Capitulo 24

Quem é você Dorian?

Continuou fitando os papéis, fingindo lê-los, fingindo estar interessada, fingindo estar trabalhando.

–Saco – Bocejou, bebendo mais um gole do café que estava começando a esfriar. Fez mais algumas assinaturas, de qualquer jeito, ninguém precisava saber que estava quebrada por dentro. Não queria a pena de ninguém, não queria que soubessem que foi magoada... Outra vez!

Enfim organizou a pilha de papeis e colocou-os em um canto qualquer da mesa, empilhados organizadamente, como se nada fora do comum tivesse acontecido. Levantou da cadeira de couro giratória e andou lentamente em direção a janela, abrindo-a minimamente para sentir o vento forte que entrara.

Fechou os olhos e respirou fundo, sentindo os cabelos escarlates voarem para trás, rebeldes. Aquele dia finalmente estava indo embora, aquele dia grotesco, aquele maldito dia oito.

E depois daquela chuva triste de manhã, um sol alaranjado ia embora, se escondendo entre os outros edifícios e fazendo com que um raio de luz quente se fixasse em sua face, fazendo com que as imperceptíveis sardas aparecessem.

–Já vi que deu merda – Escutou a voz da melhor amiga, que já estava dentro do grande escritório do último andar – Vem trabalhar aqui só quando está deprimida...

–Não estou deprimida – Disse, sem abrir os olhos – Estou ótima, dando o primeiro passo para um recomeço e para uma vitória digna de um Rubby!

–Nossa – A azulada se impressionou – Nunca te vi tão determinada – Sorriu de canto mostrando os dentes levemente tortos, porém mais brancos que normal – Agora me diga o que ouve!

–Não preciso contar – A ruiva falou simplesmente, finalmente abrindo os olhos e pegando a carteira de cigarro que mantinha no bolso de trás da calça preta e colada que usava. Depois de chorar horrores em seu apartamento, decidiu por trocar o vestido de lã preto e decotado, por uma outra roupa que não a deixa-se com aquele ar de dondoca apaixonada. Estava brava, muito brava! – Você já deve saber... Ele me decepcionou, isso virou rotina para ele... O diferencial é que agora eu desisti de uma vez por todas – Deu uma tragada e logo assoprou a fumaça.

–É sério isso? – Moka perguntou descrente. Jade estava muito decidida e a azulada nunca vira a ruiva assim, e se surpreendeu ainda mais por saber que ela estava assim para desistir do shinigami, o verdadeiro e único amor daquela idiota.

–Mais sério impossível – Jade disse – Eu tenho que pensar mais em mim e com quem se importa de verdade!

–Olha Jade... Eu realmente acho que vocês estavam indo rápido demais, mas... Você tá parecendo um foguete para desistir dele agora, sendo que estava toda apaixonadinha de manhã! Você é bipolar ou coisa do tipo? Fala sério Jade...

–Cala a boca – Falou, terminando o cigarro e olhando para a amiga que engoliu em seco, percebia que a ruiva estava realmente muito raivosa, pois nunca a mandara calar a boca daquela maneira fria e sem sentimento, sem ser a Jade – A vida é minha!

–Cala a boca você – Disse a azulada inconformada – Eu estou aqui do seu lado, tentando te ajudar e você me manda calar a boca? Escuta aqui Rubby! A vida pode ser sua, mas eu faço parte da bosta da sua vida, então eu tenho todo o direito de opinar!

–Não, você não tem o direito! – Revirou os olhos – Ninguém tem! – Respirou fundo e olhou para a azulada - Moka... Não sei se percebeu, mas... – Se calou.

–Mas o que?

–Eu não estava indo rápido demais – Ela disse, com o sorriso triste – Por que acha que... Eu não namorei, noivei ou casei por seis anos? Por que eu gosto de ficar sozinha? Por que eu não preciso de ninguém? Por que eu sou durona e só preciso de sexo? – Jade riu para ela mesma – Não é nada disso... Eu só – Deixou duas lágrimas escaparem – Estava esperando ele... Por seis anos... Eu nunca esqueci do Kid! Eu sempre tive a esperança que ele voltasse para mim e que eu pudesse confiar nele outra vez... – Mordeu os lábios e fitou o chão - Ele voltou, me fiz de durona como de costume e ... Agora... Eu vejo que, joguei seis anos no lixo!

