Olhos De Vidro escrita por Jane Viesseli


Capítulo 25
Dia Dois – Parte I




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Embry desperta aos sustos quando um balde de água fria é lançado sobre o seu corpo. Ao fundo podia ouvir alguns rosnados e resmungos de fúria, mas sua mente ainda estava em processo de despertar e o quileute não fazia ideia do que estavam falando.

― Maldito, arrebentou as amarras novamente. Quando ele perderá essa maldita força?

― Logo, John, tenha paciência. Estou apenas começando com ele – explica Hector.

Com um aceno do líder, Ana novamente deposita uma bandeja de comida na cadeira. Desta vez a refeição não passava de um pão murcho e um copo de leite, nada que pudesse realmente saciar o apetite de um transmorfo.

― Não tinham nada melhor? – pergunta Embry com ironia, aproximando-se de seu café da manhã e fazendo o seu primeiro raciocínio do dia. – Vocês podem não saber, mas eu sou o tipo de homem que gosta de comer bem...

― Não se iluda se acha que sou sua serviçal, lhe alimento apenas porque Hector mandou – rosna Ana. – Preferia quando estava arrebentado e mal podia falar! – Vira-se para o companheiro. – Por que essa espécie fedorenta tinha que se curar tão rápido?

― Chega de bobagens! Preparem a seção de hoje, eu me encarregarei de levar nosso brinquedinho para cima. – ordena o líder, voltando-se para Embry em seguida. – E você, coma esta porcaria logo...

Os vampiros se retiram com velocidade, deixando Hector e Embry para trás. O quileute apanha o pão murcho e o come como se realmente não precisasse daquilo, enquanto os olhos vermelhos do frio o observavam atentamente.

Hector sabia que ele estava faminto, podia ler isso em sua face, mas seu orgulho de lobo não o deixaria rastejar atrás de comida como um selvagem, ainda mais na frente de seu inimigo. Um sorriso malicioso brota no rosto gélido, fazendo Embry estreitar os olhos em desconfiança. O vampiro não via a hora de realmente quebrar o orgulho de seu oponente...

― Você verá a humana hoje – começa Hector.

― Conte-me uma novidade – rebate presunçoso.

― Novidade? – pensa calmamente, não se deixando abalar pelas provocações do lobo. – No final deste dia arrancarei este risinho arrogante de seus lábios e quebrarei o que sobrou de seu ego como se fosse uma vidraça!

Embry sente seu sorriso murchar com a seriedade das palavras de Hector. O que aquele sanguessuga desgraçado pretendia, afinal?

― Assim que subirmos você verá uma pequena mesa em um dos quartos. Sua humana estará lá o esperando, mas você não poderá tocá-la.

― Por quê? – decepciona-se.

― Porque eu não o trouxe aqui para namorar, apenas por isso! – resmunga o vampiro, como se aquilo fosse óbvio. – Vou ser bem claro quanto as regras, garoto lobo: se tocar, ela morre; se trocar elogios, ela morre; se contar o que está acontecendo, ela morre; e se ela suspeitar que algo esta errado...

― Ela morre – completa o quileute, sentindo um nó formar-se em sua garganta com aquelas palavras. – Então o que eu deverei fazer?

― A humana não sabe que estamos aqui, portanto, você assumirá a autoria do sequestro. Acho bom ser convincente, pois já sabe o que acontecerá se ela desconfiar.

Embry sente um rosnado escapar de sua garganta, não gostando do rumo que aquilo estava tomando. E depois de se alimentar, o lobo foi conduzido pela escadaria rumo a parte mais alta da casa, onde Andy já o esperava. Seu coração acelerado ansiava por ver seu imprinting novamente, a expectativa era muita, mas as regras também eram e ele não podia se deixar levar pelas vontades daquela magia... Pelo bem dela, ele precisava se conter.

O quarto escolhido pelos vampiros fora totalmente transformado, não havia cama, armário ou qualquer outro tipo de decoração naquele cômodo, porque tudo fora retirado. As janelas foram bloqueadas por tábuas e somente uma mesa fora colocada ali, com algumas cadeiras espalhadas pelo local.

Andy já estava à mesa, esfregando as mãos nervosamente e esperando o que quer que fosse acontecer. Os vampiros se acomodavam nas cadeiras ao seu redor sem fazer o mínimo ruído, pois nem mesmo seus passos emitiam som; era fácil se manter oculto já que a humana não podia enxergar, bastou apenas uma luva e uma corda para que não precisassem tocá-la diretamente, e pronto, eles se transformaram em fantasmas.

