Haze/Daze escrita por SatineHarmony


Capítulo 1
Capítulo Único




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Os nós dos dedos de Shizuo laçaram-se um a um, até a carteira cair no chão. Um silêncio completo seguiu o estrondo.

Tal quietude era explicada pela sala de aula estar quase vazia, e as únicas pessoas presentes ali estarem um tanto ocupadas.

— Orihara... — o garoto com cabelos tingidos tentou falar. Sua voz era grave e rouca, e seu tom indicava irritação, porém no momento encontrava-se desnorteado — desnorteado a ponto de chamar a pessoa odiável à qual se dirigia de tal forma respeitável, usando seu sobrenome. Heiwajima não conseguiu nem iniciar o seu raciocínio, sendo interrompido por Izaya:

— Então isso significa que até mesmo você reage dessa forma com coisas desse tipo, hmm? — aquilo soou como uma aprovação, por mais que tivesse falado algo deveras confuso. Abriu um sorriso presunçoso, e seus olhos entreabriram-se como se fosse capaz de ver através do outro garoto.

Shizuo estalou a língua, notando a situação na qual se encontrava. Mas não, mesmo assim não se daria como vencido — a sua mão direita, que instantes antes ameaçava jogar uma carteira em Izaya, tensionou-se novamente, pronta para lançar-lhe um soco. O moreno balançou a cabeça em desaprovação ao ver isso, e em vez de tentar esquivar-se da possível agressão, ergueu um dos braços e envolveu a mão de Heiwajima, como se estivesse brincando com ela. Os dedos dos dois entrelaçaram-se, abaixando a guarda do loiro.

— Quer outro beijo, Shizu-chan? — perguntou, numa voz doce e manipuladora. Piscou os olhos, movimentando os longos cílios de forma hipnótica. O seu aperto no colarinho da blusa alheia intensificou ao senti-lo tentar escapar da sua intimidação. — Quem cala consente. — comentou, segurando-lhe o queixo por entre os dedos para impedi-lo de mover a cabeça, e seu rosto aproximou-se do do outro.

Lábios se roçaram.

Aquela não era a primeira vez que Orihara fazia isso — e não seria a última. Há mais ou menos meia hora atrás, enquanto estavam sozinhos na sala de detenção da escola, o moreno descobriu a aversão do falso loiro a contatos "íntimos", e achara a sua reação incrivelmente interessante ao provar na prática se a suposição era verdadeira. Agora Izaya não achava nada mais entretido do que ver Shizuo ter seus ataques de raiva com um ar tanto que confuso.

Uma boca abriu-se, exibindo pontiagudos dentes brancos, que rasgaram com violenta a pele vermelha disposta à sua frente.

— Você nunca vai mudar, não é, Shizu-chan? — riu, parecendo não sentir a dor do corte que lhe fora feito. — Mas é isso o que eu mais gosto em você. Aliás, você sabe o que ajuda a curar machucados? — perguntou retoricamente. — Saliva.

Heiwajima estreitou os olhos recheados de ódio, frustrado consigo mesmo. Sua força, que antes era infreável, agora estava praticamente nula, e ele não sabia o porquê — era como se adrenalina tivesse evaporado de seu sangue. Uma mão nos seus pulsos, outra no seu queixo. Izaya conseguira restringi-lo com apenas isso.

Tsc, isso tinha que acontecer justamente agora?, pensou, sentindo o seu orgulho ferido. Ótimo, teria que reagir sem recorrer à violência — como se isso fosse possível. De que modo se recupera um ego? Deixando o outro em uma condição pior que a sua, notou. Pois bem, então assim seria.

— E está me dizendo isso por quê? Precisa de ajuda? — revirou os olhos, finalmente correspondendo à provocação.

— Sim. — o sorriso pretensioso retornou ao rosto do moreno ardiloso. Diminuiu-se a ínfima distância entre eles, e estranhou algo: — Não tentará fugir? Já se rendeu? Sou atraente a esse ponto?

— Muitas perguntas... — Shizuo foi sucinto, exibindo uma expressão de cansaço dissimulado. — Que desnecessário isso, falar tanto assim... — provocou.

— Então Shizu-chan quer ação? — seus dedos deslizaram pela pele do antebraço do loiro, e a ponta de seus narizes se tocaram.

O que se seguiu foi uma série de movimentos rudes, indelicados, e estranhamente compulsivos. Heiwajima abriu a boca, com o intuito de morder o outro mais uma vez. Sentiu seus lábios serem fortemente envoltos pelos de Orihara, impedindo-o de machucá-lo.

