Vê-la dormir era mais como um privilégio, era algo novo e totalmente inusitado para mim. – eu nunca

tinha visto garotas do estilo dela dormindo antes – Tudo bem, ela poderia acordar e me ver sem camisa

no batente da porta e pensar que eu estava ali para vigia-la.

Violet ressonava baixinho, por debaixo das cobertas amarelas do antigo quarto de hospedes,

– o qual ela vinha usando muito ultimamente – era incrivelmente bizarro como os cabelos violetas

contrastavam tão bem com a pele pálida.

Está fazendo de novo Evan, anda olhando muito o monstrinho esses dias não acha?

Ah cala a boca! Sua consciência maldita, eu só estou preocupado com ela. Porque era

preocupante – pelo menos para mim – o fato de Violet Trent ter quase chorado na minha frente.

Pode ter sido um cisco no olho, babaca!

Não, o rumo que a conversa naquele galpão estava levando mexeu com ela, eu pude perceber

isso.

Mirei a cama e pela terceira vez aquela noite, Violet se mexeu fazendo com que o meu coração

batesse a mil no peito. Admito o medo de ser descoberto ou estar com um olho roxo amanhã era muito.

Vá fazer uma lista de compras Evan! Como acha que vai se manter aqui queridinho?

É, era exatamente isso que eu vou fazer. Apesar de Shadow ter arrumado 85% da bagunça e

ter comprado alguma coisa comestível para essa casa, ainda faltavam as tão famosas futilidades ou as

“besteirinhas”.

Violet Trent me parece bem comestível e apetitosa, você discorda Evan?

Não. Espera.

Eu não podia ter esse tipo de pensamento com o ser do cabelo de repolho roxo – que agora se

encontrava a uma distância segura de mim – definitivamente isso era errado! Violet Trent era chave de

cadeira, menina problema que provavelmente me odiava até seu ultimo fio de cabelo tingido.

Enquanto eu me repreendia mentalmente por ter pensamentos nada inocentes com o monstrinho,

uma luz se acendeu na minha cabeça. – igualzinho aqueles momentos 'Eureca '– Se Vi estava dormindo,

isso significava que a sua jaqueta estava a mercê de qualquer um na sala, e com qualquer um quis dizer

eu. Isso parecia totalmente errado e muito radical ao mesmo tempo, eu Evan Sattle, estava prestes a dar

uma de “velha fofoqueira” pra cima de ninguém menos, ninguém mais que Violet Trent.

Desculpe mamãe. Eu sei que a senhora me deu educação, mas medidas extremas pedem soluções

extremas.

– Ora, ora, ora o que temos aqui...– cantarolei ao tirar um pedaço de papel do primeiro bolso.

Desdobrei cuidadosamente o tal papel, para depois perceber que o mesmo já devia ser velho.

Estava muito amarelado e com alguns durex pregados para que não partisse em dois. Levou um

tempo para que eu pudesse assimilar as coisas: 1° aquele papel era uma foto; 2o era bem antiga pelo

estado em que se encontrava e 3° - que particularmente chamou mais minha atenção – era um casal na

foto.

Uma mulher de estatura mediana, longas madeixas castanhas com dourado que desciam em

cascatas ate a cintura e por incrível que pareça, ela era extremamente pálida.

Ao seu lado se destacava um homem de porte atlético – como se vivesse na academia – cabelos

negros, cortados estilo militar e olhos azuis gélidos.

Não. Ri internamente.

Aqueles não poderiam ser os pais da Violet ou poderiam? Milhares de perguntas sobrevoavam

minha mente, mas o som de pequenos passos vindos da escada fez com que eu colocasse a fotografia no

lugar, e jogasse a jaqueta no sofá

.– Acordado Sattle? – pude ver os cabelos roxos, presos por um coque mal feito na cabeça.

– Uhum... – se eu abrisse a boca provavelmente iria soltar tudo de uma vez e claro, Violet

perceberia e de quebra eu teria dois – no lugar de um – olho roxo amanhã.

– Você está estranho. – pronto, fudeu – O que está havendo?

– Nada Violet, nada. – segui para a cozinha – Por que você está aqui?

– Bem, acho que você me trouxe? – disse irônica, enquanto arrumava a minha camiseta do

Asking Alexandria que vestia – Valeu pelo vestido.

– É uma camiseta. – me virei – E eu espero encontra-la aqui amanhã.

– Claro, claro. – disse.

– Era pra você estar dormindo. – falei.

– Você também. – droga, ela era boa em rebater – Mas não foi por isso que eu desci aqui.

Lentamente encostei-me a pia, bom se não foi para me bater ou me xingar por que Violet estava

aqui?

– Eu queria agradecer. – falou, enquanto se aproximava de mim – Por ontem ou sei lá, hoje a

noite.

Levando em consideração que agora já eram três da manhã, era ontem. Com toda a certeza.

– Não a de quê, Vi.

– Não, é sério Evan. – suspirou – Se fosse qualquer outro, já teria me mandado para a polícia ou

para o reformatório.

– Você me chamou de Evan, de novo. – sorri.

– Esse é o seu nome não? – se encostou na pia, ao meu lado.

– Amigos então? – perguntei, para não perder a oportunidade.

– Não. – riu debochada.

– Não? – repeti.

– Digamos que eu não te odeie tanto quanto parece Evan – começou a andar, já estava no

corredor quando parou – Devia ir dormir, insônia não faz bem a saúde.

Ri com isso, era irônico o fato do demoniozinho do cabelo roxo estar falando isso enquanto o

médico aqui era eu.

– Você também deve dormir! – rebati.

– Tenho insônia. – deu de ombros – E não tomei meus remedinhos hoje.

– Se quiser. – disse me aproximando – Só se quiser ok?

– Desembucha Evan Sattle.

– Pode dormir lá comigo. – merda! Ela não vai aceitar e ainda vai me bater.

Que ideia ótima essa sua em rapaz?

Agora não!

– Dormir? Só dormir? – perguntou, ponderando a ideia.

– É só dormir, juro que não vou nem encostar em você.

Seus olhos azuis gélidos pareciam ler minha alma e eu, rezava silenciosamente para que ela não

surtasse e me chamasse de louco pervertido.

– Eu durmo do lado esquerdo. – disse.

– Quê? – ela aceitou?

– Vamos, eu gosto de acordar com o pé esquerdo.

Era oficial: Violet é uma garota problemática.