Olhos De Vidro escrita por Jane Viesseli


Capítulo 15
Meus Dias Sem Você




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Não houve um dia sequer em que Embry Call não tivesse pensado em Andy, em que seus pés não tivessem traçado caminho pela neve até a praia e travado no meio do percurso, em que o pesar e a raiva não duelassem em seu peito.

O arrependimento lhe corroía os sentidos sempre que se lembrava do grito de seu imprinting ecoando pela floresta, aquilo arrepiou cada célula de seu corpo e, no mesmo instante, seu lobo interior desejou voltar atrás, mas sua burra e preconceituosa razão dizia que não, que ele nunca mais deveria vê-la, pois merecia coisa melhor. E era neste momento que a raiva daquela revelação retornava, guerreando com o pensamento anterior e fazendo de sua vida um verdadeiro inferno.

Naquele fatídico dia, quando retornou para casa e contou a mãe sobre o ocorrido, Tiffany confessou suspeitar da menina desde que a conhecera:

― Quando estávamos indo para a cozinha naquele dia – contou ela –, percebi algo diferente, ela andava com passos tão curtos que parecia com medo de cair ou bater em alguma coisa... E suas mãos apalpavam o ar de maneira discreta, como se tentasse encontrar a localização do sofá ou de qualquer outro móvel. Agora tudo faz sentido!

Aquela foi a tão estranha cena que a Sra. Call vira, desconfiara, mas que não tivera coragem de contar ao filho durante a visita de Andy. E somente por pensar que até mesmo sua mãe percebera algo errado e ele não, Embry sentia a raiva preencher-lhe novamente.

É claro que Tiffany Call não se agradara com a forma do quileute tratar a menina. Independente do imprinting e do segredo que guardara, Andy era diferente e todas as diferenças deveriam ser respeitadas. E depois de um belo castigo e da mais dura repreensão que já tomara em sua vida, Embry parecia diferente... Não do tipo que planeja uma retratação ou um pedido de desculpas, mas do tipo: andar carregado, olheiras profundas, desanimado e, ao mesmo tempo, revoltado com tudo, além de mostrar-se bastante desatento, como se estivesse deslocado, como se algo importante faltasse em seus dias.

Lá estava o lobo mais uma vez, arrastando-se como um verdadeiro zumbi pelos corredores do colégio da reserva em direção a sua próxima aula. As pessoas passavam ao seu redor sem serem notadas, vozes o chamavam sem serem ouvidas e praticamente todos os alunos normais comparavam sua mudança de comportamento ao uso de drogas.

Para o bando a situação era, de certa forma, melhor compreendida, contudo ainda existiam os mais rebeldes, os que achavam tudo aquilo ridículo e um gigantesco sinal de fraqueza para um lobo quileute. Quanto mais baixo o garoto estivesse na escala de afinidade de Embry, mais propenso ele estava a não compreender seu sofrimento e a fazer chacota de sua situação.

― E lá vai ele de novo – resmunga um lobo novato, colega de Collin. – Se arrastando pelos cantos e fazendo de conta que os outros não existem.

― Acho melhor calar a boca! – previne Seth, que lhe fazia companhia. – Esse é um assunto delicado.

― Delicado para quem? – rebate. – Ele é que está desmoronando pelos cantos, chorando como uma mocinha e demonstrando fraqueza por causa de uma namoradinha cega e tonta.

Embry estanca no mesmo instante, apurando seus ouvidos apenas para a voz que ousara falar de Andy. Alguns alunos olhavam para ele curiosamente, pois agia de forma cada vez mais estranha nos últimos dias e todos eles temiam uma possível overdose.

― Repita isso, seu lixo! – desafia o Call em voz alta, virando-se em direção ao novato e sentindo seu lobo se alvoroçar rapidamente.