Como uma reação inconsciente de seu corpo, o loiro não evitou em receber Izaya com a sua língua. Parecendo não pensar direito, a ponta da mesma roçou no machucado da sua boca, que provocara com seus dentes há pouco tempo atrás.

— Obrigado, Shizu-chan. — somente ao escutar o moreno dizer isso com um sorriso petulante em seus lábios que o loiro tomou noção do que acabara de fazer. Começou a se afastar alguns passos para trás, porém Orihara notou: — Vai embora logo quando as coisas estão ficando interessantes? De jeito algum. — sua voz adotara um tom desaprovador.

Heiwajima tinha decidido sim, que não bateria naquele ser desprezível, pois estava sem forças fazê-lo. Entretanto, inconsequente como era, lançou-lhe um soco certeiro no queixo.

Izaya piscou em resposta, estático. Seus olhos castanho-avermelhados parecendo observar atentamente Shizuo:

— Isso deveria ter doído? — ergueu uma sobrancelha. — Shizu-chan, Shizu-chan... — os dedos de sua mão esquerda tamborilaram contra o ombro do loiro. — Que coisa feia. — fez bico, debochado. Sua mão abriu-se, e com um mero empurrão Heiwajima caiu sobre algumas carteiras que estavam atrás de si. Orihara sentou sobre a sua cintura sem cuidado algum, sabendo que o loiro suportaria o seu peso sem problemas.

— Izaya-kun — começou ele, finalmente tentando enfrentar o moreno —, saia de cima de mim, senão eu quebrarei seus ossos um a um, lenta e dolorosamente. — isso tudo foi dito em um murmúrio, por uma voz baixa e perigosa. Ele não era bom com palavras como o outro, então o máximo que conseguira formular foi uma ameaça.

— Faça-o. — exibiu uma expressão vitoriosa em seu rosto. — Quero ver se você consegue. — desafiou. Sua mão, que continuou no ombro de Shizuo mesmo após deitarem-se sobre o chão, desceu até a cintura alheia, próxima de sua própria. Calafrios percorreram ambos os corpos. — Alguém parece estar animado. — comentou, com a língua afiada.

— E parece que não sou o único. — Heiwajima franziu a testa. Seu corpo era, de fato, algo inconveniente. Primeiro enfraquecia quando ele mais precisava de sua força, e agora acontecia isso. Sim, ele chegara à puberdade fazia um tempo, então ficava mais irritado consigo mesmo do que envergonhado com tudo aquilo. E Orihara também não estava em condições melhores que a sua.

— Nós deveríamos cuidar disso, nee, Shizu-chan? — sugeriu, numa voz estranhamente infantil. O garoto estava prestes a retrucar algo grosseiro quando o sentiu curvar-se contra sua cintura.

Não é possível que ele esteja falando sério..., Shizuo foi cético, tentando ignorar a excitação crescente que sentia. Lábios roçaram contra seu pescoço, e em seguida dedos começaram a desabotoar a blusa de seu uniforme escolar.

A respiração de Orihara estava acelerada, e ele não parecia estar contendo os sons de aprovação que fazia a cada toque. Já Shizuo trincara os dentes ao perceber que a tão conhecida técnica "simplesmente abstraia" não funcionara de novo.

Tendo terminado de abrir a blusa, Izaya observou a pele pálida exposta à sua frente, aproximando o seu rosto, com interesse.

Acariciou-lhe com os lábios de leve, percebendo como os pelos de Shizuo eriçaram-se com isso. Satisfeito com tal reação, decidiu estimulá-lo brevemente através do tecido negro da sua calça, e sorriu ao escutar um gemido. Aproveitando a deixa, pôs-se de pé, em frente a Heiwajima:

— Acho que o inspetor está se aproximando. — declarou em um sussurro diante do olhar confuso que recebera. Realmente, passos podiam ser escutados no corredor, a poucos metros da porta da sala onde eles se encontravam no momento. Logo o moreno estava em pé ao lado de uma janela aberta, e exibia um sorriso travesso: — Desculpe-me por deixá-lo literalmente na mão. — seus pés equilibraram-se na bancada da janela. — E se eu fosse você, me vestiria rápido. — com isso, saltou, escutando ao fundo um grito raivoso: "IZAYAAAA-KUUUUN!!".

É realmente uma pena que não pude satisfazê-lo, Shizu-chan, pensou consigo mesmo.


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