Nicole respirou fundo e no mesmo instante em que abriu a porta um sorriso se formou em seus lábios.

— Cho! — Ela adentrou ao quarto fechando a porta atrás de si e abraçou o ancião rapidamente. — Não acredito que você esta bem! Eu estou tão feliz! — Cho a abraçou de volta e sorriu de contentamento.

— Mas é claro que eu estou bem criança. — Eles se separaram e se olharam.

— Ficamos tão preocupados com você. — A loura disse enquanto segurava nas mãos dele.

Cho que ainda estava na maca, porém sentado, sorriu simpaticamente (como de costume, aquele era “sorriso Cho”).

— Graças a Deus eu estou bem. Sabe, eu não me lembro direito do que aconteceu, apenas que eu estava falando sobre Jesus a um rapaz e depois as coisas começaram a ficar confusas. — Nicole assentiu e sorriu triste.

— Ele te bateu. — Revelou.

— É, eu sei. T me disse. — Explicou. — Eu não sei por que isso aconteceu comigo, mas há uma razão e eu sei que em breve vou descobrir.

— Ficamos nos perguntando o porquê disso ter acontecido logo com você, mas eu concordo com o que você disse. Nada é por acaso, coisas boas ou coisas más acontecem o tempo todo, mas elas sempre acontecem por causa de algum propósito.

— Exatamente. — Ele apertou as mãos dela entre as suas.

— Mas o que você quis dizer com “em breve vou descobrir”? — Nicole perguntou curiosa.

— T me disse também que o rapaz está preso.

— E?

— Eu vou visitá-lo assim que sair daqui.

Nicole arregalou os olhos e se afastou um pouco de Cho.

— Mas por quê?

— Bem, talvez esse tenha sido o propósito. — Nicole arqueou uma sobrancelha esperando que ele se explicasse e foi exatamente o que ele fez: — Jesus veio a esse mundo e espalhou seu amor por onde passou, mas as pessoas o traíram, lhe bateram, lhe cuspiram, lhe açoitaram, lhe humilharam e o crucificaram, mas ele passou isso tudo por amor a nós e com o propósito de nos salvar e de que sigamos o exemplo dele de amarmos uns aos outros.

— Você está me dizendo que você quase morreu para salvar o homem que tentou de matar?

— Não. Só Jesus salva. — Respondeu e suspirou. — Nós não salvamos ninguém, mas não apenas podemos como é o nosso dever falar do amor de Jesus as pessoas e quem as convence é o Espírito Santo, mas Deus nos deu o livre arbítrio, então podemos escolher nos deixar ou não ser convencidos pelo Espírito Santo, mas ele com seu jeitinho sempre consegue. — Riu divertido e Nicole sorriu. — Eu não acabei de falar para este rapaz tudo o que eu tinha para lhe dizer, afinal de contas agora eu tenho mais coisas a dizer a ele e eu preciso vê-lo.

— Entendi. — Nicole assentiu. — Posso ir com você? — Perguntou ainda sorrindo.

— Mas é claro. — Cho sorriu de volta.

~*~*~

Não dava para compreender muito bem o que era o que no visor ao lado deles, mas eles sabiam o que aquilo era, eles sabiam o que aquele barulho significava.

— Não acredito! — Nicole disse sorrindo de uma maneira que ela nunca havia sorrido antes.

— Meu coração parece que vai sair pela boca e que a qualquer momento eu vou desmaiar. — Tony acrescentou sorrindo tanto quanto a filha.

— Eu não vejo a hora de estar com ele nos braços. — Pepper olhou para Tony e o mesmo lhe beijou nos lábios.

— Ele? Pode ser ela. — Nicole apontou.

— Acho que vai ser menino. — Pepper disse sorrindo.

— Bem, infelizmente ainda está muito cedo para sabermos o sexo, mas na próxima consulta eu já vou poder revelar. — A médica da ruiva anunciou enquanto passava o aparelho mais algumas vezes pela barriga dela. — Mas posso dizer agora que está tudo bem com ele. — Sorriu.

Tony não conseguia descrever a emoção que o percorria por completo. Nada se comparava ao som do coração de seu filho soando por aquele quarto. Como era possível um ser se formar dentro de outro? Como era possível que em tão pouco tempo ele já fosse tão apaixonado por aquele feto? Como era possível ele amar alguém que ele nem conhecia? Seu coração estava quente e ele tinha vontade de chorar, mas segurou firme as lágrimas, todavia a emoção era grande demais e uma lágrima acabou escapando. Nicole olhou para ele e se aproximou, o abraçando.

— Já pensaram nos nomes? — A loura perguntou.

— Na verdade ainda não. — Pepper admitiu.

— Se vocês inventarem de colocar Anthony eu vou fazer um protesto internacional. — Deixou claro.

— Ei! — Tony a afastou um pouco e arqueou uma sobrancelha.

