Déja Vù escrita por JSchiatti, Yui


Capítulo 6
Kayla


Notas iniciais do capítulo

Gente, hoje sou eu, Yui quem está atualizando a fic. Olha, desculpem o atraso, estava finalizando o capítulo, não conseguia mandar pra JSchiatti dar uma olhada e nem revisar porque tá dando problema no pc, fora que esse foi o capítulo mais longo e mais demorado pra fazer.
Enfim, boa leitura.



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Muito longe de nossos guerreiros, no Vale da Paz, um panda vermelho estava extremamente preocupado com o que estava acontecendo, mais precisamente com a falta de notícia. Andava de um lado a outro em frente à Piscina de Reflexão, hora ou outra olhando para sua própria imagem refletida na água e depois para o dragão dourado que aparecia ali também.

Nenhum dos mestres mandou notícia alguma e já havia chego para ele relatos de tentativa de ataques na muralha e isso só podia significar uma coisa: Anastásia começou a se mexer.

Aqui, dentro da China, ainda haviam pedras preciosas e se ela mandou soldados, como Shifu suspeitava, possivelmente sabia onde estavam.

“Eu tenho que avisar os líderes”, pensou ele para depois correr à um depósito próximo do arquivo sagrado do palácio para procurar pergaminhos em branco, um pincel e tinta.

Alguns minutos mais tarde e depois encontrar o que buscava, levou tudo a uma mesa próxima à porta de entrada do arquivo e, mesmo sem se acomodar em uma das cadeiras, começou a escrever para alertá-los. Alertar os clãs que permaneciam com suas joias de família e entre os líderes que precisavam de seu aviso, estavam Jing-Quo, líder dos pandas e Dishi, líder de Hu Yong.

Já a vilã estava encarcerada em seu castelo, perseguindo algumas empregadas apenas para assustá-las. As pobres corriam desesperadas por medo de acabarem enroladas no corpo da naja que as apertava até que desmaiassem ou as fazia chorar. Sentia-se feliz em infundir o medo por qualquer lugar onde passasse.

Mas logo deixou dessa brincadeira e foi se trancar no próprio quarto. Era um quarto luxuoso com sua grande cama que tinha uma armação, tal qual um teto, sustentando o belo tecido forrado bordô e branco com rendas que descia fechando-o como se formasse uma caixa de pano. As cochas eram também bordô e as almofadas vermelhas. Havia um grande espelho no canto esquerdo da porta dupla do quarto, há muito deixado de lado, era como ela espionava seus agressores, através do reflexo, do que o espelho lhe mostrava.

Ao lado da cama, que estava centralizada na parede em frente à porta, não havia nada além de tralhas e mais tralhas acumuladas em estantes para que fizesse seus feitiços, pergaminhos com táticas de guerra e dominação roubados de outros lugares e alguns que ela extraiu de governantes que encontrou ou líderes de exércitos.

Do lado oposto, mais estantes, mas estas, com coisas necessárias para fazer seus feitiços, de condimentos comuns à instrumentos de feitiçaria como caldeirão, seus pergaminhos com anotações, os procedimentos, avisos quanto à fazer tais coisas e leituras necessárias. Não confiava em ninguém além de uma certa empregada para mexer ali, achava que alguém poderia retirar seus ingredientes, incapacitando suas ideias.

“Como Oogway uma vez me disse, que eu tenho um dom... mas teria que tomar cuidado com a aplicação desse dom. Há! Quem se importa? Apenas quero o que é meu por direito!”, pensou ela olhando com orgulho todos os seus pertences, até mesmo os que tomou à força.

A única coisa que ela precisaria agora era entrar em contato com seu aliado. Não era sempre que conseguia por meio de feitiços, nem por meio da meditação, que era o mais certo de conseguir.

Se instalou no meio da cama com a parte da frente do corpo erguida e respirou fundo fechando os olhos. Obviamente que ela não tinha a paz interior necessária para conseguir fazer bem mais do que comunicação telepática, mas seu nível de meditação já ajudava.

