O silêncio reinou totalmente, os dois trocavam olhares a todo instante, eu esperava alguma reação do Luther, mas ele não disse nada, nem o David, apenas trocavam olhares, o que estava me deixando totalmente irritada.

– É o seguinte, ou alguém fala logo alguma coisa, ou eu desisto.

– Não! – Luther praticamente grita- É que... Eu esperava que você demorasse mais um pouco com o David.

– Não, só esse tempinho foi o suficiente, eu acho que te aguentar por um tempo deve... Ser mais legal.

– Eu ainda to aqui, se forem discutir a relação pelo menos me soltem – Diz David, mas nós ignoramos.

– Emily você tem certeza?

– Luther, eu estou aqui, certo? – Ele assente – Então me solta logo...

– Tudo bem, eu vou pegar a chave.

Ele entra no quarto, deixando-me sozinha com o David, o que é obvio, já que ele estava preso a mim.

– Vai mesmo fazer isso? – David pergunta.

– Claro, ou você acha que eu quero ficar presa com você?

– Sei lá, eu achei que eu não era tão chato assim.

– Você não é chato David – ele sorri – só é insuportável – ele revira os olhos.

– Com o Luther? Logo com ele? É, boa sorte em aguentar ele todo santo dia querendo um beijo ou... Você sabe.

– Sim, eu sei, mas acontece que eu tenho controle.

– Meu rosto que o diga.

– Aquele tapa nem doeu.

– Imagina...

– Voltei – Olhamos para a porta e Luther sorria forçado.

– Ok, agora nos solte – Levanto o braço levando o do David junto e sorrio – Solte – ele ri forçado.

– Acontece – Ele passa a mão pelo cabelo – Que...

– Não diga isso, por favor! – Eu peço.

– Luther, me diga que isso que eu estou pensando é mentira.

– Eu perdi a chave.

– Porra Luther, como você faz isso? – David grita.

– Você é um idiota Luther, como é que você deixa logo a chave da algema sumir?

– Foi sem querer, eu a guardei, mas não sei onde foi que eu coloquei.

– Você é oficialmente a pessoa mais idiota que eu já vi. – Eu grito.

– Cara, você é muito tapado.

– Parem, por favor, eu não queria sumir a chave, ou você acha que eu queria que a Emily ficasse mais um tempo presa com você?

– Tem razão, mas o que vamos fazer? – David fala.

– Eu não sei, eu posso ligar para o meu amigo, a algema é dele, ele deve ter uma chave reserva, sei lá.

– Ligue agora mesmo.

– Já é tarde, ele provavelmente está em alguma festa ou de ressaca jogado na cama.

– Ligue logo Luther, eu quero logo me libertar do David.

– Emily, mantenha a calma, eu cresci com o David e garanto que não é tão ruim ficar com ele assim.

– Ah! Claro. Porque não é você que corre o risco de ser abusada.

– Tudo bem, tudo bem... Vocês dormem por hoje, e amanha já solto os dois.

– Nem pensar, dê seu jeito, eu não quero dormir com o David.

– Emily, colabore, seja menos dramática por um dia, ok? – Bufo e concordo – Mas, como você aceitou que eu posso te conquistar, quero que durma aqui hoje.

– O quê? – Eu e David perguntamos.

– Isso mesmo, sabe? Eu quero começar a te conquistar, e quanto mais antes, melhor.

– Eu não vou dormir com você.

– Qual o seu problema? Entra logo, agora você está sobre o meu comando.

– ha, há. Não mesmo.

– Vamos Emily, entre logo – Eu reviro os olhos e quando era para entrar David me puxa.

– Vocês acham mesmo que eu vou ficar vendo ai dentro vocês dois se agarrando? Você acha que eu vou ficar olhando os dois praticamente se comendo?

– Ué, não vamos “nos comer” – Luther diz.

– Conta outra Luther, eu sei que você vai tentar muitas coisas com a Emily.

– E o que você tem a ver com isso?

– Acontece... que eu vou está ai dentro, e vou ver essa cena desagradável e desnecessária.

– Olha para mim David – Ele me encara – Você acha mesmo que eu vou deixar? – Ele me olha de cima abaixo.

– É, tudo bem, mas sem muita melação.

Entramos no quarto, a maior idiotice que eu já fiz em minha vida. Foi entrar nesse quarto. Luther colocou um colchão no chão.

– David dorme ai no chão, e Emily dorme comigo aqui na cama.

– Estamos presos Luther, como acha que vamos deitar em cama separada.

– A Emily fica com o braço para fora da cama e você aguenta, não é nada demais.

