A Rainha Branca escrita por luanafrotah_


Capítulo 10
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas! tirei o dia pra atualizar minha estórias
Então por favor, não arranquem minha cabeça, aqui está mais um capítulo de A Rainha branca no capricho!

Como eu e meu beta somos pessoas muito ocupadas esse capítulo demorou um pouco mais pra ser postado "
Esse capítulo foi bem mais demorado pra escrever também, e ele é um capítulo muito tenso, mas apesar de tudo eu adorei escrever...
Leiam com muito carinho pe esse capítulo me custou horas e horas ouvindo músicas de emo, músicas de dor de cotovelo e também muito Skid Row(minha inspiração eterna).

Queria, como sempre, agradecer bem muito ao meu beta Hades por arranjar tempo na agenda lotada dele para betar essa estória.



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O som estridente do interfone acordou Mara no meio da noite. Ela escondeu o rosto sob o travesseiro e esperou até que parasse, mas não parava, ele tocava insistentemente e parecia até mais alto.

-Mas que droga! – Mara levantou e olhou para o relógio – quem é o imbecil que vem visitar alguém às três da manhã?!

Ela foi até o interfone o mais rápido que seus pés sonolentos permitiam e atendeu.

-Quem quer que seja manda embora! – vociferou antes de desligar o aparelho com força e tomar o caminho de volta para o quarto.

Mal pôs o primeiro pé para fora da cozinha e o interfone tocou novamente. Ela ponderou sobre atender novamente ou não fazê-lo, mas o barulho era simplesmente irritante, então atendeu logo de uma vez.

-O que foi agora? – perguntou de má vontade. Soltou um palavrão quando ouviu a resposta do outro lado da linha – Mas você tem certeza?... E o que você tá esperando pra abrir a droga desse portão?! – berrou para o interfone antes de desligar e correr para a porta.

Alguns minutos depois a campainha toca e Mara abre a porta com seu melhor sorriso. Lá estava Ricardo.

-Bem-vindo! – Ela o abraçou calorosamente – eu senti saudades – ela falava excitada – esses últimos meses foram um saco, parece que toda a ação foi embora com você!

-Ah... – ele respondeu muito sério – Também senti sua falta.

O sorriso de Mara morreu ao perceber a frieza que ele demonstrava.

-Tá tudo bem? – ela perguntou enquanto fazia um gesto para que ele entrasse no apartamento – como foi lá?

-Foi... Chato – Ricardo entrou e se sentou no sofá enquanto Mara fechava a porta – Mas deu certo, eu estou bem agora.

-Eu não... Eu não estou entendendo... – Mara observava o semblante sério de Ricardo. Estava nervosa, e preocupada com a frieza dele, ele sequer a olhava nos olhos – Eu pensei que você tinha ido pra lá por que sua mãe pensava que você estava ficando louco.

-E eu estava.

Ele finalmente a encarou. O descaso em seus olhos foram sentidos como um baque em Mara, e ela sentiu um calafrio percorrer seu corpo. Suas pernas enfraqueceram, se não estivesse encostada à porta talvez tivesse perdido o equilíbrio.

-Isso não é verdade!

Ela gritou enquanto tentava se recompor. Foi lentamente até o sofá e sentou ao lado de Ricardo. Tentou sorrir amigavelmente enquanto falava.

-Você não está nem nunca esteve... isso é sangue?

Só então percebeu as mãos sujas de Ricardo, e não só as mãos. E toda a estabilidade emocional que tentava aparentar ter desabou.

-Meu Deus, Ricardo! Você está bem? Onde você estava? O que aconteceu?!

-Eu estou bem – ele respondeu secamente. O que só aumentou o desespero de Mara.

-Mas todo esse sangue...? – perguntou enquanto o examinava à procura de ferimentos.

-Não é meu.

Ele se desvencilhou rapidamente de Mara e levantou. Nos poucos segundos que seus olhos encontraram os dela ela lhe olhou com a dúvida estampada no rosto.

-Natã.

A garota levou as mãos à boca e continuou a questionar Ricardo com o olhar.

-Morto

Aquelas palavras caíram como uma bomba em cima de Mara, somadas à frieza com que ele relatava aquele fato. Mas nada se comparava com o que se passou com ela quando ouviu o que mais Ricardo tinha a dizer.

