Quatro Elementos: O Confronto escrita por Amanda Ferreira


Capítulo 26
Mortos-vivos


Notas iniciais do capítulo

Oláaa!
Tudo bem,vocês podem me matar! Eu sei que fiquei duas, três semanas sem postar, mas tenho uma boa explicação: ideias secas, sem saber como colocar em pratica e só neste fim de semana que consegui por tudo no word.
Lembrando que este é o final da primeira parte da fic. Espero que curtam e perdão se tiver algum erro.
Um enorme beijo e não sumam por favor.
:3 :)
Boa leitura!
P.S.: fotos dos personagens na segunda parte. ook



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Bianca

Minhas botas sacudiam a terra fazendo respingos de lama voarem pelo ar. Minha respiração estava abafada e meus cabelos balançavam se embaraçando cada vez mais. Tentei me concentrar nos sons, mas a única coisa que consegui ouvir foi os meus próprios pés. Parei engolindo o resto de saliva na boca, desejando beber agua. Me curvei colocando as mãos nos joelhos tentando fazer minha respiração se normalizar.

Procurei vestígios dos dois lobos que ainda a pouco me seguiam. Nada. Apenas o farfalhar das folhas no chão e no alto, tudo parecia normal demais, somente uma tempestade forte chegando. Pensei onde o Felipe poderia estar, se estaria bem. Mas o que ainda me preocupa é o fato de o cemitério estar infestado de lobos e se não lá vampiros. Seria demais para nós e ainda enfrentar uma bruxa original. A Jeniffer realmente pensou em tudo, mas nós ainda podemos....

Craaaaaaak

Ouvi o som da minha coluna sendo esmagada. Não consegui nem ouvir, muito menos ver de onde a figura grande saiu. Apenas senti meu corpo passando entre algumas arvores, as gotículas de ar pingando na pele e finalmente desabei numa pedra meio pontuda. Minha coluna entre a ponta mais afiada e pedras redondas no chão.

Gemi me contorcendo para o lado ate cair nas pedras. A dor que se seguiu me deu certeza de que quebrará algum osso. Abri os olhos, minha visão embaçada, mas vi duas botas pretas se aproximarem.Senti uma mão nos meus cabelos e fui puxada bruscamente para cima sendo obrigada a erguer a cabeça.

– Ora , vejam só quem eu encontrei primeiro. - ela sorriu mostrando dentes brancos. - Como posso dizer educadamente? - ela pareceu pensar. - Teve sorte dominadora, será a primeira a morrer.

Encarei seus olhos castanhos que sem duvida demostravam um prazer enorme agora. Os cabelos castanhos caiam na frente do corpo e a franja comprida sobre a testa. Sua pele morena parecia feita de pó, lisa e perfeita. Estava usando uma camiseta e calça jeans como se o frio não a incomodasse. Juliana. Me lembrei de ouvir o Felipe falar dela alguma vez.

Ignorei a dor na minha coluna e ergui o braço segurando o seu pulso com força.

– O que você pensa que está... - a puxei ao meu encontro sem deixa-la terminar a frase. Quando chegou perto o suficiente levantei as pernas acertando-a no estomago e empurrando-a para longe de mim.

Forcei meu corpo para frente ficando de pé na primeira tentativa. A Juliana se levantava com uma expressão de raiva e próxima a ela estava uma garota pálida de cabelo curto ruivo, me fitava sem ao menos piscar.

– Então é você quem faz o trabalho sujo da Jeniffer? - provoquei olhando a Juliana.

– Sabe dominadora. - ela limpou as folhas da roupa e andou alguns passos. - Não gosto de sujar minha mãos, então trouxe a minha amiga aqui. - apontou para a ruiva que deu um sorrisinho. - Ela não se alimenta desde ontem e você sabe como são vampiros novatos. Uma mordida e é fatal para mim, mas também para você.

A ruiva começou a andar lentamente na minha direção fazendo círculos como se estivesse pronta para pegar sua comida. Segui-a com o olhar esperando seu ataque.

– Eu e a Jeniffer estamos apenas unindo boas ideias. Compartilhando coisas, mas nada demais.

– Não sei porque não sinto assim. - falei e ouvi um som baixo sair da garganta da ruiva que ainda me rodeava.

– A Jeniffer é impulsiva, já eu sou mais... - ela sorriu procurando um elogio para si mesma. - Esperta.

A vampira fez um som estranho e sua pele pareceu se esticar e ficar ainda mais branca, os olhos sendo tomados pelo vermelho-sangue e as presas afiadas surgindo. Fechei minhas mãos em punho recebendo o impacto do seu corpo magro. Segurei seu rosto, ou melhor, sua boca longe do meu pescoço.