–Jade... – Moka tentou fazer a amiga parar de falar, mas a ruiva negou, limpando o rosto húmido.

–Acontece que... Eu não posso jogar anos no lixo, Moka! – Jade a fitou com um olhar de sofrimento – Não sei se você se lembra, mas eu posso ficar insana a qualquer instante! Além disso, eu não tenho uma garantia de vida muito boa! Bruxas me querem morta, pessoas mafiosas me querem morta, pessoas que eu nem conheço me querem morta, criaturas que eu nem sei que existem me querem morta... A qualquer momento eu posso ser pega desprevenida, posso ser torturada, estuprada e depois meu corpo pode ser jogado na porta dos meus pais! Sabe o que é viver com isso nas costas? Sabe o que é jogar para o ar um tempo que sua vida poderia ter valido a pena e... Você gastar isso com lágrimas e pensamentos em um cara que só te magoa?

–Não...

–Eu poderia estar casada agora, com qualquer um, poderia estar feliz, com pelo menos dois filhos já.. Seis anos é muito tempo! – Respirou fundo – Eu posso não chegar em casa hoje á noite, ou posso estar queimada em um terreno baldio na terça que vem! Não posso perder tempo, preciso ser feliz pelo menos por um tempo, um tempo que eu possa falar que valeu a pena ter vivido!

A azulada nada falou, só fungava baixinho, segurando as lágrimas. Realmente tudo que Jade falara era verdade, ela estava viva até agora porque era esperta, inteligente e forte o bastante para acabar com vários inimigos... Mas e se um dia ela falhasse? E se um dia ela fosse pega? Moka não conseguia pensar em nada do tipo.

–O que aconteceu hoje foi um banho de água fria – Jade riu, já melhor e menos vermelha por causa do choro – Tenho que ir agora! Vai ficar ai?

–Tenho que organizar essa sua papelada e mais outras coisas – Respondeu ela – Vá para casa, descanse, veja filmes pornôs ou chame o Ty ou outro boy magia para te satisfazer, apenas se anime, por favor! – Abraçou a ruiva que gargalhou baixo.

–Sem sexo hoje, não estou com cabeça para ficar gemendo – Riu, pegando a bolsa e algumas pastas, se dirigindo para a porta – Talvez jogue um polco de GTA, posso matar quem eu quiser, principalmente putas!

–Ok, vai lá jogar seu GTA! – Riu a azulada, vendo a ruiva sair do escritório.

A ruiva entrou no elevador e se olhou no espelho, pela maquiagem ser boa e ela ser uma ótima guardadora de sentimentos abundante, ainda estava com o rosto impecável, apenas com os olhos minimamente vermelhos. Arrumou o cabelo com a mão e respirou fundo, escutando a música que tocava no elevador. A porta finalmente se abriu e ela saiu abruptamente. Bateu em alguém com certa força, fazendo com que as pastas com todos os seus papéis fossem para os ares.

– Ah meu Deus – Ela disse, logo se abaixando para pegar as folhas – Me desculpe, eu estava com pressa e...

–Não se preocupe – Escutou a voz rouca e masculina, que era um pouco conhecida. O homem abaixou-se, ajudando-a – Sempre apressada, não é Elizabeth?

Ouviu a risada gostosa e logo sentiu suas bochechas esquentarem e suas pernas ficarem bambas. Levantou os olhos rapidamente e logo encontrou o par de olhos azuis acinzentados.

–Dorian? – Disse descrente, levantando minimamente, enquanto ele ainda esboçava aquele sorriso lindo nos lábios, lhe entregando algumas folhas.

–Esse foi o nome que minha mãe me deu! – Riu outra vez e logo a fitou com um brilho imenso no olhar.

–Mas você estava no...