-Eu o matei.

De repente todo o nervosismo e desespero, toda a tristeza que ela estava sentindo se fundiram e se transformaram no mais puro ódio. Explodindo em lágrimas ela levantou e encarou o rapaz à sua frente.

-Tecnicamente eu não matei ninguém, já que ele não é real – continuava com uma postura menos fria, agora estava até mais relaxado.

-Monstro – falou Mara quase num murmúrio, o ódio crescendo em seu peito, a respiração cada vez mais pesada, a visão turva devido às lágrimas – O que você fez? – perguntou aumentando o tom de voz. Mas ele parecia não ouvir, tão distraído que estava em seu discurso.

-...só um produto da minha imaginação. A propósito, eu nem sei o que eu tinha na cabeça quando eu decidi acreditar em você, isso tudo foi uma grande loucura...

-Mas o que foi que eles te fizeram?! – Mara explodiu – Pra qual manicômio eles te mandaram? Foi tratamento de choque? Que tipo de lavagem cerebral eles te fizeram? – ela se sentiu um pouco mais leve depois disso, sentia a garganta doer por ter se excedido demais nos gritos, mas quem se importa? – Oh, meu Deus... Meu Deus... – repetia para si mesma enquanto voltava a chorar descontroladamente – Natã...

-Ele não era real! Nunca foi e nunca será!

-Ele é tão real quanto você e eu! – berrou de novo a plenos pulmões – Você não vê? Não percebe a besteira que fez? Se ele não fosse real você não poderia nem tê-lo matado, seu idiota!

Como não recebeu nenhuma resposta dele, aproximou-se dele e lhe desferiu um tapa. Empregou tamanha força nesse ato que sentiu a própria mão ficar dormente. Mas pareceu não fazer efeito sobre ele, que não expressou dor alguma.

Ele segurou Mara pelos ombros.

-Vê? Esse é o problema: você.

Mara sentiu o joelho de Ricardo bater com violência contra seu estômago e uma repentina falta de ar. Quando ele a soltou ela se deixou cair, respirando com dificuldade.

-A culpa é toda sua! Você colocou essas coisas na minha cabeça! É tudo você e essas suas histórias malucas! E isso não vai passar... Não enquanto você não...

Ele pensava, andava de um lado para o outro com a pistola na mão, seu olhar se perdia entre a garota e a arma.

Mara finalmente levantou e percebeu o que estava acontecendo. Ricardo queria matá-la. Chamou por ele enquanto voltava a mergulhar no desespero. Por favor, não faça isso...

Mas ele já havia se decidido e sua decisão era irredutível. Ela sentiu uma das mãos dele apertando seu pescoço, a outra tremia hesitante em atirar.

Os olhos chorosos de Mara suplicavam, ele não tinha que fazer aquilo, ia ficar tudo bem, as coisas não precisavam terminar daquela maneira.

Ricardo estava inflexível.

Mara não conseguia entender o que fizera Ricardo chegar àquele ponto. Por mais que tentasse, não via nada que a fizesse mudar de idéia como ele mudou tão rapidamente. Preferia morrer a ter que matar Michael.

“Michael... Michael?! Onde você está, Michael?”

Mara olhava em volta, mas não conseguia vê-lo lá. E quando ela pensava que seu desespero não podia aumentar mais ela percebeu que Michael não estava lá para protegê-la. Desejou intensamente que ele estivesse ali agora, se recusava a morrer sem vê-lo de novo. Começou a se debater, tentando se soltar das mãos de Ricardo. Estava tão fraca que todo esforço se tornava inútil, mas ela continuava tentando, e chamava pelo anjo com as poucas forças que lhe restavam.

De repente sente algo bater com força contra sua cabeça, o impacto foi tão grande que se sentiu arremessada. Caiu sobre a mesa de centro da sala e sentiu o vidro se estilhaçar sob seu corpo e penetrar sua carne. A dor era tamanha que sequer conseguia gritar. Um líquido espesso escorria pela sua testa e escurecia sua visão.

Ricardo ainda mantinha erguida a mão que segurava a arma, agora suja de sangue.