Me concentrei na agua das plantas a minha volta, estiquei os dedos sentindo um formigamento surgir em seguida, então vi gotículas se moverem e finalmente a agua surgir com força. Soltei a garota e estiquei as mãos bem na hora fazendo-a ir bater numa arvore.

Suspirei aliviada e vi-a cuspir agua e tossir tentando colocar o resto para fora. Me virei só há tempo de ver a Juliana me acertar com um soco ou sei lá o que. Cai de lado acertando a cara na terra. Balancei a cabeça e senti uma pontada na barriga, mais outra e de novo. Me encolhi tentando proteger as partes mais frágeis do meu corpo, mas vi seu pé acertar meu rosto antes que pudesse cobri-lo. Engoli o gosto amargo do sangue e tentei me forçar a levantar, mas senti novamente as mãos da loba me puxarem, mas dessa vez pelos braços. Ela me levantou para me jogar de volta no chão com força, apertou a bota preta no meu pescoço. Ergui os braços tentando impedi-la, mas o ar estava começando a faltar.

– Sabe Bianca - a Juliana começou a falar fazendo cada vez mais força para tentar me sufocar. - Eu não tinha em mente acabar com você primeiro. Na verdade tinha em mente o seu namorado. - ela deu um sorriso malicioso. - Felipe. Maravilhosamente descontrolado. Da ultima vez em que nos vimos tive o prazer de prova-lo e tenho que admitir: ele é realmente um desperdício. Você é uma garota de sorte, porque ele é...

Ela se abaixou um pouco para falar mais perto de mim. Um modo provador que só fazia minha raiva subir cada vez mais.

– Delicioso.

Segurei seu pé sentindo a raiva explodir, mas era em vão. Vi o vulto da vampira, ela arreganhou as presas. Imaginei a agua de novo e estendi a mão pegando no calcanhar da ruiva. Minha pele ficou fria e a dor já não era tanta, fechei os olhos sentindo as coisas a minha volta se perdendo e por fim uma onda de força me atravessar.

Apertei com mais força a vampira e o poder me dominou. A Juliana me olhou confusa e a vampira ficou rígida. Pude ouvir o som da sua respiração ficando lenta, o frio da minha pele passar para o corpo dela. Ela respirou uma, duas, três vezes e desabou ao meu lado. A pele congelada e os olhos vermelhos brancos feito pedra.

A Juliana se afastou de mim com um olhar surpreso. Firmei as mãos na terra e fiquei de pé vendo a nitidez na minha visão. Dei dois passo em direção a ela que recuou.

– Hm. - ela olhou em volta rapidamente. - Se tem algo que me incomoda e muito é uma dominadora sendo dominada pelo próprio poder e ainda extremamente ciumenta.

Fechei as mãos sentindo a agua se apoderar delas e algo gelado se formar. Ergui a mão direita vendo uma bola pequena e perfeita de gelo. Peguei impulso levando a mão para trás e a mandei com uma força exagerada em direção a Juliana. Vi-a arregalar os olhos e apenas com muito esforço dobrar o corpo para trás fazendo assim a bola passar por cima dela e despedaçar-se na arvore.

Ouvi estalos longos e o corpo magro dela se dobrar para frente, os ossos estufados sobre a pele. Suas mãos e pés se apertando sendo substituídos por patas peludas e garras compridas. O cabelo castanho se esticando, se espalhando por todo o corpo que se contorcia tomando outra forma.

Balancei as mãos sentindo outro formigamento e logo vi a agua flutuar para mais perto de mim. Movi as mãos trazendo a agua junto no mesmo instante em que a loba se levantava com os olhos cinzentos e as presas a mostra. Olhei a agua sobrea minha mão direita , senti meu corpo esfriar e imediatamente a agua se contorcer formando-se uma estaca pontuda e afiada. Tudo ficou em câmera lenta: vi terra voar junto com as patas da loba saindo do chão para um ataque, um arranhado da sua garganta, suas presas perto do meu rosto, minha mão pronta e páh!

Ela se torceu e caiu nos meus pés. Um gemido agudo e mais uma vez ouvi estalos. Seu pelo se desfazendo e a pele morena assumindo o corpo. Suas roupas se foram e ela se encolheu, mas não para esconder o corpo nu e sim a dor que se manifestava, devido a minha estaca fincada no seu peito.

Senti o cheiro do sangue subir, andei alguns passos e me agachei para olha-la. Os olhos ainda estavam num tom cinzento e ouvi gemidos baixos saírem da sua boca.

