Acordei e vi Caroline me olhando sorrindo.

- Você tá aqui - sorri.

- Eu disse que estaria - sorriu - Damon acabou de me ligar, vai chegar hoje a noite.

- Pensei que seu primo viesse só semana que vem.

- Também achei, mas ele antecipou sua viagem - bateu palminhas. Caroline amava seu primo, eles eram como unha e cutícula. Quando Damon foi embora pra Londres ela ficou semanas sem sair de casa - Acho que tá com saudades de você.

- Credo - fiz careta - Por mim ele ficaria lá pra sempre.

- Jamais - virou os olhos - Que bom que ele conseguiu a transferência, depois de três anos tentando.

- Sim, é difícil mesmo - suspirei - Ele vai morar com você?

- Vai, ele não queria mas eu fiz questão - assenti - Já tá dando o horário, vou no aeroporto - se levantou - Quer ir comigo? aproveite e dorme lá em casa.

- Tudo bem, só não sei se vou conseguir ficar bem.

- Vou estar com você, qualquer coisa é só apertar minha mão - sorrimos.

Tomei um banho e coloquei uma roupa simples já que não estava com animo pra nada. Não precisei arrumar minha mochila pois quando cheguei no quarto ela já estava pronta, Caroline com certeza. Avisei Stefan que iria dormir na casa de minha amiga ,ele não concordou no começo mas logo cedeu.

- Ele tá demorando demais - já estávamos no aeroporto e minha amiga está impaciente.

- Calma - suspirou alto e mexeu no celular - Ali ele - apontei e ela levantou pulando correndo em sua direção.

- Acho que alguém sentiu saudades - riu abraçando-a.

- Acha - seus olhos estavam cheios de lágrimas e eu só observava - Jamais.

- Sei - riu - Oi Elena.

- Oi - sorri.

- Você quer ir logo pra minha casa ou em algum outro lugar? - Caroline perguntou limpando as lágrimas, ainda abraçada com seu primo.

- Sim, dizem que aqui em Atlanta tem vários prostíbulos - falou - Conhece algum? - olhamos espantadas pra ele que começou a rir - Brincadeira, quero ir pra casa.

- E aí está meu primo, o mesmo de dez anos atrás.

Entramos no carro rumo a casa de Caroline. Logo quando minha amiga fez dezoito anos, decidiu morar sozinha. Liz e Bill nunca fora os melhores pais, o contrário disso. Liz é colunista da melhor e mais famosa revista de Virginia e Bill passa vinte e quatro horas se dedicando a profissão de médico cardíaco, com isso o trabalho pega toda a atenção e espaço que Caroline precisa. Quando Caroline decidiu a profissão que iria seguir, sua mãe ficou irada, chegou a quase bater nela. Tia Forbes queria que sua filha seguisse a mesma profissão que ela, não ser colunista, mas seguir o rumo da moda. Mas Caroline nunca foi dessas garotas fúteis e que só pensam em maquiagens e roupas como as filhas das amigas de sua mãe. Minha loira preferida vivia em um verdadeiro inferno em sua casa, nas primeiras semanas de aula. Sua mãe fazia a cabeça dela pra que largasse a faculdade de pscicologia, porém Car decidiu morar sozinha e assim nunca mais falou com sua mãe, já que a mesma não quer ver a filha.

Ela e Damon sempre foram muito apegados, como irmãos. Foi um momento muito difícil para Caroline quando seu primo foi pra Inglaterra. Ele terminou sua faculdade de design gráfico e conseguiu um estágio na empresa de seu irmão Elijah. E agora voltou com o objetivo de expandir a empresa aqui em Virginia, ou seja, será seu próprio chefe.

- Uau, sua casa é grande - Damon disse assim quando entramos.

- Sou espaçosa - riu - E digamos que não moro sozinha, Tyler sempre está aqui.

- Pensei que já tivessem terminados - revirou os olhos e eu bufei.

- Sua irmã não vai terminar com ele porque você chegou Damon - o jeito que ele pensa que o mundo gira ao redor dele me irrita.

- Estava até estranho você não ter implicado comigo ainda - sorriu de lado - E sim, não gosto desse Tyler.