Depois que Luther e David ficou discutindo com quem eu dormiria, os dois param, e quem ganhou foi o Luther, David apenas disse.

– TÁ! Deitam ai, se comam, façam o que quiser.

Me puxou e deitou no colchão, eu deitei na cama com o braço para fora, para não precisar arrancar o braço do David, Luther apaga as luzes e deita ao meu lado.

– Com vamos começar? – Ele ri.

– O que é Luther?

– Ué, vamos... Começar.

– Com o que?

– Beijo?! – reviro os olhos, tinha apenas um abajur que tinha a luz clara iluminando parte do quarto.

– Não.

– Mas Emily, eu preciso te conquistar.

– Mas não vai me beijar.

– E como acha que eu vou te conquistar?

– Não sei, se vire, mas não vou te beijar.

– Mas eu preciso te conquistar!

– Que porra Luther – David levanta e nos encara – Não é com um beijo que você vai conquistar uma garota, não é indo para cama com ela que você vai conquistar, é com palavras e com atitudes cara, mostre que você gosta mesmo da garota, mostre esse tal amor que você sente por ela, não é com um beijo que você vai conseguir a merda do amor dela. – Ele volta a deitar, eu fiquei encarando o nada, David dizendo aquilo? Tipo, o David? Aquele que fica com todas?

– Tem razão, me perdoe Emily.

– Hum, ok!

– Sobre o que você gosta de conversar?

– Eu prefiro dormir.

– Não. Vamos conversar, eu quero te conquistar, se esquece?

– Luther, não é forçando a garota que você vai conquista-la – David diz.

– Cala a boca David, eu sei o que eu estou fazendo – David se levanta.

– Eu to tentando te ajudar e você me diz isso?

– É, se quer tanto conquistar a Emily, por que não diz logo aqui na cara dela que gosta dela? Que vai ser com palavras de amor que você vai conquista-la?

– Eu não gosto da Emily.

– Ah! É claro, você fica ai, dando suas dicas de amor, o que é agora? Quer mostrar para a Emily que você sabe tudo sobre romance?

– Sabe de uma?! Chega! – Ele levanta e eu caio da cama.

– Ai David.

– Desculpa. Luther, eu sei que você sabe onde é que está essa chave, então vá logo pegar.

– O quê? Eu não faço a mínima.

– Luther, eu te conheço, vá logo pegar.

– Eu não sei onde é que está.

– Gente, para! – Eu grito – David deita ai e fica quieto.

– Eu não vou ficar vendo você e o Luther quase se comendo.

– O que é que tem? – Luther pergunta – Ciúmes? – Ele arqueia a sobrancelha esperando a resposta.

– É o seguinte, para os dois. Que saco, eu vou dormir em meu quarto, na minha cama.

– Comigo não é? – David pergunta.

– Ai que merda. Luther, pega logo essa chave.

– Eu não sei onde está caramba.

– Tudo bem – Eu puxo David e deito na cama, ele sem resmungar se joga no colchão, Luther apaga a luz mais uma vez, e dormirmos.

Pelo menos eu tentei, Luther não parava de falar merdas em meu ouvido, como por exemplo.

Eu vou te conquistar.

Você vai ver, eu sou irresistível.

Assuma que me quer Emily.

Eu vou insistir até você falar “eu te amo Luther”.

Emily, eu te amo, será que não vê?

Emily, eu te quero para sempre.

Eu gosto muito de você.

Me beija?

[...]

A merda imprestável de um celular de alguém começa a tocar.

Abro os olhos e... Eu estava deitada com o David?!

Ignoro o fato de estar quase em cima dele e procuro o celular, era o meu... Ironia do destino.

– Alô? – Atendo sem olhar o nome.

– Bom dia princesinha...

– Félix.

– Eu mesmo, então... Como vai as coisas ai?

– Estavam ótimas, até você me ligar.

– Me ame menos Emily, se me amar demais pode se machucar.

– Fala logo o que você quer? Vai ficar me ligando todos os dias agora é?

– E se eu disser que sim?

– Fala Félix.

– Nada, eu apenas ligo para saber se você está bem, para saber se ainda está viva para se entregar na audiência.

– Não fui eu.

– Mas ninguém precisa saber que foi eu.

– Félix, você é um idiota, como é que eu vou me entregar, se não foi eu?!

– Tão fácil, apenas diga que foi você.

– Eu não vou falar que foi eu.

– Vai falar que foi quem? O Guilherme? Aquele que morreu? Aquele que você amava e que hoje está morto?

– Félix, vai se ferrar – Desligo o celular e respiro fundo.

