Nárnia - Um Conto De Terror escrita por Bengie Narnians


Capítulo 1
Parte 1 - Olhos Vermelhos


Notas iniciais do capítulo

Era pra ser uma oneshot, mas acabei dividindo em alguns capítulos. Se gostarem eu continuo postando... Beijos Espero reviews



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O teatro costumava ser a grande atração do nosso povoado. Todos os sábados, os pais levavam seus filhos para ouvir as estórias contadas pelo senhor Carpenter, homem solitário, que teria perdido sua esposa quando a mesma deu a luz ao seu primeiro herdeiro. Suas palavras tinham o poder de prender não somente a atenção das crianças, mas também a de alguns adultos, que ficavam encantados com suas fabulosas estórias. Eu era uma menina quando ouvi minha primeira estória, e sentado ao meu lado, lá estava ele, aquele menino de cabelos castanhos que tocavam os ombros, com seus olhos azuis curiosos, usando um terninho escuro, e botinas marrons. Aquele era o filho do senhor Carpenter, o menino que mais tarde, quando adulto viria a se tornar meu noivo. No mesmo ano que completei dezoito anos, o velho senhor Carpenter veio a falecer por culpa de uma terrível doença, levando assim consigo todas as suas fabulosas estórias.

Mas o teatro não poderia morrer com o senhor Carpenter, então naquela noite eu decidi ir até lá, e ver se encontrava algumas de suas estórias escondidas nas estantes do porão do teatro. Ao atravessar o palco, a barra do meu vestido prendeu em uma fissura. Tentei puxar com cuidado para não rasgar minha roupa que era nova, então me coloquei de joelhos sobre a madeira e percebi que a mesma estava solta. Afastei-a e encontrei uma pequena caixa escondida embaixo dela. Abri-a e dentro dela havia uma espécie de moeda de mais ou menos dez centímetros de diâmetro. Havia um tipo de símbolo desenhado nos dois lados da mesma, que muito lembrava um olho. Curiosa eu segurei em minhas mãos, e senti como se alguém estivesse falando comigo, então voltei meus olhos para o fundo do palco.

– Senhor Carpenter? –sim se parecia muito com a voz dele.

Aquela voz suave pareceu querer me conduzir a algum lugar. Então eu segui até os fundos do palco, e desci a escada de madeira que me levou até o porão do teatro. Ao abrir a porta que ringia, eu notei que uma luz forte provia de trás de uma velha estante. Andei até ela e a arrastei com minha pouca força, vendo na parede de trás o mesmo símbolo que encontrei naquela moeda que eu carregava. Mais uma vez tomada pela curiosidade eu tomei a moeda em mãos, e encaixei-a na parede. A luz forte tomou conta do lugar me envolvendo nela por inteira...


...


Acordei em uma mata escura e fria, onde eu só conseguia enxergar a aproximados três metros a minha frente, o resto era só escuridão.

– Tem alguém ai? –gritei olhando ao redor.

Sem resposta eu me levantei e sacudi meu vestido para me livrar das folhas secas presas nele. Comecei a andar por entre as arvores, de troncos negros logo percebendo que não estava em casa. Notei também que ao longo de todo o caminho, olhos amarelos brilhantes me seguiam do topo das árvores, e o canto de inúmeras corujas me acompanhava. Era um canto assustador, e incomum. Continuei seguindo em frente, mesmo sentindo um arrepio se apossar do meu corpo inteiro. Abracei meus próprios braços, e continuei andando até que encontrei alguém coberto por uma capa escura, acendendo uma lamparina no meio do nada.

– Hey? –me manifestei. – Pode me ajudar? Eu acho que estou perdida... –me aproximei.

Quando cheguei mais perto, aquele que acendia a lamparina se virou bruscamente para mim, e grunhiu entre dentes, me fazendo retroceder alguns passos. Seus olhos eram vermelhos, e ele tinha dentes enormes e pontudos. Não era muito diferente de um homem, exceto pelas garras afiadas que substituíam seus dedos, e por aqueles olhos bizarros, e seus dentes terríveis.

– Por favor, não me machuque... –disse eu tentando me afastar.

Ele se aproximou mais, e rapidamente logo segurando meu queixo com suas garras e apertando minhas bochechas. Tal homem, ou criatura me encarou com seus olhos demoníacos, e aproximou seu rosto do meu levando suas narinas até meus cabelos que estavam soltos. Ele os cheirou como se quisesse farejar algo, então senti a ponta de seu nariz gelado tocar meu pescoço.

– Hum! –ele resmungou ao meu ouvido. – Humana! –disse com sua voz estridente. – Interessante!

– Quem é você? –perguntei apavorada.

– Não é quem eu sou! –ele me encarou. – Mas o que eu sou! –ele sorriu com aqueles dentes medonhos.

– O que você é? –encarei seus olhos.

– Um demônio... –ele riu assustadoramente. – E você, é minha ovelhinha indefesa...