- Você não gosta de nenhum dos meus namorados - Caroline riu - Estou com ele a três anos, e foi ele que me animou quando você foi embora.

- E agora eu sou o culpado desse namoro - ambas assentimos - Certo, não está mais aqui quem falou - levantou as mãos.

- Vou te mostrar seu quarto, deve estar cansado - minha amiga falou - Lena se quiser deitar, vai se  no meu quarto.

- Não, vou esperar aqui - falei - Te espero aqui pra gente assistir um filme, que tal?

- Ótimo - foi à vez de Damon - Vou só colocar as malas no quarto e venho assistir com vocês.

- Ok , vou te levar até lá.

Não sei por quanto tempo fiquei esperando até eles voltarem, pois fiquei nadando em meus pensamentos. E oque eu pensava era "contar para meus pais" "eles deveriam saber que a filha tem pouco tempo de vida" "como eles iriam reagir", é melhor deixar assim. Sem eles saberem de nada. Não deve ser fácil saber que a filha carrega a morte perto dela. Quero deixar eles longe de sofrimento.

 - Que filme vamos ver? – aquela voz doce e estrondosa de minha amiga ecoou pela sala.

- Um amor para recordar - falei e Caroline me olhou repreendendo.

- Não, vamos assistir Esposa de mentirinha - falou firme - Que tal?

- Pode ser - Damon se jogou no sofá - Adoro a Cameron Dias.

- Cameron Dias? - ri - Você não quis dizer Jennifer Aniston? - arqueei as sobrancelhas.

- Tanto faz - deu de ombros - As duas são deliciosamente gatas.

- Tarado - Caroline riu colocando o cd dentro do dvd - Vou colocar a pipoca no micro-ondas, esperem.

- Então, como está seu noivo? - Damon perguntou quando Caroline foi pra cozinha.

- Não estou mais noiva a uma semana - dei de ombros.

- Oque? Elena e Stefan o amor épico chegou ao fim? - Falou assustado - É realmente o fim do mundo - riu.

- Besta - fiz o mesmo - Não deu certo, não havia mais amor.

- Entendo.

- E você, namorando? - perguntei.

- Estava, terminei quando voltei pra cá - falou triste? Damon se apaixonar, isso sim é novidade.

- Como ela se chama?

- Ashley, ela era apenas um ano mais nova que eu.

- Se não me engano então ela tem vinte e três? - assentiu - Sinto muito por vocês.

- Digo o mesmo - sorriu de lado.

- Aqui a pipoca e a coca - Caroline chegou se jogando no sofá ao meu lado e Damon ria de sua prima no outro sofá - Vamos começar o filme.

E logo estávamos assistindo e rindo vendo o filme. Meu hobbie preferido era ler e assistir filmes. Eu e Stefan passávamos o final de semana inteiro assistindo filme juntos, isso até tinha virado rotina.

Enquanto riamos e assistíamos senti uma pontada  na barriga mas nem liguei. Depois olhei pra pipoca que estava em meu colo e senti algo subir em minha garganta. Tirei as pernas de Caroline que estavam em minha coxa e fui correndo ao banheiro. Me agachei no vaso sanitário e tudo oque estava preso em minha garganta saiu sem nenhuma dificuldade de lá.

- Oh minha amiga - senti Caroline segurando meu cabelo.

- Oque houve com ela? - Damon perguntou, com certeza estava encostado na porta.

- Nada, acho que foi o almoço que comeu - minha amiga sempre me apoiando.

- Tem certeza?

- Oque Damon, agora virou médico - Car ficou irritada. Ainda estava segurando meu cabelo enquanto já vomitava sangue - Damon pode sair, por favor? - ela tinha visto o sangue.

- Claro.

- Tudo bem? - a essa hora já tinha parado de vomitar, mas ainda fiquei na mesma posição.

- Acho que sim - me levantei e dei a descarga.

- Isso é normal?

- Acho que sim - repeti - Carol vou dormir, posso dormir com você? - não queria ficar sozinha.

- Claro - sorriu - Só vou avisar o Damon, já pode ir subindo.