-Pára, ta bom? Pára com isso! Pára de chamar por eles! Eles não vão vir... Sabe por quê? Por que eles não são reais, eles não existem!

-Eles... Existem... Sim... – Mara afirmou com um fio de voz.

Ele não disse nada. Aproximou-se de Mara e, sem nenhuma delicadeza, a removeu das barras de ferro tubulares que ainda restavam da mesa e a soltou no chão, longe dos cacos de vidro. Ela soltou um urro de dor ao sentir o vidro penetrando mais profundamente em sua carne. Ele, então, sentou-se sobre o corpo dela e inclinou-se sobre ela. Mara sentiu que o pouco ar que tinha lhe fugia, era como se ele pesasse mais que um elefante.

-Pois muito bem... – falou Ricardo com desdém – se eles existem mesmo, eles vão me ouvir. Certo?

Mara tentou fazer um movimento positivo com a cabeça, mas mal conseguia se mexer devido à dor e à falta de ar. Ricardo a desdenhou ainda mais.

-Pois então, caros colegas – gritou ele para o nada – por que vocês não vieram protegê-la? Vocês falharam com ela, hein? Mas tudo bem, eu sou uma pessoa legal, então eu vou dar a vocês uma segunda chance...

Mara sentiu o cano frio da pistola contra sua testa.

-Não se preocupe – ele sussurrou com um sorriso meio maligno – se eles estão mesmo aqui, eles vão te salvar – e piscou para ela antes de voltar a gritar com o nada – Eu vou contar até três e vou atirar. Vocês têm esse tempo para salvá-la

Então era isso, era daquela maneira que tudo ia acabar... Sem Ricardo, sem Michael... Sem ninguém

-1...

Por favor, Michael, volte... Volte para mim

-2...

Seja real... Por mim...

-3!

Por favor, eu não quero ir sem...

Um disparo ensurdecedor ecoou pela casa. Então Mara ouviu uma voz que a chamava desesperadamente e sentiu seus ombros sacudirem violentamente.

-Mara?! Mara! – a voz soava familiar.

-Mãe... O quê...

A visão ainda estava um pouco embaçada, mas Mara reconhecia a imagem da mãe, a voz dela ecoava distante em seus ouvidos, mas ainda podia ouvi-la. Os olhos giravam nas órbitas, escaneavam as paredes claras do quarto tentando encontrar algum vestígio do que acabara de se passar, mas não via nada. Estava apenas sentada em sua cama com sua mãe do lado.

Um sonho... Apenas um sonho ruim...

Um pesadelo... Repetia para si mesma enquanto tentava se acalmar. Ele nunca faria isso comigo, não teria coragem de atirar em mim. Nunca passou pela cabeça dele que tudo isso fosse uma loucura. Mara acreditava que, o que quer que fosse, nada o convenceria a matar o próprio anjo, ela preferia acreditar nisso...

Mas aquelas imagens não saíam da cabeça dela, elas se repetiam e repetiam sucessivamente. As mãos sujas de sangue em volta de seu pescoço... Essa sensação... Essa angústia... Aquilo não passava. Sentiu as lágrimas saírem de seus olhos. Agarrou-se à mãe e começou a chorar descontroladamente.

-Calma... Shhh... – Rosa falava enquanto acariciava a cabeça da filha – Foi só um sonho ruim, já passou... Está tudo bem agora...

Não, não estava tudo bem! Foi tudo muito real para ter sido apenas um sonho, ainda podia sentir nitidamente as dores, ainda sentia...

-Não!! – ela começou a gritar – Você não podia ter feito isso comigo, não podia ter me abandonado! – o choro compulsivo voltava enquanto a voz morria. Ela continuava abraçada à mãe – você não tinha esse direito...

-Do que você está falando, querida? Eu não te deixei, eu estou bem aqui... Não vou a lugar nenhum, vou ficar aqui com você.

Mara abraçou-se à mãe com mais força e continuou a chorar. As lágrimas desciam queimando seu rosto, os olhos estavam pesados mas não queria fechá-los, não queria ver tudo de novo. O que se lembra antes de ser finalmente vencida pelo sono e adormecer nos braços da mãe era de procurar por Michael e não vê-lo e um cheiro de qualquer coisa, muito ruim, que predominava no quarto.

