Dias Imprevisíveis escrita por Gil Haruno


Capítulo 36
Capítulo 36 -Sentimentos aflorados


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura, pessoas!
Beijos!



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‘Somente o amor faz com que os problemas pareçam menores.’

Antes de entrar em casa olhei para trás novamente, mas não mais avistei Ethan, apenas o barulho potente do motor de sua moto pôde ser ouvido até certa distância. Angustiada e pensativa, abri a porta devagar, e a um metro e meio da porta pude avistar a bagunça de embalagens e garrafas de cerveja esquecida na mesa de centro da sala.
Cheguei ao quarto e, com muita cautela, abri a porta. Meu medo era de flagrar Megan e Jason no quarto, numa situação muito íntima, no entanto, ela estava sozinha na cama.

–Claire? – indagou meu nome com sonolência. –É você?

–Felizmente sim. – respondi com humor, pois deduzi que Megan estava de ressaca. –Volte a dormir.

–Estou entediada nessa cama. – reclamou descobrindo a cabeça. –Acordei bem cedo e fiz um café horroroso.

Desconfortavelmente ela saiu da cama, pelada como veio ao mundo, e cambaleante vestiu uma camisola.

–Jason foi embora bem cedo.

–Isso explica sua nudez.

–Ah! – ela sorriu divertida. –Não transamos, na verdade nós queríamos, mas enchemos a cara demais. Só dormimos pelados; como sempre fazemos.

Ela detalhava sua intimidade com o namorado como se estivesse falando de dieta.

–O que aconteceu com seu vestido? – perguntou reparando que mais um rasgo na coxa tinha sido feito.

–Tive que rasgar para subir na moto.

–Pelo jeito sua noite foi bem agitada, né? – sorriu esfregando os olhos. –Eu vou ao banheiro lavar o rosto de novo.

–Tá.

Era estranho a falta de estardalhaço em Megan. Eu esperava uma enxurrada de perguntas, já que ela sabia que eu estive com Ethan na noite passada, mas seu comportamento era muito natural.

–Como foi com Ryan?

–Foi... – ela não sabia que eu tinha passado a noite com Ethan, senão seria a primeira coisa que ela teria perguntado. –Foi péssimo.

–Péssimo? Você chegou agora de manhã. Como pode ter sido péssimo?

De fato, Ethan não avisou a irmã de que eu estava com ele.

–Para começo de conversa, eu terminei com Ryan ontem. – Megan não parecia está surpresa, na verdade ela já esperava por aquele fim. –Tentei conversar com ele amigavelmente, mas ele estava alterado, inacessível, e, no final de tudo, ele me deu uma bofetada.

–Ele bateu em você? – perguntou horrorizada. –Seu rosto ainda está avermelhado, Claire! Desgraçado! Filho de uma cadela de rua! Eu vou arrancar as bolas dele e vou fazer que ele engula uma por uma!

–Acalme-se. Preciso te contar o resto da história.

–Sim. – disse levando a mão ao peito. –Eu vou me sentar e você pode continuar.

Enraivecida, Megan se sentou, contraindo a mandíbula com força.

–Eu estava atônita demais para vir pra casa, então fui ao edifício do seu pai, por que o terraço de lá é um lugar ótimo, e encontrei Ethan. Conversamos um pouco, nos desentendemos, nos entendemos de novo, e voltamos a namorar.

–Eu tenho que respirar fundo senão não aguento essa história. – disse ficando de pé. –E aí?

–E aí nós transamos.

Megan caiu sobre a cama, fingindo sofrer um desmaio. –Não! Eu não vou acreditar que você fez amor com meu irmão!

–Bem, estivemos pelados na mesma cama. Fizemos longas carícias um no outro, nos beijamos incontáveis vezes, e estivemos ‘conectados’ sexualmente. Isso é sexo, não é? – brinquei arrancando um riso descrente dos lábios entreabertos dela.

–E como foi?

–Foi maravilhoso, mas...

–Eu sei. A primeira vez não é tão legal assim. Mas a segunda vez é melhor, as outras vezes então são fantásticas! – claro, ela entendia bem aquele assunto. –Quanto a Ryan...

–Ethan prometeu acabar com ele.

–Promessa mais que merecida. Onde já se viu ser tão agressivo por causa de um fim de relacionamento? O que me espanta é que Ryan não tem cara de ser um... Claire?