A meditação torna as pessoas mais humildes, independente da essência, se é boa ou má. Anastásia sabia que tinha muito o que aprende e muito o que fazer para chegar ao conhecimento supremo que é eterno e muito além das coisas terrenas, como aprender mais sobre meditação e o outro mundo, mas ainda assim, seu interior era negro.

- Bem, respire fundo – dizia a si mesma – cadê você Shing...

Enquanto a naja tentava contato com o gato montês, ele estava sentado no quarto onde Vet dormiria essa noite. Ele, o restante dos Cinco Furiosos, Carlengo, Karina e Liang.

Depois que Po e Tigresa se retiraram e eles decidiram ir para os quartos, Víbora, Macaco e Louva-a-Deus não resistiram e precisavam saber o que aconteceu enquanto sua líder esteve com eles. O restante sabia a história mas tinha saudade daquele tempo, no qual as coisas eram e não eram tão complicadas, ou seja, a idade, as novas experiências, a liberdade para irem sozinhos em missão... tudo parecia tão fácil, mas presenciar, sentir tudo que aconteceu, fora o que já sentiam com o que viveram antes, tornava tudo mais difícil do que poderia parecer para qualquer outra pessoa.

- Vamos, conta pra gente, que houve?

- Víbora, não seja tão curiosa... – Garça reprovou a atitude da serpente.

- Ah, e você nem quer saber, não é? – Perguntou ela em um tom de cansaço.

- Claro que quero, mas se ela não contou, tem um bom motivo.

- A Tigresa é orgulhosa e não contaria algo que a fizesse parecer frágil.

- Você tem razão.

- Não acredito que ela não contou pra você! – Exclamou Karina – vocês que são melhores amigas.

- Pois é, mas não é por isso que ela conta tudo. Como acabei de falar, ela não contaria algo que a fizesse parecer frágil, nem mesmo pra mim. Vai, ou você conta, Vet, ou eu peço pra um deles me contar.

- Não, não, não. Eles não sabem exatamente o que aconteceu e contariam errado.

- Mas vamos ajudar, afinal a ideia foi nossa – disse Karina.

- Como assim? De quem? – Perguntou Louva-a-Deus – Quem foi o louco que teve a ideia de juntar vocês dois?

- Louva-a-Deus, não fale assim da Tigresa – reprovou Víbora dando um golpe com sua cauda na cabeça do inseto que se queixou.

Alguns momentos antes, quando Po se retirou da cozinha, ele correu para o quarto que foi preparado para ele e para onde foram levadas as suas coisas, que estava no andar de cima da bela casa de Carlengo.

Tigresa o seguiu o alcançando quando ele estava prestes à fechar a porta. Ela colocou a pata na maçaneta segurando-a centímetros longe do batente para que ainda pudesse olhar para o panda.

- Po, deixa eu explicar – dizia ela ainda calma, tentando soar o mais amável possível.

- Explicar o que? Vocês namoraram e você não me contou, eu melhoro logo, mas me deixa um pouco sozinho – disse tentando dar um tom firme à voz, ainda sem olhar para ela.

O silêncio tomou conta e foi quando os dois se encararam. Ela pôde notar que ele estava triste, mas isso se tornava bem mais evidente no jade dos seus olhos. Como odiava vê-lo assim... precisava acertar isso.

- Me deixa entrar, Po, eu só quero explicar o que aconteceu pra você entender e deixar isso de lado.

- Mesmo? – Olhou desconfiado, com medo que ela gritasse por estar com tanto ciúme.

- Mesmo.

Poderia ser bobo, mas ele sentia sim. Ainda mais por Vet conhecê-la há mais tempo do que ele, por serem amigos desde quando ele apenas sonhava em se aproximar dela e por ter tido a chance de fazê-la feliz como ele tinha agora. A curiosidade invadiu Po.

“Por que Vet e Tigresa se separaram?”, pensava o panda ainda encarando a felina alaranjada que esperava uma resposta. “Ok, isso de algum jeito foi bom pra mim, estou com ela, mas será que ela... não, não, acho que não, senão ela não estaria comigo... mas, será que ela quer estar com ele de novo ou que só tá comigo porque não deu certo? Ou foi só até achar alguém como ele? Nah, ela não é assim...”

