Cindy Collins

Uma noite de domingo comum. O céu está cheio de estrelas, e uma lua cheia brilha com seu esplendor, o vento frio sopra balançando a copa das arvores e me força a esfregar os próprios braços sofrendo do frio

O culto na igreja acabou, foi uma linda pregação feita pelo Sr. Gomez, sobre o céu. Sentei em um banco no pátio da igreja e esperei meus pais acabarem de conversar com a ranzinza Sra. Gold, uma velinha de dentes salientes que adorava falar da vida dos outros, como se ela fosse uma santa, eu a detesto!

Senti um peso do meu lado e me virei sorrindo, é Vanessa

—Garota, quase esqueço de uma coisa! – ela diz animada

Eu sorri com sua animação

—Vi isso em uma loja, seu aniversário está chegando e eu achei que seria perfeito pra você – ela cantarolou o final tirando uma caixinha da sua bolsa – dá até pena de dar, queria pra mim

—Hum... Vamos ver se eu vou gostar – falei animada pegando a caixinha

Eu abri e sorri ao ver o conteúdo. Um belo colar dourado de coração, olhei e fiquei encantada ao ver “amor de fã” escrito em prata

—Por Deus, Vanessa! Ele é muito lindo – falei animada

—Sabia que você ia gostar – ela sorria animadamente – só cuidado pro seus pais não verem, ele é lindo demais pra acabar no lixo

—Eu sei – suspirei – eles vão morrer se souber que eu tenho isso, ou pior, aquele arsenal de livros, revistas, pôsteres e um monte de coisa que eu tenho no meu quarto

—Ei, vou indo agora pra casa. Te vejo amanhã na aula

—Arg, detesto segunda, parece que aqueles idiotas são mais cruéis nesse dia – rosnei

—E acha que eu não sei? – ela diz se levantando do banco – eles são um bando de manés

—Por que todo fã sabe como é sentir o preconceito... – eu digo pensando alto – boa noite, Vanessa. Obrigado pelo presente

—De nada, beijos! – ela acenou saindo andando

—Presente? – meu pai chegou me olhando desconfiado e eu apertei o colar na minha mão, acho que ele não viu

—Não é nada, pai – eu digo calma

—ótimo – minha mãe diz sem animação – por que vamos ter uma conversa séria quando chegar em casa

—Por que? Eu não fiz nada!

—Não é o que Sra. Gold nos contou, vamos Cindy

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Meus pais entraram no meu quarto assim que chegaram, e eu corri preocupada. Mamãe abriu o meu baú, tirou algumas roupas e chegou ao meu arsenal de livros. Completamente lotado de livros do Harry Potter, Crepúsculo e Nárnia

—O que é isso, hein? – meu pai tirou um dos livros de Crepúsculo do baú – Não acredito que esteja escondendo isso a tanto tempo

—Pai, por favor... – eu tentei falar

—Não adianta negar Cindy, Sra. Gold faxinou seu quarto e achou isso.

—Eu não ia negar – eu me defendi – pai eu sou uma fã, é muito comum eu ter tudo isso. Sou uma fã!

—Você não é uma fanática, está ouvindo? – mãe diz brava – Satanás não vai tirar nossa filha desse jeito

—Isto não é nada a ver com ele – eu digo brava – E ser fanática é muito diferente de ser fã, não posso deixar de ser fã, é um sentimento, você não pode escolher, apenas acontece! Ninguém pode tirar isso de mim!

—Tome vergonha na cara, Cindy! – meu pai joga o livro de volta no baú e o fecha com força – Você é uma cristã, como pode deixar essas coisas demoníacas de vampiros, bruxos e magia tomarem conta da sua mente?

—Sou uma crista sim, pai! Amo Deus, ele é tudo, foi quem me criou, quem deu vida, jamais iria abandoná-lo! Ser fã não significa ser uma seguidora do demônio! O senhor não entende pai!

—Eu entendo muito bem, somos seus pais e sabemos que ser fã vai acabar com você um dia. Devia ter vergonha, Cindy. Por gostar disto!

—Eu não gosto, eu amo, e tenho muito orgulho. Por que não me deixam explicar como é esse amor? Por que não conseguem parar de gritar e me ouvir? – peguei no colar por dentro da minha blusa e mostrei – Amor de fã!

—Amor de fã uma...

Os dois chegaram perto e de repente um clarão. Uma sensação estranha se seguiu e eu agradeci a Deus quando ela de repente acabou

Eu abri os olhos e tentei me levar, meus pais também já se levantavam, de algum jeito alguma coisa tinha nos derrubado

—Onde estamos? – mamãe perguntou antes que eu pudesse dizer qualquer coisa

Olhei em volta, aquele lugar é estranhamente familiar.

Um grande corredor com paredes de pedra, parecia... Não posso crer!

—Hogwarts – a palavra pulou da minha boca, e eu me virei pra eles sem conseguir segurar um sorriso de felicidade

—O que? – papai perguntou – O que é Hogwarts?

—Escola de magia do Harry Potter – eu dizia extasiada de tanta alegria, mas de repente toda minha alegria murchou

—O que foi?

—Somos trouxas e estamos em Hogwarts, isso pode não ser bom!