— Brincadeirinha. — Sorriu marota. — Se vocês quiserem alguma sugestão. — Jogou verde.

— Por quê? Você tem alguma ideia? — Tony perguntou curioso.

— Na verdade sim. — Animou-se. — Se for menina vocês poderiam chamá-la de Julia.

— É um belo nome. — Pepper comentou. — É curto e forte.

— Aham! — Nicole sorriu. — E se for menino Christian.

— Ah! Gostei. — Tony assentiu contente.

— Julia é um nome bíblico e Christian significa cristão. Acho-os bonitos. — Disse por fim.

— Obrigada, Nicole. — Pepper pegou na mão dela e sorriu grata. Em seguida ela passou a mão pela barriga, agora limpa, pois a doutora já havia retirado o gel que usara.

— São realmente lindos nomes. — Zoe Watson, a ginecologista de Pepper, disse.

— Então quando vai ser a próxima consulta? — O moreno perguntou afoito, pois ele não via a hora de saber se seria uma Julia ou um Christian que estava a caminho.

— Mês que vem. Dia — ela olhou no calendário — seis.

— Legal! Um dia antes do meu aniversário. — Nicole se gabou animada.

Os três saíram do consultório e em seguida do hospital.

— O que vamos fazer no seu aniversario Nicole? — A ruiva perguntou enquanto passava o braço direito nas costas de Tony e sua enteada pela cintura dele.

— Eu não quero festa. — Avisou.

— Mas por quê? Festa é sempre muito bom. — Tony esclareceu e as duas riram.

— Eu estou mais animada com o casamento de vocês. — Lembrou-os.

— Mas só por que vamos casar não significa que você não possa ter uma festa de aniversario. Não é todo ano que você faz dezenove anos. — Stark a lembrou e Nicole sentiu seu coração se apertar.

De repente a lembrança de que ela havia ficado em coma voltou à tona e ela fechou os olhos com força, forçando sua mente a ignorar aquela lembrança dolorosa.

— Que tal fazermos o noivado e seu aniversário juntos? — Sugeriu Pepper e Nicole voltou a abrir os olhos e suspirou, sorrindo por fim.

— Achei uma boa ideia. O que acha pai?

— Acho perfeito. — Tony sorriu e colocou seus óculos escuros. Os três caminharam juntos até o carro.

— Quem chegar por ultimo é a mulher do padre. — Nicole disse de repente e saiu correndo na direção do veiculo.

— Você parece criança! — Tony gritou para a filha.

— Onde estão suas chaves? — Pepper perguntou risonha e no mesmo instante Tony passou a mão pela cintura, mas a chave havia desaparecido.

— Essa não! — Ele correu atrás de Nicole que balançava as chaves nos dedos.

— Me devolve essa chave seu toquinho de amarrar jegue.

— Só pela falta de amor eu vou dá ela para um mendigo.

— Nicole Stark!

— É Nicole Faith para o seu governo! — Agora eles davam voltas ao redor do carro, em frente ao hospital.

— Por acaso sua mãe tinha óvulos e espermatozóides? Não! Ela precisou de ajuda! Me devolve essa chave.

— Soletra espermatozóide. — Nicole provocou e Tony a olhou como se a qualquer momento fosse soltar raios pelos olhos.

— Soletra pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico. — Retrucou fazendo Nicole parar de correr e franzir o cenho.

— É o que? — Na mesma hora Tony pulou em cima dela e os dois rolaram pela grama.

— Me devolve essa chave!

— Não! — Disse e Stark lhe fez cócegas. — Sai... de... sai... de cima... sai! Sai de cima... de mim! — Pediu entre risadas.

— E agora? Quem é a criança? — Pepper perguntou enquanto assistia os dois rolarem pela grama em frente ao hospital. — Parem com isso! — Pediu. — Tony sai daí! — Se aproximou, mas logo se afastou no momento em que Nicole rolou para o lado dela, por cima de Tony. — Nicole solta o cabelo do seu pai!

~*~*~

Aquele lugar era horripilante e fazia Nicole se senti deprimida.

— Tem certeza? Não acho que seja uma boa ideia, não. — Nicole disse com as mãos sobre o ombro de Cho que estava sentado e de frente para uma cadeira, até agora, vazia.

— Está tudo sobre controle. — Ele colocou uma das mãos sobre a dela. — Eu vou ficar bem, pode ir. — Pediu e Nicole semicerrou os olhos como quem pensando se realmente era seguro.

— Eu vou ficar aqui atrás, perto da porta. — Avisou e caminhou até ficar ao lado de um policial, de repente pela outra porta entrou outro policial com um rapaz vestindo traje laranja.

Quando Caleb viu o senhor Cho paralisou no lugar, mas o policial que o trazia lhe deu um cutucão e ele continuou caminhando até sentar-se na cadeira vazia.

— Você está vivo. — Foi à primeira coisa que Caleb disse.