- Po – chamou Tigresa depois de quase um minuto observando Po imerso em seus pensamentos.

- Hã?

- Posso entrar?

Ele não respondeu, apenas abriu mais a porta para que ela pudesse passar e a fechou quando Tigresa já se encontrava sentada na cama esperando que ele se sentasse junto a si para poder conversar e esclarecer as coisas.

O panda sentou-se encostado na cabeceira da cama com uma perna em cima do colchão e a outra pendurada. Tigresa se colocou em posição de lótus em frente a ele.

- Fala, o que que aconteceu? – Perguntou Po sem ânimo de saber. Será que realmente queria?

- Parece até que você não quer saber o que foi... mas vai saber mesmo assim, pra não pensar mal de mim.

- Pode falar.

- Bem, foi na missão, a gente já estava há bastante tempo esperando pra pegar a Anastásia. Eu tinha deixado o palácio pra ficar com eles, não ia voltar mais e fazia quase dois anos que caçávamos ela

FLASHBACK

Numa aldeia no oeste da China, esperando algum sinal de Anastásia, Kayla, Tigresa, Karina, Vet, Carlengo, Liang e Shing estavam em uma hospedaria onde deveriam aguardar alguns dias. Segundo Shing, que era o principal informante e já esteve nos domínios da naja mais de uma vez, eles deveriam passar por aquela aldeia no baile de máscaras que haveria em comemoração ao aniversário de alguns filhotes que passariam a ser tratados como adultos, era como um rito de passagem.

As fêmeas escolhiam as roupas para usar no que seria um dia inteiro dedicado ao festival, e Kayla e Karina escolheram a roupa por Tigresa, já que ela se recusava a usar outra coisa que não fossem coletes com ou sem mangas e suas calças negras folgadas, da qual ela tinha várias.

Estavam todas em um só quarto, grande o suficiente para as três felinas. Cada uma estava em sua cama e Tigresa pegou a que estava bem ao lado da janela com a desculpa de poder receber mais da brisa gelada da noite. Hora ela estava olhando o luar, hora estava lendo um pergaminho que continha a resposta de Víbora à sua carta, que mandava toda semana. Ela lia tentando ignorar as tentativas de suas colegas a colocarem um vestido nela.

- Vamos Tigresa, tem que mudar seu guarda-roupa, assim, além da Anastásia ou os espiões dela te reconhecerem, você não vai conseguir atrair ninguém... – brincou Karina enquanto olhava os vestidos que estavam com ela.

- Sem chance. Não quero atrair ninguém, só quero acabar logo essa missão, pegar logo essa Anastásia e melhorar meu kung fu, que ainda tá com um nível baixo.

- Que é isso? Não acredito, não existe somente kung fu na vida, embora seja muito bom – disse Kayla.

- Eu sei, mas quero me dedicar para merecer o título de Dragão Guerreiro, quero ter orgulho de mim.

- Já pode ter orgulho de si mesma, é a melhor guerreira entre nós, tem o maior mestre da China, se não do mundo... é linda e tem um dos felinos mais bonitos que já vi babando por você.

Ao ouvir isso, Tigresa tirou os olhos do pergaminho e olhou surpresa para as felinas à sua esquerda. Que raios foi isso?

- Do que você está falando, Kayla? – Perguntou pausadamente.

- Bem, pelo menos o Carlengo saiu contando pra mim e pra Karina que o Vet parece bobo quando te vê...

- Isso eu também notei – concordou Karina interrompendo.

- Ele tá sentindo alguma coisa por você, mais do que amizade. Te acha linda, até mesmo quando tá brava e que mesmo estando em uma missão, quer te levar nesse baile de máscaras.

- Estamos em uma missão, não podemos fazer isso – disse e voltou à sua leitura.

- Quer dizer que se pudesse, você sairia com ele? – Perguntou Karina com um enorme sorriso.

- Claro que não, só o vejo como amigo.

- Sei...

- É isso mesmo...

- Mas o que custa tentar?

