— Finalmente você apareceu! – Melina correu até Nicolas ao vê-lo entrar pela porta de seu quarto.

— O que aconteceu? – ele perguntou depois dela se afastar. — Eu não poderia ficar longe por muito tempo. Porque não foi me procurar?

— Eu fiquei com medo! – ela fechou a porta, na garantia que nenhuma das outras duas pudesse ouvi-los.

Melina sentia-se sozinha desde a viajem de Daniele e desde que têm que dividir a amizade de Nicolas com Analu.

— Na verdade, ainda estou com medo. Medo de que as pessoas não me entendem.

— Mas eu não sou qualquer um Melina, eu sou seu amigo. – ele enfatizou. — Vamos lá, agora me conta o que aconteceu?

Melina precisava desabafar. Nicolas poderia não ser a pessoa certa para falar sobre aquele determinando tipo de assunto. Mas ele era o único que sempre a ouvia, compreendia, estaria ao seu lado independentemente das circunstancias.

Contou a ele sobre o beijo.

Ao narrar exatamente como tudo aconteceu, Melina não pôde evitar de mergulhar das lembranças do acontecimento de duas noites atrás. Acabou lembrando-se do pedido que fez a Henrique depois deles se beijarem outra vez.

— Está tudo errado! – ela se afastou confusa. Sua cabeça parecia pesar. — Eu estou confusa! Preciso que você me dê um tempo para organizar as ideias. Tudo que acabou de acontecer...

— Você sabe Melina – Henrique disse suavemente. — sabe que eu sempre darei o que tempo que você quiser. Mas dessa vez é diferente. Eu não posso esperar por muito tempo. Esperei tempo de mais por esse momento e agora não posso deixa-lo que se perda no tempo. Eu quero você. Eu preciso de você urgentemente.

Ele deixou claro seus desejos. Já Melina, incapaz de se manter firme naquela situação, fugiu dos próprios sentimentos. Covarde, ela saiu correndo desesperada, louca para se jogar na cama e cair no sono o quanto antes. Mas isso não foi possível. Ela só conseguia pensar no beijo e em tudo que Henrique lhe dissera.

— Você o ama? – Nicolas perguntou, por mais difícil que fosse ouvir a resposta, ele precisava saber a verdade.

— Eu não sei, Nick. Eu gosto dele! Não sei se é amor. Mas se ainda não é, algum dia ainda pode ser. Ainda mais depois do beijo!

Nicolas a fitava seriamente.

— Você não pode ficar aqui parada esperando algum dia poder entender o que sente. – ele suspirou profundo. — É preciso agir, Melina. Antes que seja tarde! Se você gosta dele, corra atrás dessa paixão, diga a ele tudo que sente. Faça a vida valer a pena! Torne seus sonhos realidade. Não é isso que você quer?

— Eu não sei bem...

— Olha pra mim, Melina – Nicolas ergueu o queixo dela em direção aos seus olhos. — Seja sincera consigo mesma e me resposta: Não é exatamente isso que você quer fazer? Ir em busca do seu amor?

— É, mas e se eu estiver enganada? E se os meus sonhos não passam de grandes bobagens? Coisas da minha imaginação. E se ele ferir meu coração exatamente como Thomaz fez?

— Chega desse “e se” Melina. Se você não arriscar, nunca terá certeza de nada!

Melina chorava, mas não de tristeza. E sim por causa da emoção das palavras de Nicolas. Ele parecia tão convicto de tudo que dizia. Melina não poderia ter encontrado pessoa melhor do que Nicolas.

Ele a puxou para um abraçou. Triste e feliz ao mesmo tempo. Feliz por vê-la feliz, como se os olhos dela lhe dissessem que Melina ansiava pela vida, por sua felicidade, em busca dos sonhos. Triste por estar a aconselhando, sem ter garantia que Henrique realmente a faria feliz como Melina merecia ser.

Como era possível dar tão bons conselhos se na realidade sua vida era trágica e ele nunca se dera bem no amor?

— Obrigada pelo carinho – ela o sentiu enxugar suas poucas lágrimas escorrendo pelo rosto. — Desde que terminei com Thomaz, me sinto cruel e culpada. Primeiro por ter beijado você e agora por ter se deixado beijar por Henrique. Isso não me parece certo. Eu e você já nos entendemos, foi fácil. Mas com Henrique as coisas não funcionam bem assim. O que sentimos pelo um pelo outro é egoísta demais para permitir que sejamos apenas amigos.