Faço de tudo para não chorar, mas era impossível pensar no Guilherme, pensar em tudo que aconteceu sem chorar.

– Emily? Está tudo bem? – Olho para o lado e David estava acordado, ele senta no cochão e me encara.

– Não, não está nada bem.

– O que ele queria? Desculpa, mas eu ouvi tudo.

– Tudo bem, ele... Eu não sei, ele quer que eu me entregue, sem eu ter feito nada.

– Emily você sabe que o certo é entregar de vez esse moleque.

– Não é tão fácil como pensa – deixo mais uma desnecessária lagrima escapar, David passa a mão pelo meu rosto, e limpando.

– Vem cá – Ele me puxa e nos abraçamos, com dificuldade e depois de muito sacrifício, mas nós nos abraçamos.

– E ainda dizem que não se amam. – Antes de olhar para trás, eu enxugo todas as lagrimas, David me olha nos olhos e sorri, acho que queria passar “força”. Respiro fundo e me viro.

– O que é Luther?

– O que é? Como assim o que é? Você saiu da minha cama para ir para cama do David!

– Acontece que estamos algemados, eu cai da cama, só isso.

– Ah! Por isso que eu senti uma coisa pesada cair por cima de mim a noite – Dou um tapa no seu ombro.

– Seu idiota – Mostro a língua para ele.

– Mas afinal? Emily, quem você quer que te conquiste? Porque está parecendo que é o David.

– Se você não fosse tão burro a ponto de nos prender, eu não precisaria está aqui com o David.

– Tudo bem, eu desisto – Ele levanta, vai até uma gaveta e pega algo. Quando volta, ele estava com a chave. Eu entreabro a boca, não acredito que aquele idiota estava esse tempo todo com a chave.

Ele nos solta, eu levanto, e adivinha?

Começo a espanca-lo.

– Seu idiota, você estava com a chave esse tempo todo? Você é um idiota, você tem problemas, você tem que se internar, você é um psicopata.

– Para Emily – David me puxa pela cintura me afastando dele.

– Me solta, que eu vou matar esse idiota.

Volto a correr para bater no Luther.

– Para Emily, para!

– Idiota, tapado, idiota, idiota, idiota – Bato mais nele, mas dessa vez ele segura meus braços.

– Chega, desculpa tá? Eu queria ver se você queria mesmo ficar comigo, e parece que não, você não quer ninguém.

– Olha, que ótima observação, acho que até o meu chinelo já sabia disso.

– Tá, chega! Eu ainda vou te conquistar Emily.

– Hum... Você que acha. – Digo eu rolando os olhos por todo canto do quarto.

– Bom, eu vou indo, vocês que se resolvam – David levanta e dá as costas, ele abre a porta e eu vou atrás.

– David – Ele me olha – Obrigado! – Sorrio assim como ele.

– Por nada! – Ele pisca e eu rio, eu entro de volta no quarto.

– Ainda sorrindo? Fala sério, eu não quero ser o iludido que vai ficar insistindo em você sendo que você é loucamente apaixonada pelo David.

– Luther – aproximo-me dele e coloco minhas mãos em volta do seu pescoço – Não fica assim, você tem chances, basta insistir em mim, digamos que eu não sou tão fácil, ok? – Beijo o seu pescoço, depois sua bochecha, e por fim, dou um rápido selinho em seus lábios. Hoje eu to boazinha – Mas agora tchau.

Dou as costas e saio do quarto batendo a porta, assim que passo pelo corredor eu vejo David conversando com alguma menina, eu me aproximo.

– Oi! – Disse para a menina.

– Oi? – Ela respondeu.

Mas que porra eu to fazendo? Tipo, por que e o que eu quero fazendo isso?

– O que foi? – David pergunta.

– Ahn... É que... Não sei.

Franzo o cenho, assim como a menina e o David.

– Emily, eu acho que quando você caiu da cama, você bateu com a cabeça bem forte no chão – David diz.

– Vocês dormiram juntos? – A menina pergunta.

– Não, quer dizer... Não – Respondo – Eu vou indo, depois a gente se fala. – Aceno e saio.

Eu acho mesmo que a queda me afetou um pouco – muito – ando de volta para o quarto, pensando no por que de que eu fiz aquilo, chegar do nada e “oi” isso não é coisa para Emily Moore, fazer, o que houve comigo? Eu acho que eu to alterada.

[...]

– Vamos? – Luther diz assim que eu abro a porta do quarto.

Eu estava dormindo, sonhando com chocolate, eu estava em um vale de chocolate, mas não, um limão tinha que me acordar, e me tirar do doce para o amargo. O que é totalmente inútil para uma pessoa fazer.