O silêncio se fez presente diante daquela pergunta. Tigresa não sabia o que responder, ou melhor, sabia, mas não tinha nada a perder mesmo, nunca alguém havia gostado dela dessa forma. “Quem sabe... não, não, nem pensar”, sacudiu a cabeça para tirar os pensamentos por aquela pergunta.

- Você poderia pelo menos tentar...

- O que vocês estão tentando fazer? Acham que eu preciso de alguém pra me proteger, que sou frágil?

- Vocês o seu nariz, me tira disso que eu tô quieta vendo minha roupa – disse Kayla mexendo em sua mochila e espalhando tudo em cima de sua cama.

- Não disse isso, só que você poderia tentar. Uma coisa assim não acontece sempre e ele é um cara legal, um ótimo guerreiro, vocês são parecidos, quem sabe não aconteça algo sério entre vocês...

- Só se for ela quebrar o braço dele como fez com o Carlengo quando confundiu ela com você. Não sei como ele consegue confundir... você é branca! – disse Kayla negando com a cabeça a atitude do colega.

- Eu também não sei – responderam as outras duas em uníssono rindo um pouco.

- Mas pensa bem Tigresa... você talvez não possa mais fazer isso. Se você está com a gente, ninguém vai te impedir de namorar, ninguém vai te controlar e essa é uma experiência que você talvez não tenha no Vale da Paz por só querer saber de treinar.

Tigresa considerou as possibilidades e concluiu que precisava experimentar mais coisas, coisas que ela jamais havia feito antes, como prestar atenção em machos de uma forma totalmente diferente da que fez todos esses anos.

No quarto dos meninos, Carlengo estava deitado e se queixava dos golpes que recebeu de Vet por gritar por aí o que o tigre sentia por certa felina temperamental.

- Nunca mais saia gritando um segredo meu...

- Só queria ajudar. Tudo bem, você é doido de gostar dela, mas se você a quer, tente. Ai!

- Ela vai me bater.

- Ah, não! O líder dos sombras com medo? De uma fêmea?! Ah... agora posso morrer em paz que já vi de tudo – zombou Liang se jogando na própria cama se fingindo de morto.

- Vocês não vão deixar o Vet em paz né? – Dizia Liang ainda rindo.

- Claro que não! – Responderam Liang e Carlengo.

- Pelo menos até ele ficar totalmente doido e se confessar pra ela – disse Carlengo.

- Afinal, se sente algo, namora com ela logo. Aproveita e fique feliz que ela escolheu ficar com a gente em vez de voltar ao Palácio de Jade, mesmo sem a gente ter descoberto muita coisa da Anastásia... – disse Liang.

- Tá bom, tá bom, mas... como eu faço isso Liang e Shing?

- Quê?! Não vai pedir conselho pra mim? Auch! – Exclamou Carlengo que se levantou tão rápido por sua surpresa, que seus hematomas doeram e teve que se deitar de novo.

- Lógico que não! Posso estar louco, mas ainda não quero morrer... você arranja várias, mas quase se dá mal com o pai de cada uma delas e quando você dá mais azar, se encrenca com o namorado, ou com alguém que tá cortejando elas também. Definitivamente o pior conquistador e por isso acho o pior conselheiro. Eu já te ouvi uma vez e deu errado.

- Você disse “quase sempre”, isso quer dizer que eu às vezes me dou bem.

- Não, isso quer dizer que às vezes elas somem ou você foge por alguma coisa, como elas serem grudentas chatas, etc...

- Enfim – disse Shing atraindo a atenção dos outros três felinos -, eu não sei muito, mas acho que você mostrar o que sente de alguma forma, ajuda.

- Mostrar como?

- Ah, dá flores, leva pra dar uma volta... – disse Liang – você quer levar ela no baile de máscaras, dá um passeio com ela e diz o que sente. Agora que ela tá com a gente, quem sabe pode tentar algo com você.

A palavras de Liang fizeram Vet pensar. Sorriu e agradeceu aos amigos pelas ideias. Executaria os conselhos deles.

