Triangulo. escrita por Babi Lemos


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Primeiro capítulo.



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Todo o apartamento cheirava a novo, mesmo com todos os móveis ainda cobertos e uma bagunça que deixava sua sala de visitas mais parecendo um sótão mal-arrumado, ainda assim, tudo era novo, emanava novidade. E ela amava novidades.

Os dias que se passaram foram usados apenas para dar ordem ao lugar, tudo o que ela precisava estava ali, então foram três dias de arrumação intensa até que todo o local ficasse a sua cara. Mas quando a tarde de sexta-feira chegou, ela parou e sentou no sofá, olhou para o lado, onde uma linda varanda dava vista para rua e se sentiu só. Estava em uma cidade nova, longe de tudo e todos que conhecia, completamente sozinha. Amava novidades, mas odiava solidão. Ficou de pé e correu até o banheiro de sua suíte, tomou um banho rápido e saiu dali se sentido nova. Vestiu uma calça jeans clarinha, calçou sapatilhas pretas e vestiu uma blusa de uma simples, com um desenho aleatório qualquer. Pegou a bolsa e saiu de casa amarrando os cabelos em um coque alto e frouxo. Saiu pela cidade observando a vida passar por ela como em um filme do qual ela era a mais nova personagem, mas nem de longe era a principal, nem sequer chegava perto disso. Mas ela seria. Prometeu a si que a viagem para a cidade nova, tão maior que a sua, era para crescer, para escrever seu livro e ser uma escritora conhecida nacionalmente. Passava em frente a um dos parques da cidade quando viu uma pequena aglomeração de gente, a grande maioria soltando sons de admiração, como se vissem algo muito lindo. Ou muito fofo. Curiosa, entrou naquele meio mar de gente até chegar ao centro de uma… Feira de adoções! Era perfeito! Animaizinhos lindos estavam espalhados por todos os lados em caixas de papelão que traziam frases de efeito para convencer as pessoas a adotarem. Lindos cachorrinhos com a língua de fora olhavam para ela e ela quase podia ouvi-los dizer hey, eu sou legal, me leva pra casa? Andou mais um pouco e chegou na área dos gatos. Há tempos queria adotar uma gatinha, mas em casa criava um poodle muito antipático que mataria a coitada em dois tempos. Agora era a hora perfeita! Seu amado cachorro, ainda que antipático com gatos e outros de sua espécie, havia ficado em casa com sua mãe, o que significava que agora ela estava sem bichinho em sua casa nova. Amava cachorros com todo o seu coração, mas criar um seria como uma traição ao seu filhote, fora que ela não estava exatamente em condições de criar um animal tão dependente de cuidados humanos. Gatos eram mais independentes e davam bem menos trabalho. Bichanos de todas as cores e tamanhos ronronavam nas caixas em busca de atenção, mas seus olhos foram parar em um em especial que estava com a cabeça presa em um buraco da caixa onde estava, provavelmente feito por ele mesmo. Riu daquilo e se aproximou, com cuidado tirando-o de lá.

- Oi… – uma senhora com um rostinho muito simpático se aproximou. Ela vestia uma blusa de um abrigo de animais, então provavelmente trabalhava ali.

- Olá. – ela sorriu para a senhora. – Esse aqui estava com a cabeça presa naquele buraco. – apontou e a senhora olhou.

- Oh meu Deus. – ela riu. – Licença. – afastou-se e foi pegar algo em sua banca, voltou com fita, tampando o buraco rapidamente. – Então… – ela voltou-se para a mais nova. – Tem interesse em adotar um gatinho?

- Sim, sim! – ela sorriu. – Gostei desse aqui. – o gatinho estava encolhido em seu colo, ronronando baixinho, dormindo.

- Por favor, venha até aqui. – a senhora chamou e ela a acompanhou. Depois de algumas perguntas como: Tem certeza que quer adotar? Já teve animais de estimação? O animal vai ter espaço em sua casa? E mais uma dezena de perguntas feitas para o bem do bichinho, ela foi fazer o cadastro.

- Boa tarde – era uma moça jovem, com cabelos loiros e um sorriso simpático que estava fazendo as fichas. – Meu nome é Júlia, vou fazer sua ficha de adoção, tudo bem?

- Certo. – ela se sentou com o bichano no colo.

- Nome? – ela fazia anotações em uma prancheta em uma folha enfeitada de patinhas de bichinhos.

- Cynthía Vasconcelos. – ela respondeu enquanto acariciava o gato em seu colo.

- Idade? – as perguntas se seguiram com tudo o que era necessário saber, pois alguém do abrigo estaria cuidando de perto do animalzinho. Ela gostava disso, era sinal de que não largariam os bichinhos em quaisquer mãos. – Preciso do gatinho para anotações. – Júlia pediu e Cynthía o entregou. – Oh, não é um gatinho, e sim uma gatinha. – ela sorriu e olhou a outra. – Quer trocar? Prefere um macho?

