Matemática Do Amor escrita por Lady Salvatore


Capítulo 66
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2 DIAS DEPOIS

Atenta, Elena se prendia as palavras de Rose seriamente, algo que nunca fez durante as aulas dela de Filosofia. A reação primária de Rose foi um desejo rápido de querer ri, mas a atmosfera de toda a situação não favorecia humor, ainda mais para Elena que parecia obstinada. A adolescente lhe perguntou se conhecia algum lugar pela cidade que estivesse empregando. Poderia ser qualquer coisa, garçonete no Mystic Grill, babá de alguma criança. Qualquer coisa, mas com o último escândalo protagonizado pela mesma foi impossível de se encontrar algo que remunerasse decentemente. A única coisa que conseguiu foi um cargo de faxineira no Asilo da cidade. Elena aceitou, mas era um emprego de fim de semana que teria de fazer aos sábados.

Foi então que Rose se lembrou de Jo, uma amiga sua que possuía um brechó muito popular em Whitmore. Sempre que se viam a mesma reclamava do quanto necessitava de uma assistente. Alguém para cuidar da loja quando precisasse sair, alguém para lavar, passar e etiquetar a mercadoria que chegava todo dia, alguém para limpar a própria loja, alguém para lhe fazer seu almoço já que era alérgica à comida enlatada. Resumidamente, alguém que lhe fizesse tudo. Por falta de opções e ao saber que Jo pagaria bem, Elena aceitou sem hesitações e Jo pareceu feliz com a recomendação de Rose.

Começaria em dois dias e nas últimas quarenta e oito horas tudo que sua vida se resumia era em Rose lhe ensinando a cozinhar, lavar, limpar... Entre outros.

— Isso é um cloro. - Ela lhe mostrava um líquido amarelado contido em uma garrafa grande transparente. Elena olhava o produto com estranheza, já que era a primeira que lhes eram apresentados. Rose jogou um pouco daquilo no piso. - Ele serve pra limpar o chão praticamente. Pra ficar mais limpo, é legal jogar um pouco de detergente também. Entendeu?

— Detergente é aquilo de lavar a louça, né? - Ela perguntou, um tanto confusa.

Rose assentiu cuidadosa.

— Isso mesmo. Você joga o detergente e depois a água.

— Muita água? - A interrompeu com sua questão.

— Depende do quanto você vai limpar, né Elena. - Disse Rose, obvia. - Então com a vassoura... Você esfrega. Esfrega até a gordura do chão sair.

Animada, Elena sorriu.

— Acabou então? Parece fácil. - Debochou.

— Na verdade, não. Tem que secar ainda.

— Secar? - Sua face se transformou em uma careta.

— Sim, secar.

— E como é que faz isso se vai tá tudo molhado com todos esses troços?

— Calma, não se assusta. - Rose prendeu uma gargalhada. - Não é difícil. Depois que terminar o chão, você só tem que jogar uma água limpa. Pegar o rodo, levar até o ralo ou até a saída. Faz isso duas vezes e depois, seca com o pano. - Esperou por uma resposta vinda da menina, mas ela nada disse. Parecia estar atenta tentando decorar cada passo do que deveria ter que fazer.

Eu acho que eu devia anotar.

— E agora? Já foi tudo? - Suspirou cansada. Não havia feito nada nos últimos dois dias que não fosse aprender a ser uma dona de casa.

         Rose a encarou, compadecida.

— Ainda preciso te mostrar como se usa a máquina de lavar e como lavar uma roupa na mão. - A mais velha segurou um bocejo, também estava cansada. - Mas depois disso iremos descansar. Amanhã o advogado chega na cidade e temos reunião com ele, você tem que estar bem. 

Aquilo de imediato trouxe um sorriso de esperança em Elena. O motivo pelo qual estava fazendo tudo isso iria valer a pena. Damon estava preso há alguns dias já e ainda não fora visitá-lo. Seu pai, prevendo que iria aparecer por lá, estava fazendo ronda, sempre que passava na rua da delegacia, conseguia ver o carro dele de longe. Esperava que Damon não pensasse que havia se esquecido ou o abandonado. Pelo contrário, amanhã Marcel Gerard chegaria em Mystic Falls para provar o quanto ele ainda estava vivo em seus pensamentos.

—--x---

— Ele está demorando. - Elena esfregou as mãos em nervosismo.

