz ela, enquanto se dirige ao meu closet e o abre – como pode simplesmente não aparecer em meu coquetel de boas-vindas? – ela começa a jogar várias peças de roupas em minha cama – escolhe uma droga de uma roupa, te espero lá embaixo em quinze minutos!

– Meredith... – tento protestar novamente, mas ela me calou apenas com um olhar e depois se virou e saiu do meu quarto.

Eu sabia que eu estava sendo uma péssima amiga não querendo ir ao coquetel de Meredith, mas aquele episódio do shopping só me fez repensar em tudo novamente. Sobre quem eu era de verdade, que talvez eu estivesse apenas me enganando tentando agir como uma pessoa “normal”.

Remexi dentre meus vestidos e escolhi o mais bonito e adequado para a ocasião. Apesar de minha luta para ir, eu gostaria de estar realmente lá, ver Meredith feliz me faria feliz também, então era uma recompensa.

Desci as escadas e fui até a sala principal, onde Meredith estava. Ela estava em pé, batendo o pé freneticamente no chão, enquanto Peter estava sentado no sofá segurando sua mão, obviamente tentando acalmá-la.

Foi quando em pensamentos bobos eu noto o quanto Meredith e Peter combinavam, não só o entrosamento de um para com o outro, mas fisicamente também, os dois ambos loiros – apesar da tonalidade de Meredith ser um pouco mais clara e artificial que na raiz começavam lisos e ao final terminavam com belos cachos perfeitamente desenhados –, seus olhos de um verde parecido com esmeraldas e suas peles, de um bronzeado invejável, claro que o bronzeado de Meredith era também artificial, por que ela jamais conseguiria um bronzeado assim em Londres, mas a cor de Peter era totalmente natural. Vindo de Los Angeles, era óbvio que seria.

Mamãe também estava lá, sentada na poltrona do outro lado da sala, obviamente já preocupada com a minha saída. Quando perceberam que eu estava lá, rapidamente me encararam. Meredith parecia mais calma quando seu olhar encontrou o meu, mas não o suficiente para eu não a temer:

– Boa noite – disse sem graça a eles, olho para Peter – Boa noite Pete, bom te ver.

– Boa noite Valerie – disse ele.

– Está linda, filha – disse mamãe.

– Vamos? – disse Meredith impaciente – devem estar perguntando por nós.

– Mas é claro, vocês são os noivos – disse, tentando fazer brincadeira, mas não “colou” muito.

Meredith pegou sua bolsa e Pete sacudiu suas chaves, mas foi aí que mamãe protestou, eu estava até estranhando:

– Meredith, querida. Creio não ser uma boa ideia Valerie sair hoje, já que ela teve uma crise a menos de 48 horas – disse mamãe, começando seu discurso, mas foi quando eu vi o olhar de Meredith, que percebi que a pior coisa que mamãe tinha feito naquela noite foi protestar.

– Olhe Sra. Novack – começou ela – creio que não sou a pessoa mais indicada para questionar a sua “criação” com relação a sua filha de 24 anos. – ela enfatiza minha idade – Mas eu acho, eu digo que só acho, que trancafiá-la nessa mansão como os pais de Bela Adormecida a trancafiaram naquela maldita torre, também não seja uma “Boa Ideia”.

– Meredith! – diz minha mãe. – Que falta de respeito com os mais velhos.

Meredith revira os olhos:

– Eu cuidarei dela – diz ela e então, começa a me puxar pelos os braços para fora de casa, sem que minha mãe possa falar nada, nem ao menos eu.

No carro de Pete, o silêncio é enorme e desconfortante.

– E então – eu tento encontrar algum assunto – vai ter Heineken nesse coquetel?

Pete solta um risinho e olho para Meredith, que revira os olhos e ainda se mantém séria.

– Droga Meredith! – protesto – dá pra parar com esse jogo do silêncio? Eu estou aqui, ok? Eu estou indo para o seu coquetel como você quis, agora dá para voltar a ser a Meredith e tirar essa mascara de Bruxa Má da Branca de Neve?

