Dias Imprevisíveis escrita por Gil Haruno


Capítulo 34
Capítulo 34 -Palavras a serem ditas


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente!

O capítulo está fofíssimo!

Estamos chegando à reta final da fic.

Beijos, beijos!



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‘Quando há algo para ser dito, o melhor a fazer é dizer o mais rápido possível. A gente nunca sabe quando haverá outra oportunidade.’

Descalça e sem destino, saí às pressas do edifício Phil Braxton. As pessoas que passavam por mim não escondiam suas súbitas curiosidades ao meu respeito. Meus passos por elas eram apressados e meu olhar era um tanto desesperador.

–Boa noite. – barrei um casal que, aparentemente, não parecia se intrigar com meus pés descalços. –Onde posso pegar um táxi?

–Uh. – murmurou a mulher, olhando em volta. –Essa hora da noite é um pouco difícil achar um táxi aqui.

–Mas na outra rua é um pouco mais fácil. – completou o homem, apontando para a direção que eu deveria seguir.

–Obrigada.

Segui a direção apontada pelo homem, um tanto apreensiva. O barulho potente do motor de uma moto me chamou atenção. Intrigada, olhei para trás, constatando que ela realmente vinha na minha direção. Mas o físico da pessoa em cima dela me deixou mais aliviada, principalmente por que a jaqueta que este usava me parecesse familiar.

A velocidade da moto foi diminuindo, à medida que ela se aproximava de mim, até que parou completamente. Atenta, observei o capacete daquela pessoa ser removido de sua cabeça, e fora um grande alívio quando finalmente confirmei que se tratava de Ethan.

–Precisa de uma carona?

–Não, obrigada. Eu vou pegar um táxi.

–Para isso você precisa encontrar um e pelo que vejo isso vai demorar uma eternidade.

–Pode demorar o quanto for preciso, estou disposta a esperar.

Ethan suspirou, descendo da moto.

–Pretende andar por aí descalça? – perguntou olhando meus pés. –No mínimo vão pensar que você é louca ou está completamente bêbada.

–Tenho plena consciência disso. Aliás, já me deparei com verdadeiros curiosos essa noite.

Olhando-me com certo divertimento, ele tirou dos bolsos da jaqueta meu calçado esquecido.

–Será que elas são suas?

–Mas é claro que é! – falei tentando pegá-las, mas Ethan levantou o braço a tempo.

–Você se lembra da história da cinderela? – fiquei inteiramente confusa. –Ela foi a um baile, conheceu um príncipe, e quando o relógio tocou à meia noite, ela saiu correndo, e na pressa seu calçado ficou para trás.

–É uma história muito bonita, mas se eu fosse comparar com minha história essa noite, elas seriam completamente opostas.

–É verdade, mas eu gostaria de saber o que aconteceu na história de Claire Lewis. – seu olhar era fixo e suas palavras eram brandas.

–Esqueça. Não tenho nada para dizer.

–Sei que você tem. – ao dizer, ele me pôs em cima da moto com muita facilidade, e calçou meus pés gentilmente. –Você não pode achar que está sozinha, Claire.

–É mesmo? – baixei a cabeça vulneravelmente. –E como se faz isso? – as lágrimas incontidas deslizaram pelas minhas bochechas.

–Para começar, você precisa saber que eu sempre irei ajuda-la, não importa a distância que estejamos, ou a confusão que estivermos.

Olhei-o surpresa, não imaginando, tão pouco prevendo, que Ethan teria aquele comportamento.

–Por que está sendo tão legal? – sem resposta, incentivei-me a dar a uma. –É por causa disso? – apontei para o lugar lesionado no meu rosto.

–Talvez isso seja a maior causa. – respondeu desviando o olhar. –E saiba que vou descobrir como isso realmente aconteceu.

–Você é persistente. – falei descendo da moto. –Se vai perder seu tempo bancando o investigador por pouca coisa, que não seja comigo.

–Eu te disse uma vez que você não merece ser tratada como uma garota qualquer, e que eu nunca permitiria que alguém a fizesse sofrer. Não foi da boca pra fora. – respirei fundo, sentindo a urgência de cada palavra. –Mesmo que você nunca me diga a verdade, eu vou descobrir por conta própria.

–E o que você faria a respeito? – indaguei intrigada. –Digo, se houvesse uma história maquiada por cima de uma versão original?

–Com toda certeza eu mandaria esse covarde para o hospital. – disse confiante, para meu espanto.

–Isso não tem nada a ver com você, Ethan!

–Então, de fato existe um grande covarde nessa história. – fora uma confirmação.

Eu estava sem saída! De repente Ethan fazia promessas ameaçadoras de punir o responsável daquela agressão. E, mesmo eu insistindo na mentira, ele chegaria à verdade; era uma questão de tempo. Nem mesmo eu poderia contar com Megan, pois ela, sem sombras de dúvidas, entregaria Ryan de bandeja ao irmão. Embora o Carter merecesse um pouco de assombro, eu não podia permitir que um confronto iniciasse.

–Não existe um agressor nisso. Por favor, acredite em mim.

