Roleta Russa escrita por Julieta


Capítulo 3
Capítulo 3 - Final




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Capítulo 3

  Silencio puro e absoluto, pensamentos confusos e respirações compassadas. Em um tribunal isso seria considerado algo bom? Isso era algo que eu não tinha a mínima ideia, ou suposição. Sempre tive medo do silêncio, não foi algum trauma de infância ou algo que pudesse me marcar, apenas me sentia confusa e sozinha no silêncio, por isso minha companhia sempre foi a musica. Qualquer som me conforta, um ritmo, um comercial, uma conversa, barulho do vento, da chuva... Qualquer coisa, no silêncio me sufoca, me sinto perdida e sozinha. E naquele momento eu realmente estava sozinha, todos lá estavam param me julgar me declarando culpada por coisas que não cometi, e todas as testemunhas do lugar não podem provar, por além de uma estar morta, os outros todos chamam de mentiroso.

  Claro que chamariam de mentirosos, afirmando que só queriam atenção, o casalzinho da escola só que aparecer na televisão e jornais. Não! As pessoas não entendem, elas não estavam lá, elas não viram nenhuma testemunha, estava escuro e ninguém vai acreditar sem as provas. Do que mais as palavras valem nesse mundo? O que houve com o ditado: “promessa são dívidas”. Elas são quebradas todos os dias, então por que continuar a prometer? Por que eu estou em um tribunal sentado na cadeira das testemunhas testemunhando sobre o que eu presenciei? Por que se ninguém vai acreditar, ou simplesmente ouvir?

 Abaixei minha cabeça respirando fundo, agradeci por escutar barulhos agora por mais desagradáveis que sejam, me confortavam. Sequei as lágrimas que começavam a se acumular no horizonte dos meus olhos. Olhei para cima, a luz ofuscava minha visão encharcada e embaçada. Meu peito doía a cada respiração compassada que era preciso calcular, cada lufada de ar que entrava e saia dos meus pulmões era calculada meticulosamente, igual as testemunhas do meu depoimento. O martelo do juiz soou.

 - O tempo para decidir o veredicto acabou.

 Uma mulher andou em direção ao juiz, de terno feminino azul escuro risca a giz, um sapato caro e cabelo preso em um coque bem feito. Ao se aproximar do juiz, sussurrou algo a ele, tinha medo do que poderia ter sido. 

 Admito que morria de medo de saber o que a mulher disse, eram questão de segundos e eu choraria, talvez por alegria, talvez de tristeza. Era o momento, o veredicto foi decidido, meu futuro ainda era incerto, mas apenas por mais alguns poucos segundos. Ao pensar isso, meu estomago embrulhou e uma tontura me atingiu, tudo estava confuso e rodando, não havia comido nada desde o dia anterior.

 Senti mãos grandes em meus braços, presumi que não era Riley, eu reconheceria o toque e arrepiaria na hora. Fui puxada e cai da cadeira que estava sentada, meu estomago revirou ainda mais, como um monstro com fome, senti a veia em minha cabeça pulsando, imaginei o sangue correndo e isso piorou o enjoo. Não suportava ver sangue.

 Os barulhos em volta eram altos, como uma gritaria depois que algum time ganha o jogo do ano. Os braços me puxavam pra cima, e algo gelado e duro impedia o movimento das minhas mãos. Mais uma vez senti o sangue. Ajoelhei-me ainda tonta e vomitei violentamente, minha respiração estava ofegante, tossi três vezes tentando livrar minha boca daquele gosto horrível de bile, meu estomago estava vazio, e doía.

 Senti algo limpando minha boca, parecia um pedaço de papel, levantei meus olhos e vi policiais. Então... o que a mulher disse e eu estava passando mal para ouvir, era aquela palavra que eu tinha tanto medo? A palavra que a partir do momento ficou rodando na minha cabeça.

Culpado...

E você pode ver meu coração batendo

Você pode ver através do meu peito

Estou apavorada, mas eu não vou desistir

Eu sei que tenho que passar por este teste

Então, basta puxar o gatilho

 Ainda tonta, mas o desespero era maior que qualquer outro sintoma. Onde estava Riley? O que iriam fazer com ele?! O policial ainda me puxava. Arregalei os olhos. Eu não podia ir! Tinha que saber de Riley!

