Confiança escrita por Camila J Pereira


Capítulo 5
Tentativa Fracassada


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura.



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Isabella

Estava tremendo um pouco. Bati a porta da van emprestada e respirei fundo tentando aliviar a tensão. Estava determinada como nunca estive. Teria a atenção daquele prepotente. Mostraria a Edward o quanto levava a profissão a sério.

Minhas últimas horas foram terríveis. Foi muito custoso convencer a promotora de exposições de animais a me deixar fotografar o evento, mas o mais difícil foi colocar todos os animais dentro da van. Não sabia que um pastor alemão pesava tanto! Ainda bem que o poodle era bonzinho e não deu problemas.

- Jéssica, por favor, precisarei que leve o Geraldo no colo. - Pedi a modelo.

- Tudo bem. - Ela olhando o gato amarelo com desconfiança.

Jéssica estava vestida com uma túnica, parecia uma fada. Ela entrou no carro carregando o gato, os dois visivelmente desgostosos. Apresei-me para entrar no lado do motorista, agradecendo mentalmente ao namorado de Ângela, Benn, que me emprestara o veículo. Liguei o motor e sai com cuidado para a rua, atenta aos barulhos passageiros.

Rapidamente percorremos o trajeto até o prédio onde Edward trabalha. Mais foi tempo suficiente para rememorar a conversa patética que tive com a promotora da exposição em que implorei pelo serviço. Não era grande coisa, mas era um trabalho fotográfico. Planejei as fotografias que tiraria dos cães e do gato e o resultado seria excelente.

Os meus prêmios de fotografia na Universidade foram merecidos.  Eu tinha condições de realizar esse trabalho e provaria a Edward a qualquer preço. Talvez estivesse mesmo ficando obsessiva assim como o Jake me dissera.

Com esta ideia de usar a praça como cenário fotográfico próximo ao prédio em que Edward trabalhava teria dois ganhos. O financeiro, pois receberia por este trabalho e demonstraria minha dedicação ao meu credor.

- E o Geraldo? - Perguntei a Jéssica. Os gemidos que vinham do banco ao lado era um aviso.

- Parece que não gosta de lugares apertados. Ele não para de reclamar. - Ela informou, dando uma olhada no engradado desconfiada.

- Não precisará ficar mais tanto tempo, já estamos chegando.

Olhei novamente para garota ao meu lado, parecia tão garota pálida e apática. Com toda a certeza não estavam em meus planos usar uma modelo neste trabalho, mas a mãe da moça que é a promotora da exposição, pensava de outro modo. Como já tinha rastejado por este trabalho, seria tolice não atender ao seu pedido.

Logo estava parando a van no estacionamento mais próximo do prédio de Edward. Os animais faziam ruídos cada vez mais altos e insistentes e fiquei nervosa apressando-me em descarregar o equipamento. Montei as luzes, a câmera e os refletores. Esperava que Edward não fosse almoçar antes do meio dia.

Meu plano era já ter arrumado tudo e parecer ocupada e esforçada quando ele saísse do edifício. Se ele aparecesse... Mas e se não saísse? De repente lembrei que a sua sala dava para a praça. E mesmo assim, estivesse concentrado demais ele logo ouviria o zum zum zum dos outros funcionários comentando sobre a sessão de fotos na rua. Sabia disso porque já tive muitos empregos temporários em escritórios e lembrava de como os boatos eram eficientes. De uma forma ou de outra, Edward teria de reparar em mim.

Com a ajuda de Jéssica organizei tudo. Os transeuntes faziam comentários e eu confirmei que uma sessão de fotos realmente chamava a atenção. Não tinha esquecido de pedir autorização para utilizar a praça, pois não queria acabar na delegacia por usar uma propriedade particular sem permissão. Inquieta, corri para terminar a colocação do equipamento. Os animais pareciam cada vez mais agitados.

- Hora de tirar os animais. – Abri a van e todos eles resolveram latir e uivar. – Fiquem calmos, precisaremos de vocês relaxados.

Retirei os animais um a um que eram presos à coleiras de imediato. O chihuahua foi o último e o manuseei com cuidado, evitando os dentes pontiagudos que ele fazia questão de mostrar.

- Calma garoto, já vamos tirar você desse engradado apertado. - Falei para o bichinho.

Depois que os cães foram presos, Geraldo pôde passear pela van, mas parecia não gostar de sentir o cheiro dos antigos ocupantes. Deixei-o a vontade para farejar o local e levei Jéssica a um ponto diante da fonte. Para que a foto ficasse perfeita, ela teria de ficar ao lado do jato d'água, mesmo que algumas gotas respingassem nela.