– Então é isso? - sua voz saiu entrecortada, mas entendi. - Você mata todos o que encontra?

– Não. - uma voz grave e familiar respondeu por mim.

Virei-me encontrando o Felipe de sempre, porem com uma expressão nova no rosto, mais confiante, poderosa e... assustadora. A pele parecia mais clara que o normal e mesmo da distancia que estávamos, cerca de cinco metros, eu conseguia ver que seus olhos estavam diferentes. Ele girou nas mãos uma estaca afiada de madeira. Se aproximou agachando-se ao meu lado e olhou atentamente para a Juliana se contorcendo ao no chão, o sangue escorrendo por entre as folhas úmidas.

– Ela não. - mais uma vez a voz dele saiu grave. - Nós. Nós matamos quem merece.

Encontrei o seu olhar e como suspeitava estava diferente. O verde estava mais escuro, quase num marrom, as pupilas dilatadas num verde-musgo e trincados se espalhavam por todo o resto.

Senti uma onda de calor subir pelo meu interior quando vi o meu reflexo dentro dos seus olhos sombrios. O marrom dos meus próprios olhos tinha sumido e em seu lugar uma cor de gelo havia assumido o controle.

Senti a mão do Felipe na minha me fazendo envolver a estaca. Ele me olhou confiante e assentiu, por algum motivo eu entendi o recado silencioso. Apertei com força a estaca sentindo sua mão quente se envolver por cima da minha.

– É o que devemos fazer. - olhei para a Juliana que se enroscava mais tentando se cobrir e afastar a dor. - Matamos as sombras.

Eu e o Felipe nos olhamos e um sorriso brotou nos seus lábios, um sorriso torto e excitante. Senti meus lábios respondendo e ambos erguemos as mãos segurando a estaca juntos. A Juliana arregalou os olhos.

– Não, não, não. - ela levantou a mão direita em defesa. - Não. Nãããão!

Ouvi o som da sua pele se rasgando assim que a estaca se fincou no seu coração. Sangue escorreu do canto da sua boca e então seus olhos se fecharam e tudo ficou silencioso.

Encarei o Felipe de novo. Ele sorriu entrelaçando nossos dedos e me puxou gentilmente para ficar de pé. Ergueu a mão e acariciou meu rosto descendo ate a minha nuca me puxando para perto de si. Olhei dentro dos olhos trincados que mudaram lentamente tomando a cor natural.

Nos viramos lentamente seguindo de volta ao cemitério e deixando para trás o corpo de uma lobisomem.

***

Claire

Ouvi o som do meu corpo se arrastando pela terra e em seguida a dor ao acertar a cabeça numa pedra. Abri os olhos me sentindo zonza e vi sua mão se abaixando para me puxar pelo braço.

– Sabe o que me dá mais raiva querida? - sua voz irritante saiu perto do meu ouvido. - Vocês não se cansarem de perder.

Ela me atirou de novo e me senti indo pelo vento ate bater numa arvore vendo-a ganhar uma boa cicatriz de rachadura.

O rugido que se seguiu assustou ate a mim. Virei a cabeça vendo o lobo de olhos dourados e pelo marrom me olhar atentamente e depois se focar em alguma coisa na sua frente. Enquanto a Jeniffer me vencia na luta, o Daniel teve tempo de se transformar e ganhar vantagem já que a lua estava no alto e a noite chegava dando indícios do frio e chuva.

– Pra que tudo isso lobinho? - a Jeniffer falou a alguns metros de nós. - Por que não mostra sua verdadeira cara?

Não entendi o que ela quis dizer com aquilo, já que ela o tinha visto como humano a alguns minutos atrás. Talvez tenha ficado louca de vez. O Daniel atacou batendo suas enormes patas no chão molhado pelas gotas finas que começavam a cair do céu. No primeiro golpe ele teve sorte acertando em cheio a vampira que só foi parar depois de alguns trombos nas arvores. No segundo golpe ele levou a pior, sendo chutado bem na barriga pela Jeniffer. Ela não esperou nem que ele se levantasse e já avançou de novo puxando seus pelos e agarrando seu pescoço com as duas mãos por trás.

– Vamos lá bonitinho. - ela falou pressionando. - Mostra sua verdadeira imagem valiosa.

Ouvi um gemido do lobo e seus olhos ganhando o tom azul do Daniel-humano. Tratei de ficar de pé e ergui as mãos sentindo a corrente de ar parar sobre mim. Estiquei as mãos com força e quase pude ver um ar esbranquiçado indo na direção dos dois. A Jeniffer apenas arregalou os olhos sem tempo de reagir. Eles foram para trás com tanta força que tive pena do Daniel por estar ali. Ouvi sons de ossos se quebrando quando eles atingiram uma parede rochosa.