      Rose quis oferecer uma palavra de conforto, mas se calou ao olhar seu relógio de pulso. O atraso não era grande, era aceitável para alguém que acabaria de chegar de uma viagem longa de Los Angeles até aquele pedaço de nada da Virgínia. Resolveu acompanhar Elena nessa reunião, pois as papeladas ficariam no nome de Rose e de Damon, já que o mesmo era o cliente. Por conta da menor idade da adolescente, seu nome não poderia estar constado como representante, Alaric seria a primeira opção de Damon para aquilo, mas Elena preferiu optar por Rose. Sabia o quanto o senhor Saltzman condenava a relação que tinham e em uma situação como aquela não poderia ser boa.

Eram nove da manhã, escolheu justamente o horário escolar para se encontrarem. Não queria ter que enfrentar olhares julgadores no Mystic Grill, mas também não havia outro lugar para se encontrarem na cidade. Teria que aguentar por alguns minutos o veneno da cobra em seu corpo. As poucas pessoas que estavam ali a encaravam de modo condenador e, em seguida, faziam questão de demonstrar sua estranheza pelo fato da mulher que estava sentada ao seu lado era justamente quem era.

Ignorou, concentrando-se em cantarolar baixo alguma música que embalava o ambiente.

Até Rose acordá-la de seus pensamentos. 

— É ele. - Sussurrou disfarçadamente.

Elena voltou os olhos para a porta, encontrando uma figura de um homem que olhava através da mesa, procurando-as. Rose de imediato elevou uma das mãos para que ele as enxergasse e o mesmo deu um leve sorriso ao avistá-las, vindo até a mesa em seguida. Marcel parecia um típico advogado, de terno aparentemente feito com boas costuras, uma maleta à mão direita e muito boa aparência. Como todos de sua classe exalava seriedade, mesmo tendo um sorriso simpático nos lábios. Era negro e possuía poucos cabelos, apesar de não ser calvo ou completamente careca.

— Bom dia. - Foi a primeira coisa que ele falou, antes de apertar a mão de cada uma delas. - Muito prazer. - Disse direcionado à Elena. Por ter cuidado de outro caso de Damon, Marcel já conhecia Rose.

Percebeu o olhar incomum que ele lhe fitou, como se estivesse tentando lembrar quem era. Provavelmente pensando '' De onde conheço essa garota?''. Foi nesse minuto que Elena lembrou-se de quem era, ou de quem costumava ser...

A verdade é que não sabia mais.

— Muito prazer. - Ela sorriu de volta. - Sente-se. - Apontou em direção à cadeira, em frente às duas, que haviam reservado para ele.

Ainda formal, Marcel sentou-se.

Após a convenção social do '' Como foi de viagem?'' ou '' Desculpem o atraso'', foram direto ao assunto.

— O que eu vou fazer agora é entrar com um pedido de habeas corpus para que ele consiga responder em liberdade. - Explicou atentamente, Elena prestava a atenção em cada virgula de sua fala. - Como a queixa prestada foi de assédio sexual e não abuso, é bem provável que eu consiga que ele responda em liberdade.

Elena elevou as sobrancelhas em dúvida.

— Mas então... Porque ele foi preso em primeiro lugar?

Marcel analisou mais um pouco sua papelada antes de responder, o homem parecia tranquilo durante a situação e isso a fazia ter esperança.

— Provavelmente porque foi um flagrante. Pelo que eu li, tinha até policiais presentes quando tudo foi descoberto, certo?

Embalada pela lembrança horrível, Elena assentiu.

— Acha que temos chances? - Rose interviu pela primeira vez.

— Não dá pra dizer, estão tentando levar a ação pra juri popular e no caso de assédio é difícil. Há não ser que fosse comprovado que a relação de vocês tinha consentimento das famílias, apesar de ser escondida pelas condições trabalhistas dele.

Elena demorou um tanto para assimilar.

— Então... Você tá dizendo que se a minha família soubesse, mas a gente preferisse manter em segredo para o resto das pessoas ele seria completamente inocentado? - Repetiu aquelas palavras, ainda confusa. Naquele momento o arrependimento por terem escondido lhe bateu, talvez depois de um tempo e se explicasse de maneira honesta Isobel poderia entender e não estariam naquela situação. - Mas e a mãe dele? Ela sabia, ela apoiava. Isso conta? - Perguntou de dedos cruzados esperando por um sim.

— Não. - Foi direto. - Porque nesse caso a menor aqui é você. Na verdade, se a acusação souber disso pode acusá-la de ser cúmplice dele. 

