Eu mereço isso. Eu realmente mereço. gritava Damon em sua mente, já imaginava isso acontecendo há tempos atrás. Demorou bem mais do que eu pensei que seria . Afinal, fazia três anos que meu ex- melhor amigo descobriu sobre tudo, e cinco desde quando ele me deixou alugar o apartamentinho dele no centro, um dos muitos que Mason possuía afinal o idiota é o filho mais velho do prefeito da cidade. Para o meu azar.

As mãos de Damon já suavam de nervosismo, por mais que ele esperasse por isso, foi burro demais para não se preparar. Mas como? Como era possível se concentrar em algo? Com todos os escândalos que aconteceram consigo, e com sua família nos últimos anos.

Mas Mason vai me pagar. Eu juro que vai. Filho da mãe esperou o pior momento da minha vida para me puxar o tapete, tudo por vingança. Quantos anos ele tinha, sete?

Talvez sete fosse maduro demais para ele. Rose havia sumido. Fugido, para algum lugar. Não faço ideia de onde é que essa louca se meteu. Na verdade faço, a essa altura ela deveria estar na Florida naquela casa de verão dos avós dela. Estamos juntos há três anos, noivos há nove meses, e há quarenta e quatro semanas a ponto de nos casarmos, e ela ainda consegue me surpreender. Talvez seja por isso a razão dela me atrair tanto, não só a mim. Há exatos três anos, desde que Mason soube que Rose o traia comigo, ele enlouqueceu. Nunca mais me dirigiu uma palavra, mas surpreendentemente não pediu o apartamento de volta. Só esperou, e esperou, e esperou. O pai dele, lógico, tentou fazer com que eu perdesse meu cargo de professor, logo depois que comecei a lecionar, mas foi só ameaçar em entrar com um processo que ele desistiu. Danos à imagem é o pior medo de qualquer político. Ainda mais em uma cidade infernal como essa... E agora, três anos depois de tudo. Três anos depois de Mason tragicamente nos flagrar juntos na cama. Depois de Rose e eu noivarmos, depois de minha família se envolver naquele escândalo, depois dela fugir para sei lá sabe deus... Só agora ele me liga, após tanto tempo dizendo que eu tenho duas semanas pra sair do apartamento, porque ele simplesmente quer de volta, sem nenhuma razão! Pra que porcaria de lugar que eu vou?

Damon dirigiu-se rapidamente ao banheiro da salinha ao lado. Pegou um pedaço de papel e secou as mãos. Sempre que ficava nervoso suas mãos suavam.

Voltou ao seu lugar lentamente.

O que mais o deixava louco nessas horas não era Mason, nem Rose, nem a hipótese de ficar sem casa. E sim, a probabilidade de seu pai ficar sabendo. Mas ele não voltaria. Jamais, jamais. Só o fato de ter que esbarrar nele praticamente toda a semana nas festas da cidade, ou até mesmo ao acaso - levando em conta o tamanho de Mystic Falls - já o irritavam. Voltar pra lá, após cinco anos desde aquele escândalo por conta do Stefan, se tornava algo fora de qualquer cogitação. Ele teria que arrumar um lugar por si próprio.

A sala dos professores parecia menor do que de costume para ele, estava tudo rodando. A cadeira de carvalho era confortável normalmente, mas agora parecia não suportar o peso do medo que ele sentia.

Senhor Salvatore com medo? Se algum aluno do ensino médio ouvisse isso, daria boas gargalhadas.

Gargalhadas como essa que ele ouvia agora, do andar superior. Era hora do intervalo. Normalmente ele estaria junto com os outros professores, ainda mais no primeiro dia de aula onde todos ainda estavam de bom humor. Felizes por voltar ao trabalho, mas hoje era impossível. Alaric ofereceu um quarto sobrando para ele passar uns dias, mas ficaria chato morar lá com ele e a esposa do mesmo, Meredith. E Damon estava prestes a se casar, isso se Rose deixasse a loucura de lado e voltasse. Se ao menos Mason mandasse a ordem de saída antes das aulas começarem ele poderia voar até a Florida e a convencê-la á voltar.