O lobo-Daniel se levantou sacudindo os pelos e tentou correr na minha direção, mas mancando e dificultando sua velocidade. Já a Jeniffer por outro lado se levantou e seu rosto mudou, ficou pálido, a pele esticada, olheiras profundas e os olhos no vermelho-sangue. Ela disparou pela estrada na minha direção.

Fechei as mãos em punho, mas me surpreendi quando o vulto dela avançou, mas não na minha direção e sim na do Daniel. Ela o agarrou e foi o tempo de ver suas presas surgirem, ele tentar se esquivar, mas já era tarde demais. Um gemido meio uivo saiu do lobo quando as presas dela se fincaram no seu pescoço peludo por tempo suficiente para fazer meu corpo estremecer e meus pés se moverem.

Senti a raiva acumulada explodir no peito e parei institivamente ao minha garganta queimar.

– Arrrrrrrrrrrrrggggh! - um grito surgiu em mim, mas não um grito qualquer.

Assim que abri a boca para jogar a raiva para fora uma onda forte de ar se acumulou e quando minha voz surgiu o grito se tornou arrepiante. Pássaros voaram das arvores e os galhosse balançaram, o vento girando em torno de nós fazendo pequenas pedras saírem do chão. Um grito alto, forte, descontrolado e cheio de ar. Ate os meus próprios ouvidos tremeram, mas não tanto quando os da vampira. Ela soltou o Daniel imediatamente cuspindo sangue no chão e tampando os ouvidos com força.

Quase sufoquei com tanto ar que tinha no peito. Na verdade nunca senti isso antes e nem dei um grito desses. Respirei lentamente me sentindo cansada demais. A Jeniffer destampou os ouvidos e me olhou perplexa. Encarei-a sem saber o que fazer e por fim ergui a mão direta arremessando nela outra onda de ar, mas quando chegou perto ela já não estava mais ali. Desapareceu na mata.

Olhei atordoada em minha volta, mas não tinha nada a não ser o som da minha respiração e mais uma baixa e fraca.

– Daniel? - o avistei caído, mas não na sua forma de lobo e sim humano novamente.

Corri ate ele e me arrependi disso... ou não. Como esperado suas roupas de foram com a transformação e lá estava ele: nu na minha frente e praticamente morto.

Retirei o casaco que eu estava usando e joguei por cima dele. Me agachei passando a mão pelo seu braço vendo que ainda estava quente e virei um pouco seu pescoço sentindo um cheiro forte de sangue.

– Você vai ficar bem. - falei passando a ponta dos dedos pelos dois furos no pescoço de onde escorria sangue freneticamente. - Vai dar tudo certo.

Não pude evitar descer olhos pelo seu corpo algumas vezes, mas me contive em não tocar em nada. Quando voltei meu olhar ao pescoço, os furos haviam desaparecido e o sangue cessara. Pelo que sei lobisomens morrem com mordida de vampiros, mas ele se curou...

– Ai! - ele gemeu se contorcendo lentamente.

Limpei a garganta e tentei não olhar diretamente para ele.

– Tudo bem? - olhei em volta.

– Estaria. - ele tossiu. - Se você não estivesse vendo isso.

– Acredite. - olhei ele se sentar e se abraçar ao casaco cobrindo o mais importante. - Não é tão ruim assim.

Ela deu uma risadinha e negou com a cabeça.

– É melhor ir procurar os outros, eu vou levar um tempinho ate poder me transformar de novo.

– Mas... - pensei no fato dele ter sido mordido. - A mordida... não acontece nada?

Ele me olhou surpreso. Engoliu em seco e ficou me encarando com seus olhos de duas cores. Vi por fim que ele não responderia e me levantei.

– Entendi. - assenti. - Vou procurar os outros.

***

Rick

Olhei os três corpos negros e um pálido. Confesso que deram trabalho e me sinto ate cansado, mas graças aos céus tive ajuda da Claudia já que a Claire e o lobo resolveram sumir. Outra coisa que me incomoda e muito, seja lá o que aconteceu não gosto e gosto menos ainda só de saber que ele está por ai sozinho com a Claire.

Puxei com força uma parte do casaco conseguindo arrancar um bom pedaço. Contornei-o em volta do meu braço direito e amarrei com força. O sangue já tinha parado de escorrer, mas mesmo assim a dor continuava latejando. Tudo graças ao maldito vampiro pálido que fincou uma pedra ali.