— Sinto muito desapontá-lo. — Cho respondeu sorrindo. — Eu sei que você não é uma má pessoa e sei que lá no fundo você não quis me fazer mal. — Começou. — Mas compreendo que talvez você estivesse passando por alguma situação que o deixou zangado e você quis descontar em mim.

— Não tava e nem ‘to passando por situação nenhuma. — Disse travando o maxilar.

— Então talvez você estivesse buscando por algo que preenchesse o vazio em seu peito, eu não sei, mas há uma pessoa que...

— Eu não quero ouvir. — Interrompeu.

— Você não quer ouvir porque sabe exatamente ao que eu estou me referindo, Caleb. — Cho umedeceu os lábios finos. — Caleb, Caleb. — Sorriu novamente. — Sabe que Caleb foi um grande homem na Bíblia? Ele era otimista e isso acabou enfurecendo os israelitas e somente ele e Josué tiveram permissão para entrar na terra prometida. Ele foi um dos grandes homens de fé do Antigo Testamento. — Ao notar que Caleb estava calado ele continuou: — Esse vazio que você está sentindo, bem, ele vai ser curado e você nunca mais vai o sentir, pois a água da vida que Jesus oferece é uma água que depois que você a toma você nunca mais volta a sentir sede.

— Não acredito.

— Como você sabe? Nunca experimentou.

— Como sabe que eu nunca experimentei?

— Você não ouviu o que eu disse menino? — Senhor Cho perguntou levantando sua bengala e batendo-a na cabeça de Caleb levemente.

— Ai! — O louro passou as mãos algemadas pelo couro cabeludo e olhou para o policial que o havia trago. — Isso é permitido?

— Cala a boca e presta atenção. — Ameaçou o policial que parecia mais interessado no que Cho estava dizendo do que todos ali.

— Eu disse que a água que Jesus oferece é uma água que depois de tomada você nunca mais volta a sentir sede, então se você já tivesse experimentado você não estaria aqui, você estaria fazendo a maior loucura por ele.

— Não tenho grana para fazer uma loucura nem pela minha garota, imagine só por Jesus.

— A maior loucura que podemos fazer por ele não depende de dinheiro. Você tem uma boca e dois joelhos.

Caleb olhou para a mesa e suspirou, depois balançou a cabeça negativamente.

— O que você quer? — Perguntou por fim.

— Vim lhe dizer que sei que você não fez nada por mal e que eu te perdôo assim como Jesus também te perdoa. Não importa o que você é, não importa o que você fez, Jesus conhece o seu interior. Não importa pra onde você foi, porque na escuridão da noite ele apaga o seu passado e não desiste de você.

— Não há nada e nem ninguém que possa apagar meu passado. — Caleb disse com os olhos cheios d’água.

— Jesus pode. Ele não desiste de você, ele se importa com você e ele compreende o seu caminhar. Eu nunca vi amor tão grande como esse¹. Você já? — O louro balançou a cabeça negativamente.

— Eu não valho nada.

— Muito pelo contrário. Se existisse apenas você nessa Terra Jesus teria vindo para cá e sofrido o mesmo que sofreu da mesma forma só para te salvar. Ele deu a própria vida por amor a você e é por isso que amamos, porque Deus nos amou primeiro dando Seu Único Filho para morrer por nós. — Caleb passou as costas da mão pelo rosto e limpou as lágrimas. Nicole estava sentindo o nó em sua garganta, pois cada palavra proferida por Cho a fez perceber que ela não era melhor e nem pior que Caleb, ambos pecaram e careciam da glória de Deus², mas mesmo assim Deus os amava, porque Deus abomina o pecado, mas ama incondicionalmente o pecador. — Não estou dizendo que depois que você se entregar para Jesus você vai se tornar um santo, mas você vai deixar de ser apenas uma criatura de Deus para se tornar filho dEle. Deus É santo e temos que nos esforçar para nos parecermos com Ele, então nós devemos pedir ajuda ao Espírito Santo, que habita em nós, para nos dar forças para fugir das tentações (e não flertar com ela) e vencer nossos pecados. A cada dia devemos nos arrepender de nossos pecados e clamar a Deus por perdão, pois Ele É misericordioso e sempre está com os braços abertos para nos receber. — Cho passou a mão pelas mãos de Caleb que agora estavam sobre a mesa. — Criança, Jesus te ama e eu também. — Depois Cho tirou de sua bolsa uma Bíblia (a Bíblia que John havia lhe dado) e a colocou sobre a mesa. — É para você. — Ele se levantou e Nicole se aproximou para ajudá-lo, mas antes que eles saíssem da sala Cho finalizou: — Não se esqueça que o diabo não respeita quem não ora, então se lembre sempre de que você tem uma boca e dois joelhos. Que a paz, a graça e o amor de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo estejam contigo para todo o sempre³.