Stranger escrita por Okay


Capítulo 7
Conversas.


Notas iniciais do capítulo

Beijos & Boa leitura! ♕
Capítulo revisado e reescrito 15/08/2018



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Capítulo 7 — Conversas.

— Para de brigar comigo e tenta respirar... — Marcus exigiu, vendo o loiro ainda tentar se afastar de seus braços. — Eu não vou te soltar enquanto você não ficar bem... respira fundo e solta o ar pela boca.

— Sai! — Lucas resmungou, tossindo. 

— Eu não sei o que fazer... — Murmurou assustado, ouvindo a respiração dele chiar. — Eu só quero te acalmar, por favor... Tenta respira devagar. 

O loiro tossiu e agarrou-se à camisa dele, fazendo Marcus sentir uma pontada de desespero, querendo trocar de lugar com ele para evitar que ele sofresse, não queria que ele sentisse dor e seu peito apertava ao vê-lo naquele estado.  

O pior já tinha passado, mas Lucas ainda não havia deixado o estresse de lado, reclamando na primeira oportunidade que teve. 

— Por que você continua me seguindo? — Lucas vociferou pelo corredor, com passos apressados até a porta de entrada de seu apartamento. — Já disse que eu não quero mais conversar!

— Antes queria e agora não quer mais? — Marcus continuava a segui-lo. — Você tem problema, só pode.

— Meu problema é ter um estranho colado à minha nuca criando uma intimidade que nunca existiu!

— Por que está tão estressado? Deu tudo certo, você ficou bem, o zelador veio, nos tirou de lá e pronto. — Marcus rebateu. — Eu sei que eu te assustei esses dias atrás, mas eu já disse que não foi minha intenção!

O loiro parou de andar, tirando as chaves do bolso, tentando abrir a porta com pressa. Assim que conseguiu, Marcus entrou com ele, antes que desse tempo de Lucas impedi-lo.

— Não vai ser como da última vez, eu não vou te forçar a nada, prometo. Só quero conversar com você.

Lucas emburrou-se, se afastando dele e Marcus tornou a segui-lo, questionando:

— Me diga, não foi você mesmo que disse que precisávamos conversar?

— Aqui não.

— Por que não aqui? Estamos a sós. — O moreno insistiu, dando dois passos a frente. — Eu não vou embora enquanto você não me disser tudo o que tiver para falar.

— Já que é assim. 

O loiro bufou, indo à cozinha. E Marcus, curioso, procurou ver o que ele tanto procurava na gaveta, querendo rir quando ele tirou uma faca afiada de dentro dela. Com isso, aproximou-se dele, indagando:

— Para que isso?

— Primeiro, isso é para caso você queira fazer alguma gracinha. Segundo, senta aí. — Apontou com a faca para o banco alto que ficava junto ao balcão.

— Eu prometo que eu não vou tocar em você, muito menos te agarrar. — Falou, tentando segurar o sorriso cafajeste em seguida. 

— Sai fora. — Colocou o objeto de volta na gaveta assim que ele se sentou.— Fica esperto. 

— Eu sei que você está com medo de mim e não é para menos, mas eu já dei a minha palavra. Então quanto mais rápido a gente conversar, mais rápido irei embora, pense assim.

Lucas debruçou-se ao balcão, encarando Marcus.

— Bom, eu soube que você e o Alberto são amigos desde que eram adolescentes...

— Sim, somos. Por quê?

— É que tenho pensado se essa vaga que consegui na livraria não teve seu dedo no meio.

— Confesso que quando o Al me falou que você tinha entregado o currículo lá, eu não resisti, tive que pedir esse favor para ele.

— Agora tá explicado. Eu achei que eles estavam tão desesperados para preencherem a vaga que nem me entrevistaram.

— Não quero que você se demita só por isso, eu sei que você está precisando.

— Como sabe disso? Por causa do meu apartamento? — Olhou ao redor. — É por causa dos poucos móveis ou por conta de tudo aqui estar caindo aos pedaços? Ou também é por que espionou toda a minha vida?

— Por favor, não é isso. — O moreno passou a mão aos cabelos. — Eu não queria te ofender, me desculpe.

— O Alberto parecia tão legal... Ele mentiu na cara dura. — Lucas respirou fundo, indignado. — Me pergunto se ele não mentiu quando disse que não sabia de nada sobre a sua vida, o que é estranho, já que são amigos há tanto tempo. Qual de vocês dois está mentindo?

— Eu que pedi, eu realmente compartilho absolutamente tudo da minha vida com o Alberto, mas ele não diz nada sem a minha permissão. Inclusive, ele me contou que você perguntou sobre a minha vida amorosa.

