_Ele continuou me olhando nos olhos intensamente. Eu pude ver algo diferente neles. Um brilho intenso. Era sede.
- Está com sede?
- Ainda acho estranha a forma natural com que você me pergunta isso. – A incredulidade era tão sincera em seus olhos quanto em suas palavras.
- Eu já senti isso esqueceu?
- Não. Você nunca deve ter sentindo o aroma de seu próprio sangue. É o mais doce dos perfumes. – Eu deveria ter congelado com essa revelação. Mas eu não me importava... Pra mim era um elogio.
- Na verdade eu já o experimentei... e não é muito bom não... – Eu ri. Sozinha. Ele ficou sério.
- Esse não é o melhor argumento. Não funcionou da primeira vez que você o utilizou lembra?
- Como eu poderia esquecer. – Disse sorrindo. Ele ficou me olhando com um olhar misterioso. Senti meus pulmões pararem de funcionar.
Ele passou a levemente sua mão gélida pelo meu rosto e então falou.
- Eu não deveria sentir o que estou sentindo por você. É simplesmente inacreditável que eu lhe deseje tanto quanto desejo seu sangue. – Encontrei meus pulmões e lembrei-me de respirar.
- Isso é uma coisa boa não é? – Perguntei.
- Para mim sim. Para você é perigoso. – Eu ri.
- Perigoso? ... Nada é perigoso para alguém que não tem medo da morte. – Ele fechou a cara. Eu prossegui.
- Você não vai me machucar. Eu confio em você. Mais do que confio em mim mesma. – Vi uma chama de esperança surgir em seus olhos. Ele realmente achou que eu tinha medo dele?
- Confia mesmo? – Eu tinha que provar.
Subi na proteção da sacada, como quem só quer sentir a brisa. Fechei meus olhos. Senti seus lábios tocarem os meus e suas mãos memorizarem cada detalhe do meu rosto. Perfeito. Me inclinei para trás me atirando do último andar do edifício. A queda durou menos de 5 segundos. Ele já me tinha em seus braços. Estávamos flutuando. Eu abri meus olhos. Ele estava assustado.
- Viu?
Então ele entendeu. Sorriu e me beijou novamente. OMG. Não existia sensação no mundo melhor que essa. Não poderia existir. Eu estava flutuando nos braços de um anjo e o beijando. Com certeza esse era o paraíso.
- Você não deveria confiar tanto assim em mim... – Ele falou.
- Deixa que eu decido sobre isso. – Respondi.
Voltamos para o apartamento. Essa foi a primeira noite da minha nova vida. Uma vida completa. Linda.
Todas as noites e os dias foram assim. Trabalho, casa... Lestat... Saíamos com Johnny e Jannet com freqüência. Ele e Lestat tornaram-se bons amigos.
Dois meses depois Lestat foi fazer um show no Canadá.
Isso mesmo... Show no Canadá... Aos poucos consegui tirar algo da vida dele... Ele era um rockstar... Nunca pude imaginar aquele anjo do violino cantando uma música paulera... Para mim aquilo era poluição sonora... Mas... Não era para os fãns dele...
Eu iria ficar o fim de semana sozinha. Não mesmo. Peguei o primeiro avião para Paris. Cheguei na casa da tia Rose, abri a porta. Eu tinha uma cópia das chaves para emergências.
- Tia Rose.... Tio Emm.... – Gritei enquanto adentrava a casa olhando para todos os lados. Eles deveriam estar caçando. Passei a mão no telefone. Caixa postal.
- Tia Rose estou em casa... Digo... Na sua casa... Estou vendo que não tem nada na geladeira, ou na dispensa, ou em qualquer outro lugar que eu possa comer. Vou ao mercado. Voltem logo... Amo vocês!
Como eu tinha vindo de avião e depois de taxi peguei o carro da tia Rose para ir ao mercado. Ela me encontrou no caminho.
- Aiii minha princesinha... Que bom que você veio...
- Oi tia... Eu tava morrendo de saudades... Cadê o tio Emm?
- Ele foi direto para casa... Para podermos colocar as fofocas em dia... – Eu corei. – O que foi isso?
- Tia... Eu quero lhe contar uma coisinha... Eu estou namorando...
- Eu já sabia... Sua tia Alice me contou sobre o vampiro loiro...
- É... o nome dele é Lestat... Ele é lindo... querido... carinhoso... um perfeito cavalheiro... mas... se a tia Alice já sabia ... porque o papai ainda não deu um piti?
- Sua tia Alice só contou para mim... Ela não viu perigo e te viu feliz como há muito tempo você não estava... Então ela me contou e pediu minha opinião... como você sabe, tudo o que queremos é ver você feliz minha linda... Quando você achar que deve... você mesma conte ao seu pai... e boa sorte... – Ela riu... Tanto ela quanto tia Alice e eu sabíamos que papai iria surtar quando soubesse que meu namorado é um vampiro e ainda por cima não vegetariano...
- Obrigada tia.. Vocês são as melhores.... Especialmente você.... Eu te amo... – Ela sorriu toda orgulhosa...
