HICCUP HADDOCK HORRENDOUS

— Como foi a noite? – Stoick perguntou a Soluço, assim que o menino apareceu na cozinha. Soluço sentou em uma cadeira e olhou para o pai desanimado. Stoick apenas ficou encarando o filho. Soluço suspirou.

— Cansativa. – Resumiu. Stoick colocou uma xícara de café com leite em cima da mesa e foi em direção ao fogão.

— E Jack? – Stoick perguntou olhando em volta. – Onde esta?

— Não sei. – Soluço respondeu. A última vez que havia visto Jack foi na saída da festa. Jack conversava animado com uns meninos, e ignorou Soluço, por mais que o menino tivesse chamado umas cinco vezes. Depois que entendeu que Jack realmente não queria falar ele, saiu dali e foi para casa, sozinho.

— Como assim não sabe? – Stoick perguntou preocupado. Soluço sabia que seu pai iria ficar irado e começar um longo discurso, mas a culpa era do maldito Jack Frost, não dele! – Jack é seu melhor amigo! Soluço...

— Pai! – Soluço o interrompeu. Já estava cansado de ser mandando e desmandado do seu pai. Respirou fundo. Stoick o encarou com um olhar irritado. Soluço conseguiu ver uma veia do pescoço de Stoick subir. – Ele me ignorou quando eu o chamei! – Soluço argumentou. Não queria ficar de castigo. Não ia ficar de castigo. Seu pai continuou a olhar com irritação nos olhos. Soluço bufou. Levantou da cadeira e saiu.

Nunca fez isso na vida. Nunca sentiu tanta adrenalina correr em suas veias. O que estava fazendo? Estava louco, biruta? Queria ser expulso de casa? Soluço pensou por um momento. Saiu chutando pedras e mais pedras. Não queria pensar nas consequências. Deu um de Jack Frost. Ah! Como estava com raiva daquele inútil! Continuou andando. Ouviu sua barriga roncar e pensou em passar em alguma padaria, até lembrar que saiu sem dinheiro, sem celular, sem nada, e não queria voltar para casa.

Chutou uma pedra. Seu inútil! Esta mais inútil que o Jack! Olhou em volta para ver se via alguém conhecido. Nada. Ninguém. Suspirou. Inútil. Inútil. Inútil. Continuou andando sem rumo até sentir uma mão no seu ombro. Virou assustado e se deparou com uma Rapunzel rindo. Soluço sorriu por ver a amiga ali, mas depois que se lembrou do motivo dela estar rindo ficou sério.

— Pare de rir Rapunzel! – Soluço ordenou sério. Rapunzel se ajeitou e abraçou o amigo.

— Desculpe Soluço. – A menina falou se afastando do garoto e sorrindo. – O que esta fazendo aqui?

— Briguei com meu pai. – Soluço falou cabisbaixo. Rapunzel se assustou.

— Por quê? – A menina perguntou. Soluço ia se preparar para responder, mas ouviram uma buzina atrás deles. – Acho melhor a gente sair do meio da rua. – Rapunzel falou o puxando. – Quer ir a uma padaria e me contar melhor a história?

— Melhor não. – Soluço falou lembrando-se que estava sem dinheiro.

— Porque não? – Rapunzel perguntou o encarando, estranhando o menino.

— Estou sem dinheiro. – Soluço falou erguendo os ombros. Rapunzel o encarou de uma forma indignada. A menina passou um de seus braços em volta dos ombros de Soluço e o puxou para andar com ela. Soluço não entendeu o gesto, mas andou ao lado de Rapunzel.

Entraram dentro de uma lanchonete que ficava aberta vinte quatro horas. Não tinha muito clientes lá. Um grupo de cinco meninas, um casal de jovens, um casal de idosos, o que parecia ser mãe e filha, um menino sozinho, e um grupo de quatro meninos.

