Nas Asas Da Escuridão escrita por Nyx


Capítulo 1
Novos Rumos


Notas iniciais do capítulo

Eu comecei a escrever esta história há mais de um ano atrás. Acho que vocês vão gostar. Gostaria muito que deixassem suas opiniões.



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Ouvi o som insistente do telefone. Será que não tinha ninguém em casa para atender? Eu estava no meio de um banho.

– Caroline! O telefone! – Chamei pela minha irmã mais nova. Nenhum som. Ela devia estar dentro do quarto ouvindo música. Mas que droga.

Desliguei o chuveiro e me enrolei numa toalha. Inesperadamente o barulho parou.

– Não acredito.

Já ia dando meia volta para o box novamente quando ele começou a tocar de novo. Corri para sala e atendi:

– Alô?

– Oi minha querida. É a vovó.

Minha avó Martha. Mãe do meu pai. Tanta hora para ela ligar. Justo na hora do banho. É impressionante como as pessoas adivinham a hora em que você entra no banho para ligar.

– Oi vovó. Tudo bem? – Olhei para o chão e vi uma pequena poça de água que se formava ao meu redor devido ao meu cabelo que estava ensopado ainda.

– Claro, meu amor. Estou ligando para saber a que horas você vai chegar amanhã.

Todos os anos eu passava as férias do meio do ano na casa da minha avó. Desde que eu tinha uns cinco anos. Lá eu sempre encontrei a paz, o silêncio. Ela morava numa chácara num bairro afastado da cidade.

–Devo chegar à noite. Porque ainda vou comprar algumas coisas para levar. E hoje é aniversário da Kelly.

Kelly era minha melhor amiga. Desde o jardim de infância. Sempre nos demos muito bem.

– Mande um beijo a ela por mim. Caroline vem?

Minha irmã só ia pra casa da vovó se mamãe fosse. Ela é muito temperamental. Nunca gostou do meio do mato, dos passarinhos cantando, dos sapos coaxando...

Mamãe não ia por causa do trabalho. Ela era secretária de uma firma multinacional. Meu pai também estava trabalhando.

– Você sabe como ela é. Sou só eu mesmo. – Caroline às vezes era muito estranha. Nem parecia minha irmã. Ela tem quinze anos e parece ter 40 algumas vezes de tão chata.

– Tudo bem então Camilla. Eu tenho uma novidade para você.

Novidade?

– O que é?

– Surpresa. Amanhã você vai ficar sabendo logo que chegar aqui.

Eu detestava surpresas. Eu me considero uma pessoa muito ansiosa. Eu sabia que ia ficar agitada por causa disso. Não aguento esperar por nada.

– Poxa vovó. Tinha que me contar né!? – reclamei.

– Eu sei querida. Foi de propósito. – ouvi suas risadas. – Te espero amanhã. Um beijo para todos.

Minha avó era um doce, mas sabia ser malvada. Como eu ia conseguir dormir agora? Que raio de surpresa era essa? Bem, eu não fazia ideia do que seria. Era melhor voltar correndo para o banheiro e terminar meu banho que já estava quase na hora do aniversário da Kelly. E até escolher a roupa perfeita seria um longo caminho. E, com um pouco de sorte, o chão já estaria seco quando terminasse de me arrumar.

Depois de me lavar mais uma vez, fui para o meu quarto me arrumar.

Peguei um vestido vermelho tomara- que – caia, meia calça preta e scarpin preto. Deixei meu cabelo preso num rabo de cavalo e coloquei um conjunto de pulseira, brincos e colar de pérolas. Bem delicado e sexy. Eu sou assim. Gosto de me vestir bem, ficar bonita e ser admirada. Quem não gosta? Meu namorado Daniel nunca reclama.

Dei uma olhada no visual e gostei. Eu não sou nenhuma modelo internacional magra, mas tenho um corpo legal. Meus olhos não são claros, mas eu gosto dos meus cílios que são bem fartos. E meu cabelo é liso e muito preto. Eu me amo muito assim. Nunca fui daquelas que faz tudo para agradar as outras pessoas. Eu sou tagarela, maluca, divertida e gosto de rir quando tenho vontade. Se não concordo com algo, exponho minha opinião.