Fiz oque Caroline me pediu e deitei na cama com a mesma roupa que estava, não tinha ânimo pra trocar. Lágrimas estão querendo descer de meus olhos. Oh Deus oque eu faço? Minha garganta arde e em minha boca sinto gosto de sangue. Estou tão perdida, tão fraca. Eu queria ser forte, é tudo oque mais quero. Mas não consigo. Estou chorando. Tudo oque eu mais quero é dormir, e é isso oque eu fiz.

- Elena

- Oque foi Caroline? - olhei para janela, mas ainda estava escuro. Porque ela me chamaria esse horário?

- Você está ardendo em febre e suando muito, vou ligar pro Stefan - agora que ela disse, senti meu cabelo grudado em meu rosto e a dor de cabeça insuportável.

- Não, não precisa chamar ele - tudo oque menos queria era perturbar ele - Eu só preciso dormir.

- Elena...

- Não Caroline, por favor me deixe dormir - fechei os olhos e ouvi ela suspirando.

Acordei um pouco melhor apenas sentindo uma dor na garganta devido à ontem. Mas quanto a febre já estava bem. Mesmo sabendo que logo menos ela iria voltar.

- Está melhor Elena? - Damon perguntou assim que me viu na cozinha e me serviu um café.

- Sim, devo ter comido alguma coisa estragada.

- Deve ter sido mesmo - assenti - Caroline foi trabalhar e pediu pra você me re-mostrar Virginia.

- Tudo bem - ri, só a Caroline mesmo - Podemos ir agora?

- Claro.

Caroline tinha deixado o carro para nós. Pedi a Damon para dirigir, tinha medo de passar mal e adiar minha morte e até mesmo a de Damon caso eu passe mal no volante.

- Você estava certa - estávamos na melhor sorveteria da cidade - O sorvete daqui é ótimo.

- Eu disse - ri chupando meu picolé de baunilha.

- Então, que faculdade está fazendo?

- Medicina pediatria - sorriu - Porém tranquei semana passada.

- Porque fez isso? - claro que eu iria trancar minha faculdade, estava doente. E pelo oque eu penso, estaria jogando os estudos já que seria um tempo perdido. Apesar da longa insistência de meu mais novo apenas amigo e minha melhor amiga para eu continuar, mas meu coração dizia que isso não era pra mim, não atualmente.

- Queria um tempo pra pensar oque eu quero mesmo - inventei uma desculpa. É claro que eu estava convicta da profissão que eu queria seguir. Mas não iria dizer a verdade.

- Então vai ficar parada? - já tínhamos terminado de tomar nosso sorvete.

- Até então sim - pensei - Mas preciso de um emprego - ri tímida.

- Quer ser minha secretária na Salvatore's Designer? - ele estava falando sério? Arqueei as sobrancelhas - Eu to falando sério, você aceita?

- Mas você já não tem? - perguntei, não queria tirar o emprego de outra.

- Ainda não, iria entrevistar uma amanhã.

- Mas Damon - suspirei - Eu nunca trabalhei de secretária e não tenho experiência.

- Então você não quer? - sorriu de lado, metido.

- Claro que quero - gritei - Só estou dizendo que não sei nada sobre designer.

- Você não precisa saber sobre nada disso - riu - Vai ser só minha secretária.

- Tudo bem - suspirei e ele falou um "eba" baixo - Mas com uma condição.

- Sabia - gemeu - Qual? - ri de sua frustração.

- Não quero usar roupas que nem de advogadas ricas - levanto as sobrancelhas em dúvida - Sabe, terninho e roupas sociais.

- Por mim - pensou - Tudo bem - bati palminhas - Argh será que se eu ficar morando com a Caroline vou pegar essa mania chata de bater palmas que nem uma foca? - riu e eu taquei meu guardanapo sujo em cima dele - Eca, nojenta.

- Cala boca e vamos logo – o ouvi resmungar, mas dei de ombros indo em direção do carro.

Pela primeira vez consegui gostar um pouco do Damon. Apesar do seu jeito sarcástico e palhaço, ele sabia me fazer esquecer meus problemas. Mesmo com o cansaço e fraqueza que eu sentia ultimamente.

Já estava na hora do almoço então fomos ao restaurante japonês que tinha duas quadras depois da sorveteria. Claro que eu não iria comer nada, não queria estragar nosso passeio vomitando. Optei apenas por um suco de graviola.

- Tem certeza que não vai comer nada? – perguntou preocupado.