–Sim? – olhei-a com distração. –Desculpa, estou muito...

–Triste. – disse arrastando-me à cama. –Era para você está feliz. Você e Ethan finalmente conseguiram deixar seus sentimentos aflorarem. Estão juntos como sempre quiseram ficar. Por que esse rosto está tão triste?

Suspirei alto, tentando respirar sobre a avalanche de um único problema. E aquele problema parecia não ter solução. Estava muito acima dos meus limites.

–Estou preocupada com Ethan. Ele pretende se desligar de Crash, mas eu acho que isso não será tão fácil.

–De uma coisa podemos ter certeza: Crash não é durão como gosta de parecer.

–Sim, eu concordo com você, mas... A ambição dele por dinheiro é imensa. Ethan faz parte disso e tê-lo como carta fora representa perdas.

–Olha, infelizmente não podemos fazer nada. Isso é assunto de Ethan e ele nunca permitiria que nós nos envolvêssemos nisso.

Levantei-me sentindo-me completamente inútil. Ethan podia parecer otimista, mas seus temores, aos meus olhos, eram mais que visíveis. E eu, infelizmente, não podia fazer muito por ele, por que aquele era meu limite em relação à sua vida aventureira, – a não ser que eu decidisse ir além dele.

–E se eu falar com Crash?

–Você pirou? O que vai dizer a ele?

–Sei lá! – passei a andar de um lado a outro, começando a explorar meus limites. –Crash me escuta, não é?

–Ah! Claro que ele te escuta e eu tenho certeza que dessa vez ele vai te escutar melhor! – disse ironizando cada palavra. –Você quer brincar com fogo, isso sim! – seu olhar era reprovador. –O que você pode dizer a ele? Escuta, Crash, eu amo Ethan e você está atrapalhando minha felicidade com ele. Será que dá para você deixar meu namorado em paz? Por que se você ainda não percebeu, eu tenho planos para minha vida ao lado dele! Eu sonho em casar com ele e ter uma penca de filhos. – imitando-me, Megan andava de um lado a outro, na minha direção oposta. –Seria a coisa mais estúpida que ele ouviria em toda a sua vida. Quem, em pleno século vinte e um, se deixa comover tanto?

–Você não está me deixando racionar, Megan!

–Desculpe, eu só estou tentando fazer você entender que estamos longe de resolver problemas como esse. – então ela parou de andar, e obrigou-me a fazer o mesmo barrando-me no caminho. –Ethan sabe se cuidar, Claire. Ele vai dar um jeito de sair dessa.

Megan pensava com otimismo, mesmo sabendo que a realidade estava muito além dele. Por um breve instante acabei pensando como ela; acabei deixando meus sentimentos encobrir o medo.

&&&&*&&&&

–Não tem ninguém pelado aí, não é?

–Eu posso ficar se você quiser. – respondeu Ethan.

Entrei no quarto dele, dando um belo flagra na bagunça de roupas pelo chão.

–O que houve aqui?

–Digamos que eu viajo muito e quando volto para casa...

–Acumula uma montanha de roupas sujas no meio do quarto.

–Não são tantas assim.

–Claro que é; do meu ponto de vista. – nada constrangido, Ethan começou a juntar as roupas. –Pensei que você fosse mais organizado.

–Está decepcionada com seu namorado bagunceiro? – indagou divertido.

–Desde que você faça bagunça em seu quarto, eu não me importo. – dei de ombros virando-me para a outra parte do quarto, a cama dele. –Por que tantas camisinhas?

Perguntei mostrando a ele a quantidade de preservativos.

–Não são minhas, são de Nicholas. – respondeu livrando-se da balbúrdia de roupas.

–Não entendo o porquê de vocês andarem abastecidos com tantas delas. – Ethan olhou-me de esguelha, enquanto tirava a camisa. –Quantas poderiam usar em um dia ou uma noite? – não era uma curiosidade, era uma provocação.

–Depende muito da situação. – livrou-se da camisa e, com um olhar repleto de malícia, aproximou-se de mim. –Quando se tem uma namorada linda e tentadora... – ele arrastou-me pela cintura, colando nossos corpos. –, é impossível não usar muitas delas.