— Mentira, não perguntei da sua vida amorosa.

— Mas quando ele mentiu pra você dizendo que não sabia muito da minha vida pessoal, ele disse que você parecia bem interessado em saber.

— Não é verdade. Não totalmente, pelo menos. — Lucas constrangeu-se. — Não se anime, não estou interessado em você, eu só precisava saber de algo, qualquer informação sobre você, você é um estranho para mim.  

— Bom, já que ele não te respondeu, não importa qual seja a intenção, eu não tenho compromisso com ninguém, já te disse, loirinho, eu só estou interessado em você. Por mais absurdo que isso possa ser.

— Não me chame assim!

— Por quê? — Marcus perguntou, com naturalidade.

— Eu não te dei permissão para apelidos.

— Já se esqueceu do que você me chamou dentro do elevador enquanto estava em pânico? — Perguntou, vendo-o fechar a expressão. — Não vai fingir que não se lembra, você disse que “só piorava o fato de estar preso com um maníaco pervertido com tendência a estupro e perseguição”, está bom ou preciso continuar a dizer suas outras ameaças?

— Eu ao menos não menti.

— Falou o ruivo. — O moreno riu, continuando. — Bom, como já sabe, eu estou solteiro, mas nós podemos mudar essa situação.

— Você é bizarro, sabia?

— Você é chato demais, eu só estava tentando te animar. — Marcus brincou. — Olha só, estamos nós dois aqui, por que não aproveitamos melhor esse momento? Além disso, não é só você que tem direito a perguntas.

— Fale logo. O que quer saber?

— Estou curioso com uma coisa, aquele cara que você estava conversando mais cedo na livraria, é um conhecido seu?

— É um amigo do colegial.

— Amigo? Tem certeza?

— Por que diz isso?

— Eu percebi o olhar dele sobre você, não precisa mentir pra mim. Percebi que tem alguma coisa entre vocês.

— Não tem mais, isso é passado.

— Ex-namorado, então. 

— Sim. — Ergueu os ombros. 

— Mas ele me parece interessado em você ainda, da pra ver pelo abraço que ele te deu. Me parecia cheio de segundas intenções. — Riu. — Eu sei disso porque é o jeito que eu te abraçaria.

— Pare de me espionar, isso é ridículo. — Saiu detrás do balcão, deixando de encará-lo. — Eu não estou interessado em você, não adianta insistir. E se já acabou, pode ir embora, por favor.

— Já entendi. — Levantou-se da banqueta, dando a volta no balcão. — O que está fazendo?

— Chá — Respondeu, colocando água para ferver, sendo surpreendido pelos braços dele que vieram por trás, abraçando-o. — Me solta! Você disse que ia ficar longe!

— Eu só estou mostrando como eu te abraçaria se eu fosse esse seu ex. — Riu de como ele tentava se livrar de seus braços, soltando-o e esfregando seus ombros em seguida. — Calma, não é pra tanto. Eu não vou te violentar.

— Não é pra tanto?! — Encarou-o, furioso. — Você sabe que eu não confio em você! Preciso te lembrar de quando você invadiu a minha casa? E como se não bastasse me fez te beijar como condição de ir embora! 

— Não foi totalmente contra a sua vontade, você estava gostando que eu sei. — Marcus brincou.

— Depois não reclama se eu te der uma facada.

— Tudo bem, tudo bem, eu vou ficar longe. — Encostou-se ao balcão, vendo-o pegar a erva do chá e duas canecas, percebendo que ele no fundo, não queria expulsá-lo.

Lucas deixava a erva em infusão, pegando o pote de açúcar e virando para o homem atrás de si, indagando:

— O quanto de açúcar você gosta?

— Não precisa de açúcar.

— Você toma sem? Eu não tenho adoçante.

— Estou acostumado.

— Desculpa aí, senhor fitness. — Riu, fazendo o coração de Marcus se derreter ao ouvir sua risada pela primeira vez depois de tanto tempo.

Já acostumado com a presença dele ali, Lucas serviu as duas canecas, adoçando apenas a sua, entregando a outra para ele.

— Bom, eu poderia oferecer algum tipo de bolo ou biscoitos, mas infelizmente, eu não tenho nada disso aqui em casa. E nem nenhuma outra coisa pelo visto. — O loiro falou, abrindo os armários para procurar algo, sem ele perceber que Marcus prestava atenção em cada detalhe.

— Não precisa se preocupar. — O homem deu o primeiro gole. — Você é um bom anfitrião, mesmo recebendo em casa um cara que te assusta, você ainda oferece um chá.

— Tá envenenado. — Lucas brincou, também tomando um gole de sua caneca.