– Rick! - ouvi a voz da Claudia afastada.

Me levantei com tanta preguiça que pensei que ia cair de novo. Andei ate atrás de um tumulo alto e velho. Devia ser de uma daquelas famílias ricas, porque tinha desenhos antigos por todos os lados.

Parei ao lado Claudia que olhava alguma coisa a frente.

– Ali. - ela apontou em direção a uma capela, não, tumba. Estava iluminada por velas do lado de fora. - É onde a Lucy está.

Meu coração bateu ansioso. Só de saber que estava tão perto assim da Lucy me senti forte novamente.

– Escuta. - ela se virou para mim. - A Liz é poderosa demais, então não ataque diretamente porque ela pode mata-lo num piscar de olhos. Seja inteligente e saiba usar o fogo na hora necessária. - ela puxou meu rosto para olha-la. - Entendeu?

– Relaxa. - falei. - Vamos tirar a Lucy de lá e é isso que importa.

Marchei decidido para a tumba. Tudo o que eu tinha de fazer era tirar a Lucy viva de lá. Respirei fundo, mas antes de dar mais um passo senti duas mãos me tocarem e meu corpo ir para frente caindo em cima de um tumulo. Balancei a cabeça e ergui os olhos.

– Pensou que seria fácil assim esquentadinho? - a Jeniffer falou dando um sorriso sínico.

– Pensei que estaria ocupada fazendo sacrifícios ou montando um exercito. - fiquei de pé.

– Na verdade já fiz isso bem antes. - ela sorriu satisfeita. Sua boca estava suja de sangue e as roupas estavam com algumas folhas. - Acabei de me encontrar com sua namorada, ou será sua ex? - ela fez uma expressão confusa.

Apertei as mãos sentindo meu corpo se esquentar.

– Pergunto isso porque ela estava com outro. - ela assentiu. - E por sinal era um concorrente a sua altura. Lindo, forte, valente e poderoso. - ela remexeu nos cabelos negros que por sinal combinavam perfeitamente com a pele pálida, o sorriso falso e as roupas pretas e apertadas.

– Quer me fazer uma favor? Devolve a Lucy antes que eu queime essa sua carinha branquela. - dei um sorrisinho.

– Ou você finge que não sente ciúmes da Claire ou não se importa mesmo. - ela balançou a cabeça. - É uma pena, vocês ficavam bem juntos. Só não ganham da minha lapide e da minha doce imortal. - ela sorriu mostrando os dentes brancos. - Sabe quando você vai ver a garotinha de novo, Henrique? - ela se aproximou. - Dentro de um desses túmulos. - olhou a nossa volta. - Com a garganta cortada e fria.

– Vadia! - o fogo brotou na palma da minha mão, sem pensar atirei-o na sua direção. Ela simplesmente se abaixou.

– Vocês são todos patéticos. - ela fez uma cara de nojo. - E vão ser ainda mais quando eu tiver o poder da lapide nas mãos.

– Não sem um coração. - avancei na maior velocidade que meu corpo permitia e a peguei de surpresa.

Empurrei-a tão forte que seu corpo magro passou por dois túmulos e parou quando bateu derrubando uma estátua de anjo. Não esperei que ela se levantasse e me concentrei no calor que estava na minha pele, fazendo assim duas chamas surgirem nas minhas mãos. Me abaixei na sua frente e levei as mãos em chama no rumo do seu coração. Sua pele morta de vampiro queimou rapidamente e senti meus dedos dentro do seu corpo.

Ela gritou tão alto que meu corpo estremeceu. Seus olhos foram de um vermelho a preto e de volta ao castanho. Ela tentou tirar minhas mãos, mas era em vão.

– Você está sozinha Jeniffer.

– Eu nunca... es-estou sozi–sozinha.

Uma dor aguda subiu pelo meu peito e parou na cabeça. Uma dor insuportável, poderia fazer meu cérebro explodir. Fui obrigado a tirar as mãos de dentro dela para coloca-las na minha cabeça sujado meu rosto e cabelo de sangue.

Tudo latejava e a girava. Cai de lado apertando com foça a cabeça na esperança de sumir com a dor. Me contorci no chão e quando me virei na direção da tumba vi a figura que causava toda aquela dor. Os cabelos loiros se balançando com o vento e um sorriso triunfante nos lábios. A bruxa traidora.

– Desculpe Henrique, mas você é uma pedra no meu caminho. - foi a ultima coisa que ouvi.

...