- Não, não! – ela se apressou em dizer. – Queria mesmo uma gatinha. – ela olhou a bichana, que tremia de medo em cima da mesa, o pelo extremamente negro reluzindo ao sol e os olhinhos azuis procurando por proteção. Ela queria poder pegá-la no colo de novo. Depois de mais alguns dados, ela saiu de lá com uma fichinha de adoção e sua Kim no colo. Sim, Kim, ela havia batizado com esse nome por um motivo desconhecido, ou talvez nem tanto, e tinha adorado, porque parecia combinar com a pequena. Voltou a caminhar para casa enquanto buscava um petshop, só foi encontrá-lo poucas quadras antes de seu condomínio, um prédio colorido e que cheirava a bichinhos e seus produtos. – Vocês banham? – perguntou à moça que estava por trás do balcão. Quando ela se virou, foi impossível não prender a respiração por um breve segundo. Era, provavelmente, a garota mais linda que já tinha visto na vida. Tinha cabelos extremamente negros, cortados de modo repicado, rebelde, mais ou menos na altura do queixo fino, os olhos mais azuis que ela já havia lembrado de ter visto, uma boca tão bem desenhada que parecia ter sido esculpida pelo mais talentoso escultor que já passou pela terra. E ela emanava uma aura tão feliz, que foi impossível não sorrir. Só quando a moça falou, foi que Cynthía saiu do transe.

- Banhamos sim. – sua voz era doce, como o do canto de um pássaro. Cynthía sentiu tanta inveja daquela garota! – Quer deixar o gatinho?

- Gatinha. – ela disse, impressionando-se por não gaguejar e ao mesmo tempo sem saber o porque gaguejaria. – Demoraria?

- Não, hoje o movimento ta fraco. Ela seria banhada em poucos minutos. – ela não parava de sorrir.

- Então enquanto isso, compro algumas coisas que vou precisar para ela. – ela sorriu, colocando a gatinha no balcão, esta começou a tremer no mesmo segundo.

- Quantos meses ela tem? – a atendente acariciou a cabeça dela e a gatinha fechou os olhinhos.

- Dois e meio. – Cynthía respondeu olhando as longas unhas vermelhas dela.

- Nome?

- Kim. – respondeu, quando ela foi anotar, colocou o cabelo atrás da orelha e Cynthía pode reparar uma mecha verde perdida ali, assim como uma tatuagem na lateral da mão dela. Tomorrow era o que dizia em uma fonte bem desenhada. Reparou que a continuação estava em sua outra mão e com um pouco de dificuldade conseguiu ler Never Knows.Amanhã nunca se sabe.

- Vou chamar o cara que banha. – ela anunciou e seguiu para os fundos da loja. De lá voltou com um cara baixinho, de pele escura, uma cara cansada e alguns arranhões pelos braços e rosto. Trabalhar com animais não devia ser fácil.

- Vamos, Kim? – ele falou com a gatinha como se ela entendesse, e sorriu para Cynthía. – A gente volta em vinte minutos no máximo. – falou e voltou para o local de onde tinha saído.

- Precisa de algo? – a moça perguntou enquanto Cynthía examinava ao redor em busca do que queria.

- De muitas coisas, na verdade. – sorriu tímida. – Acabei de adotar a Kim, na verdade, então não tenho nada.

- Oh, então vamos encher a gatinha de mimos! – ela disse sorrindo.

- Desculpa, como se chama? – perguntou enquanto ela saía detrás do balcão.

- Felice. – respondeu sorrindo e ergueu a mão.

- Cynthía, prazer. – ela lhe cumprimentou retribuindo o sorriso.

- Certo, vamos lá… Precisamos de vasilhas para ração e comida. – ela seguiu até a prateleira. – Cor?

- Tudo rosa. – ela disse rindo e a outra acompanhou.

- Certo.- pegou uma cestinha e colocou duas vasilhinhas cor-de-rosa dentro. Ela ia dizendo o que precisava e ia pegando, os vinte minutos passaram voando.

- Vocês fazem entrega? – perguntou Cynthía já com Kim no colo, cheirando a morango e com lindos lacinhos cor de rosa nas orelhinhas negras.

- Sim, sim, qual o endereço? – Felice pegou a prancheta.

- Avenida Norte, condomínio São Carlos, Bloco C, apartamento 305. – respondeu enquanto pegava o dinheiro.

- Ah! Você é minha nova vizinha! – Felice sorriu genuinamente. – Te ouvi chegar, mas não te vi nos últimos três dias, só o barulho enquanto arrumava tudo.

- Somos vizinhas? – Cynthía tinha plena certeza de que seus olhos haviam brilhado. – Que coincidência!

- Olha, eu venho de carro, se você esperar 10 minutinhos, que é o tempo do meu turno acabar e eu trocar de roupa, posso te dar carona e você não precisa ir a pé e nem esperar o delivery.

- Você não se incomodaria? – Cynthía estava sem graça.

- Relaxa. – Felice disse fazendo um abano com a mão. – Não me custa nada.

- Então eu aceito. – ela sorriu. Dez minutos depois ela estava entrando no new beatle preto de Felice, com dezenas de coisas no banco de trás e uma Kim adormecida em seu colo. Foram conversando algumas bobagens e se conhecendo, o caminho foi rápido. Felice lhe ajudou com as sacolas, deixando-as na porta da mais nova vizinha.

- Bom, a gente se vê. – despediu-se com um aceno. – E lembre-se, qualquer coisa, só bater aqui. – disse enquanto entrava em casa. Cynthía concordou e entrou na dela mesma.


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Notas finais do capítulo

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