— Ah, tá explicado. — Marcus riu com ele, tomando mais um gole.

— Droga, eu tô com fome... — O loiro reclamou, apoiando-se ao balcão.

— O que você gosta de comer? Tem alguma preferência?

— Quando eu era mais novo, até era chato para comer. — Lucas riu baixinho. — Mas ultimamente eu estou dando valor em qualquer coisa.

— Gosta de comida japonesa? — O moreno indagou, retirando o celular do bolso.

— Eu adoro, mas é caro demais para o meu bolso.

— Certo. Qual é o número do seu apartamento mesmo? Cinquenta e sete?

— Sim, mas por quê?

— Tá feito o pedido. Daqui uma meia hora eles entregam, seu porteiro avisa quando chega encomenda?

— Sim, avisa, mas... Por que fez isso? — Lucas indagou, curioso.

— Eu também não jantei. Se importa de comer comigo?

— Não precisava ter feito isso.

— É um presente meu, relaxa. — Marcus sorriu. — Eu vi que você está com os armários vazios... Quer me falar sobre isso?

— Eu só estou sem renda, mês que vem a situação vai melhorar.

— Até lá você vai viver de quê?

— Até aonde meu cartão de crédito aguentar. — O loiro encarou sua caneca.

— Olha, eu sei que você não confia em mim, mas eu posso te ajudar.

— Relaxa. — Sorriu com o canto dos lábios. — Você parece ser um cara legal e pra ser sincero, você é bonito também, mas só por isso não significa que pode sair agarrando as pessoas.  

— Obrigado pelo elogio, eu acho. — Marcus riu. — Mas me desculpa, eu sei que eu exagerei e que passei a impressão errada, mas eu não quero te aborrecer, não mesmo.

— Tudo bem. — Soprou a caneca para esfriar o chá.

— Ei... Me conta mais sobre aquele seu ex. — O moreno pediu. — Namoravam quando adolescentes, é isso?

— Sim.

— Por que terminaram?

— Olha, confesso que às vezes penso como teria sido se a gente tivesse junto até hoje... Por que foi complicado, sabe? A gente se afastou, o pior é que ele não sabe metade do que aconteceu comigo e... É complicado.

— Me fala. — Incentivou, com voz mansa. — Se quiser, é claro.

— É que... É difícil, ele foi o meu primeiro namorado, mas antes disso ele era o meu melhor amigo. A gente foi ficando próximo e quando a gente começou a se gostar de verdade, foi difícil de esconder.

— Esconder de quem? Seus pais? Ou todo mundo?

— Todo mundo, mas meus pais principalmente, eu já sabia o que eles achavam sobre homossexuais e eu não queria mesmo que soubessem sobre mim. Só que eles descobriram e para ajudar, da pior forma.

— Pior forma?

— Bom, explicando melhor, o Gus sempre ia pra casa passar a tarde comigo quando a gente saía da escola, a gente jogava videogame quase sempre então meus pais não estranhavam a presença dele. Mas é claro que a gente aproveitava o tempo livre pra se pegar. — Riu com aquilo. — Só que até então a gente nunca tinha tido coragem pra dormir junto, então ele deu a ideia em um dia que meus pais iam sair para o mercado.

— E o que aconteceu depois disso?

— Quando eu escutei o carro dos meus pais dando a partida e saindo, nós já começamos a tirar a roupa que nem uns doidos, só que o problema é que somente a minha mãe foi para o mercado e a gente não sabia disso, meu pai acabou pegando nós dois na cama, só de cueca... E pode imaginar como foi, né?

— Mas ele ficou em casa propositalmente? Já desconfiava de você?

— Eu acredito que não, porque pelo jeito que ele entrou, ele parecia querer falar alguma coisa sem importância.

— E como foi a reação dele?

— A cara de espanto dele não durou muito, ele xingou horrores, o Gustave se trocou rápido como um ninja e foi embora correndo. Pra passar pela porta acabou levando uns socos do meu pai, mas conseguiu fugir. — Explicou, não conseguindo evitar transparecer sofrimento pelas lembranças. — Mas assim que ele foi embora, o alvo foi somente eu.

— Seu pai te espancou?

— Espancar é pouco. — Riu, tentando disfarçar a voz chorosa. — Tenho cicatrizes até hoje.

— E a convivência com eles depois disso?

— Foi a pior. — Lucas falou, olhando por poucos segundos para Marcus. — Nos primeiros dias, eu fiquei trancado no quarto e não saía para quase nada, só para o básico. Mesmo isolado, meu pai esmurrava a porta, dizia todos os xingamentos e maldições que você pode imaginar.

— E quanto tempo essa situação durou?