O sono de Mara foi um sono agitado e entrecortado, não conseguia ficar dormindo por mais de meia hora. Ouvir a voz da mãe cada vez que acordava assustada era um conforto a mais. Esses momentos raros lhe remetiam à sua infância, mas nem mesmo essas boas memórias não eram suficientes para superar o terror que sentia naquele momento.



***



Abriu os olhos e sentiu instantaneamente a cabeça latejar, conseqüência da noite mal dormida. Não lembrava exatamente em que momento havia ido para a cama da mãe, mas estava deitada lá, a cabeça descansando confortavelmente sobre os travesseiros de pena de ganso.

Virou o rosto para a parede onde estava pendurado o relógio. Não estava conseguindo ver que horas eram, e a cada esforço que seus olhos faziam para tentar distinguir melhor as imagens, sua cabeça latejava mais ainda. Fechou os olhos com força enquanto massageava as têmporas, decidiu assumir que era tarde o suficiente para não dar mais tempo de ir à escola.

Quando voltou o rosto para o outro lado, a fim de olhar pela janela, foi que finalmente percebeu que ele estava lá. Sentado, ao lado dela, na grande cama de casal. Talvez não estivesse sentado e sim flutuando, pois seu corpo não fazia volume sobre a cama, ela não sentia o peso dele sentado ao seu lado.

Mas ele estava lá, imóvel, uma estátua celestial, sua pele prateada brilhava a luz do sol. Ele mantinha as pernas cruzadas, o corpo virado na direção de Mara e as mãos, com os dedos delicadamente entrelaçados, repousavam sobre suas pernas. Encarava a garota com um olhar sério.

Ela o olhou e sentiu a mágoa tomar conta de seus pensamentos, fechou os olhos novamente e tentou conter as lágrimas. Então, depois de um tempo que pareceu ser interminável e por mais que sua dor de cabeça lhe gritasse que continuasse deitada, ela levantou. Um movimento brusco ao levantar a fez pensar que sua cabeça explodiria ali mesmo, mas se recompôs rapidamente, e saiu do quarto sem dirigir mais nenhum olhar ao anjo, que por sua vez também não se manifestou, continuou imóvel e calado enquanto ela deixava o aposento.

Ao mesmo tempo em que revirava a gaveta da cozinha à procura de um remédio para a sua dor, Mara se lembrava da imagem de Michael sentado ao seu lado. Tão divino, tão... Perfeito. Mas ela ainda estava se sentindo muito magoada por ele não ter estado lá na hora em que ela mais precisava tê-lo visto. Não interessa se havia sido só um sonho. E se fosse verdade? E se estivesse de fato morrendo e ele não estivesse lá? Sentiu o corpo estremecer diante desse pensamento.

Quando finalmente encontrou o remédio, engoliu o comprimido com a ajuda de um copo de suco. Dirigia-se de volta para o quarto, mas parou na metade do corredor. Observava atentamente a porta do quarto da mãe e se perguntava se ao chegar lá ainda encontraria o anjo sentado na cama, da mesma maneira em que o deixara. Após pensar por alguns segundos, continuou a andar e entrou em seu próprio quarto.

Acordou novamente depois de uma hora, sentiu-se revigorada com aquele sono tranqüilo depois da péssima noite que tivera e sua cabeça não doía mais. Sentou-se lentamente e esfregou os olhos. Então ouviu um leve farfalhar.

Ele estava lá, de novo. Os braços cruzados e o ombro apoiado na soleira da porta, ainda carregando um semblante sério.

-Eu não gosto quando você age dessa maneira furtiva, sabia?

-Mara, o que você sonhou?

Ela abaixou a cabeça, desviando o olhar do dele. Por que ele estava perguntando aquilo?

-Mara...

-Não interessa! – ela respondeu agressivamente.

-Claro que interessa – ele rebateu com a voz serena – caso contrário eu não estaria aqui lhe perguntando.

-Se você estivesse interessado você teria estado lá comigo! – ela respondeu quase gritando.

