Dias Imprevisíveis escrita por Gil Haruno


Capítulo 29
Capítulo 29 -Limites


Notas iniciais do capítulo

Oi, pessoas!

Mais um capítulo!

Beijos!



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‘Mesmo burlando todas as evidências do fracasso, um dia não poderemos mais está em pune.’

–Como assim grávida? – olhando-me como se estivesse no meio do fogo cruzado, Megan se pronunciou. –Se Claire estivesse grávida eu saberia. Além do mais, sei que...

–Foi o que ela me disse, por isso eu... – percebendo o olhar enfurecido de Ethan, Crash interrompeu-se a procura de palavras que não aumentasse a tensão do grupo. –A ajudei por que achei que era o melhor a fazer. Ela está grávida, não é?

–O fato em si não é esse, mas quem é o pai dessa criança. – comentou Nicholas.

E mais uma vez fui surpreendida pelo silêncio intrigado e olhares inquietos. De um dia para outro, passei da garota certinha para vadia grávida, cujo namorado não tinha nada a ver com aquela falsa paternidade. O que senti naquele momento onde todos me julgavam de maneira errônea, graças a pior ideia que tive? Vontade de rir. Não era, nem de longe, confortável encarar todos eles, mas na minha posição, sabendo como aquela pequena mentira se originou para um verdadeiro furdunço, as coisas pareciam hilárias.

–Vocês estão fazendo tanto estardalhaço pra nada! – sem mais aguentar, acabei rindo. –É óbvio que não estou grávida.

–Que papo foi aquele, então?

Indignado, Crash cruzou os braços.

–Foi uma mentira inocente. Só isso. – respondi como se aquilo fosse fazê-lo aceitar meu futuro pedido de desculpa.

–Você está se divertindo em cima dessa ‘pequena’ confusão?

Diante da pergunta sarcástica de Ethan, seu humor revoltante, e seu corpo rígido, fui obrigada a me recompor imediatamente. Em questão de segundos sua raiva havia me contaminado.

–A culpa é sua, Ethan Scott! Em vez de me olhar assim, você deveria ser um pouco compreensível. – falei exasperada, mas em tom contido. –Eu tive que inventar essa loucura para achar você.

–E quando foi que eu pedi para ser achado? – sua pergunta nada amigável me calou drasticamente. –O que mais tenho que dizer para ser entendido?

–Você está sendo grosso.

–Acho que tenho motivos para isso.

–Não, você não tem! – falei exaltada.

–Sua perseguição não conta? Essa mentira ridícula também não conta? – perguntou levantando a voz. –Se quer mesmo está comigo, pare de ser infantil.

Sem remorso ou culpa, ele me deu as costas. Aqueles poucos minutos de discussão me fizeram enxergar pontos negativos que eu não percebia ou temei não vê. A primeira coisa que me perguntei foi: não sou boa o bastante para Ethan?

–Você mandou muito mal, gata. Mas quer saber? Ethan foi pior ainda. – desconfortavelmente Crash deu sua palavra. –Desculpe, mas não vou poder mais ajuda-la em relação a...

–Não se preocupe. – o interrompi. –Se depender de mim, Ethan nunca mais será aborrecido.

Saí apressada dali, sem saber aonde chegaria.

–Claire!

Megan corria logo atrás, tentando me alcançar. O caminho tortuoso por entre as pessoas me levou para uma grande sacada onde poucas pessoas conversavam intimamente, e apreciavam a vista noturna. Com ansiedade e conforto respirei fundo ao sentir a leve brisa, junto à calmaria do lugar.

–Eu disse que não era uma boa ideia! – quando finalmente Megan me alcançou, ela desabou seus sermões sobre mim. –E que história foi aquela de gravidez?

–Foi o que pensei para chegar aqui. Mas agora estou lamentavelmente arrependida! Seu irmão é um grosso! Ele sequer pensou em meus esforços, apenas na boa reputação dele. – algumas pessoas nos olharam conforme meu desabafo ia gradativamente evoluindo. –Estou farta disso.

–Calma. – gentilmente ela segurou minha mão trêmula. –Vamos voltar ao hotel, relaxar, dormir, e acordar descansadas. Amanhã será um novo dia e tudo vai se resolver.

–Megan...

–Shiii. Você não deve levar em conta o estado emocional de Ethan. Ele está sendo pressionado e...

–Não, Megan. – a interrompi determinada. –Vamos ir embora amanhã bem cedo.

–E deixar as coisas assim? Esse comportamento de vocês vai acabar desgastando esse namoro.

–Nossa relação, mesmo sendo de superação, sempre andou beirando o desgaste. – tracei o mesmo caminho, mas de volta à porta de saída. –Você pode ficar se quiser.

–Não vou deixar você voltar para o hotel sozinha.

–Eu vou com ela.

Parei bruscamente ao ter o pulso agarrado.

–Solte-me ou farei um escândalo! – virei para Ethan ameaçadoramente.

–Você chegou aqui fazendo escândalo com uma falsa gravidez. O que pode ser pior que isso?

–Estou avisando. – puxei o braço, mas não consegui me desprender dele.

–Se você continuar fazendo isso terá um belo hematoma aí.

–Ótimo! Só assim todos perceberão o quanto você é grosso!

–Dei-me a chave do quarto, Megan.

–Não faça isso, Megan! – pedi contrariando-o. –Não vou ir a lugar algum com ele!