Ele parecia pensar no meu pedido, mas não estava satisfeito com ele.

–Por hora vou atender seu pedido, mas saiba que não vou esquecer esse assunto.

Sua persistência era escancarada, mas qualquer trégua nela era bem vinda.

–Será que podemos ir embora agora? – perguntei olhando os lados, já que pouquíssimas pessoas ainda transitavam pelas calçadas.

–Você quer ir embora?

Sorri desajeitada ao entender sua pergunta.

–Eu acho que, pelo menos hoje, seu lugar secreto será mais que bem vindo.

–Não é mais meu. É nosso agora.

&&&&*&&&&

Depois de tomar um banho demorado, vasculhei o closet daquele quarto. Havia roupas masculinas nele, somente, e pelo estilo, pertenciam a Ethan. Sem ter opção, acabei pegando uma camiseta cinza para vestir; que quase engoliu meu corpo.

–Claire?

Do outro lado da porta Ethan chamava por mim. Apressadamente corri para atendê-lo.

–Sim? – ele me olhou de cima abaixo, provavelmente reconhecendo a roupa que, sem permissão, acabei vestindo. –Desculpa por eu não ter pedido. Eu...

–Tudo bem. – disse balando a cabeça, como se tentasse sair de transe. –Pedi pizza para nós.

–A essa hora da noite?

–Sorte a nossa, por que uma vez por mês essa pizzaria fica aberta até às duas da manhã.

–Realmente é muita sorte. – nada mais dissemos, apenas permanecemos mudos na moldura da porta; ridiculamente esquecidos no tempo.

–Vamos?

–Hã? Claro! Vamos! – sorri constrangida. Enquanto eu o seguia, observei demoradamente as gotas de água que escorriam por seu pescoço, indicando que ele também tinha tomado banho. –Não é melhor ligarmos para Megan?

–Não se preocupe. Eu já fiz isso.

–Ah. – murmurei surpresa. –O que disse a ela?

Ele se virou bruscamente, fazendo-me parar de supetão.

–Eu disse que passaremos a noite juntos. – percebendo que ruborizei, ele riu alto. –Calma. Eu disse a ela que você está comigo. Só isso.

Respirei profundamente.

–Ou será que ninguém pode saber que estamos no mesmo apartamento? – indagou voltando a andar.

–Por que não?

–Sei lá, alguns dos caras que você está saindo poderiam não gostar disso. – respondeu ironizando cada palavra.

–Não se preocupe. Todos eles são pacíficos. – falei como se tentasse provoca-lo, e pela cara nada amigável dele, não fora uma boa ideia. –Tá um pouco quente aqui, não é? – perguntei mudando de assunto.

&&&&*&&&&

–Não aguento comer mais nada!

–Você só comeu um pedaço de pizza.

–E inteiro, sem deixar as bordas. É um recorde, acredite. – fui a pia levar o copo sujo, ao voltar à sala, fiquei entretida com os porta-retratos. –Quanto anos você tinha? – perguntei mostrando a foto a Ethan.

–Quatorze ou quinze anos, talvez.

–Uh. – olhei-o de esguelha, achando que ele não tinha mudado muito desde aquela época. –Você não era tão sério.

–Nesse dia eu estava feliz.

–Mesmo? – deixei a foto no lugar e me aproximei dele.

–Acho que o motivo foi por que estávamos todos reunidos. Minha mãe, meu pai, minha irmã e eu. – um sorriso triste, quase imperceptível, nasceu em meio à nostalgia. –Faz muito tempo. Eu quase não me lembro onde estávamos nesse dia.

Provavelmente ele se lembrava do lugar, como também se lembrava do porquê de eles terem se reunido para tirar aquela foto.

–Está voltando a chover. – comentei sentando-me ao lado dele, que tentava massagear o lado esquerdo do ombro. –Posso fazer isso para você?

–Não é nada.

–Tarde demais. – cuidadosamente comecei a massagear seus ombros doloridos. –Quanto tempo você pretende passar aqui?

–Por que você tem sempre que fazer esse tipo de pergunta?

–Desculpa. – mordi o lábio em desconforto, sem saber como reparar minha estupidez. –É que... Nunca mais vou te perguntar isso. Eu prometo.

–Promessa em vão. Eu sei que você vai. – ele sorriu.

–Não se eu estiver longe de New York e de você.

–O que quer dizer com isso? – perguntou em tom de voz sério.

–Estive pensando e... Acho que será saudável para mim se eu voltar para Houston. – com o silêncio de Ethan, respirei fundo, voltando ao ritmo da massagem.

–Você viverá sozinha. Como pode ser saudável para sua vida?

–Não serei a única pessoa na face da terra nessa situação. Além do mais, eu posso me casar em breve, e ter uma família.

Ethan se virou bruscamente para mim. –São os planos mais melancólicos que já ouvi na vida.

–Ora! Por quê? Desde quando ter uma família representa melancolia?

–Desde que essa família seja construída como uma válvula de escape.

–Isso não é verdade, não no meu caso. Não penso em construir uma família só porque não quero estar sozinha.