A mão de Elena elevou até o queixo.

— Isso é um absurdo. - Disse indignada.

— Calma, Elena. - Rose lhe tocou o ombro. Não havia como mudar a situação, aquela era a lei.

— Só uma coisa antes. - Marcel interrompeu, a voz parecia hesitante. Receosa em perguntar aquilo. - Eu não quis dizer nada quando nos apresentamos, mas... Eu tenho noção da sua condição de vida e, tenho certo temor que esse caso vaze. Com certeza se isso ganhar mídia, pode influenciar muito a decisão do juri popular pra pior.

Mas aquilo era algo que Elena já sabia.

— Eu odeio dizer isso, mas... Meu pai tá cuidando pra que esse caso seja resolvido no maior anonimato possível. - Não evitou a cara de nojo ao lembrar-se John. - Mas agradeceria se você fizesse o mesmo. Confidencialidade é o principal aqui. E tirá-lo da cadeia.

         As conversas não se aprofundaram tanto após isso. Marcel primeiramente marcou uma reunião, entre os dois, depois de amanhã, segundo ele para que Elena contasse detalhadamente tudo que havia passado entre ela e Damon para que assim ele soubesse como agir. Em relação aos pagamentos, Elena lhe adiantou três mil em dinheiro com a condição de não haver honorários por no máximo três meses. Marcel, apesar de reticente, aceitou. 

O mais difícil foi a volta pra '' casa'' na qual se cumpriria uma decisão que para a mais nova lhe pesava o coração fazer, mas tinha. Aquilo tudo, aquela vida... Tudo não tinha mais sentido no momento. Por mais complicado que fosse abandonar.

Com a ajuda de Rose, arrumaram o sofá de uma maneira que ficasse bem apresentável para o restante do mundo que o veria, as paredes que ficariam ao fundo estavam em bom estado, assim como o restante da casa. Elena sentou-se enquanto Rose se dirigia para sua frente, há uns dois metros de distância, com uma pequena câmera de vídeo em mãos. Em outros tempos, teria arrumado o cabelo, checado a maquiagem, tudo antes daquela luz vermelha ligar. Bem diferente da menina daquele momento de jeans e blusa regata simples, cabelo preso em coque e sem maquiagem, além de estar de chinelos. Segurou uma risada ao comparar-se com alguém que em semanas atrás, talvez não se imaginasse naquela situação.

— Pode falar, Elena. - Rose avisou, já com a filmadora completamente pronta.