— Não se sinta culpada. – ele esboçou um sorriso meigo. — No momento fez bem pra você? – ela assentiu, afirmando. — Não tem porque se arrepender das coisas que tem fazem bem. Mesmo que depois alguém saia ferido dessa história.

Melina retribui um sorriso, eternamente agradecida. Nicolas é um verdadeiro anjo na sua vida.

— Eu preciso ir. – ele levantou-se, deu-lhe um beijo de despedida e virou as costas. — Boa sorte, na sua história com Henrique.

O que Melina não viu, foi que lágrimas involuntárias escorreram pelo rosto de Nicolas enquanto ele caminhava em direção à saída.

~*~

— Deixe de bobagem, Thom. – Rebeca rolou para o outro lado da cama, fazendo charme dentro de sua camisola preta de renda. — Você ainda não desistiu? Não cansou de fazer o papel de trouxa? Não vê que ela já não quer mais saber de você?

— Eu só queria que Melina me desse uma última chance – ele choramingou. — Eu poderia provar a ela que eu posso ser diferente...

— Olha pra mim Thomaz! – Rebeca sentou-se sobre ele. — Para cara! Para de bancar o cãozinho arrependido. Aposto com você que Melina já deve ter arrumado outro. Ela é bonita, rica, inteligente, admirável. Mas você, você é ainda melhor. Você me pertence. Fica comigo! Por favor. Deixa eu te fazer feliz outra vez?

— Rebeca...

— Thom, por favor. Agora é sua vez de me dar uma chance! Eu posso ser uma boa namorada. Você sabe que eu posso. Deixa que eu te prove o quão boa posso ser. Vai dizer que você não gosta de mim nenhum um pouquinho? – ela fez bico, toda meiga. — Eu amo você! Farei de você o cara mais feliz do mundo!

— Tá, Rebeca. – ele virou para o lado, contrariado. Estava farto daquele mesmo assunto, todos os dias. — Eu vou sim te dar uma chance. Uma única chance! Veja bem, mas se eu pegar você com qualquer outro cara eu acabo com você!

~*~

A campainha de Henrique tocava desesperadamente. Alguém realmente tinha pressa. Ele correu, pegou um casaco e jogou por cima do seu tórax exposto e foi ver quem seria. Lá fora ainda fazia frio. O inverno veio com tudo nessa temporada. Chuva e vento constantemente.

Ao abrir a porta, Henrique se deparou com uma visita inesperada.

Eles se entreolharam rapidamente e sorriram um para o outro com cumplicidade. Henrique só pensava em Melina e o beijo naquela noite fria e chuvosa. Nada lhe tirava da cabeça aquela cena.

Melina, por sua vez, deu um passo à frente e entrou. Olhou para o apartamento bem organizado, conferindo se não haveria mais ninguém presente além de Henrique. Depois de conferir, só esperou que ele fechasse a porta logo atrás. E quando ele menos esperava, ela se jogou em seus braços e o beijou, como vinha planejando o caminho todo até ali.

— Não precisa falar nada. Agora é a minha vez de falar.

Ela o conduziu até o sofá, juntos se sentaram.

— Sim, é verdade. Eu sempre gostei de você. Não sei como ou quando tudo aconteceu. Mas assim que bati meus olhos em você tive uma única certeza: é ele. O mais incrível, é que eu me identifico com cada palavra sua.  Demorei muito tempo para admitir a mim mesma que o que sinto por você é real e vale a pena arriscar. No inicio, eu tive medo de não dá certo. Mas como eu poderia saber sem tentar? Hoje de manhã, assim que acordei, reuni forças. Todas as forças que tenho dentro de mim. E disse a mim mesma: chegou a hora. Criei coragem, peguei as chaves do meu carro e vim até aqui. Antes que eu desistisse de tamanha loucura. O caminho todo até aqui, eu fiquei pensando em como começar. Mas assim que te vi me receber por aquela porta, não resisti e foi mais forte que eu. Eu precisava te beijar para ter certeza do que eu estava prestes a fazer. Enquanto nos beijamos, tudo voltou à tona. E eu me lembrei do passado mal resolvido, as palavras não ditas, a falta de coragem de me aproximar e um amor perdido no tempo. Não posso permitir que nos perdêssemos de novo. Tenho medo que o destino não nos una outra vez e eu nunca mais volte a te ver.