Alguns dias depois, no dia do baile, os meninos todos estavam com roupas negras com detalhes dourados e máscara dos irmãos demônio. Eram amarelas com quatro pequenos chifres e a cada lado do focinho deles, havia uma parte da madeira que se assemelhava às presas do demônio.

As meninas, ao menos Karina e Kayla, estavam felizes com os vestidos. Karina se vestiu de fantasma se aproveitando de sua pelagem branca, com um leve q’pao de seda branca, de mangas compridas e largas com flores azul claro que iam das extremidades em direção ao centro e uma cinta da mesma cor abaixo do busto que lhe caia perfeitamente bem. Kayla estava de deusa do fogo, em um vestido vermelho com detalhes espiralados laranja e uma faixa dourada na cintura. Levava uma máscara parecida com a dos demônios, mas não tinha chifres, senão um talhado semelhante a chamas.

Tigresa, estava com calças de um azul escuro por baixo de um vestido negro que tinha uma abertura de cada lado, expondo as pernas dela, por isso a calça. Era extremamente justo e mais parecia um colete com as pontas estendidas, até por conta do padrão de videiras que ela sempre carregava, só que dessa vez em prata como era todo o contorno do vestido. As mandas eram compridas e largas, a gola era alta e desde o lado esquerdo do pescoço da felina até a abertura da perna direita, eram os broches que fechavam o vestido.

- Uau! – disse Vet sem piscar.

Ela estava com cara de poucos amigos, mas ainda assim, adorável para ele.

- Eu e Liang vamos para as barraquinhas de comida – disse Karina.

- Eu vou tentar manter o Carlengo longe de encrenca, vem logo, cara... – chamou Kayla – vem que cuidar de você sempre sobra pra mim e eu não quero te perder de vista.

- Agora é sua chance – sussurrou Carlengo para Vet dando-lhe uma cotovelada.

- Ei! Vai logo com a Kayla.

Ambos os tigres se olharam e Tigresa não estava animada com o seu possível encontro, ao contrário de Vet que até estava nervoso, mas sua pelagem escondia o rubor.

- Vamos dar uma volta? – Perguntou ele.

- Tá.

Passaram o baile todo falando sobre qualquer coisa, porque ela não tinha muito o que falar e ele estava nervoso demais para puxar assunto, mas mesmo assim passaram uma noite agradável, foram comer tofu. Mesmo ambos percebendo que seus amigos o seguiam, fingiram não saber. E depois de algum tempo Vet teve uma ideia.

- Estamos voltando pra hospedaria?

- Não. Tigresa, vem comigo – puxou-a pelo braço e ao se aproximar de uma parede a soltou – pula.

Vet saltou para o telhado de um comércio, e foi pulando de casa em cas até chegar ao telhado da hospedaria que era o mais alto dali. Como a hospedaria era afastada do centro da vila, seria perfeito pra ficar com ela sem que fossem observados, talvez ela ficasse mais à vontade.

Ao ver onde ele parou, Tigresa o imitou e ao chegar, sentou-se a seu lado. A lua já estava presente entre as poucas nuvens e a felina a observava.

- Tigresa.

- Sim? – Respondeu sem deixar de ver a lua.

- Preciso te falar uma coisa – anunciou ele, então ela o encarou seria como sempre e Vet não sabia se isso era bom ou ruim já que ela sempre foi indecifrável. Mas munindo-se de coragem, continuou – eu... eu não sou bom nisso então, quero ser direto. Eu gosto de você como nunca aconteceu antes e eu quero saber... se você quer me dar uma chance de te fazer feliz, ou pelo menos tentar.

Ao olhar naqueles olhos, castanhos e brilhantes, Tigresa duvidou um pouco. Não podia enganá-lo, ficar ao lado dele dessa forma sendo que não sabia se sentia o mesmo. Talvez quisesse tentar, algo dentro dela queria e só não sabia se isso era gostar dele, mas sabia que queria tentar.

- Tudo bem, eu te dou uma chance – respondeu finalmente.

Sentiu um arrepio percorrer suas costas. Já há algum tempo queria voltar ao palácio por sentir falta de todos, até mesmo de seu mestre. Sentia que seu lugar era lá, mas talvez... alguém fosse o que faltava para que ela estivesse feliz ali entre seus novos amigos. Talvez isso a fizesse ficar como ela havia decidido há mais de um ano ao enviar uma carta à Shifu dizendo que não voltaria.