–Megan!

Gritou o nome da irmã já impaciente.

–Desculpe, Claire. – cedendo, a Scott entregou a chave. –Vocês precisam conversar!

–Não tenho mais nada para conversar com esse...

Soltei um grito de medo ao ser erguida, e jogada no ombro como um saco de alimento.

–Eu juro que vou espanca-lo quando meus pés tocarem o chão, Ethan!

–Vai ser muito interessante, senhorita Lewis. Estou ansioso para testar tanta selvageria, principalmente se estivermos a sóis em um quarto.

Mesmo comigo esperneando no seu ombro, Ethan só me deixou de pé depois que nos distanciamos do clube. Mas minha liberdade durou pouco, pois logo entramos no primeiro táxi que por nós passou.

–Não entendo o porquê de você está aqui. – virei o rosto para não vê-lo. –Acho que, pela milésima vez, deixamos tudo muito claro.

–O que é claro para você nisso?

–A forma que você leva esse relacionamento! – virei-me bruscamente para ele e percebi que havia mais gente interessado na nossa discussão. –Pelo amor de Deus! O que há de errado em visitar o namorado em seu local de trabalho?

–Você já se perguntou o porquê da minha escolha ser burlada por sua teimosia? – nada respondi. –Você insiste na mesma coisa mesmo sabendo que isso me irrita. – respirou fundo, tedioso. –Eu tenho limites, Claire, e você precisa entender isso.

–Eu sempre tenho que te entender, mas você é orgulhoso demais para fazer o mesmo comigo. – empolgado os olhos castanho do motorista olhavam-nos com ansiedade. –Parece que não estou a sua altura, Ethan. Sou muito infantil para está com alguém tão amadurecido como você.

Desci do carro no exato momento que esse parou. Cega pela raiva, subi as escadas correndo e, ofegante, cheguei ao terceiro andar. Com as mãos trêmulas vasculhei a bolsa e peguei a chave do quarto. Pressionada pelos passos que se aproximavam, abri a porta com pressa, mas ao fechá-la, Ethan me impediu.

–O que você quer?

Não pude mais lutar contra ele. Esgotada, acabei afastando-me da porta. Meu lado emocional estava aflorando como um jardim no segundo dia da primavera, e as lágrimas veio a público com toda força.

–Vá embora.

Ele resolveu me contrariar e fechou a porta.

–Vá embora!

Enfurecida, joguei a bolsa nele. Minha raiva estava atiçada como um rio de larvas incontido, mas isso não assustou o homem que eu tentava, de todas as formas, manter longe de mim.

–Por que você finge que não se importa?

Minhas mãos se fecharam involuntariamente e, magoada, bati os punhos fracamente contra o peitoral dele, sem mais determinação.

Vá embora.

Minha súplica pareceu um sussurro de dor.

–Não, eu não vou.

O autocontrole dele me assombrava; desarmava-me, me deixava confusa. O que ele queria, afinal?

–Pela última vez, vá embora!

Seus lábios se uniram aos meus e meu corpo fora erguido sensualmente. Eu tentava me libertar do seu contato, ele, entretanto, estava decidido a me levar para a cama. Suas mãos agiam sedutoramente no meu corpo e era entre gemidos que eu estremecia aos toques.
Delicadamente ele me deitou nos lençóis brancos. Minhas pernas continuavam abraçadas à cintura dele, excitando-o. Ele tinha urgência em cada ato que fazia, e aquilo tamborilava meu coração em êxtase.

Será que era nosso momento? Será que havíamos quebrado todas as barreiras entre nós?

Isso significa que você nunca tentaria um relacionamento comigo?
Não daria certo.
Eu não sei viver uma vida caseira, não gosto de me sentir preso a ninguém, e não gosto de ser cobrado. Eu gosto da sua companhia, do seu jeito... Eu gostaria de pedi-la em namoro, mas não posso.

Enquanto o universo conspirava a nosso favor, eu voltava ao ponto de partida.

Não daria certo. Não daria certo.

Como fingir que aquelas palavras não eram reais se a voz dele, firme e onipotente, lhe dava vida?

–Ethan... – murmurei sendo vencida pela própria complexidade momentânea.

Quando finalmente seus olhos me alcançaram, respirei fundo encorajando-me.

–Você me disse que nunca daríamos certo. – engoli a seco. –Você acha que agora vamos funcionar juntos?

–Por que esse assunto?

–Eu preciso saber.

–Não tem por que falar disso agora! – disse irritado. –Você não consegue viver um dia sequer sem ser certinha! Está sempre correndo atrás de decisões certas. Não consegue se entregar a loucuras momentâneas. Está me cobrando respostas que eu nunca saberei responder. – afastou-se. –E daí se sermos uma piada amanhã? Isso não vai nos matar!

Com certeza não morreríamos com boas doses de decepção. Mas eu queria mesmo viver daquela forma?

–Você está certo. Não daria certo.

Levantei arrumando o vestido.

–A culpa não é minha se você quer que eu seja o que eu não sou. – disse vestindo a camisa. –Acho que pelo menos poderemos dizer que tentamos.

O vi passar pela porta e nada pude fazer. Aquele era nosso limite.
Depois de muito pensar, achei que fomos estúpidos em nos precipitar tanto, mas enquanto nosso relacionamento permanecesse intacto, jamais poderíamos concertar os erros. Se insistíssemos, continuaríamos fingindo.


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