Rapunzel escolheu uma mesa perto da janela, onde sentou do lado dela e ficou olhando para a rua sem movimento no momento. Soluço sentou em frente à Rapunzel, também do lado da janela. O menino olhou a rua por um segundo, então depois voltou sua mente para dentro da lanchonete. Rapunzel já chamava o garçom para fazer o pedido. A menina entregou o cardápio a Soluço e sorriu.

— Hoje eu pago para você Soluço. – Rapunzel abriu seu sorriso. Soluço retribuiu o sorriso, pegando o cardápio e escolhendo o que queria. Seu pensamento voou longe. Sabia que Rapunzel seria a mesma com ele para sempre, afinal o tanto que havia ajudado a menina, e o tanto que ela o tinha ajudado já.

O garçom veio olhou para Rapunzel, analisou Rapunzel, anotou os pedidos, sorriu para Rapunzel e saiu. Soluço já estava acostumado. Toda a vez que saia com a amiga, só via garotos a encarando. Às vezes se incomodava, mas outras nem ligava. Rapunzel juntou as mãos e olhou para Soluço.

— Pode começar a me contar Soluço. – Rapunzel olhou para o rapaz. Soluço tentou fazer cara de desentendido, já que não queria contar o motivo de ter brigado com seu pai. Foi por culpa do inútil, Rapunzel! Jack foi o culpado! Jack Frost!— Vamos Soluço, me conte. – Rapunzel pediu. Nos olhos da menina, Soluço podia ver a simpatia e gentileza da menina. O menino suspirou.

— Foi por causa do Jack. – Falou com a cabeça baixa. Rapunzel se assustou.

— Calma. – A menina pediu. Soluço percebeu que a menina não estava levando aquilo a sério. – Por causa dele? – E percebeu também que Rapunzel não havia ido com a cara de seu amigo. Soluço assentiu. – Você esta de brincadeira com a minha cara, né Soluço? – Rapunzel perguntou. Soluço percebeu que ela ainda não estava levando a sério. O menino ficou sério. Rapunzel tirou o sorriso de brincadeira do rosto dela e ficou séria. – Eu não acredito. – A menina sussurrou olhando para os olhos de Soluço. – Não acredito que você brigou com o seu pai por causa dele! – Rapunzel falou elevando a voz. – Soluço, é seu pai! – Rapunzel falou. A menina estava mais nervosa que Soluço.

— Eu sei que é meu pai. – Soluço diminuiu a voz. – Mas ele foi grosso comigo. – Soluço suspirou lembrando-se do ocorrido. – Ele não deixou explicar o que tinha acontecido, ai eu explodi e pronto! Sai de casa. – O menino falou explodindo consigo mesmo.

— O que aconteceu de verdade? – Rapunzel perguntou pegando na mão de Soluço. Soluço encarou a amiga sorrindo. Adorava Rapunzel. Soluço respirou fundo.

— Eu fui chamar o Jack para ir embora, e ele me ignorou umas cinco vezes. – Soluço falou lembrando-se. Estava com tanta raiva e vontade de matar aquele garoto que se o visse partiria para uma briga. – Mas ele estava conversando com uns meninos do time. – Soluço falou balançando a cabeça O menino olhou dentro dos olhos de Rapunzel. Não conseguia decifrar o que tinha na verdade. Medo, raiva, irritação, amor, pena, amizade, gentileza, simpatia. Tentou decifrar os olhos de Rapunzel, mas quanto mais tentava, menos conseguia. – É bem provável ele entrar pro time de futebol. – Soluço falou lembrando-se do que Jack havia dito um dia. – Ele é bom com esportes. Principalmente com futebol. – Soluço encarou Rapunzel de novo. A menina balançou a cabeça negando. Suas mãos soltaram as mãos de Soluço. Rapunzel se afundou na cadeira. Seus olhos fechados. O menino não entendia a reação de Rapunzel.

— E você brigou com o seu pai por quê? – Rapunzel perguntou lembrando que Soluço tinha brigado com seu pai, não com Jack.