Ultimamente meu namoro com Daniel tem andado morno. No início de tudo achei que estivesse apaixonada por ele, mas faltava alguma coisa. Eu não sabia dizer o que era. Faltava... Fogo!

Era o que dizia a Kelly.

– O dia em que você experimentar a emoção... Sentir o sangue correr por todo o seu corpo, sentir o coração quase explodir e não pensar em ninguém além dele, aí sim você vai saber o que é amor.

Ela tinha um namorado há dois anos. Eles eram muito felizes. Eu via os olhos deles brilharem um para o outro. Já falavam até de casamento após a formatura do colegial. Eles tinham planos para o futuro. Isso era muito legal e eu também ficava feliz pela Kelly, mas no fundo o bichinho da inveja me mordia. Eles tinham o relacionamento perfeito.

O meu namorado Daniel era ótimo. Bonito, leal, carinhoso e respeitador. Isso era bom, mas era muito sem graça ao mesmo tempo. Eu estava muito confusa.

Kelly e Miguel já tinham tido sua primeira noite de amor. Ao contrário dela, eu não tinha nenhuma vontade de me entregar para o Daniel. Não que ele não tivesse tentado. Mas como eu nunca quis, ele não dizia nada. Eu não tinha sentido o “feeling” ainda.

Eu estava feliz de ir para a casa da vovó. Eu ia conseguir dar um tempo em tudo. Lá eu conseguiria ter paz. No meio dos pomares, do lago, da natureza... Era reconfortante pensar em estar lá. Ninguém entendia porque eu gostava de ir pra lá. Nem a Kelly. Mas lá eu me sentia bem, muito bem.

Acabei de fazer minha maquiagem. Pronto. Daqui a alguns minutos o Daniel chegaria para me buscar. Eu não conseguia ficar nem um pouco animada. Ultimamente nem os beijos dele me animavam.

Todo ano o aniversário da Kelly era muito movimentado. Ainda mais esse, no qual ela ia fazer dezoito anos. Eu tinha a mesma idade, só que meu aniversário era só no final de outubro.

A campainha tocou. Espirrei meu perfume favorito: Gabriela Sabatini. Dei tchau pra minha irmã e saí.

– Nossa! Você está maravilhosa. – disse Daniel ao me ver. Deu um leve beijo em meus lábios.

– Você também está muito lindo. – e era verdade. Ele estava de calça jeans e camisa polo preta. Ele realmente era muito bonito.

Era moreno bem claro, cabelos escuros e olhos verdes. Seria perfeito se meu coração saltitasse quando o visse. Naquele exato momento me dei conta de que não poderia continuar me enganando e enganando Daniel daquela forma. Não ia dar para continuar num namoro em que só uma pessoa gostava. E, infelizmente, esse alguém não era eu. E eu precisava desesperadamente encontrar o amor.

– Vamos? – ele me estendeu o braço.

– Vamos. – peguei o braço estendido dele, sendo mais uma vez uma covarde e fazendo justamente o contrário do que eu tinha acabado de pensar. E o que era o certo.


As festas da Kelly são sempre animadas. Quando Daniel encostou seu carro, um modelo de fusca novo e preto dava pra ver que já tinham chegado muitas pessoas. Como todos os anos, a festa estava acontecendo no jardim da casa dela. O pai da Kelly, o Sr. Sérgio, tinha uma rede de lojas de roupas na cidade. Por ser amiga dela, eles sempre mandavam algumas peças de roupas quando mudavam de coleção. Eu tinha muita sorte!


Daniel e eu cumprimentamos muitas pessoas na festa. Pessoas do nosso colégio. Logo avistamos Kelly e Miguel. Os dois realmente formavam um casal muito lindo. Contrastavam-se. Kelly era uma garota negra, de corpo perfeito, cabelos negros encaracolados até a cintura e Miguel era muito branco. Loiro de olhos azuis.

– Camilla! – Kelly veio ao meu encontro. –Achei que não ia chegar nunca.

A abracei e dei um beijo em sua bochecha.

–Parabéns amiga. Você está maravilhosa. – elogiei.

Kelly estava com um vestido de cetim bege frente única na altura dos joelhos.

–Obrigada, você também caprichou.

Daniel também a cumprimentou e logo foi se juntar a Miguel. Que alívio. Assim ele não ficava me beijando.

Kelly me conhecia muito bem e notou minha expressão de alívio.