Ela olha para mim, do banco do passageiro e então eu sorrio, ela não aguenta e sorri também, me puxando para um abraço apertado.

– Que saudades de você, sua vaca! – diz ela.

– Demonstrações de afeto em público? – pergunto a ela e ela ri.

Pete caí na gargalhada e comenta:

– Como vocês são ridículas!

E acaba levando um soco no ombro de Meredith.

– Cala boca, Peter! – diz ela e depois volta sua atenção para mim – Val, você não sabe quem está na recepção e está doido para te conhecer!

Meredith – a repreendo, já sabendo de quem ela está falando.

– Valerie, se dê uma chance! Você é tão linda, jovem e...

– Doente – finalizo.

– Pare de ter pena de si mesma!

– Não é pena de mim mesma, Meredith, é só que eu não quero ser um encosto pra mais alguém – digo e essas palavras a calam.

– Ele é um gatinho – anuncia ela.

Meredith – a repreendo.

Meredith! – Pete a repreende também.

Só que por outros motivos.

Chegamos à casa dos Pieruzzi e noto que há uma grande movimentação. Pete abre a porta para mim e logo após para Meredith. Assim que ela sai e ele passa os braços pela sua cintura, sinto uma pontada em meu coração, afinal nunca alguém irá fazer isso por mim.

Assim que entramos todos os olhares são voltados a nós:

– Querida, que demora! – a Sra. Pieruzzi, mãe de Meredith, aparece repentinamente no meio das pessoas e vai até Meredith – achei que tinham sofrido sei lá, um sequestro relâmpago!

– Que drama, mamãe! – diz Meredith – só fomos buscar a fujona da Srta. Novack! – ela diz, apontando para mim e assim que me vê, a Sra. Pieruzzi vem me abraçar.

Valeria! – grita ela – Buona Sera, quanto tempo!

– Sra. Pieruzzi, é um prazer vê-la – digo.

– Valeria! – grita o Sr. Pieruzzi, pai de Meredith, vindo até nós.

Aos poucos, meu nome é dito por quase todos no coquetel. Todos me conhecem, pois desde a infância, eu e Meredith éramos muito unidas. Fazia anos que eu não via uma reunião tão grande dos Pieruzzi. Quando éramos mais jovens, Meredith sempre me convidava para as reuniões de sua família e eu sempre adorava, sempre tão alegres e felizes, eles sabiam realmente aproveitar a vida.

Depois de cumprimentar praticamente todos os Pieruzzi no coquetel, me dirijo a Meredith e a Peter, que estão conversando com um rapaz que não consigo identificar quem é, pois está de costas para mim. Assim que Meredith me visualiza, cochicha algo ao rapaz, que rapidamente se vira em minha direção e nesse exato momento, meu coração para.

Olho para os lados procurando alguma fuga, mas infelizmente Meredith foi mais rápida do que eu, vindo até mim, me pegando pelo braço e levando-me para perto de Pete e dele. Para os Olhos Azuis. Ah, meu Deus! Era ele, o dono daquele pelo par de olhos azuis do Shopping. Ele está aqui!

Eu tento desviar meu olhar do dele, mas é impossível. Sua boca sorri para mim, seus olhos sorriem para mim, seu corpo sorri para mim e é impossível não olhá-lo.

– Vamos! – Meredith me puxa mais ainda quando eu tento parar, e quando estamos perto o suficiente deles – olha ela aqui! – anuncia ela – do jeito que todos te cumprimentaram, achei que o coquetel era para você, Val – brinca Meredith.

Sorrio sem graça, abaixando minha cabeça e mexendo nervosamente em meu cabelo, tentando o colocar atrás de minha orelha, com as mãos trêmulas.