— Bem, ele me perguntou onde Jack estava e eu não sabia. – Soluço começou. – Não sei na verdade. – O menino falou a verdade. Queria ficar bem longe de Jack por um tempo. – Ai ele ficou bravo comigo, falando que Jack era meu melhor amigo. Ele ia começar um discurso enorme, mas então eu o cortei e sai dali. – Soluço terminou enquanto o garçom colocava os pedidos em frente a cada dos dois. O garçom sorriu para Rapunzel, que o ignorou, e saiu de perto. Rapunzel suspirou e ia levantar, porém foi impedida com um empurrão de Jack.

— Amigos! – Jack falou sorrindo. Soluço suspirou. Maldito Frost. Maldito Frost. Suspira Soluço, suspira. Maldito Frost.— O que fazem aqui? – Perguntou colocando o braço em volta dos ombros de Rapunzel e a puxando para mais perto de si.

— Nada que te interesse Frost. – Rapunzel falou tirando o braço de Jack de seus ombros e empurrando o menino que caiu no chão. Soluço segurou a risada.

— Calma ai loirinha. – Jack falou voltando a se sentar do lado de Rapunzel. A menina se afastou de Jack, o que fez o menino dar um sorriso malicioso, então seus olhos voltaram para Soluço. – Ei amigo! – Jack exclamou. Soluço apenas deu um aceno com a cabeça e voltou a morder seu misto quente. Não queria falar com Jack, não naquele momento, mas o menino parecia insistir. Saiu de perto de Rapunzel (o que pareceu ser um milagre) e sentou-se do lado de Soluço. Soluço não se moveu. – O que houve Soluço? – Jack perguntou persistente. Soluço conhecia Jack, ele insistiria até o fim.

— Nada. – Soluço falou. Olhou para Jack e sabia que o menino iria protestar, então começou. – Só fui ignorado pelo meu melhor amigo, quando eu o chamei. – Soluço falou mordendo mais uma vez seu misto quente. Olhou para Rapunzel que o encarava.

— Ah! – Jack falou. Soluço entendeu que ele estava lembrando-se do que havia acontecido. O menino suspirou. – Ok, me desculpe, ta? – Jack pediu juntando as mãos. – Eu só quero me enturmar logo, quero jogar futebol, quero me divertir. – Jack falou e depois olhou para Rapunzel. – Desculpe-me Soluço. – Soluço, que percebeu o olhar de Jack sobre Rapunzel, entendeu que o pedido de Jack fosse para a menina. Soluço achou que Jack tinha desistido de ficar com Rapunzel (já que nunca conseguiria), porém lembrou-se de era Jack Frost de quem se tratava.

— Está desculpado. – Soluço falou sorrindo. Jack abraçou o amigo. – Só que da próxima vez, não me ignore. – Soluço falou olhando para Rapunzel, sua melhor amiga popular. – Olhe para Rapunzel. – Soluço falou mostrando a menina com certo orgulho. – É popular e minha melhor amiga. – Rapunzel sorriu encarando Soluço. Soluço sorriu de volta para a menina, e depois voltou seu olhar para Jack. O menino parecia estar hipnotizado em Rapunzel. – Não precisa esquecer os velhos amigos, quando fizer novos. – Soluço falou colocando sua mão no ombro de Jack.

— Não vou esquecer. – Jack falou sorrindo. – Não mesmo. – Jack deu um abraço em Soluço e depois olhou para as coisas que estavam em cima da mesa. – Será que...?

— Ah não Jack! – Soluço falou retirando seu lanche de perto do menino. – Estou morrendo de fome! – Soluço protestou. – Compre o seu próprio lanche!

— Qual é cara, estou sem dinheiro! – Jack protestou tentando pegar o misto quente de Soluço.

— Pode pegar o meu. – Rapunzel falou empurrando o seu prato em direção a Jack. Os dois meninos pararam de falar e encararam Rapunzel. – O que houve?

— Nada. – Soluço falou estranhando a menina por um segundo.

— Obrigado loirinha. – Jack falou sorrindo para a menina e puxando o prato para perto de si.

— Rapunzel. – Rapunzel o corrigiu. – Meu nome é Rapunzel.