Michael foi até ela e sentou-se ao seu lado. Mara chegou a levantar, mas ele a segurou pelos braços e a fez sentar novamente.

-Mara, por favor...

-Eu já disse, não vou falar!

-Eu não quero ter que tirar isso de você.

Ela alcançou o travesseiro e o acertou em cheio no rosto do anjo. Ele não se moveu, apenas tirou o travesseiro de cima de si e voltou a encará-la.

-Não vou falar- ela tornou a dizer.

De repente sentiu os braços de Michael em volta de seus ombros, que delicadamente a puxaram para um abraço. Mara corou, violentamente, até a raiz dos cabelos.

Por alguns minutos ela ficou abraçada a ele sem dizer palavra alguma, apenas se deixando envolver pelo calor e a tranqüilidade que emanavam dele. Sentiu uma das mãos de Michael soltar de seu ombro e em seguida o leve roçar dos dedos dele em sua bochecha e o polegar dele em seu queixo, fazendo-a erguer o rosto e encarar os olhos esbranquiçados do anjo. Ele fechou os olhos e suas testas se colaram.

Mara não fechou os olhos. Queria aproveitar aquele momento, não sabia quando o teria assim tão perto dela novamente. Ela o observava atentamente e tentava memorizar cada traço de seu rosto. Mas então se viu obrigada a rever aquelas imagens em sua mente, reviver aquele pesadelo era muito ruim para ela. E Mara voltou a sentir aquela mágoa, e agora estava com mais raiva de Michael por ele estar fazendo com que ela visse tudo aquilo novamente.

Quando tudo acabou, o anjo abriu os olhos novamente, e Mara viu uma sombra de tristeza neles.

-Mara, eu sinto muito...

Ela se afastou subitamente dele.

-Você me abandonou – ela falou ressentida.

-Você sabe que eu nunca faria isso.

-Mas você simplesmente fez!

-Escute-me, aquilo foi apenas um sonho, eu não te abandonaria daquela forma. Estou tentando te explicar o que aconteceu!

-Eu não quero saber! – disse ela infantilmente, tapando as orelhas com as mãos.

Michael agarrou os pulsos dela e a fez destampar os ouvidos.

-Mara, isso foi obra de um demônio!

Toda a agressividade dela se esvaiu em um instante. Michael havia soltado seus pulsos, mas ela ainda mantinha os braços erguidos. Foi então que se lembrou do cheiro estranho que havia sentido no quarto durante a noite anterior. Não pôde distinguir nada naquela hora, a princípio pensou que fosse apenas uma impressão, já que era bastante fraco, mas agora lembrava que realmente era enxofre, e aquilo fazia todo o sentido se realmente um demônio tivesse invadido seu quarto e manipulado seus sonhos.

Relacionado a esse fato, outro pensamento surgia em sua mente, fazendo com que sua agressividade em relação ao anjo voltasse. Mas dessa vez misturado com um sentimento triste.

-Então é verdade – ela disse levantando da cama e se afastando de Michael – Não era um sonho... Havia mesmo um demônio aqui e você... Você não estava aqui para me proteger, se ele realmente conseguiu fazer o que queria comigo.

Mara já estava chorando novamente quando voltou a olhar para o seu anjo da guarda, agora era ele que não a encarava mais.

Continuava sentado na cama, com a cabeça baixa, experimentando aquele sentimento de derrota. Ele sabia que ela tinha todos os motivos do mundo para estar ressentida, era sua função protegê-la de qualquer coisa, qualquer demônio, qualquer mal... Mas ele não havia conseguido, e agora ela estava sofrendo por um deslize dele. Queria dizer qualquer coisa para ela, mas não conseguia pensar em nada que não parecesse uma desculpa esfarrapada.

-Mara, ele... Eles eram muitos... Eu...

-Então essa é a sua desculpa? – Ela perguntou bruscamente.

Ele levantou, foi até ela e pousou as mãos sobre os ombros dela. Mara tentou recuar, mas ele a segurou com um pouco mais de força.

