–Me diga Missa-chan, quem era aquela mulher que estava com você?

Missa respirou fundo para começar a falar.

–Eu praticamente nasci no orfanato e quando completei cinco anos fui adotada. - Ela fez uma pausa, para ver se Mai havia entendido até ali.

–Aquela mulher que estava me acompanhando que me adotou. Ela é uma mulher rica. Me adotou por motivos fúteis, mas mesmo assim eu sou grata a ela, por ela ter me tirado do orfanato. O meu pai adotivo era um homem bondoso e gostava de mim como se eu fosse sua própria filha. Ele havia se casado com minha mãe adotiva não por amor, e sim por que os pais dela eram sócios dos seus. - Missa fez outra pausa, e olhou séria para Mai, que assentiu com a cabeça em sinal de que tinha entendido.

– Mas depois que eu fiz sete anos as coisas começaram a mudar. Eu comecei a... ver e me comunicar com coisas que as outras pessoas não viam e nem se comunicavam. E isso fez minha mãe mudar, não muito pois ela já tinha deixado bem claro que ela não gostava da "queridinha do papai", era assim que ela me chamava. Meu pai trabalhava muito mas dedicava todo seu tempo livre a mim e isso irritava minha mãe. Depois de um tempo, passei a esconder tudo o que eu via, guardava aquilo para mim mesma, seria melhor assim. Um dia, meu pai não voltou do trabalho. E no dia seguinte, tivemos a notícia de que ele havia sofrido em um acidente de carro. E foi aí que minha mãe pirou de vez. Todo dia ela olhava para mim com ódio e dizia que a culpa era minha por ele ter morrido. Mas um dia por impulso eu a respondi. "A culpa não foi minha! Não jogue em cima de mim a culpa que você está sentindo"Eu disse. Ela não gostou e... isso não importa, o que importa é que ela ouviu umas mulheres conversando sobre o escritório da SPR e como ela sabia que eu era "diferente" me deixou aqui. E... A melhor parte agora, está preparada? - A menina brincou na última parte.

– Sim, senhora! - Mai disse entrando na brincadeira.

– Aqui estou eu! Taran! - A menina disse levantando os braços demonstrando felicidade, fazendo com que Mai gargalhasse.

As duas foram interrompidas pelo som da porta da sala de Naru se abrindo.

– Mai, venha aqui por favor. - Naru disse sem expressão.

– Hai! - Mai disse se levantando.

– Eu já volto, Missa-chan.

– O.k. - Ela respondeu.

Mai entrou na sala de Naru, que estava com as duas mão apoiadas em frente a boca e com um olhar bastante sério.

– O que foi Naru? Aconteceu alguma coisa? - Mai pergunta meio preocupada.

– Não exatamente, mas você ouviu o que a menina disse, certo?- Naru fala sem expressão.

– Certo, mas o que isso- Mai foi cortada por Naru.

– Ela é uma médium. Eu ainda não sei se ela possui o mesmo tipo de mediunidade da Hara-san mas parece ir um pouco mas além do dela.

–É verdade, não tinha percebido isso ainda. - Mai afirma com a mão no queixo pensativa.

– É claro que não, do jeito que você emana idiotice. - Naru diz com um leve sorriso torto.

– Narcisista. - Mai resmunga auto o suficiente para Naru entender.

–Eu vou permitir que a menina fique conosco até o final das férias de verão mas depois disso... Vamos ver que faremos. - Naru diz com um ar indeciso na última parte.

Mai sorriu de orelha a orelha dizendo a Naru que a menina ficaria na casa dela por esse tempo.

Quando Mai olha para o sofá onde havia deixado Missa percebe que a menina não está lá, então repara que a menina estava sentava na beira da janela olhando para paisagem.

–Missa-chan. - Mai chega mais perto da menina que parecia estar dormindo de olhos abertos.

– Ah. Desculpe, estava distraída. - Missa se vira para Mai com um pequeno sorriso.

– Não é nada, só vim lhe avisa que você ficará na minha casa por um tempo. Você se incomoda? - Mai pergunta retribuindo o sorriso.

– É claro que não, eu adoraria! - A menina responde sorrindo abertamente.

– Mai, você está liberada por hoje. Quando chagar em casa ligue para todos e diga para eles estarem aqui sábado as nove em ponto. - Naru ressaltou o "em ponto" porque Mai tinha o hábito de chegar atrasada.

–Hai! - Mai afirmou com a cabeça.

–Vamos Missa-chan. Vou preparar algo para você comer quando chegarmos em casa. - Mai disse segurando a mão da menina e saindo do escritório.

Quando elas chegaram em casa Mai mostrou o quarto que Missa iria ficar e depois foi até a sala pra dar o recado de Naru para o resto dos integrantes da SPR. A primeira pessoa para quem Mai Ligou foi Takigawa.

– Mai-chan!! Como você está? - Takigawa pergunta alegremente.

– Oi, Bou-san estou bem mas preciso contar uma coisa meio longa então, não me interrompa. - Ela fala gentilmente.

–Certo!- Takigawa responde.

Então Mai explica o que aconteceu com a garota, sua mediunidade e que Naru tinha deixado ela cuidar da menina por um tempo.

– Que crueldade. Ela é só uma criança. - Takigawa fala se referindo ao que a menina sofrera nas mão da mãe.

– Eu também pensei isso quando ela me contou. - Mai falou triste. - Ah! Quase me esqueci. Naru pediu pra todos estarem no escritório no sábado as nove horas.

– Mai, eu tenho uma coisa pra falar que eu acho que vai ajudar. Meu afilhado, Rin, vai passar as férias todas comigo. Se quiser posso levá-lo para fazer companhia a Missa. - Takigawa falou.

– Ah! Seria ótimo. Assim a Missa-chan não tem que ficar o tempo todo no meio dos mais velhos. - Mai afirmou.

– Então está combinado. Até sábado. - Takigawa se despediu.

– Até lá. - Mai fala desligando o telefone.

" Ai, ainda tem tanta gente para ligar! Tsc, vou ter que repetir a mesma história várias vezes." Mai reclamou mentalmente, fazendo careta de insatisfação.

Então quando Mai terminou de ligar para todos, foi até o quarto de Missa para ver como a garota estava. Quando ela abriu a porta se deparou com a menina toda encolhida na cama dormindo profundamente.

"Ela parece exausta" pensa.

Mai abriu o armário e tirou um edredom azul claro bem fofinho e quente. Cobriu-a com delicadeza, e deu um beijinho na testa alva da menina.

– Boa noite, Missa-chan. - Sussurra baixinho para não acordar a menina.