- Não sabe como fico feliz em ouvir isso – disse Vet.

Dito isso foi se aproximando cada vez mais da felina que ficou em choque e com a boca entreaberta. Já imaginava o que aconteceria e esperava estar pronta pra isso.

Quando os lábios de Vet tocaram os seus, uma estranha sensação correu seu corpo. Não era como imaginava que seria, mas foi seu primeiro beijo, pelo que ela se lembrava. Decidiu ignorar o que sentiu de estranho. Agora namorava Vet.

Os dias se seguiram e quanto mais ela tentava encontrar a felicidade com ele e dar desculpas a si mesma para ficar, mais sentia que estava no lugar errado e que não poderia retribuir o que ele sentia por ela. Tigresa nem sabia como se comportar com seu namorado, mas mesmo assim se dedicava ao máximo que se sentia bem em agir. A única coisa que queria evitar era a reprovação de Shifu pela sua atitude de deixar seu lar, seu mestre e todos que protegia.

Passados alguns meses mais, ela tomou a decisão de voltar ao Palácio de Jade e foi sincera com todos. Sentia falta de Víbora, Macaco, Garça, Louva-a-Deus, Mestre Shifu e Mestre Oogway. Até de Zeng fazendo escândalo quando havia mensagens importantes.

E não foi o que ela esperava. Voltou e, como disse Mestre Oogway, foi uma experiência de auto-conhecimento.

FLASHBACK OFF

- E foi isso que aconteceu. Ela me deixou, deixou todos nós... mas agora precisamos dela pra poder capturar a Anastásia, já que graças ao Shing, conseguimos pistas.

Shing sorriu para o amigo.

- Você tem ciúmes do Po? Fala a verdade – perguntou Louva-a-Deus.

- Olha, não digo ciúmes, mas é estranho ver ela com outro. Não queria ter causado problemas. Eu gostava dela, mas hoje somos apenas amigos e é isso que deveríamos ter sido desde sempre.

- Ela gostava de você? – Perguntou Macaco.

- Como vocês são curiosos... isso eu não tenho certeza, mas talvez um pouco.

- Shing... me responda – uma voz soou na mente do gato montês.

- Gente, vou pro meu quarto que tô morrendo de sono e de cansaço – disse Shing e depois de dar boa noite, se retirou como fizeram os outros.

Ao chegar em seu quarto, sentou-se no centro da cama e fechou os olhos para se concentrar na voz de sua ama que o chamava.

- Sim, senhora, o que deseja?

- Onde você está? Estou ficando impaciente.

- Estamos na Índia e amanhã iremos ao Nepal.

- Quê?! Fazer o que?

- Estão recolhendo todo o grupo para proteger as joias. Já tenho algumas em vista, assim que as pegar, envio à senhora.

- Ah, então está bem. Apenas não demore – disse e deixou de falar com seu soldado.

Shing revirou os olhos, não aguentava mais essa escorregadia dando ordens e gritando com ele, mas deveria obedecer para continuar vivo.

-

No quarto de Po, a felina terminava de contar a história e o panda a ouvia sem interromper.

- Foi pelo que aconteceu... aliás, por isso e pela saudade do Vale da Paz e dos meus amigos que me fez voltar – terminou ela com o semblante sério.

- Você... gostava dele... como ele de você? – Perguntou Po inocentemente.

- Não, achava que gostava, mas não era isso. O que eu queria era tentar ter alguém, apenas tentar ser feliz com alguém que me valorizasse e me desse bons sentimentos – se aproximou de Po e o tomou pelas bochechas com uma pata de cada lado, para olhá-lo nos olhos – Po, eu não o amava. Não contei pra você não se sentir mal e porque foi uma coisa que só serviu pra me levar pra casa. Você despertou essas coisas em mim. Nunca pense que vou querer outro, eu amo você.

- Eu também te amo, Tigresa – respondeu com a voz abafada pela pressão das patas dela em seu rosto.