–Jure olhando nos meus olhos.

–Não vou fazer isso só por que você quer.

–Você não consegue fazer isso por que estou certo. – para o meu excesso de estresse, ele abusava do seu autocontrole. –Não consigo imaginá-la longe de New York, casada com um homem que você não ama.

–E quem lhe disse que eu não posso amar meu futuro marido, seja lá quem for?

–Por que você ainda me ama, Claire.

Como se quisesse encerrar de vez aquela discussão, Ethan disse uma das coisas que mais poderia me atingir. Desnorteada, afastei-me dele, sem olhá-lo nos olhos.

–Não... Eu não amo.

–Ama. Eu sei disso e posso provar.

Surpresa pelo tom de sua seriedade e o grau de certeza que aquelas palavras representavam, decidi enfrenta-lo.

–Ethan...

Meus lábios foram capturados em abrupto. A reação que tive foi de afastá-lo do meu corpo, sabendo que aquele momento não nos levaria a lugar algum, mas pela necessidade de senti-lo, e o prazer em de ter tanto conforto em seus braços, acabei cedendo.

O beijo era exigente, como a nossa vontade de recuperar aquele tempo perdido. Meu corpo inclinou no sofá, até eu me deitar completamente nele. Ethan se aconchegou entre as minhas pernas, iniciando carícias mais ousadas nelas.

–Ethan... – quebrei o beijo recuperando a sanidade. –O que estamos fazendo?

Ele respirou alto, acariciando meus lábios entreabertos.

–Já fizemos isso algumas vezes e nunca deu certo. – falei sentindo os olhos lacrimejarem. –Não tenho mais forças para fingir que...

–Não finja. Deixe acontecer.

–Como? Não posso mais confiar em você, nem mesmo em mim. Estou tão perdida que...

–Claire. – abraçou-me fortemente. –Nunca mais vou deixa-la sozinha.

Parecia que eu tinha perdido o dom da fala, por que a única coisa que falou por mim, foram as lágrimas.

–Desculpa por eu ter insinuado que você não era muita coisa na minha vida, mas a verdade é que... Não consigo mais ser independente desde o bendito dia que iniciamos esse conflito sentimental.

Sorri sem muito acreditar que era mesmo Ethan Scott admitindo o que tanto teimava esconder.

–Você não está bêbado, não é?

–Claro que não. – disse selando nossos lábios rapidamente. –Será que, por um grande milagre, podemos voltar a namorar?

–Pra falar a verdade, eu ainda não senti o gosto daquela relação. Mas respondendo sua pergunta, tenho certeza que sim.

–Uh. – murmurou satisfeito.

–Mas eu juro, Ethan Scott, que se você sumir, eu vou caçá-lo como uma presa. – um riso divertido ecoou pela sala. –E que fique claro que não estou tentando ser sua namorada. Eu vou ser sua namorada e vou agir como tal.

–Ok. Não estou a fim de ouvir ameaças, mas... – sua mão firmemente, apertou minha coxa. –A única coisa que quero agora, é você. – seu olhar era exigente, quase indecifrável. –Por acaso você faz ideia de quantas noites em claros já passei por sua culpa?

–E você faz ideia de quantas lágrimas já derramei por sua causa?

Carinhosamente seus dedos passearam nas minhas bochechas, secando o rastro úmido. Sedento por mais contato físico, Ethan voltou a me beijar, com mais desejo, mais volúpia.

–Aqui não é um bom lugar. – disse saindo de cima de mim. –Vem comigo.

Com o coração disparado, encarei sua mão estendida.

&&&&*&&&&

Quando novamente seus lábios, úmidos e quentes, roçaram meu pescoço de leve, trilhando o caminho desnudo até meus seios, fechei os olhos soltando um gemido contido. A sensação era indescritível. Não dava para pensar nas reações que ela me causava, apenas eu as sentia; correspondendo-as com um desejo prematuro.

Claire... – o tom de sua voz rouca embalava meu coração em batidas árduas.

Apressadamente seus dedos agarraram-se à minha calcinha, na tentativa de tirá-la. Rapidamente eu os detive, obrigando Ethan a me olhar.

–Você não quer?

–S-sim. – balancei a cabeça. –É que... – engoli a seco, afinal eu poderia ter evitado todo aquele avanço. –Estamos apressados demais.

–Você quer dizer que eu estou muito apressado?

–Não exatamente. – quase o ar me faltou ao ter o olhar dele em avaliação.

–Claire... Você por acaso não é...

–Está decepcionado? – perguntei desviando o olhar com sutilidade.

–Decepcionado não é a palavra a ser usada, mas estou um pouco surpreso.

–Isso me anima muito, afinal para alguém tão quieta como eu, é um elogio você nunca ter pensado que eu...

–Uh. – murmurou alto, enquanto ele crispava os lábios, sem desviar os olhos de mim. –Bem, já que estamos nessa situação tão íntima, diga-me se você tem algum tipo de fantasia para esse momento.

–Ah, eu tenho sim. – falei enlaçando seu pescoço. –Eu quero ser a mulher mais feliz de todo o mundo.


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