Minguante escrita por niiizu


Capítulo 1
Capítulo único.




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A campainha toca, e eu me mexo devagar para ir atender, como se quisesse que a pessoa fosse embora. Hachi não dorme no apartamento 707 hoje, não me lembro do porquê. Apago o cigarro e destranco a fechadura.

É Yasu. Ele parece aflito, mas está tentando disfarçar. Joga o maço de cigarros na mesa, senta no banco. Olha a janela. Acende um cigarro. Eu coloco um chá pra ferver e sento à sua frente. Ele reclama das minhas roupas, "com esse pijama curto nesse frio?". Eu estranho o comentário, mas apenas dou de ombros. Ainda estava absorta nos meus pensamentos, que nem sei mais quais eram. A água ferve e eu coloco as xícaras. Pouco depois, o Black Stone dele acaba. O cheiro fica no ar, misturado ao do chá e o resto do perfume dele depois de um dia inteiro de trabalho. Meus sentidos devem estar aguçados hoje, para perceber esse tipo de coisa.

Tudo parece correr tão devagar, quase em câmera lenta. Só os momentos de silêncio que passam num piscar de olhos.

"E então?" eu arrisco. Ele parece tão absorto quanto eu. "Sei que a vista do seu apartamento não chega aos pés dessa, mas achei que você já estivesse acostumado." Ele me olha. Estava sem óculos, mas seus olhos não eram pequenos ou estranhos; eram normais. Brilhantes como se tivessem a pureza de os de uma criança. Por que eu estou fazendo esse tipo de comparação?

Ele tenta disfarçar, e coloca o dedo na ponte do nariz como se houvessem óculos lá. Eu escondo um sorriso. Ele se levanta rapidamente: "Desculpa te incomodar. Precisava falar com a Hachi, ela me pediu ajuda com as finanças, mas percebi que ela não está". Eu torço as sobrancelhas, é óbvio que ele está mentindo. Antes que chegasse à maçaneta, eu seguro o seu pulso e olho para ele. Meu rosto já diz, mas eu verbalizo mesmo assim: "É mentira. Diz logo o que você quer aqui".

Daí tudo fica muito rápido. Eu não sinto a mão dele no meu ombro, me empurrando contra a porta, nem a batida contra as minhas costas. Não sinto seu braço se soltar da minha mão, mas sinto a dele segurando o meu queixo para cima como cuidado. Também quase não sinto o rosto dele perto do meu e os lábios se juntando. Só sinto um grande calor no peito, uma língua quente, mãos e braços a me segurar e me abraçar, e retribuo tudo. Com o peito em chamas contra o dele.

xx-xx

E de repente é tudo luz. O apartamento se apaga, o homem, as sensações. Ao seu lado há outro homem adormecido, vestindo pouco mais que um cadeado no pescoço. Há um quarto, uma cama de casal, um apartamento bem mobiliado, um sol quente lá fora.

Mas, no peito de Nana, tudo é cinza, frio e cheio de dúvidas, até que se faça o contrário. E, no homem ao seu lado, ela imagina se poderia encontrar a luz e o calor de espírito que precisa e até então não havia encontrado.


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