–Japão! Eu sei! – A interrompeu – Ficamos sem nos ver a mais de oito anos e é assim que você me recebe? Não tem nem abraço? Beijinho? Ou tabefe na cara?

Jade o fitou por mais um par de segundos antes de dar um sorriso gigantesco e pular nos braços do homem de cabelos negros.

–Quanto tempo – Disse enquanto escondia seu rosto entre seu ombro e pescoço.

–Sim – Respondeu, correspondendo o abraço com a mesma força – Você cresceu!

Mas ela logo notou que estava nos braços dele, igual uma boba! Como era idiota... Corou fortemente e sem mais sem menos cortou o abraço, tentando se recuperar da vermelhidão e da vergonha que lhe assombrava. Ficava assim... Boba ao lado dele, sempre fora desse jeito!

Forçou a garganta e recuperou o fôlego e ainda com as bochechas vermelhas de um sorriso fechado e exagerado.

–E... Então? O que faz aqui? – Perguntou em um fio de voz, se xingando internamente por estar parecendo uma idiota.

–Seu pai me chamou... Algo sobre os negócios! – Falou, jogando os cabelos para trás em um gesto conhecido – Incrível que essa é a primeira vez que nos encontramos depois de oito anos, mesmo eu vindo várias vezes para Londres para falar com o seu pai!

–Sabe como é... Se não estou trabalhando, estou em missões ou em festas... Coisas da vida! – Gargalharam – A última vez que te vi foi em uma revista – Riu a ruiva.

–Parece que todos os Rubby’s nasceram com a vocação de modelo! – Disse jogando os cabelos para trás e dando um sorriso torto, fazendo a ruiva corar ainda mais – Mas então, vamos tomar um café? Minha conversa com o Tyler vai ser bem rápida!

Ela pensou sorrindo bobamente. Ele estava a chamando para sair? Era sério? Pela primeira vez não sabia como agir, nunca se sentira tão boba na frente de um homem.

–Desculpa Dorian, estou com pressa, tenho trabalho para concluir – Mentiu e viu o brilho dos olhos dele se apagarem.

–Tudo bem então... – Suspirou e a puxou para mais um abraço – Estava com saudades, pequena.

–Também estava – Soltou-a e lhe deu um beijo estalado na bochecha, logo abrindo o blaiser e tirando do bolso de dentro um cartão.

–Meu número – Disse, entregando o papel escuro para ela – Agora me passa o seu, pois tenho certeza que você não vai me ligar!

Sentiu o coração disparar e automaticamente abriu a bolsa, tirando o cartão amarelo claro e logo entregando para o moreno.

–Obrigado madame – Lhe sorriu – Agora tenho que ir... Eu te ligo pra gente marcar alguma coisa quando eu estiver aqui outra vez!

–Certo, mas... Quando você vai embora? – Perguntou a ruiva, vendo o moreno se distanciar.

–Depende do que seu pai tem para me falar... Ele é o poderoso chefão! – Riu – Mas provavelmente amanhã cedo...

–Ah... Tudo bem então – Sorriu triste – Tchau, Dorian!

–Tchau, linda! – Falou entrando no elevador e apertando o botão, acenando até a porta se fechar.

A ruiva deu as costas de um jeito mecânico, andando tensa até a porta, logo parando para esperar o carro.

–Meu Deus... – Suspirou – Porque eu menti? Por que eu não fui tomar café com ele? Estou ficando burra? Retardada? AI COMO EU SOU BURRA! BURRA! BURRA! ACEFALA FILHA DA PUTA!

–Senhorita Jade – O motorista chamou, ao seu lado – Está falando muito alto, a senhorita não é burra.

–SOU SIM! – Agarrou o colarinho do homem – EU PERDI DE TER UMA TRANSA ESTRAODINÁRIA COM O MEU PRIMEIRO AMOR, SABE O QUE É ISSO? BURRICE!

–Seu carro, senhorita – Cortou o homem que estava corado.

–Desculpe, Leonard! – Disse envergonhada, se dirigindo para o carro.

Quem é você Dorian?

Continua...