Ele escancarou sua boca, enquanto ria e apertava meu rosto. Depois me puxou para si, e virou parcialmente minha face para um dos lados, logo abrindo mais a boca e preparando-se para morder minha jugular. Apertei meus olhos enquanto morria de medo, e começava a chorar e implorar por minha vida.

– Por favor, não... –eu dizia.

– Fique quieta... –ele apertou mais meu rosto. – Se resistir será pior...

Senti sua língua lamber meu pescoço, e ela era fria e áspera. Arrepiei-me inteira, enquanto apertava meus dedos em sua capa negra. Então finalmente ele cravou seus dentes afiados em minha pele, logo dando inicio a uma sucção que me deixou parcialmente paralisada. Revirei meus olhos, sentindo um misto de dor e prazer, enquanto ele se alimentava do meu sangue. Então quando estava fraca, e quase desacordada senti algo nos arrebatar contra o chão. Caí sobre a grama fria, e úmida sem conseguir me mexer, apenas meus olhos que mal paravam abertos, puderam ver a criatura atirada no chão a poucos metros de mim, usando suas garras para se proteger de um lobo feroz que o atacara. Ambos batalharam um contra o outro, até que a criatura ficasse de pé e encarasse o lobo de pelo marrom, logo em seguida se virando e correndo rumo mata adentro. Ouvi tal lobo uivar erguendo o focinho para o alto, e depois andar devagar em minha direção. Antes de apagar por completo, pude ver seus olhos negros me encarando mais de perto...


...


Acordei me sentindo um pouco fraca, e tonta em uma cama não muito confortável, de uma cabana pequena de madeira. Levantei e toquei meu pescoço, sentindo um pano ao redor dele. Depois caminhei rumo a porta, coberta por uma cortina grossa de pano branco, e a afastei logo invadindo uma sala escura, e vazia. Somente uma lareira acesa iluminava o cômodo. Caminhei até uma poltrona de bambu, e olhei tudo ao redor, sem reconhecer tal lugar.

– Que bom que acordou. –disse uma voz vinda atrás de mim.

– Onde estou? –me virei encarando aquele desconhecido de cabelos curtos e barba por fazer.

– Na minha cabana... –disse ele logo largando uma pilha de madeira ao lado da lareira. – Está segura aqui. –disse ficando ereto.

– Quem é você?

– Meu nome é Caspian... Mas pode me chamar como quiser... –disse se aproximando.

– Meu nome é Lucia. –eu disse. – Mas pode me chamar de Lucia.

– Você não é daqui não é? –disse passando por mim enquanto me encarava.

– Creio que não... Que lugar é este?

– Antigamente chamávamos de Nárnia... –ele andou até um fogão a lenha. – Hoje... Não sabemos... –ele serviu uma bebida quente em uma caneca e andou até mim. – Beba... Vai se sentir melhor.

– Você viu o que me atacou? –disse segurando a caneca.

– Vi.

– O que era?

– Um vampiro... –ele desviou e sentou-se em uma das poltronas em frente à fogueira.

– Vampiro? –me aproximei.

– Sim. Alimenta-se de sangue... –ele ergueu seus olhos castanhos escuros na minha direção.

– Também tinha um... Lobo. Acho que ele me salvou... –me senti um pouco confusa.

– Então você teve sorte! –disse sorrindo. – Por que os lobos daqui são tão perigosos quanto os vampiros...

– Como faço pra voltar pra casa?

– Eu não sei... –ele disse se levantando. – Mas você não deveria estar aqui... –disse passando por mim. – Esse lugar é perigoso pra uma humana como você... Logo os boatos sobre sua presença se espalharão, e... –ele parou diante da porta e me olhou. – Eles virão atrás de você.

– Eles?

– Vampiros como aquele...

– Existem outros como ele?

– Sim... Muitos mais. Eu ficaria na cabana se fosse você... Pelo menos até eu encontrar um jeito de te mandar de volta pra casa. –disse e passou pela cortina.

Deixei a caneca sobre a lareira e encarei o fogo, sentindo uma sensação terrível por dentro. Aquele frio na barriga se apossou de mim, então escorei minha mão sobre a pedra escura da lareira e fechei os olhos sentindo uma fisgada no meu pescoço. Assim que fechei meus olhos, vi diante de mim aquela criatura assustadora e seus dentes afiados rindo pra mim. Era como se eu estivesse dormindo em pé, então acordei com um grito, e senti as mãos de Caspian ao redor da minha cintura.

– Você está bem? –disse ele.

– Não...

– É melhor voltar pra cama. Vamos... Ainda está fraca.

Dito isso, ele passou meu braço ao redor do seu pescoço e me levou de volta para a cama. Ele me ajudou a me deitar sobre ela, e depois me cobriu com um lençol grosso. Fechei meus olhos e adormeci mais uma vez...


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Notas finais do capítulo

Mereço reviews? Devo continuar?