O cheiro a minha volta era de terra molhada e velas se queimando. Tentei me mover, mas meus braços estavam suspendidos e meus pulsos estavam presos em algo frio e forte. Minhas pálpebras estavam pesadas demais que tive dificuldade de abri-las. Por fim quando abri os olhos vi a imagem distorcida ate ganhar forma notável.

Eu estava do lado de fora, quase no mesmo lugar em que apaguei, porem preso a uma parede. Na minha frente, há alguns metros estava a Claudia também amarrada do mesmo modo que eu. A nossa volta um pó branco fechava-se num circulo e no centro dele velas formavam um circulo menor com algo brilhante no meio. A lapide.

O tempo estava fechado, nuvens espessas no céu, um vento frio, a terra estava lamacenta e como minhas roupas estavam úmidas com toda certeza choveu. Por isso me sentia fraco, cansado, sem forças para se quer erguer os olhos.

Olhei em volta encontrado a Jeniffer na porta da tumba de braços cruzados e um sorriso sacana. Não demorou muito para a Liz sair puxando alguém atrás de si sem muita pressa. Procurei por mais alguém além de nós e a única coisa que vi foram dois lobos negros e alguns vampiros vigiando a entrada do cemitério quebrado.

Voltei meu olhar a Liz e senti meu coração parar por um instante. Lá estava ela, num vestido branco, os cabelos castanhos caindo nas costas e a franja sobre a testa. Seu rosto estava vermelho como de quem havia chorado por muito tempo o que não seria surpresa para mim. Sua expressão era triste e confusa. Seu olhar encontrou o meu e por um instante eu vi seu rosto se iluminar e um sorriso brotar, mas logo desapareceu.

– Lucy. - sussurrei para mim mesmo e tentei puxar meus braços, mas ai me dei conta do que me prendia: correntes.

Puxei com toda a força que me restava e nada mudou. Tentei me concentrar no calor dentro de mim, mas para minha sorte os pingos finos que ate então caiam na minha cabeça começaram a ficar fortes.

– Lucy! - gritei. - Sai!

A Jeniffer suspirou e andou silenciosamente na minha direção, parou ese abaixou para olhar meu rosto.

– É realmente um desperdício ter que deixá-lo preso. - ela falou dando outro suspiro. - Não precisamos disso. - ergueu a mão para pegar meu queixo e ergue-lo me fazendo olha-la. - Mesmo que ela morra, poderá voltar. Tudo vai ficar certo. Você a terá de volta, eu vou ter a imortalidade e nada mais será preciso. Por que lutar então? Para que perder tempo?

– Acha que isso funciona comigo? Sua manipulação?

– Por que mentir Henrique? Ela vai voltar, quem você quiser poderá voltar. - ela penetrou seus olhos castanhos dentro dos meus e por um minuto eu tive vontade de acreditar. - Não preciso te manipular. Eu sei que ai dentro você acredita em mim.

Fiquei em silencio encarando seus olhos e ela sorriu, depois deslizou a ponta dos dedos pelo meu rosto, pescoço ate parar no peito.

– Você verá.

Ela se afastou indo em direção a Lucy que agora estava sendo colocada no centro do circulo junto a lapide. Engoli em seco tendo a sensação mais estranha do mundo: talvez seja verdade, talvez não tenha com que se preocupar e tudo fique certo. Levantei o rosto encontrando o olhar preocupado da Claudia. Ela balançou a cabeça, mas eu a ignorei. Voltei os olhos a Lucy e a Liz falava alguma coisa perto do seu ouvido. Não entendi porque a Lucy ainda não reagiu, tínhamos treinado tanto, o que ela estava pensando?

Senti a agua escorrer pelo meu rosto enquanto a chuva caia forte sobre mim. Puxei com mais força as correntes, sem resultado. A minha fraqueza caia na minha cabeça.

– Oritur in umbra amet! Qui sublati fuerant a potentia Date mihi in vita abiit adducere inter vivos et mortuos vivere donum. - a Liz começou a falar e logo deduzi que era o latim. Ela ergueu as mãos enquanto a Lucy ficava sentada aos seus pés. - Domine, crescunt, lucretur mundum, et intra in tenebras, et in parabolam, et præbent fortitudinem spiritus.

As velas que estavam ao redor do circulo brilharam ganhando fogo, mesmo com a chuva forte sobre nós. A magia negra estava se manifestando.

– Domine, crescunt, lucretur. Domine, crescunt, lucretur. Domine, crescunt, lucretur. - a Liz repetia freneticamente fazendo o fogo das velas se balançarem e o vento bater mais forte. - Domine, crescunt, lucretur. Domine, crescunt, lucretur.

– Lucy corra! - gritei tentando me soltar das correntes. - Lucy!