Esquecendo-me dos propósitos pelos quais fui ao quarto de Ethan, acabei correspondendo às investidas dele, que chegavam a ultrapassar o desejo de um beijo, e reavivavam todas as sensações recentes que tive na noite passada.
Suas mãos transitavam meu corpo, numa pressa capaz de me despir sem que eu muito percebesse. Seu desejo era saliente, sua vontade ficava cada vez mais exposta. Seu convite era apaixonante, quase irresistível.
Inteiramente compenetrada em seus lábios, ouvi nitidamente o barulho da chave trancando a porta, e ao abrir os olhos, constatei que Ethan tinha me levado até lá.

–O que você está fazendo?

–Certificando-me de que ninguém vai nos interromper.

–Mas... – um beijo alvoroçado calou-me em abrupto. –Eu estava preocupada com você e... – minhas costas sentiram a maciez aveludada da cama. –, foi por isso que eu...

As alças do meu vestido deslizaram por meus braços, cessando todas as minhas intenções de escapulir daquela cama. Seus lábios úmidos e quentes traçaram a curva do meu pescoço, distribuindo leves mordidas pelo curto caminho até alcançarem meus seios, já desprotegidos de qualquer tecido. Uma onda de calor invadiu-me por inteira, atiçando meu corpo à espera de contato íntimo.

&&&&*&&&&

Meus olhos sonolentos pouco a pouco se abriram. Desnorteada, olhei o relógio na cabeceira da cama e me assustei com o horário. Lembrei-me de ter entrado naquele quarto às onze da manhã, agora eram quase seis da tarde, e logo anoiteceria.
Cautelosa, afastei-me de Ethan, que ainda dormia tranquilamente. Espreguicei-me sentindo os reclames do meu corpo e eu podia jurar que havia leves hematomas nele. Constatar tal coisa deixou-me enrubescida, mas ainda quando olhei para o chão, e as embalagens de preservativos estavam lá, nos denunciando.

–Que horas são?

–Quase seis horas. – respondi ainda admirada com o horário tardio. –Ficamos trancados nesse quarto o dia inteiro.

–Não fale como se fosse um absurdo, você adorou ficar presa aqui comigo.

–E você acha que eu vou negar? – indaguei voltando a me aconchegar em seu peito. –Megan e Nicholas vão atormentar a gente.

–Eles estão morrendo de inveja. – rimos como duas crianças travessas.

–Estou morrendo de fome. O que você acha de pedirmos comida chinesa?

–Peça para você, eu tenho que sair daqui a pouco.

Aqueles eram os únicos momentos que eu me sentia verdadeiramente tensa com Ethan, por que, obviamente, era quase surreal não fingir interesse em seu paradeiro.

–E, antes que você dê uma de detetive, saiba que estou indo disputar.

O lençol escorregou pelo meu corpo quando me sentei na cama. –Acho que prefiro não saber do seu paradeiro nessas horas. – abracei os joelhos com os braços e o encarei fixamente. –Conversou com Crash?

–Ainda não.

–Uh. – murmurei pensando que lhe faltara coragem suficiente. –O que aconteceu?

Ethan suspirou alto, encarando o teto. –Ele me ignorou. – confessou com frustração. –Mas se ele quer assim, não vou me importar. – disse determinado. –Já me considero desgarrado das falcatruas dele.

–Ethan...

–Além do mais, eu sou um pequeno problema na vida de Crash; ele tem problemas muito maiores para resolver. – falou como se aquilo fosse uma carta na manga. –Sinceramente, duvido muito que ele consiga se desvencilhar de todos eles.

–O que quer dizer?

Ethan olhou-me flagrando a confusão no meu olhar. –Esqueça. – falou afastando o lençol, e se levantou da cama, em plena nudez. –Aceita dividir o banheiro comigo?

–Só se ninguém nos vir entrando nele juntos.

–Por que o pudor agora? Eles ouviram seus gritos.

–Eu não gritei! – falei envergonhada e na defesa lhe acertei a cabeça com o travesseiro. –Eu não gritei.

–Gritou sim. – afirmou recebendo a pancada de outro travesseiro. Seu olhar era cômico sobre mim.

–Isso é... constrangedor, mocinho.

Ignorando meu surto, Ethan arrastou-me da cama, e ajudou-me a vestir um roupão. Sendo convencida, o segui ao banheiro, de mãos dadas pelo corredor felizmente desertado.


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