– Deixa eu te apresentar ao primo do Pete – diz ela e por fim, levanto minha cabeça para olhá-lo e simplesmente meus olhos encontram os seus – Valerie, esse é o Eric. Eric Dawson, essa é a minha melhor amiga e madrinha, Valerie Novack.

– Eu já a conheço – diz Eric.

– Já? – pergunta Pete, surpreso.

– De onde? – pergunta Meredith.

–Eu derrubei café nele no shopping sem querer – digo.

– Ele é o gatinho do shopping, então? – diz Meredith, na maior naturalidade do mundo.

Como? Grito mentalmente. O que Meredith pensa que está fazendo? Eu não havia dito nada sobre o incidente do shopping para ninguém. Fuzilo Meredith com os olhos e ela dá os ombros.

– Gatinho? Hum? – diz Eric, com um sorriso sugestivo – é um prazer conhecê-la novamente então, Srta. Novack.

Ele estende sua mão, para que eu a pegue, e eu a faço. Seus olhos não se afastam dos meus nem por um milésimo de segundo, nem mesmo quando suas mãos tocam as minhas. Eu sinto um tremor contra minha pele e ele parece perceber.

Há uma tensão entre nós, ele não solta minha mão e eu também não faço nenhum movimento contrário, percebendo isso, Pete pigarreia e Meredith diz:

– Vou deixa-los a sós.

Eles saem e nesse momento, sinto um estralar na minha cabeça que me faz acordar do transe, fazendo com que eu puxe minha mão.

– Então, eu sou um gatinho? – pergunta ele, sorrindo.

– É o melhor que pode fazer? – digo a ele.

– Bom, posso perguntar do seu café, então? – seu sorriso fica ainda maior – Ou então sobre o tempo, que tal?

Reviro os olhos e me viro para sair, mas ele me segura pelo braço.

– Espere! – nesse instante sinto algo em minha barriga se remexer, a primeira coisa que vem a minha cabeça é que estou tendo um espasmo e tudo o que tenho a fazer é realmente fugir.

– O que quer? – pergunto impaciente.

– Por que você foge de mim?

– Você me persegue? – pergunto e ele nega com a cabeça – Então. Só fujo do que me persegue.

Saio rapidamente e esbarro com Meredith:

– O que está fazendo aqui? Cadê o Eric?

– Não sei... Lá atrás talvez.

– Você o deixou sozinho, Valerie? – pergunta ela.

– Eu não posso fazer isso, Meredith! – eu digo – não me peça para fazer isso, só não me peça...

Ela me olha por um longo tempo.

– Tudo bem, Valerie. Desculpe-me. – diz ela, me puxando para um abraço – eu não deveria te forçar a conhecê-lo, só achei que seria legal você conhecer alguém.

– Eu te entendo, você só queria meu melhor – digo a ela sorrindo.

– Quer ir embora? – pergunta ela.

– Posso?

– Pode, você deve estar exausta – ela diz, arrumando meu cabelo, que no mínimo deveria estar amassado por abraçar Meredith – vou pedir para o Pete te levar.

– Não, não precisa. Eu pego um táxi.

– Valerie, não...

– Meri – insisto e por final, ela assente.

– Mas, - começa ela – amanhã esteja bem disposta, pois iremos começar nossa maratona para o meu casamento.

– Claro, Capitã Meredith Pieruzzi! – digo a ela e ela ri – posso sair pela porta dos fundos? Eu não quero cruzar com Eric.

– Tudo bem, vou ligar para um táxi.

Vou até ela e a abraço.

– É tão bom tê-la de volta, Meri!

– Também é bom estar de volta!


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Notas finais do capítulo

NotadaBeta/Diva/FãdaBia: Nossa, o ar até muda quando a Meredith chega! Gente, e o Olhos Azuis? Se eu visse o Eric Dawson na rua, eu dava uma bolsada na cara da Valerie e sequestrava ele pra mim! Quem aí já tá louco (a) de curiosidade pra saber o que vai acontecer? Õ/