O vento estava trazendo terra, folhas e tudo mais pelos céus. Ouvi sons vindos do chão e me recusei a pensar que poderia ser os mortos.

– Lucy! - tentei mais uma vez, mas era como se ela não me ouvisse. Então a dor veio.

Meus músculos se contraíram e senti algo dentro de mim se contorcer. Minha respiração ficou presa e alguma coisa se formou na minha garganta.

A Liz se abaixou erguendo uma faca brilhante e então foi tudo muito rápido. Ela desceu a mão rumo ao pescoço da Lucy que estava exposto pela Jeniffer que segurava sua cabeça para trás, meu corpo estremeceu e tudo saiu pela boca: sangue e mais sangue, como se eu fosse colocar meus órgãos para fora. Senti meu corpo mais fraco e não pude parar jatos e mais jatos de sangue saindo do meu corpo e então um grito agudo.

– Nãããããão! - gritei junto com a Claudia quase me sufocando com o liquido na minha boca.

A Lucy caiu de lado deixando o corte do seu pescoço a mostra e o sangue escorrer livremente em meio a agua. A lapide brilhou no meio da tempestade, a Liz repetia sem parar "Domine, crescunt, lucretur"_ "Domine, cresça, vença". A Jeniffer estendeu o pulso para a bruxa que o cortou sem um pingo de pena e o tempo escureceu ainda mais. A lua foi coberta e estava feito: a Lucy morta, a Jeniffer imortal, a lapide ativa, meu corpo fraco e os espíritos a solta.

Senti as lagrimas quentes transbordarem pelo meu rosto. Eu falhei, deixei a Lucy virar um sacrifício.

A raiva ficou maior do que a minha dor. Puxei com força as corrente ouvindo estalos, senti meu corpo ficar quente e enfim deixei a raiva fluir. Um grito saiu da minha garganta e quando dei por mim havia me soltado e meus braços estavam em chamas, em chamas numa chuva.

Senti meus olhos queimarem e ergui as mãos jogando duas bolas de fogo em direção a Jeniffer. Ela se esquivou e me olhou incrédula.

–Espere! - gritou mais alto que a chuva. - Ela vai voltar.

A Ignorei e joguei outro jato de fogo na sua direção, mas uma vez ela desviou. Me preparei para o terceiro quando uma voz me trouxe de volta.

–Rick?

Me virei sentindo-me confuso demais para deduzir. Ali estava a Lucy com um meio sorriso e exatamente intacta. Olhei de volta ao circulo e o corpo dela ainda estava ali morto.

–Ela está certa. - ela andou ate mim e parou a alguns centímetros me olhando.

Me ajoelhei na sua frente deixando as chamas se apagarem.

–Eu... eu não. - tentei.

–Tudo bem. - ela esticou a mão pequena e acariciou meu rosto.

–Eu sinto muito Lu. Eu falhei com você. Eu não fiz certo, eu não...

–A culpa não é sua. Todos temos um destino e esse é o meu.

–Mas você voltou. Está tudo certo. - passei a mão no cabelo molhado.

–Não. - ela balançou a cabeça. - Ninguém pode viver da magia negra. Você precisa destruir a lapide antes que seja tudo completo.

–Mas o feitiço ainda não acabou?

–Você tem ate a tempestade cessar.

Olhei para o céu vendo que o vento tinha diminuído. Voltei para ela e senti meu coração se apertar.

–Eu não posso fazer isso Lu. Não posso perder você de novo.

***

Claire

A noite se escureceu ainda mais, a lua sendo coberta por nuvens enquanto uma tempestade caia sobre meu corpo. Ouvi um grito agudo do outro lado, no cemitério, então forcei meu corpo a correr mais ainda sobre a lama. Atravessei a rua e pulei rapidamente as paredes quebradas.

Mas tudo parou de repente. Uma onda de dor me invadiu, cai de joelhos me sentindo tonta e sufocada. Cuspi algumas vezes agua e mais agua e por fim um liquido vermelho. Eu estava me engasgando com meu próprio sangue, não parava de sair. Senti-me fraca, sem vontade de ficar de pé de novo. Curvei o corpo para frente deixando sangue sair sem controle.

Parou tão rapidamente como começou. Ergui a mão vendo que tremia freneticamente. A agua da chuva escorria pelos meus cabelos.

– Claire. - uma voz doce e familiar veio nas minhas costas.

Meu coração pulou de susto. Virei a cabeça lentamente em direção a voz e a imagem que vi me provou que eu deveria ter ficado louca.