A humana estava perfeitamente bem, aquecida e alimentada, no entanto, interiormente, estava muito confusa. Tudo o que se lembrava, era de estar em seu quarto arrumando sua mala quando ouviu alguém entrar pela janela e ordenar: "pegue-a", a voz não era conhecida e como nunca mais voltou a ouvi-la, já não podia dizer se era de um homem ou de uma mulher. Talvez sua memória estivesse mais nítida se não fosse pelo golpe deferido em seu rosto naquele dia, que cortou seu lábio inferior e a fez apagar completamente.

Quando finalmente acordou, Andy estava faminta, com frio e de lábio inchado, não sabia se era dia ou noite, não reconhecia nada e sentia sua deficiência completamente exposta. Seja quem fosse o autor daquele ataque, apenas cuidou para que ela sobrevivesse. No dia anterior ficara aprisionada no quarto durante todo o dia, mas, por vários momentos, ela sentiu ser observada, captou odores estranhos e ouviu murmúrios no andar debaixo, mas teve medo de pronunciar algo a respeito.

A porta do cômodo se abriu ruidosamente, fazendo Andy sair de seus devaneios e tentar captar algo mais do que apenas a escuridão de seus olhos. O odor estranho parecia impregnado naquela sala, mas nada que a ajudasse a identificar quem acabava de entrar.

Na porta, Embry estava hipnotizado pela imagem da humana, seu cheiro parecia se destacar sobre o fedor dos sanguessugas e levou apenas meio segundo para a força do imprinting o puxar em direção a ela, fazendo com que Ana, John e Tayrone se levantassem com a aproximação repentina. O quileute congelar ao perceber o erro que estava prestes a cometer.

― Quem está ai? – pergunta ela devido ao longo silêncio.

Embry fecha os olhos, deleitando-se com o som de sua voz ao mesmo tempo em que impedia seus pés de diminuírem a distância entre eles.

― Sou eu, Andy. – A encara.

As dúvidas e questionamentos não foram tão rápidas quanto o reconhecimento daquela voz, e quando Andy caiu em si, já havia se levantado para correr em sua direção e se lançar em seu abraço caloroso, o que realmente não agradou os vampiros, que realizaram uma aproximação perigosa de seu corpo frágil e mortal.

― Fique onde está! – grita o quileute aflito, fazendo-a parar. – Sente-se, Andy.

― Por quê? – pergunta, ainda feliz com sua presença.

― Sente-se – pede novamente.

― Você veio me buscar, não veio? – Sorri.

― Sente-se agora!!! – grita o mais alto que seus pulmões lhe permitiram.

Andy obedece com o susto, sentindo o sorriso murchar de seus lábios. Embry sabia que aquela conversa não terminaria bem, mas o que poderia fazer? Que alternativa tinha? Andy não fazia ideia do que acontecia ali, do risco que corria, dos seres que a rodeavam e do quanto sua vida estava ameaçada...

― Quem me trouxe? – pergunta ela, agora deixando os questionamentos tomarem a frente.

― Eu mesmo – responde da forma mais ríspida que conseguiu.

― Por quê?

O quileute encara os rostos de mármore que apenas observavam, ele não sabia o que dizer e buscava em seus inimigos uma resposta convincente. Hector apenas dá de ombros, deixando sobre ele a responsabilidade de inventar algo.

― Ainda não está na hora de você saber – arrisca ele, buscando nos vampiros algum sinal de reprovação quanto a sua resposta, porém eles apenas o assistiram em silêncio.

― Você não está fazendo isso sozinho – comenta Andy cabisbaixa, fazendo o quileute gelar e os vampiros estreitarem os olhos. – Se fosse apenas você, já o teria reconhecido antes...

― Realmente não fiz sozinho – explica rapidamente, antes que os nômades tentassem algo –, mas planejei tudo sozinho. Nada como um pouco de dinheiro e alguns otários para fazer um sequestro ser bem-sucedido!

― Por que fez isso? – insisti.

― Já disse que não é hora de você saber – rebate novamente com grosseria, ele tinha que convencê-la, mas estava se desesperando com tantas perguntas.

― E por que não veio me ver antes? – pergunta no mesmo tom grosseiro.

― Por que você não me fez falta – menti, sentindo o coração se apertar com tais palavras.

― O quê? – sussurra, aquela frase com certeza a afetara. – Por que está dizendo isso?