- Jéssica, você é a deusa que passeia com seus cães. – Improvisei, pois as vezes as modelos precisavam desempenhar um papel. - Procure parecer uma princesa.

Pela lente, observei Jéssica fitar o espaço, distraída, as coleiras dos cães pendentes de sua mão enquanto a túnica deixava entrever um ombro pálido e magro.

Não resistir e dei uma olhada para o prédio. Estava pronta. Se ele saísse neste momento testemunharia o cenário profissional que eu criara. Latidos altos me fizeram voltar a atenção à fonte. Fui para detrás da câmera e tirei fotos.

- Certo Jéssica, vire para o outro lado. Erga o braço, qualquer posição em que se sinta bem. - Falei num tom casual.

Ela virou para o prédio, o corpo a imitação perfeita da posição anterior.

- Olhe para os cães. - Suspirei diante da falta de criatividade da modelo.

Captei mais alguns ângulos, virando-me para englobar o jato de água da fonte nas fotos.

- Está ótima, Jéssica. - Espere um pouco que eu vou buscar Geraldo. - Avisei.

Livre do engradado, o gato parecia muito mais satisfeito, ele me cumprimentou com um forte ronronar e esfregou o corpo caramelo em sua mão.

- Bom gatinho...Venha ficar no colo de Jéssica um pouco. Não se preocupe com aqueles cachorros, eles não vão lhe fazer nada.

A possibilidade de um tumulto canino lhe passou pela cabeça, mas a promotora lhe assegurara que seus cães eram civilizados e não perseguiam gatos.

- Aqui, segure-o. - Ordenei, colocando o gato nos braços de Jéssica, que retribuiu com um olhar surpreso.

- Apenas segure-o. Conserve as coleiras dos cães em uma das mãos e segure o gato na altura se seu peito. Vou tirar algumas fotos e acabamos.

- Esta bem. - Jéssica replicou indiferente.

Retornei para detrás da câmera, a atenção totalmente voltada para a cena a minha frente. A modelo, em sua túnica esvoaçante, mantinha Geraldo junto ao peito e as coleiras enroladas na mão. Empregando uma câmera sobre o tripé e outra na mão, procurei os melhores ângulos e tirei uma série de fotografias.

- O que pensa que está fazendo?

A voz irritada de Edward me assustou. Virei com um movimento brusco, a surpresa sendo substituída pela satisfação. Ele se encontrava em pé, ao meu lado, os maravilhosos olhos verdes revelando uma forte suspeita.

- Estou trabalhando. - Informei alegremente.

- Aqui?

- Ah, eu tenho permissão para tirar fotos ao redor da fonte.

- Permissão?

- Sim, é assim que os profissionais agem. - O som de rosnados me fez voltar à atenção para Jéssica. - Bom, se você me der licença. - Disse satisfeita. - Preciso terminar aqui. Falamos daqui a pouco.

- Licença? - Ele repetiu agarrando-me pelo braço, o tom de voz baixo e zangado. - O que tenho para dizer vai levar só um minuto.

Voltei-me para ele de olho nos cães inquietos.

- Que bom que esta trabalhando. E, se continuar, não vai precisar aborrecer as pessoas atrás de dinheiro. Peça ajuda a um banco, você tem curso universitário, talvez ele lhe dê um empréstimo, se usar esse seu charminho.

- Escute seu teimoso... - Senti-me paralisar, o meu corpo foi invadido por uma onda de raiva. - Um grito agudo interrompeu a minha frase.

- Socorro! - Jéssica gritou. O poodle perseguia o chihuahua e ambos enrolavam as coleiras ao redor da modelo indefesa. - Socorro!

Naquele momento o pastor alemão quis participara e perseguiu o poodle.

- Parem! - Gritei largando a câmera no chão enquanto que o gato apavorado escalava o corpo de Jéssica, arrancando mais gritos dela.

Com uma exclamação de desagrado Edward se aproximou tentando apanhar a coleira do chihuahua.  Em segundos uma massa de cães conseguiu derrubar uma lâmpada que se espatifou diante da fonte. Jéssica continuava gritando, as pernas totalmente imobilizadas pelas coleiras. Edward estendeu a mão para ampará-la no exato momento em que o pastor alemão saltou sobre suas costas, derrubando-o contra a modelo e na direção da fonte. Eu não pude fazer nada além de vê-los cair na água. Sem suportar a cena, cobri os olhos, receosa do que aconteceria a seguir. Os ruídos de água e de vozes alteradas me fizeram abrir os olhos.

- Swan venha aqui! - Edward ordenou.