Seus cabelos longos e castanhos estavam molhados, a pele clara exposta nos braços e o rosto. Olhos grandes e expressivos cor de mel e um sorriso protetor completava a figura inesperada.

Olhei atentamente para ter certeza de que não era uma visão da minha súbita fraqueza. Forcei as mãos na terra molhada e fiquei de pé me virando para a mulher de branco. Senti um liquido quente escorrer do meu rosto em meio a agua fria.

– Mãe?

...

– Claire, você precisa ir ate lá e destruir a lapide. - ela olhou preocupada para a chuva que caia. - Querida, se a magia continuar não terá mais tempo, vocês não terão mais tempo.

– Como você...

Ela andou rapidamente para perto de mim esticando a mão e tocando devagar meu rosto. Prendi a respiração e senti seu toque leve e materno. Comecei a soluçar deixando o choro me invadir com força.

– Filha, você precisa ser forte agora. - ela segurou meu rosto entre as mãos. - Precisa ser a dominadora que nasceu para ser. Você precisa Claire.

Balancei a cabeça me deixando cair e sendo amparada por seus braços. Não tenho como descrever o quanto senti falta do seu abraço ou como sonhei em vê-la algum dia.

– Eles precisam de você filha. - ela me afastou gentilmente.

–Você está de volta, o que tem de errado? - perguntei entre o choro.

–Não é assim que funciona Claire. - ela aumentou o tom de voz para sair mais alto que a chuva. - Sacrifícios humanos foram feitos, vidas em vão. A magia negra está livre e você precisa para-la. Como uma protetora que é. Você precisa ir. Agora.

–Eu sinto muito. - ela me puxou em outro abraço. - Sinto muito por não ser quem você esperava

–Não. Você é ótima. Tenho orgulho de você, nós temos. Eu e o seu pai te amamos e isso nunca vai mudar.

Ela sorriu e olhei dentro dos seus olhos uma ultima vez.

–Eu te amo.

–Eu também te amo! - ela respondeu depositando um beijo na minha testa.

...

Meu coração parecia em pedaços. Primeiro porque perdi a minha mãe pela segunda vez. Segundo porque se ela voltou significa que a Lucy está morta. Terceiro porque nós falhamos, eu falhei.

Parei ouvindo um gemido baixo e olhei para a esquerda finalmente vendo o Felipe com um lobo negro por cima dele o sufocando e a Bia prestes a torcer o pescoço de outro. Movi as mãos puxando o vento para mim e depois as ergui jogando tudo na direção deles. Seria ate engraçado ver os lobos indo pelos ares, mas num momento desse não teve a mínima graça.

O Felipe me olhou, encarei seus olhos e ele assentiu quase como se dissesse "Vá, estou atrás de você!". Assenti de volta e corri em direção a tumba.

Parei no mesmo instante vendo um circulo branco, a Liz sentada no centro com um corpo aos seus pés e a lapide brilhado ao seu lado. Ela estava concentrada demais e a Jeniffer estava saindo da tumba. Olhei em volta e vi uma figura loira passar entrando no centro, corri na direção dela e passei tão rápido pela Jeniffer que ela se assustou. Me abaixei pegando o objeto brilhante sem pensar duas vezes. Joguei-o com todas asforças no chão ao mesmo tempo em que a figura loira, a Kate, enfiava a mão no corpo da Liz arrancando-lhe o coração sem nojo ou dó.

A lapide bateu no chão quebrando-se em mil pedacinhos e um trovão ecoou no céu. Dois gritos em uníssono saíram. Olhei para trás vendo que um tinha sido da Jeniffer o outro do...

–Rick?

Ele me lançou um olhar mortal que nunca o vi fazer antes e então abraçou um corpo pequeno se debruçando por cima dele. Olhei onde antes estava a Lucy, aos pés da Liz agora caída com um buraco no peito. O corpo da Lucy havia de algum modo desaparecido e estava agora nos braços do Rick.

Olhei para a Kate que assentiu e deixou algo vermelho e mole cair no chão. Olhei para o céu vendo a chuva cair forte mais uma vez, depois, olhei o Rick debruçado em cima da Lucy sem vida. Encontrei por fim o olhar da Jeniffer, que poderia ter me matado de tanta raiva, mas não fez isso, apenas sumiu pelo cemitério.

Olhei por todo o ambiente encontrando o Felipe, a Bia, o Daniel, a Kate, a Claudia, o Rick e a Lucy... morta. Ali estávamos nós, destruídos por dentro. Vencidos por uma bruxa morta e uma vampira fugitiva.


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Notas finais do capítulo

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#fim #da #primeira #parte



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