A tomou pela cintura e dedicou-se a beijar sua namorada. Como poderia ser tão mal pensado? Ela jamais o enganaria.

- Me desculpa ter sido tão bobo.

- Tudo bem, Po. Também já tive ciúmes.

Depois de tudo resolvido, ambos se despediram e a felina foi para seu quarto dormir. Os próximos dias seriam cansativos.

Carlengo despediu-se da garota a quem devia chamar de noiva. Quando voltasse, teria um casamento para planejar, por mais que isso lhe desse arrepios e por mais que quisesse fugir. Deveria aquietar o facho, já não estava na idade de correr de saia em saia.

Alguns dias mais tarde, os guerreiros e os felinos já estavam no Nepal e até aí, Po não falava com Vet e também não deixava de encará-lo quando se aproximava demais de Tigresa.

Os viajantes se instalaram numa hospedaria que tinha apenas o térreo e o andar de cima e era simples. Estavam na terceira cidade na qual procurariam a felina. Agora deveriam buscar Kayla novamente, mas por onde começar?

- Já que achamos os outros dois com o que eles supostamente faziam no grupo, que tal procurar alguma escola ou serviço de espionagem? – Sugeriu Garça.

- Boa ideia, vamos nos separar. Quem encontrar primeiro, volte à hospedaria com ela – ordenou Tigresa.

Todos buscaram Kayla durante todo o dia, sem sinal algum de vida. Voltando à hospedaria, jantaram e se foram para o quarto de Vet. Talvez devesse perguntar por ela na cidade.

- Não seria má ideia – disse Víbora.

- Tá, mas pelo menos aqui nessa cidade e nas outras duas que passamos, não vimos nada de espionagem – concluiu Macaco.

- Talvez se deixassem de procurar e me esperassem encontrar vocês, adiantaria.

Todos se sobressaltaram ao ouvir essa voz, que não era estranha para certo grupo de felinos. Todos voltearam para olhar a janela.

- Quem é você? – Perguntou Po pulando do lado de Tigresa para ficar de pé, colocando-se em pose de batalha ao ver o ser, certamente uma fêmea, com roupas negras como as de um ninja, na qual, a única coisa que se via era os velos olhos cor de mel.

- Kayla! – Exclamaram os outros felinos em uníssono.

- Como você nos encontrou? – Perguntou Vet.

- Me informaram de um grupo de viajantes suspeitos indo de cidade em cidade e me pediram que investigasse para saber se não eram ameaça - disse entrando e encostando numa parede para depois retirar a máscara negra - aqui no Nepal os Cinco Furiosos não são conhecidos. E quem é você, panda?

- Sou o Dragão Guerreiro – Po inclinou-se para se apresentar – desculpa achar que era um inimigo he he.

- Está tudo bem, não estou com as minhas roupas habituais. E... Dragão Guerreiro? Sério? É...

- Eu sei, não parece, já ouvi muito isso.

- Não é isso, é diferente. Imagino o seu estilo de luta e quero ver depois.

- Claro, vai ser show.

- Você vai ver quando ele entrar em ação – disse o inseto – depois a gente conta o que ele fez... você não vai acreditar.

- Nossa, é tão impressionante assim? – Perguntou ela surpresa.

- Muito, muito impressionante. Ah, como diz ele, “show de bola”.

- Você ainda sabe atirar de longe? – Perguntou Macaco se lembrando que ela era excelente atiradora e por isso era a encarregada de utilizar as armas.

- Claro que sim. Ainda pratico espionagem e artilharia, é assim que me sustento – sorriu com autossuficiência – encontrei vocês antes de me encontrarem.

- Não tinha dúvida que ia fazer isso – disse Vet sorrindo.

- Mas então, por que me procuram?

Vet, Tigresa e os outros disseram a eles os motivos de sua vinda. Kayla ouviu tudo atentamente e concordou em ajudar.

- Bem, eu pensei que gostariam de reunir o grupo novamente. Depois de todo esse tempo, não acredito que Anastásia ainda está solta e voltou a buscar as joias.

