- Por favor, Doctor, me diz que você tem uma alternativa pra esse dia durar mais. - eu comecei a implorar. Ele me abraçou forte e ficamos daquele jeito por alguns segundos.

- Desculpa.

- Então não tem jeito nenhum? - eu disse, tentando não chorar

- Não, eu quero dizer, desculpa por isso. - e então ele apertou a minha cabeça bem forte e as minhas lembranças começaram a ficar confusas.

Naquele momento, eu tive uma espécie de surto que eu não sei explicar, mas eu senti que ele estava fazendo aquilo outra vez, apagando a minha memória. Mais que depressa, o empurrei para longe com tanta força que ele até caiu no chão.

- De novo não, marciano! - eu gritei enquanto corria para o lado oposto. Como vocês sabem, ele era bom em correr e logo logo me alcançou.

- Donna, não, espera, desculpa!

- Eu tenho ouvido muito essa palavra ultimamente.

- Faltam três horas e talvez essa fosse a forma menos dolorosa pra você. 

- Nem sempre o que é mais fácil é melhor, Doctor. Agora me deixa em paz!

- Nada é fácil, ok? O que eu queria mesmo era poder te colocar naquela caixa azul e ficar viajando para sempre. Você sempre foi brilhante!

- Nós fomos brilhantes. E eu ia ficar com você para sempre! A melhor dupla de todos os tempos. - uma tristeza tomou conta dos olhos dele quando eu disse aquilo - Pouco me importa se são três horas ou três milênios, porque quando eu estou com você tudo parece eterno.

- Donna Noble, eu... - e naquela hora, fomos contemplados com a cena do meu "noivo" correndo em direção a nós (sim, de cueca) xingando tudo e todos - Depois eu falo. Corre!

E nós corremos. Aquela altura, eu já sabia que tinha causado muitos problemas na vida daquele pobre homem de cuecas e que, se ele tivesse um pouco de amor próprio, nunca mais ia querer me ver de novo. Não sabia pra onde o Doctor estava indo, mas sabia que eu estava disposta a segui-lo onde quer que fosse.

Andamos umas duas quadras até que paramos em um edifício.

- Precisamos chegar ao terraço.Pela escada! Allons-y!

- Não! - eu gritei, suspirando de cansaço - O elevador está quase chegando, vamos esperar.

- Mas escada é mais emocionante.

- É, mas eu estou de salto!

Eu venci e nós esperamos o elevador. Entramos rápido e apertamos o botão do último andar.

- Ei, que horas são, Doctor?

- Nove e quarenta. Nós ainda temos algum tempo.

- Você acha que ele nos viu? - eu perguntei

- Não, ele estava muito longe. Esse seu noivo é meio lerdo. - e ficamos rindo, até perceber que não éramos os únicos naquele elevador. Havia duas senhoras nos encarando.

- Perdão, não é o que parece. - Doctor tentou dizer alguma coisa, mas elas continuaram pasmas.

- Nós não somos um casal. - eu disse, não convencendo muito, mas tanto faz.

Elas saíram do elevador lá pelo décimo sétimo andar e nós continuamos até o último. Subimos vinte e cinco andares em meio a um silêncio tão constrangedor que me deu uma vontade desesperada de rir.

- O que foi? - Doctor perguntou, mas eu estava rindo demais pra conseguir explicar qualquer coisa. - O que foi? - ele insistiu, quase rindo junto. Não respondi.

Chegamos ao terraço e lá estava a Tardis, azul e linda como nunca.

- Posso entrar? – corri até a porta, entusiasmada.

- Não, não podemos sair daqui. Viagem no tempo ia mexer demais com a sua cabeça, nesse seu atual estado.

- A gente não vai sair daqui. Eu só quero entrar, sabe, pra matar as saudades. – tente.

- Ah... Acho que tudo bem. Rápido!

Dei uma volta ao redor do painel de controle, tentando guardar cada pedacinho daquela nave na minha mente. Não sei para que eu fiz isso, já que eu não ia me lembrar depois mesmo. Acho que foi só porque é o que as pessoas fazem em despedidas.

A tensão entre mim e aqueles botões de controle era enorme. Foi muito perigoso o que eu fiz, mas vale lembrar que eu estava desesperada. Comecei a apertar tudo o que eu via pela frente, tentando fazer com que a Tardis voasse.

- Donna, não!