–E você? Como está com Daniel?

–Quase parado. –suspirei. –Não sei o que vou fazer.

Kelly me puxou para uma mesa que estava vazia perto de nós.

–Por que não conversa com ele?

–Porque não vai adiantar. Estou pensando em terminar com ele.

Kelly me olhou complacente. Eu esperava um grito seguido de um “O quê?”, mas tudo que ela disse foi:

–Eu só quero que você seja feliz!

–Kelly, não estou feliz! Estou acomodada. Ele é lindo, um fofo, mas não tem amor. Não tem paixão. Não tem fogo!

Ela me olhou com ternura e segurou minhas mãos.

–Saiba que estou do seu lado na decisão que quiser tomar, mas você está certa! Sem amor não dá.

–Eu não me sinto completa.

Olhamos juntas na direção onde Daniel e Miguel estavam. Eles nos deram um aceno. Fiquei olhando nossas mãos em cima da mesa. Kelly sempre fora minha melhor amiga. Nem me lembro desde quando. Sempre ficava do meu lado em tudo. Até quando eu estava errada.

–Qualquer que seja a sua decisão, quero que saiba que pode contar comigo.

–Eu sei. – dei um sorriso forçado. –Este ano mais do nunca preciso da casa da minha avó. Ficar sozinha.

–Dessa vez concordo que vá pra lá. –Ela sorriu de volta. –Vou sentir saudades. Mas, agora, vamos curtir a festa.

Kelly se levantou e me puxou para o meio das pessoas que dançavam. Por um momento me obriguei a esquecer de meus conflitos amorosos e dancei com minha amiga. O fim da noite seria muito difícil.


Daniel me levou até a porta da minha casa, como de costume. Agora era a hora. Eu não podia fraquejar.


–E quando você volta da casa da sua avó? Eu realmente não posso ficar lá com você? –ele tentou segurar minhas mãos e eu não deixei.

–Não, Daniel. Não pode.

Ele me abraçou e fiquei inerte.

–Tudo bem então.

Suspirei.

–Por que você é assim?

Ele me soltou, notando meu tom de voz mais exasperado.

–Não entendi. –O olhar dele era de confusão.

–Assim tão racional.

–Você queria que eu gritasse com você e dissesse que sem mim você não iria e pronto?

–Não! Mas queria que você tivesse atitude. Vida própria. O mundo não gira ao meu redor. –Eu estava ficando fora de mim.

–O meu mundo gira ao seu redor! Você sabe que eu te amo.

Ah, não. Isso não.

–Você pensa que me ama, Dani. –Segurei suas mãos. –Não é isso o que nós temos.

–E o que é então?

–É carinho. Amizade. Respeito.

–Você não me ama? –ele apertou meus dedos.

–Eu tenho um sentimento muito especial por você, mas não sei se é tão forte.

Ele olhou para o chão e enfiou as mãos no bolso.

–Não estou entendendo nada.

Respirei fundo e fui curta e grossa.

–Acho que nosso namoro acabou. Eu quero terminar. Não quero te enganar e me enganar. Esse relacionamento já não é o mesmo há muito tempo. Não é possível que você não tenha notado nada e que pra você continue a mesma coisa.

Ele continuou a olhar para o chão.

–Eu fiz alguma coisa errada?

–Não. Ninguém fez. Só não está dando certo mais.

Ele me abraçou mais uma vez. Sentiu o cheiro dos meus cabelos e se afastou.

–Quando você voltar a gente conversa.

–Daniel...

–Sei que vai sentir minha falta Camilla. O que vivemos não era uma mentira. Eu vou estar aqui te esperando. Eu te amo.

Ele se virou, entrou no carro e foi embora. Será que ele seria tão cabeça dura? Eu não queria magoá-lo. Mas também não podia viver infeliz pra que ele fosse feliz. Eu tinha certeza de que o que eu sentia por ele era um carinho muito grande. Ele realmente tinha sido muito especial. Mas eu não queria mais.

Entrei na minha casa com o coração pesado. Daniel não tinha entendido. Ele achou que eu precisava de um tempo longe dele.

Entrei no meu quarto e fui me despindo maquinalmente. Nem tive vontade de limpar minha maquiagem. Afundei na minha cama. Queria que amanhã chegasse logo. Queria ir para Montes. Queria paz. De tudo.


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