– Para onde Luther?

– Por que não está arrumada? Eu te mandei três mensagens, vamos sair.

– O que? – Eu entro e pego o celular – Por que não ligou?

– Por que mensagem é mais rápido?!

– Você é um tapado!

– Me desculpa tá?

– Veste qualquer coisa.

– Espera ai.

Entro e me visto, visto “qualquer coisa”, e saio.

– Para onde vamos?

– Dar uma volta por ai.

Ele pega minha mão, e depois de tanto tentar puxa-la, eu deixo ele me levar.

No caminho foi tudo muito calmo, Luther apenas me falando, contando coisas de suas infância, confesso que gostei de conversar com ele.

– Você mal fala da sua irmã.

– O que é que tem? Ela me odeia.

– Aposto que não, por um lado, você é um doce de pessoa.

– E por outro?

– Um limão podre.

– Ai! Doeu!

– Manda Marília da um beijo que passa – Eu rio e ele me acompanha, Marília era uma menina que ele gostou tempo atrás.

– E você? Gostou de alguém? – Merda, porque ele tinha que perguntar isso?

– Bom... Sim.

– De verdade? A chegar a ponto de chorar pela pessoa?

– Você nem imagina o quanto eu chorei.

– Quem era ele?

– Guilherme.

– E onde ele está?

– Morto.

Ele fica sério, me encarando, eu abaixo a cabeça, mas logo a levanto novamente.

– M-me desculpa, eu não sabia.

– Tudo bem, como você disse, você não sabia.

– Me desculpa mesmo Emily, eu não queria tocar no assunto.

– Tudo bem Luther, mas agora vamos para casa.

– Mas já?

– Sim.

– Desculpa.

– Tudo bem Luther. Mas agora eu quero ir embora.

– Vamos.

Entro no carro, e vamos, em silêncio, logo memórias com o Guilherme invadem minha mente.

– Gui? O que faz aqui?

– Vim ver a pessoa que eu mais amo.

– Ai meu Deus, flores! – Sorrio – Obrigada – Nos beijamos.

– Sabe o que eu estava pensando?

– No que?

– Na verdade, eu vou tornar realidade.

– Como assim?

– Você sabe, e eu já disse milhares de vezes, que eu te amo – meu corpo todo se arrepia só de ouvir essas palavras saindo de sua boca – mas, o que eu quero a partir de agora, vai ser nosso segredinho, até... Tomarmos coragem, e contar a todos.

– Fala.

– Namora comigo?

– Emily? Acorda – Saio dos meus devaneios quando Luther me chama – Chegamos.

– Hã? Ah tá, que bom – Uma lágrima involuntária cai, eu a limpo antes do Luther ver.

– O que foi?

– Nada, vamos entrar logo.

Entramos no internato. Ele me leva até a porta do meu quarto.

– Você está bem?

– Sim! – sorrio – Melhor, agora, até amanha.

Abro a porta, mas antes de entrar ele me segura.

– O que foi?

– É... Posso te pedir um abraço?

– Acabou de pedir indiretamente – Rimos.

– Agora vem! – Ele abre os braços.

– Tudo bem.

Eu o abraço com gosto, eu o abraço e fecho os olhos, claro que tinha abraços melhores, mais quentes e mais aconchegantes, mas não vou citar nomes, tirem suas próprias conclusões.

– Está melhor?

Se a pessoa que não vou citar nome estivesse aqui, sim.

– Estou sim – Minto – Obrigada! – Nos separamos e sorrio para ele, ele coloca a mão em meu rosto, e me puxa para perto dele.

– Eu gosto de você Emily. Muito.

Ele me beija, sim, eu deixei, qual é, eu to sensível, eu to na fase: Qualquer um que chegar para me aconchegar, eu me entrego, por isso eu acho o abraço de outras pessoas aconchegantes.

Depois, que nos beijamos, ele sorri para mim, e eu tento, depois nos despedimos e entro.

Olho no celular e tinha um sms.

“Seu sorriso, ele é lindo, ele me encanta, sabia? Sei que sou um insignificante, um ninguém para você, mas você é linda, e eu te admiro, admiro o jeito de ser forte, de sempre levantar a cabeça em pleno a dificuldade, eu te admiro por ser tão você, e te admiro por ter me feito ficar preso ao seu sorriso. Não sei me expressar, então me perdoe. Mas... Sinto uma coisa forte por você.”.

Estava sem número, mas é claro que é do Luther, com esse... “Eu não sei me expressar”, só pode ser dele. Quem mais? Confesso que achei fofo, mas um pouco clichê para ser do Luther, mas ok.

Deitei-me e dormir.