Os alunos abrem caminho para que seu olhar furioso encontrasse o rosto do recruta, que logo avança alguns passos, ficando cara a cara com o Embry, sustentando seu olhar com autoridade e desafio. Ele era petulante como qualquer outro lobo quileute, não fugia de uma boa briga, entretanto, sua força e destaque no bando eram tão inúteis que o Call nem sequer lembrava-se de seu nome.

― Sua namoradinha cega fez de você um fraco – repete, não temendo o olhar assassino que o ele lhe lançava. – Ela colocou a coleira em você, mas não me surpreenderia se estivesse se divertindo com outro agora...

A reação de Embry não poderia ser outra. Um urro escapa de sua boca quando sua mão direita se fecha em punho e acerta o rosto do mais novo, fazendo-o recuar vários passos. Seu corpo tremia violentamente e a vontade de deixar o seu lobo cuidar daquele assunto era muita, no entanto, ele tinha experiência e poderia se conter um pouco mais.

O novato não fazia menção de deixar a briga, pois, assim que se recuperou do soco, avançou contra o lobo cinzento e o empurrou contra os armários. Embry se desvencilha de seu aperto com facilidade, era um lobo experiente, no fim das contas, bem maior que aquele projétil de quileute a sua frente e, certamente, era mais forte e ágil também.

Bastou apenas uma brecha para que começassem a socar um ao outro, deixando o descontrole de seus lobos cada vez mais perto. Alguns alunos se afastavam da briga, enquanto outros se aproximavam curiosos, o fato de ambos serem lobos e não se machucarem tão facilmente fazia a briga parecer “humana e comum” aos olhos dos quileutes normais, e, para Seth, restou apenas a opção frustrada de tentar separá-los antes que se transformassem, enquanto Collin corria para chamar por Jacob.

Embry estava no ápice de seu controle. Mais alguns segundos e seu lobo explodiria ali mesmo para acabar com aquele infeliz e arrancar-lhe as tripas. E, sinceramente, ele não dava à mínima para as pessoas que veriam a sua transformação, pois a vontade de liquidar seu oponente era colossal. Contudo, antes de deixar o seu lobo assumir o controle, ele precisava passar o seu recado enquanto ainda tinha paciência de dizê-lo.

Ele prende o mais novo contra a parede pelo pescoço, levantando-o alguns centímetros do chão e apertando-o com força para que não conseguisse fugir de sua pegada. E quando considerou que ele estava encurralado o suficiente, alertou:

― Nunca mais diga ou insinua qualquer coisa de minha Andy! Se fizer isso de novo, eu acabo com você, entendeu?

― Você mesmo a mandou embora – responde sufocado –, por que se importa?

― Minha parceira, minha garota... Minha e somente minha. Ninguém pode falar dela, entendeu?

― Entendi... Entendi...

― Embry! – grita Jacob. – Solte-o agora mesmo!

Ele hesitou. Não queria soltar, seu lobo queria terminar com aquilo porque não podia – e não queria – tolerar uma ofensa ao seu imprinting, a sua garota ideal. Maldita magia de lobo, hora o fazia odiá-la, hora amá-la enlouquecidamente... Ele estava confuso, revoltado e inconstante...

Louco, essa era a palavra ideal. Ele estava ficando realmente louco.

― Embry! – chama Jacob novamente, dessa vez mais perto e num tom mais baixo. – Não é hora e nem lugar, não pode revelar nosso segredo... Por favor!

Embry o liberta, voltando-se para o amigo no mesmo instante. Seus olhos marcados por noites mal dormidas pareciam prender a atenção de Jacob para seu estado lastimável e digno de pena.

― Mantenha-o longe de mim – sussurra Embry, tentando não chamar a atenção dos outros alunos –, ou não medirei esforços para matá-lo!

Jacob assente com a cabeça e assiste sua saída com seriedade, sabia que não estava brincando em sua ameaça e que aquela situação não poderia ser resolvida numa simples luta de lobos. O alfa coloca Seth como vigia ao recruta, pois, se o deixasse sozinho, Embry certamente o pegaria. Por sorte não teria que se preocupar com os alunos quileutes, pois todos estavam confiantes de que a explosão do Call era consequência das drogas.