-Por favor, me escute. Já é suficiente para mim a dor de saber que falhei com você, me deixe pelo menos tentar amenizar a situação – como ela não se manifestou ele continuou a falar – eu ainda não sei direito o que aconteceu ontem à noite, foi tudo muito rápido. De repente eles estavam aqui aos montes, na sua janela, era você quem eles queriam. Eu não tive escolha, eu tive que ir lá e enfrentá-los... Foi uma batalha complicada e quando eu finalmente recebi ajuda já era tarde, ele já estava aqui, ao seu lado. E ele era forte, conseguiu esconder seu rastro de enxofre quase que por completo... A luta foi difícil, mas eu consegui derrotá-lo. Infelizmente o mal já estava feito.

-Você... Matou ele?

Ele acenou positivamente.

-E você lutou com ele, e... – e só naquele momento Mara se deu conta de que Michael havia lutado com um demônio realmente forte e tudo o que conseguia sentir naquele momento era a preocupação – Oh, meu Deus! Você está bem? Ele era muito forte, você deve ter se machucado muito! – ela passava as mãos pelo peito dele, procurando por algum ferimento que porventura ainda estivesse lá.

-Mara, eu estou ótimo – ele a tranqüilizou com um sorriso – está tudo bem agora.

-Mesmo? – ela perguntou ainda preocupada.

-Mesmo – ele respondeu, mas não sorria mais – Mas... eu preferia ter morrido, se isso impedisse dele chegar perto de você. Eu não sei o que eu faria se você morresse. Mara... Eu...

Ela ainda sentia as mãos de Michael em seus ombros, e podia jurar que ele a segurava de um modo diferente. Um sentimento, que não era medo ou tristeza a invadiu e ela sabia muito bem o que era aquilo. As mãos dela, sobre o peito dele, seguraram as vestes com mais força e ela se aproximou mais dele.

-Você...? – Mara se ergueu na ponta dos pés, ficando perigosamente mais perto do anjo.

Michael, agora, podia sentir o coração dela batendo, as batidas eram rápidas e descompassadas. Sabia o que ela queria ouvir, não deveria ter deixado as coisas chegarem àquele ponto.

-Eu... – E ele simplesmente não sabia o que dizer.

Os rostos estavam muito próximos agora.

Os lábios muito próximos...

Mas sabia qual era a coisa certa a ser feita, seus braços mecanicamente afastaram Mara de si.

-Mara, me desculpe, eu não deveria...

-Tudo bem – ela falou baixo enquanto o soltava também – Foi tudo culpa minha, eu também não tinha que ter feito aquilo – ela forçou um sorriso – que bom que você agiu corretamente.

Michael sentia, pelo tom das palavras dela, que ela estava prestes a chorar novamente. Preferiu não falar mais nada para não piorar a situação. Ficou apenas a observar Mara enquanto ela abria as cortinas e se jogava novamente na cama.

-Michael? – ela chamou baixinho.

-Sim?

-Quer saber uma coisa que eu odeio em você? – ela perguntou sem encará-lo, abraçada ao travesseiro.

-O quê?

-Você sempre faz a coisa certa.

E o quarto voltou a mergulhar no silêncio.

Mara havia decidido dormir novamente e Michael havia decidido ficar perto dela durante o resto do dia, velando seu sono. Mas quando a garota estava quase cochilando novamente o interfone gritou na cozinha.

Ela levantou em um pulo, muito assustada, chamando pelo nome de Ricardo.

-Não, não é ele. Não se preocupe – Michael respondeu olhando fixamente pela janela.

Mara fez uma careta, quem disse que ela estava preocupada com Ricardo? No momento ela estava mais preocupada, ou curiosa, com o quê, ou quem, Michael estava vendo pela janela. Então foi até lá solucionar o mistério.

-Mas o quê...! – Foi tudo que conseguiu falar ao ver o outro anjo que os observava do outro lado da janela.

Trocou de roupa e saiu correndo do quarto.

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Notas finais do capítulo

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E então? Muitas coisas acontecem nesse capítulo, né?
Bom... Por enquanto é só, e espero que vcs tenham gostado e que tenha valido a pena a espera

Bom... Como já dizia uma autora que eu gosto muito:
"A cada review que você não deixa, um autor morre!
Ajude este pobre autor a continuar vivendo e deixe seu review!
Comente nas histórias, isto incentiva os autores a continuarem escrevendo..."

beijos



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