Damon remexeu as folhas da pasta azul em cima da mesa, a sua frente. Precisava pensar em outra coisa, e organizar o material das aulas era a melhor opção. Um homem de 27 anos sofrendo ataques de ansiedades, é um pouco vergonhoso demais, pensou ele. Estava tudo lá, diário de classe, chamada, horário de suas aulas, o conteúdo das matérias. E... Estranhamente, uma folha de papel branca. Não havia visto isso quando arrumou tudo pela última vez. Tinha diversas palavras escritas de caneta preta, em uma letra redonda familiar. Frente e verso.

Que diabos era aquilo?...

Era uma carta?!

Organizei essa droga ontem, como não vi essa porcaria aqui?

Confuso, ele apanhou o fino papel e rolou desesperadamente os olhos até o fim.

‘’Querido Damon. Sou eu, Rose. Fiquei horas pensando no que escreveria aqui, não sei se ficou muito bom, mas a questão não é essa.

Não se preocupe, eu não abandonei você. Não faria isso, eu te amo. Amo demais. Nunca te contei isso, mas quando eu era pequena, vi minha mãe passar por 3 divórcios. Relacionamentos sempre foi algo que encarei de uma maneira muito fútil... E que sempre tive medo de sentir. Outra coisa que também não contei foi que Mason não descobriu sobre nós dois por acidente, eu armei tudo. Seduzi você, e aprontei um plano fazendo com que ele descobrisse.

Já um tempo antes de tudo acontecer entre você e eu, ele já estava falando em noivado, casamento, filhos. Nós começamos nos divertindo, nunca achei que eu e ele duraríamos tanto tempo e quando fui ver, estava desesperada para me livrar desse compromisso, ou de qualquer outro que fosse. Só que eu me apaixonei. Por ti.

Não me arrependo de tudo que tivemos. Eu prometo que vou.

Virou a folha com a maior rapidez que pode. Ele estava ainda mais desesperado.

voltar para você. E te garanto que será a tempo do casamento, espero que ache essa carta antes de cancelar tudo e achar que eu te repudiei. Nunca faria isso.

Mas eu preciso de um tempo pra pensar, para me preparar para que você possua a melhor das esposas. A mais dedicada, a mais carinhosa, a mais amorosa. Te amo tanto, e você merece o melhor, e eu vou ser isso pra você, Damon. Eu juro. Por favor, me espere. Não há necessidade de se preocupar comigo, estou bem. A florida continua ainda mais bonita do que eu lembrava. No fim tudo vai da tudo certo.

Com amor. Rose.

Ao terminar de ler Damon tentava contar até dez e manter a calma, antes de poder agir e fazer qualquer coisa, que não fosse amassar esse negócio e jogar longe, ou até algo pior. Ele estava a ponto de explodir. Porque ela não falou com ele? E porque ela não explicou?

Eu ia te entender, Rose. Eu ia...

— Damon– Chamou alguém batendo à porta – Vai... Recreio acabou... Aula.

Internamente Damon cantava de agradecimento ao homem alto de cabelos castanhos à porta. Ele o salvara de explodir por completo.

— Ric?– Perguntou Damon, ainda atordoado.

— É claro que sou eu, maluco. 09:30 da manhã e você já tá bêbado? – Indagou o amigo com ironia.

— Ah... Eu, não... Eu.

— Vem logo, Damon.

— Mas... Eu já... Eu ainda... Espere eu, já to indo... Só vou guardar uns... Mas um minutinho ai calminha. – Disse Damon arrumando os papéis na pasta azul com pressa e voz falha.

Alaric olhava-o como um homem assistindo a um pinguim tentando virar urso. Ou no caso de Damon, um urso tentando virar um pinguim. Em quanto murmurava ‘’tô indo, tô indo’’. Toda aquela maldade que tanto amedrontava os ‘’selvagens’’ do andar de cima, era tão irreal ao verdadeiro Damon que ele conheceu bêbado no Mystic Grill aos 15 anos.

Ainda mais agora, em que o mesmo recolhia seus documentos num frenesi só visto antes por Ric, quando pegou Izadora Carson colando na prova final do ano passado.

Damon guardou carta no mais profundo preto de sua maleta de trabalho, após, claro, certificar de que o amigo não vira absolutamente nada.

Seguiu com o amigo pelo corredor para mais uma aula, segundo seu horário, se tratava do terceiro ano do ensino médio, andava como se nada houvesse acontecido.

Suas mãos já não suavam mais.