Já do lado de fora da escola, Embry decide ir embora mesmo sem o material escolar. Seus olhos desfocados pela raiva se misturavam ao cansaço de seu corpo, tornando seu andar desorientado e sem um rumo certo. E, quando ele caiu em si, travou seus passos no caminho que o levaria novamente até a praia, tentando conter o impulso de seu lobo que clamava por ver Andy mais uma vez. Porém, como todos os quileutes do bando, ele era orgulhoso demais para voltar atrás, independente de tê-la defendido a pouco e de querê-la com urgência, nunca admitiria seu erro...

― Por que não vai de uma vez até lá? – pergunta Quill, arrancando o Call de suas lembranças. – Ela esteve esperando você todas as tardes, por que não deixa de ser idiota e vai falar com ela?

― Isso não é da sua conta, Quill, deixe de ser intrometido! – rosna.

― Não pode fugir para sempre, Embry, hora ou outra terá de encará-la novamente.

― Quem disse que terei de fazer isso?

― É o imprinting, você nunca conseguirá durar sem ela... Olhe para si próprio, Embry, parece um morto-vivo vagando sem rumo pela reserva. Sem Andy você não vive, apenas existe!

― Cale-se, já lhe disse para deixar de ser intrometido.

― E aquela história que me contou de que queria apenas a garota certa? Nem a mais bonita, nem a mais perfeita, apenas a certa? Ela é a pessoa certa, deixe de ser idiota e conserte as coisas logo.

― Diz isso porque não é com você, não é o seu imprinting a ser estranho...

― Se tivesse visto o que eu vi, não seria tão orgulhoso – repreende. – Por que não se transforma em lobo de uma vez, para que eu lhe mostre o que fez?

― Por que você não se junta ao bando numa armadilha para me transformar novamente? – rebate, trazendo a tona o que já era para ter sido esquecido.

― Prefiro não responder a isso – murmura o lobo ofendido –, errar uma vez já foi o suficiente para mim, não preciso e não quero mais brigas com você. – Vira-se para partir. – E por falar em bando, teremos reunião hoje... Jake ligou para Sam a respeito de sua briga e ele acha bom que venha à reunião, sem desculpas!

― Eu estarei lá.

Embry estava realmente disposto a retirar Andy de sua vida, mesmo que isso fosse impossível, mesmo que fosse contra a vontade de seu imprinting. E mais uma vez o lobo tinha a sua visão bloqueada por seus sentimentos, não enxergando o perigo que rondava a vida de Andy e esquecendo-se completamente do vampiro que um dia ela lhe mencionara.

Era pouco mais de três horas da tarde quando Embry chegou à casa de Sam e sentou-se à mesa, rejeitando qualquer alimento e prendendo-se em seu mundo zumbi particular, mal percebendo quando os amigos tentavam lhe dirigir a palavra. Os alfas estavam preocupados, não sabiam o que fazer e era nítido que ele estava bem pior do que imaginavam.

A reunião se inicia mesmo com a ausência de Quill, que, estranhamente, não aparecera na casa de Sam desde o período da manhã. Mal sabiam eles que a parte mais impactante daquele encontro ainda estava por vir, pois, em La Push, as coisas nunca acontecem como realmente se esperam...


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado ♥ tentei fazer o Embry sofrer bastante, mas não sei se obtive sucesso D:
Me desculpem por não postar na quarta, minhas aulas finalmente retornaram e coincidentemente tive consulta médica na terça, acabei não conseguindo terminar o capitulo a tempo... Os atrasos poderão se tornar mais frequentes daqui para frente, ok? A faculdade sempre me aperta uma vez ou outra, portanto, sintam-se avisados :)
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No capitulo passado vimos como Andy se sentiu depois da briga com o lobo, hoje acompanhamos o lado do Embry e amanhã... Teremos o encontro do casal depois de dias separados.
O que vocês acham que acontecerá?