— Oi gente, é a Elena. - Acenou, com um tímido sorriso tentando parecer descontraída. - Espero que estejam todas bem. Bom, já faz um tempo que eu não gravo um vídeo pro blog. Na verdade, faz um tempo que eu não tenho feito mais nada. - Seu riso morreu em decepção. - Andei esses dias dando uma olhada no blog e eu fico chocada porque mesmo assim, eu não perdi seguidores ou inscritos. Vocês continuam muito fiéis e eu agradeço demais por esses anos todos. - Em um reflexo, ela conteve suas lágrimas. Ainda não era o momento. Mesmo assim, não pôde evitar que sua voz saísse embargada. - E isso me faz lembrar o começo de tudo isso. Eu lembro que... Quando a ideia surgiu, isso veio do meu sonho de ser estilista. - Gargalhou timidamente com as lembranças. - Sim, esse era o meu sonho de criança, meu grande sonho. Ser uma estilista, mas uma boa estilista. Com direito até a... Elogios da Anna Wintour. - Disse ela com aquela mesma ilusão de criança em seu tom, provocando uma risa até mesmo em Rose que a filmava atenta. Ciente do que viria em seguida, ela respirou fundo tomando coragem. - Eu fui uma garota que sempre teve muito desde o berço e eu ouvi a minha vida toda que nunca podia reclamar de nada porque eu podia ter tudo. Mas, mesmo assim, faltava alguma coisa. - Seu olhar se perdeu entre o ambiente, canalizando uma tristeza na qual poucas vezes deixou que alguém visse. - Faltava... Uma razão maior pra mim tá aqui, faltava uma missão na vida eu acho. Objetivo, perspectiva. Também ouvia demais que era alguém que amava muito à mim mesma e por isso era egoísta e eu achava que tinha amor próprio simplesmente porque eu gostava do que via no espelho. - Dessa vez, não pode segurar a descida de uma lágrima. - Até que chegou um momento em que eu vi que aquilo tudo era uma mentira. Me vi invejando coisas consideradas tão simples e pequenas, mas que eu nunca pude ter. Lembro que na minha antiga escola de Nova York, tinha uma menina... De família humilde, era latina e logicamente, era uma bolsista. E todo dia... Na saída e na entrada, a família inteira dela a deixava e a buscava no colégio, completamente felizes por ela poder tá tendo a oportunidade de estudar em um lugar daquele nível. Enquanto eu... - Engasgou, causando uma curta pausa, ainda não era o momento de chorar. Tinha tanta coisa há dizer. - Eu... Como sempre era recebida por algum chofer, sem nem ao menos um bom dia. O nome dessa garota era Cristina, na qual eu quero pedir desculpa por todo o bullying que eu, meus amigos, mas principalmente eu cometemos com você... Por ser pobre, por ser Mexicana. Não era nada mais do que inveja por você ser mais feliz e bem menos vazia do que eu. Perdão. - A sinceridade que entonou foi sincera, esperou alguns segundos para reiniciar a fala. - A proposta desse blog era essa. Era... Fazer todos os tipos de mulheres se sentirem bem, ao invés de infelizes e vazias, como eu me sentia. Era mostrar para uma menina de cabelo crespo, de cabelo afro... Que ela pode usar, ter orgulho e ficar linda nele e eu, incentivaria isso, ensinaria como. Dizer à uma garota que fosse acima do peso que a moda também pode ser acessível para ela e eu... Eu mostraria como. Mostrar que mesmo sem tudo, dá pra tentar ser feliz com o que se tem porque eu me sentia assim. Eu tentava ser feliz mesmo que algo que eu precisasse muito faltasse. - Sem que percebesse, as lágrimas vieram. Tímidas e claras, mas o suficiente para que a câmera infalível de Rose capturasse. - Mas eu cresci, pus a ideia em prática e por alguma razão, tudo saiu o contrário do que eu imaginei lá atrás na minha infância. Acabou que isso se tornou o lugar onde eu colocava o meu padrão e simplesmente dizia que quem não seguisse não seria feliz. É difícil de enxergar, mas talvez eu me odiasse tanto que que não conseguia ser feliz sem fazer ninguém se sentir mal por não ser como eu. - Um velho clichê, pensou ela. Mas uma grande verdade. Chorou sem reservas dessa vez. - Era tudo uma grande casca, uma grande mentira. E eu peço perdão por ter enganado tanta gente por tanto tempo. - Enxugou um pouco daquelas águas em seus olhos e sorriu, sem muita confiança. Queria poder passar que estava feliz agora, mas sabia que até que certo alguém fosse devolvido para seus braços, não poderia. - Eu tô tendo uma vida nova agora, em um novo lugar onde tem servido pra mim aprender bastante coisa. Pra mim... Pensar, refletir. Eu ainda tenho o sonho, o sonho de ser estilista e um sonho de um blog na qual não é esse. Era outro completamente diferente, e é por isso que hoje o EGilbert.com se encerra oficialmente e pra sempre. - Soou decidida, por mais difícil que fazer isso fosse estava segura de sua vontade. - Eu ainda preciso de mais tempo, ainda tenho muita coisa pra aprender e pra refletir. Mas quando eu voltar, eu vou voltar com o material que eu imaginei lá atrás. - Sorriu em uma sincera felicidade. - Algo que realmente vá fazer a diferença na vida de alguém, uma diferença positiva. - Dessa vez, limpou suas lágrimas por completo. Os olhos, provavelmente vermelhos, não fez questão de disfarçar. Eles seriam a prova de sua real sinceridade. - Espero que nesse hiatos, todos estejam dispostos a aprenderem a amar à si mesmo como são. É só isso que eu quero encontrar quando eu voltar. Fiquem bem, muito obrigada por todos esses anos. É o fim, mas um dia terá um novo começo. - Deu o sinal para Rose, que já podia desligar.

Claramente abalada, pediu que esperassem algumas semanas para postar aquilo. Ainda não estava totalmente pronta para aquele adeus.


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Notas finais do capítulo

caso alguém aí estude direito, perdão se houver algum erro jurídico, n só nesse capítulo como em outros, to seguindo bem a minha intuição. N entendo nada de leis, mto menos leis americanas... mas se alguém souber e quiser me ajudar ou dá uma dica, me envia uma mensagem e eu ficarei feliz em aceitar. Beijos.