- Pois é, podia dar um descanso – disse Carlengo.

- Mas se não fosse por isso, talvez não nos encontraríamos mais... – comentou Liang.

- É um lado positivo – disseram Víbora e Garça concordando com o felino.

- É verdade, estava com muita saudades de vocês – disse Kayla sorrindo com ternura aos amigos – me contem como estão...

- Bem, eu trabalho como músico em uma cidade da China, mas ainda fabrico minhas armas em segredo. Apenas meu chefe sabe e ele permitiu que eu viesse – disse Liang.

- Eu ainda trabalho de espiã para líderes de clãs e organizações, mas apenas do lado bom, apesar de terem me oferecido um bom salário pra trabalhar na máfia negra – disse Karina – Liang e eu ainda conversávamos por carta antes de tudo isso – corou.

- Hm, que fofo, mas pena que até hoje não se acertaram.

- Quê?

- Esquece... e vocês?

- Eu ensino o básico de kung fu para filhotes e estava viajando pra melhorar minhas técnicas quando encontrei infiltrados chineses que trouxeram informações da Anastásia – disse Vet - foi Shing quem mandou esses caras pra falar comigo, pensei que tinha acontecido algo ruim a ele.

- É, passei todos esses anos no castelo dela, ganhei sua confiança e quando ela resolveu se mexer, tive que avisar – disse Shing.

- Fico feliz que tenha conseguido, nunca desistiu.

- Nunca. Ah! E o Carlengo tá enrolado com uma tigresa indiana.

- Sério? – Perguntou Kayla surpresa olhando para Carlengo que fez cara de desagrado.

- É né, uma hora tenho que parar. Foi a melhorzinha que encontrei e também, se eu não casar, o pai dela me mata ou pior... nunca vou poder ter filhos – disse mudando sua expressão de desagrado para uma de dor, a que todos os machos compreenderam e imitaram.

- Ui, não acho que isso seja legal.

- E não é.

- E você Tigresa? Ainda está no Palácio de Jade? Como anda sua vida, namorados? – Perguntou ela se lembrando de anos atrás.

- Parece minha tia me perguntando isso – brincou Víbora.

- Minha tia me pergunta também, e fica feliz quando eu digo que tô sozinho – comentou Louva-a-Deus – e eu também fico.

Po não pôde evitar de ficar tenso pelas informações sobre sua namorada ainda frescas em sua mente. Tigresa notou, já que ele havia se sentado novamente a seu lado e a envolvia com um dos braços.

A felina tomou a pata livre de Po entre as suas como deu, e deu-lhe um leve apertão para que ele se acalmasse. Kayla notou isso enquanto esperava a resposta da amiga e não entendeu.

- Ainda estou lá, é meu lar. Luto contra bandidos com eles – apontou para os amigos – e com ele – olhou para Po com um sorriso que foi retribuído – e quanto a namorados, só tenho e só preciso de um – se aconchegou no abraço do panda como resposta.

- Hm, entendi – sorriu Kayla – com o Dragão Guerreiro, um panda ganhou seu coração. Quem diria, ein? Mestre durona.

Tigresa fez cara de poucos amigos. Continuaram contando sobre suas vidas e os furiosos aproveitaram para contar as proezas de Po, desde a derrota de Tai Lung. Quando contaram o que ele fez com os canhões de Shen em frente ao porto,Kayla e Carlengo ficaram boquiabertos e embora Liang e Karina já tivessem ouvido sobre isso, ainda lhes custava acreditar e teriam que admitir que ele era um mestre e tanto.

Eles combinaram de se encontrar à noite, não poderiam mais esperar. Logo após o jantar, o grande grupo já estava pronto para partir da porta da hospedaria.

Começaram a andar de regresso à China e assim que chegassem, deveriam recolher as joias para mantê-las a salvo no palácio. Seria um bom momento para voltar para casa e também para certo felino terminar sua missão.


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Notas finais do capítulo

Esperamos que tenham gostado.
O que será que Shing vai fazer? Será que os guerreiros vão conseguir as pedras que faltam pra guardá-las?
É o que veremos hahaha

Até mais. o/