Melina procurou pelas mãos de Henrique.

— Apesar de tudo que está acontecendo na minha vida ultimamente, toda essa confusão, problemas, dificuldades. Eu quero arriscar e tentar. Quero fazer parte da sua vida. Viver momentos que nunca tivermos oportunidade de compartilhar. Quero que ser sua e que você seja meu. Como eu sempre imaginei, mesmo distante. Se o caso está me dando uma nova oportunidade com você, não quero desperdiçar essa chance. Se eu ainda não te amo pra valer, sei que algum dia serei capaz de amar. E finalmente essa paixão poderá se tornar algo muito além dos meus sonhos.

Henrique estava emocionando demais por tudo que ouvia, cada palavra, cada gesto, a intensidade que tudo lhe atingia, estava acontecendo ainda melhor do que ele havia imaginado. Melina era fantástica, sabia como surpreende-lo, além de linda, sabia exatamente como chegar até o seu coração.

Acho que estou ainda mais apaixonado.

— Não precisa falar mais nada – ele pediu, num sussurro. — O tempo se encarrega de fazer por nós.  Melina, eu estou tão feliz por nós dois. Finalmente! – Henrique se aproximou, segurando o rosto dela entre as mãos. Como se pudesse segurar seu mundo inteiro.

Ele olhava fixamente para ela.

— Quer namorar comigo?

.

~*~

— O que foi? – Analu arriscou perguntar. Nicolas estava tão esquisito aquela tarde. — Quer me falar alguma coisa?

Eles caminhavam pelos corredores do shopping depois de terem assistindo a um filme no cinema. O shopping estava estranhamente vazio aquela tarde, Nicolas imaginou que o frio mantinha muitas pessoas em suas casas, em suas camas, escondidas e aquecidas.

— Nada. Só estava pensando em algo. – Nicolas recebera uma ligação àquela manhã de Melina. Dizendo-lhe que ia falar com Henrique pessoalmente para resolver aquela questão.

Nicolas imaginava se nesse momento eles já estavam se dando bem, se amando, compartilhando alegrias e se estariam felizes na companhia um do outro.

Tais pensamentos, por melhores que pudessem fazer a Melina, o entristeciam. Nicolas não saberia dizer por quê. Mas e se ela tivesse realmente razão? E se Henrique partisse seu coração exatamente como Thomaz fez ao trai-la com outra?

— Você parece entristecido. – Analu insistiu, apertando suas mãos dentro do moletom de Nicolas. — Mas tudo bem, já que você não quer conversar a respeito eu não vou insistir. Olha ali, uma biblioteca! Vamos lá dar uma olhadinha nos lançamentos.

~*~

— Tenho tanta coisa pra te dizer, mas não sei nem por onde começar. – Melina soltou um risinho.

Estava deitada sobre o peito de Henrique. Ambos no sofá, pela primeira vez, bem juntinhos. Como um verdadeiro casal de namorados aproveitando o dia frio para ficarem abraçadinhos.

— Gosto do seu cheirinho. – ela o inalou, sorrindo satisfeita.

— É? E do que mais você gosta em mim?

Melina parou para pensar num instante. Havia tantas coisas que ela gostava nele.

— Gosto dos seus olhos, que apesar de bem comuns, para mim têm um brilho especial. Gosto das suas bochechas rosadas, seus longos cílios, gosto do seu corpo magro, da cor da sua pele, do seu sorriso e gosto do seu cabelo, posso passar a mão?

Ele assentiu, também sorrindo.

— Eu sempre quis fazer isso. – ela admitiu, acarinhando os cabelos dele. Devagarzinho. Henrique gostou daquilo.

— O que mais você sempre quis fazer? – ele perguntou, cheio de expectativas.

— Isso. – ela beijou o canto da boca dele. — E isso. – com a ponta dos dedos, Melina acarinhou a maça do rosto dele. — E muitas outras coisas também.

Ele riram, e se beijaram.

— Sabe o que eu sempre mais gostei em você, além do seu jeitinho doce, meigo, delicado?

Ela não sabia, esperou que ele respondesse.

— Sempre gostei dos seus cabelos. – ele aninhava seus dedos nas pontas dos longos cabelos dela. — Foi à primeira coisa que reparei.

— Menos mal. – ela riu, sentindo o toque dele. — Sabe, parece que estou sonhando.

Ele viu a garoa fina cair através da janela.

— É, eu também acho que ainda estou sonhando.