— Eu fiquei evitando meus pais na primeira semana, depois eu tive que enfrentar eles, porque começaram a me ameaçar tirando a minha comida. Então eu não ia aguentar muito tempo assim.

— Isso é um absurdo.

— Bom, eu só agradecia mentalmente por já ter concluído o ensino médio. E quando foi as férias do fim de ano, não muito tempo depois, saí de casa. Meu pai não aguentava mais olhar para a minha cara. — Lucas falou, com os olhos avermelhados.

Daquele momento da história em diante, Marcus já se recordava, tinha um melhor conhecimento do que havia acontecido, mas antes que pudesse comentar, sentiu a necessidade de abraçá-lo. Colocou um de seus braços sobre o ombro dele, queria apertá-lo, mas ao mesmo tempo, não queria invadir novamente o seu espaço.

O moreno viu que ele havia tomado confiança o suficiente para depositar a cabeça em seu peito, com Lucas apoiando-se ali. Quis guardar aquele momento para sempre, sentindo um carinho enorme pelo rapaz que sempre foi o dono de boa parte de seu coração. Apesar de tudo, a proximidade não durou muito, com o interfone da portaria os interrompendo.

— Será que já é a sua encomenda? — Lucas afastou-se, indo atender.

— Provavelmente, eles são rápidos. 

Ao confirmar que o entregador havia realmente chegado, Marcus e Lucas desceram pelo elevador, que agora funcionava perfeitamente. O moreno pagou pela comida, em seguida fazendo o mesmo caminho, subindo novamente com o rapaz até o quinto andar para assim jantarem.

As horas passaram voando, a comida estava deliciosa, Lucas não se lembrava de um período sequer nos últimos meses que havia comido tão bem e ainda por cima, sobrado comida. A pedido de Marcus, guardou o restante do que sobrou na geladeira.

Já havia passado da meia noite e o loiro não queria deixá-lo ir, o assunto não acabava e não estava interessado em dar um fim. Até mesmo já tinham acabado com a garrafa de saquê que Marcus havia pedido para acompanhar o jantar.

Lucas quebrou a promessa que fez a si mesmo, não conseguindo evitar a bebida naquela noite. Mas sabia que ainda estava levemente sóbrio quando agarrou o ombro dele, sentindo o material do sobretudo em seus dedos. Antes que o moreno perguntasse do que ele precisava com aquele olhar de quem queria algo, foi surpreendido com um impulso dele, vendo-o ficar na ponta dos pés, puxando-o para alcançar seus lábios e finalmente roubar um beijo.

Não se afastou nem mesmo pelo susto, aproveitando a situação para levar sua mão à nuca dele, incentivando-o a continuar, tomando a boca dele com sabor sutil de saquê.

Como estavam em pé, não foi difícil para Lucas continuar puxando a gola de seu casaco, findando o beijo, querendo levá-lo dali. Guiou-o ao cômodo ao lado, onde Marcus estremeceu ao perceber que tinham chegado ao quarto dele, sem saber qual era a real intenção do rapaz notavelmente embriagado.  Não queria animar-se demais, porque mesmo que ele insistisse, não poderia avançar com ele naquele estado, não faria nada com ele bêbado, seria abuso. 

— Você ainda quer me dar uma facada? — O moreno perguntou, fazendo-o rir.

O loiro sentou-se na cama, retirando os sapatos, em seguida deitando. Marcus tomou a liberdade e sentou-se na beirada da cama de solteiro, olhando para o rosto de Lucas levemente avermelhado, sabendo que ele provavelmente estava alegre pela bebida.

Repetiu o gesto dele, também removendo seus sapatos, esticando seu corpo pela cama, tentando acomodar-se no colchão pequeno com ele, o que não era uma tarefa fácil, visto que tinha dois metros de altura.

— Eu sei tão pouco sobre você... — O loiro murmurou, com aspecto cansado.

— O que quer saber? — Falou, acariciando os cabelos dele, tirando-os da testa.

— Naquela noite... — Falou baixinho, enquanto lutava contra a vontade de dormir. — Como você sabia o meu nome? 

— Eu nunca me esqueceria do seu nome, eu senti sua falta todos os dias... Você não imagina o quanto. — Disse sinceramente, em seguida encarando-o, vendo-o fechar os olhos pelo sono.

Lucas acordou com a cabeça explodindo e o despertador tocando. Abriu os olhos ao sentir um peso em seu peito, o quarto estava escuro, mas pela pouca luz que entrava da janela, percebeu uma silhueta, que fez seu coração palpitar. Os braços de Marcus estavam em sua cintura e o rosto dele apoiado em seu tórax.

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Vocês também se derreteram com esse capítulo como eu? ♕