 Me debati com brutalidade saindo das mãos do policial e corri, ele gritou meu nome e correu atrás de mim. Olhei para os lados procurando Riley.

 - Riley! – grite.

 Vi outro tumulto de policiais, era em volta dele! Corre na direção e meu namorado fez o mesmo. Ele estava sem algemas então pode me abraçara. Lágrimas de alegria rolaram pelo meu rosto, era tão bom sentir o toque novamente, ouvir sua voz e sentir sua respiração no meu pescoço.

 - Você está bem? – minhas palavras saíram cortadas pelo meu soluço de desespero.

 Ele acariciou meu rosto.

 - Estou, mas precisamos sair daqui!

 Ele agarrou meu braço e correu me puxando junto com certa brutalidade, mas o perdoei mentalmente, eu sei que a situação exigia tal ato, e talvez até pior. Forcei minhas pernas doloridas a correr o máximo que podia, era difícil controlá-las, já que ainda estava enjoada pelo nervosismo e tudo rodava, já que pela corrida era impossível visualizar algo concreto e com completa nitidez. Pulamos os bancos de madeira escura esculpida a mão detalhe por detalhe e saímos do tribunal. Policiais perderam a formalidade, estavam correndo atrás de nós dois. Meu pulmão enfrentava uma dor aguda e minha respiração se descontrolava.

 - Riley, não da... eu não aguento, eu vou desmaiar! – sussurrei, mas audível o suficiente para ele ouvir.

 Ele me puxou até atrás de uma fazenda local, era amarela típica de filmes, tinha um aspecto aconchegante, lugar exato para deitar numa rede e esquecer-se do mundo a sua volta. E isso era exatamente o que eu queria fazer, esquecer tudo e ficar abraçada com Riley, dormir ali, com ele fazendo cafuné na minha nuca e enrolando os dedos no meu cabelo, era a sensação que eu mais amava no mundo.

 Riley me fez sentar no colo dele, olhei em volta, era um galinheiro pequeno, havia poucas galinhas ali, e todas estavam dormindo. O silencio era completo, agradeci mentalmente. Senti o carinho na minha nuca e sorri. Finalmente paz.

 - Você está bem?

 - Sim, agora eu estou, sempre estou bem com você – olhei em seus olhos.

Ele sorriu de volta corando um pouco, era lindo de ver.

 - Abram a porta! É a polícia!

 A paz acabou depois daquela voz, tinham nos encontrado. Olhei para os lados, não tinha saída. O galinheiro só tinha uma porta, e esta estava bloqueada. Tremi de medo.

 - Shh, não tema – Riley disse para mim. – Vai ficar tudo bem, eles só vão nos levar, vamos nos ver novamente, não importa como, não importa onde. É uma promessa.

 Derramei uma lagrimas.

 - Promessa tem que serem cumpridas, você vai me esperar? Não importa onde seja? – perguntei soluçando.

 Antes da resposta de Riley, os policiais invadiram o galinheiro, eram muitos, contei rapidamente os homens fardados, sete policiais atrás de nós, com as armas apontadas para nós, planejando qualquer reação e atirar.

E você pode ver meu coração batendo

Você pode ver através do meu peito

Estou apavorada, mas eu não vou desistir

Eu sei que tenho que passar este teste

Então, basta puxar o gatilho

 - Sim, eu prometo, eu te amo Aline.

 E assim me beijou, singelamente. E um barulho estourou em meus ouvidos, era alto e inesperado. A dor em minhas costas veio logo depois, uma dor aguda, eu não conseguia respirar. O sangue de Riley manchava minha camiseta. Eles comprovaram o ditado, matar dois coelhos com uma pedrada só. Feriram dois amantes com um tiro só.

 - Eu também... Te amo Riley...

 Fechei os olhos esperando a escuridão me tomar e levar com ela a dor embora, mas não fechei antes de ver o sorriso do Riley e depois seus olhos ficarem vazios, que em alguns segundos, os meus também. E a escuridão me tomou.

“Riley, você prometeu que me encontraria e ficaríamos juntos. Então, te espero do outro lado, para sempre sua... Aline”

Fim


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