― Chega de tantos porquês – grita –, que coisa chata! Ei otários, tirem essa garota da minha frente, pois não aguento mais essas baboseiras.

Indiretamente Embry insultou os vampiros, mas eles estavam felizes demais com a encenação para se sentirem ofendidos. Eles se retiram, levando Andy consigo da mesma forma que a trouxeram.

Embry permanecera inerte e de olhos fechados durante sua saída, com medo de não resistir e colocar tudo a perder. Suas últimas frases doíam mais nele do que nela, seu imprinting o corroía de culpa e sua boca ansiava gritar que tudo era mentira, para que pudesse tomá-la em seus braços e amá-la mais uma vez.

― Bravo! – Aplaude Hector, atraindo os olhos enfurecidos de Embry para si. – Você a dispensou mais rápido do que eu gostaria, mas o desfecho foi realmente interessante.

― Está satisfeito? – rosna.

― Não! Como lhe disse: você a dispensou mais rápido do que eu gostaria. Mas tudo bem, lhe darei um tempo para pensar numa história criativa. – Sorri. – Mais tarde nos reuniremos para mais uma conversa.

Hector sabia que o orgulho do quileute ainda não estava ferido o suficiente, contudo, deixaria ir por hora. Embry foi escoltado de volta ao porão, onde ficou esquecido por algum tempo. Em sua cabeça corria uma grande desconfiança com relação ao líder nômade, o que ele estaria tramando, afinal? Ele sentia que não iria gostar quando descobrisse.

E mais tarde, naquele mesmo dia, o quileute foi novamente chamado e escoltado para o quarto da primeira vez. No caminho ele observou um relógio de parede marcar seis horas da tarde, mas isso não fazia muita diferença devido às circunstâncias em que se encontrava.

Ao entrar no cômodo modificado – que muito o fazia lembrar as salas de interrogatório dos filmes policiais –, Embry encontrou Andy sentada no mesmo lugar de mais cedo. Ela somente aguardava, impassível e calada, sabendo que ele estava ali devido ao seu andar pesado, mas não fazendo ideia alguma do que viria a seguir.

Hector permanecia próximo à porta enquanto os demais vampiros se acomodavam silenciosamente em suas cadeiras, sua expressão era confiante e má, como se já soubesse o quanto aquela conversa o divertiria.

― Espero que tenha pensado num bom enredo – começa o líder nômade, somente para que ele o escutasse.

― Não sou bom em criar histórias – responde no mesmo tom.

― Então que tal essa: você se cansou dela porque é cega! – O lobo o encara, pasmo. – Agora se aproxime daquela mesa e a magoe.

― O quê? – questiona perplexo.

― Você me ouviu. Já tem sua história, agora faça a humana chorar.

― Não posso fazer isso!

― É claro que pode.

― Não posso, eu a amo, será que não entende? Prefiro morrer a magoá-la novamente...

Hector fecha o semblante no mesmo instante. Ele pouco se importava com os sentimentos de Embry ou de Andy, apenas queria a sua vingança e estava disposto a fazer de tudo para consegui-la, principalmente cumprir as ameaças que fizera.

― Você quebrou a regra de dormir amarrado àquela cadeira e sabe o que acontece quando se quebram as regras? – O quileute arregala os olhos. – É isso mesmo, garoto lobo, a humana sofre as consequências...

― Por favor, não a machuque – implora preocupado.

― Eu não vou, você vai! – Sorri malicioso. – Eu lhe disse, até o final deste dia seu orgulho não existirá mais.

Um brilho sinistro cintilou nos olhos do vampiro ao dizer tais palavras. Embry havia quebrado uma regra e agora era Andy quem pagaria por aquilo, talvez não fisicamente, mas, ainda assim, pagaria.

― Agora vá até ela e a faça chorar... Ou eu a mato!


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Notas finais do capítulo

Me desculpem a demora em atualizar! Como eu anunciei no facebook o site entrou em manutenção para troca de servidor, ele voltou a alguns dias e como sempre, eu fui fazer a revisão do capitulo antes de postar. E adivinhem? Ele estava UMA DROGA...
KKK, sem brincadeira ficou realmente horroroso, mas acabei tendo algumas ideias muito boas e reescrevi o capitulo (por isso demorou). Dividi o "Dia Dois" em duas partes, aqui está a primeira e espero de coração que vocês gostem...
.
O próximo capitulo está ficando muito emocionante, o negócio vai ficar tenso para o lado do nosso lobinho. E isso é apenas o começo...