- Não – neguei – Meus estomago ainda está ruim, estou bem só com meu suco.

- Tudo bem – riu – Enquanto isso me veja comer esse delicioso sushi.

- Bom proveito – ri fazendo careta – Odeio sushi, eca.

- Sério? – assenti – Não sabe oque está perdendo – negou com a cabeça de uma forma que estivesse me repreendendo por tal “crime”.

- Graças a Deus – ri tomando meu suco – Então, como estava lá em Londres?

- Perfeito – sorriu se lembrando de algo – Lá era maravilhoso, e nossa empresa lá era uma das melhores do País.

- E porque voltou? – perguntei curiosa – Afinal, você tinha uma vida lá, uma namorada.

- Noiva na verdade – me corrigiu – Ela fez algo que eu nunca vou perdoar algo que um ser humano não faria.

- Pelo modo que fala, parece que ela matou alguém.

- Mais ou menos isso – falou com amargura e eu arregalei os olhos – Ela abortou um filho, nosso.

- Oque? – como um ser humano teria coragem de fazer tamanha burrice como essa? Tirar uma vida de um ser tão inocente.

- Pelo oque ela disse, ela era muito nova pra formar uma família. Pra ter noção, nem sabia que ela estava grávida. Ela me contou quando abortou, porque saberia que eu iria impedi-la.

- Ai você terminou com ela e pediu pro seu irmão pra abrir uma empresa aqui e você tomaria conta? – tentei adivinhar.

- Não – limpou sua boca com o guardanapo – Elijah já tinha feito essa proposta pra mim. Eu tinha negado, não queria ficar longe de Ash. Mas depois de tudo isso oque aconteceu, voltei a trás e aceitei.

- Entendi – queria encerrar esse assunto, fazia mal a ele – Que bom que veio, agora tenho um emprego – ri sapeca.

- Oh claro – riu – Sorte a sua.

Depois de almoçarmos fomos há alguns pontos turísticos de Virginia. Estava sendo ótimo esse passeio, estava sendo ótimo estar com Damon. Pela primeira vez depois de minha quimioterapia consegui me sentir livre, feliz. No restaurante encostei sem querer na mão de Damon e senti um arrepio. Não que eu esteja o amando, mas é estranho sentir isso por alguém que não é o Stefan. Eu só tive um namorado em toda a minha vida, meu ex-noivo foi o meu primeiro em tudo.

Eu sempre tive uma quedinha pelo Damon, por isso implicava tanto com ele. Mas agora, depois de tanto tempo isso possa estar voltando à tona. Ou seja, apenas uma atração de homem e mulher. Ainda tenho medo das reações que isso causa em meu corpo. Além do mais, Damon ainda amava Ashley. E talvez como disse, isso pode ter sido apenas uma atração.

- Que tal comermos um lanche e depois voltarmos pra casa? – já estava ficando escuro e ele já estava preocupado comigo, afinal não tinha colocado nada no estomago.

- Damon, come você eu não quero.

- Nada disso – negou – Coma então apenas um misto quente, por favor – olhou-me pidão.

- Tudo bem – dei-me por vencida.

Fomos a uma lanchonete perto da casa de Caroline mesmo. Comi o misto quente como se não houvesse amanhã, estava com muita fome. Damon riu da forma que eu comia, mas não deixou de brigar comigo por ter mentido pra ele dizendo que estava sem fome. Depois que terminamos de comer pedi pra ele me deixar em casa já que Stefan deveria estar muito preocupado comigo, já que não tinha lhe avisado.

- Obrigada por sua companhia – Damon disse assim que parou o carro em frente ao prédio que eu morava.

- Não foi nada, sempre que puder pode me chamar – ri e ele ficou sério.

- Então já que é assim, quer ir almoçar comigo amanhã? – falou mais pra si do que pra mim.

- Claro – oh não, porque me dei por empolgada?

- E depois vamos a empresa – sorriu – Você ainda não vai começar amanhã, é mais para conhecer.

- Então você será meu guia turístico na Salvatore’s? – riu alto.

- Como quiser se prefere chamar desta forma – deu de ombros – Amanhã venho te pegar as onze.

- Tudo bem – sorri – Até amanhã.