- É... eu sei... mas... me conte os detalhes...
Eu contei desde a primeira vez que o vi... naquela noite no castelo Volturi... Não editei nada... Tia Rose era minha melhor amiga... E o fim de semana passou assim feliz... Eu amava estar com a minha família... Tio Emmet jamais me deixava ficar triste... sempre me fazia sorrir... Eu sabia que poderia ficar com eles o tempo que fosse sem incomodar... Eles me amavam da mesma forma que eu os amava... Mas ao fim do final de semana eu teria que voltar.
Voltar para meu trabalho, para minha rotina e para o melhor de tudo... voltar para o meu amado Lestat...
Ele já estava me esperando... Como sempre... Meu lindo anjo-da-morte-vampiro-deusinho-grego-de-mármore-e-olhos-cor-de-rubi. Eu jamais viveria sem ele...
Aos poucos fui conhecendo mais dele... Ele morava na França antes de ser transformado. Seu criador (ele não se refere a este como pai) se chamava Marius... Ele tinha muito receio deste ser por ter sido abandonado por ele...
Lestat também me contou a historia do violino... Que raiva... Quase morri de ciúmes... Ele riu da minha cara... ninguém merece... ui....
Eu sentia que ele me escondia alguma coisa... Tentei insistir no lance do Aro ter receio dele... Mas ele só dizia que era impressão minha... Sei... impressão... Quem ele acha que engana com isso? Mas eu vou descobrir...
Os meses estavam voando como o vôo de um colibri... Eu queria que o tempo parasse... Mas ele sempre esteve contra mim... Cada mês que se passava mais chances eu tinha de morrer e mais longe eu ficava da imortalidade.
Certa noite aconteceu algo engraçado e interessante... Vampiros não podem dormir certo? Errado...
- Lestat então o que você acha de irmos com Johnny para o Hawaii, podemos sair só a noite sem problemas... é só festa mesmo... – Eu sabia que Lestat não gostava muito dessa idéia... pois quanto mais tempo ficávamos com companhia menos poderíamos ser eu e ele. – Lestat?
- Shiii... Eu estou tentando dormir....
- Muito engraçado... Vampiros não dormem!
- Não como humanos... mas pela segunda vez eu estou conseguindo perder a consciência por um tempo... Seu aroma é tão inebriante e me deixa tão extasiado que eu consigo relaxar e perder a consciência com o simples pulsar do seu coração... Não existe melodia mais linda que essa e cheiro mais agradável do que aquele que ele me proporciona a cada pulsar... – Ok! Eu sei que ele estava se referindo a mim como refeição mas... Foi a coisa mais linda que eu já ouvi. Me recompus rapidamente.
- Segunda vez?
- Sim... A primeira foi quando eu estava sozinho... Pude dormir por um bom tempo... Não havia nada para fazer... Desenvolvi um estado de inconsciência por solidão eu acho... Você descobre que a eternidade é algo convidativo até você perceber que vai passá-la sozinho. – Seu olhar era triste e distante naquele momento. – Muito tempo depois eu percebi que as coisas estavam diferentes. Os humanos já não tinham as mesmas crenças. Adoravam a deuses diferentes. Então eu acordei e decidi dar a eles um novo deus. EU!!! – Percebi que Lestat gostava de ser o centro das atenções tanto quanto tia Rose, mas havia um motivo infantil por trás disso... ele simplesmente não queria mais ficar só.
- Hum... interessante... Você gosta de ser o centro das atenções não é mesmo? – Verbalizei meus pensamentos.
- Na verdade fazendo com que as pessoas me aclamassem eu consegui fazer a solidão dentro de mim diminuir... mas agora a única pessoa que eu preciso que saiba quem eu sou é você minha principessa. Se você não me quiser mais, ou simplesmente me esquecer... então... eu não terei mais motivos para continuar. – Seu olhar era quase suplicante nesse momento.
- Eu te amo pra sempre Lestat... Isso não mudará nem no dia de minha morte. – Ele colocou os dedos em meus lábios.
- Isso não vai acontecer... Nós iremos achar um jeito de lhe dar a eternidade.
Nos beijamos novamente. Nossos lábios se encontrando eram como dois rios. Leves, naturais e enfurecidos. Eu sabia o quanto o aroma do meu sangue queimava em sua garganta... Eu adorava isso... Sabia como provocá-lo... Fazia pequenos cortes em mim freqüentemente... Isso era muito empolgante. Mas nunca passamos disso. Além das caretices tradicionais e da minha fragilidade humana havia a chance de uma gravidez... e o veneno não me salvaria... pelo contrario... Perigoso demais...
Assim um ano se passou... e ele ainda não havia sido apresentado à minha família... Não sei se eu tinha medo ou o que... eu não poderia ser afastada dele... Mas mais cedo ou mais tarde eu teria que encarar Edward Masen... Mas decidi que seria mais tarde... Afinal... Papai iria surtar... Pode até parecer estranho papai e mamãe ficarem um ano sem me ver... mas quando eles têm um ao outro o tempo passa num piscar de olhos... e para eles um ano era mais ou menos um mês...