Fiz uma careta ao ver um desesperado Geraldo, garras estendidas, escalando as pernas de Edward.

- Aqui gatinho. - Chamei-o, inclinando-me e tirando-o com cuidado de cima dele.

- Você devia ser impedida de sair à rua. - Ele vociferou.

- Sinto muito. - Balbuciei, tentando consertar a situação.

Edward se inclinou para ajudar Jéssica e resgatar o chihuahua que tentava se manter á tona, desesperado.

- Olhe Edward, isso podia ter acontecido com qualquer um.

- Só que esse tipo de coisa sempre acontece com você. - Ele devolveu, lançando-me um olhar fulminante. - Fique longe de mim. - Ele ordenou saindo da fonte, o terno totalmente encharcado. - Bem longe.

Edward

Estava com o arquivo Klemper em uma das mãos e várias cartas na outra, sai da sala, minha mente tumultuada por decisões urgentes.

- Srta. Harper preciso que encontre... - Parei ao lado da mesa da secretária, ainda examinando as suas notas.

- Sinto muito, Sr. Cullen. - Ela me interrompeu ansiosa. - Mas essa moça quer vê-lo e não tem hora marcada.

Só então percebi a presença de alguém na sala, virei-me para olhar. Isabella. Passara-se uma semana desde o desastroso mergulho na fonte Ela vestia um conjunto branco de blazer e saia que revelava suas longas pernas, num convite á imaginação.

- Oi, Edward. Você tem alguns minutos? - Ela pediu, os olhos avelã desafiando-me enquanto se inclinava graciosamente sobre a mesa da secretária.

- Estou muito ocupado. - Tentei não me distrair pela delicada curva de seus lábios. - E acho que não temos nada para falar. Até logo, Isabella.

- Eu só preciso de alguns minutos de seu tempo.

- Não. – Repeti. A atração que eu sentia por ela fazendo a minha voz soar ainda mais ríspida.

- Você está sendo injusto...

Por pouco as curvas que tecido da sua roupa dela acentuavam me fizeram fraquejar. Não havia dúvida de que a desejava, muito. Tinha de arrancá-la da minha mente, concentrando-me nas muitas tarefas a realizar no trabalho, na promoção. Qualquer contato com ela representava uma ameaça e não podia permitir que isso ocorresse. Mesmo o mais breve encontro entre nós dois poderia exercer efeitos desastrosos na minha carreira.

- Srta Harper, por favor, telefone para Victória Marks. Tem o número dela, não é mesmo? - Voltei-me para a minha secretária ignorando-a.

- Sim, senhor. - Ela apanhou o papel e o lápis.

- Fiquei de buscá-la para irmos jantar com o Sr. e a Sra. Williams, mas tenho uma reunião com o Sr. Klemper no final da tarde e  vou precisar que ela me encontre no restaurante.

- E onde é o jantar?

- No La Prairie, às sete e meia.

- Tudo bem senhor, vou ligar imediatamente.

Olhei ligeiramente para Isabella e ela parecia indignada, caminhei para a minha sala como se ela não estivesse ali.

- Insista que ela seja pontual. Esse jantar precisa ser perfeito.

- Edward! - Isabella me chamou frustrada.

- Não, Isabella. - Fechei a porta e respirei fundo tentando esquecê-la.

Isabella

- Que grosseria! - Exclamei sem saber o que fazer diante do comportamento dele.

- Ele não costuma agir assim. - A secretária garantiu. - Acredito que é por causa da promoção. Nunca o cargo de vice-presidência foi oferecido a alguém tão jovem. Acho que ele convidou a Srta. Marks para esse jantar porque ela é muito apresentável.

- Entendo. - Murmurei sisuda.

Então, ele estava prestes a ser promovido e não tinha tempo para conversar. A atitude injusta dele fazia meu sangue ferver. A visita contudo, esclareceu um fato: Edward não era casado, nem noivo, pois convidara essa tal de Victória por ser apresentável. Quanto a mim, eu era considerada persona non grata pelo simples fato de carregar o sobrenome Swan.

- Com licença, preciso fazer essa ligação para a Srta. Marks.

- Claro, fique à vontade. - Falei pensando em como poderia convencer Edward.

Uma ideia me ocorreu quando a secretária digitou o número de Victória Marks recitando os algarismos em voz alta. Enquanto a Srta. Harper falava com Victória, eu arrumava a minha bolsa no ombro e saia, fechando a porta em silêncio, me concentrando em não esquecer os números. Logo Victória receberia outro telefonema, sorri sombriamente com meu novo plano. Mas antes de tudo eu tinha que encontrar um lápis e anotar um número de telefone.


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