Eram duas horas da tarde, ou assim lhe pareceu, pois o local estava muito mais calmo do que de costume. Claro, em todas as missões essas pessoas gostavam de voltar para suas casas em pleno Sábado e aproveitar o tempo que lhes resta.

Ele pensa se poderia fazer isso. Mas não, daí seria desistir da única pessoa que mesmo rabugenta e irritante... Ele ama. Ironia seria pensar que Kanda não sabia. Pelo jeito nem fazia ideia. E nem podia corresponder.

E eram essas únicas palavras que podiam o deixar para baixo em qualquer lugar que estivesse. Até mesmo estando ao lado dele, era ruim. Oras, aturar desaforos daquele rapaz era pedir pela morte. Mas ele ria, é, ele ria internamente por ter uma hipótese: O moreno apenas era daquele jeito por não conseguir corresponder uma amizade. Quantas outras milhões de pessoas são assim?

Há quem diga que Malfoy odeia Harry por isso, mas seria diferente, eles são inimigos, nada pode mudar. Mas e Kanda e Lavi? Poderiam...? Não. Ele sabia que não, mesmo que adorasse irritar o outro, este não poderia correspondê-lo.

Mas voltando à cidadezinha... É, esqueci de dizer que todas as Innocence’s adoravam se esconder em pequenas cidades, onde talvez nunca poderiam ser encontradas. Mas daí vem os exorcistas, com suas arminhas anti-akumas para salvar a terra. É sempre assim. O mais assustador era se atrapalhar e cair numa armadilha e/ou a innocence já achou seu compatível.

Ironia era estarem naquela missão, apenas esperando a tarde seguinte. É, poderiam muito bem voltar à Ordem hoje, se segundo Kanda ele não tivesse se metido onde não devia e ter quase perdido um olho. Ele foi irônico, na verdade, ele fraturou a perna. Perdeu sangue blábláblá, essas coisas. Ele alegou estar perfeitamente bem de manhã, mas o moreno o fuzilou com os olhos e preferiu ficar calado.

- Kanda? - Gritou, fitando a porta do quarto.

Ouviu um barulho, era como se alguém estivesse caindo. Riu. Pensou se deveria estar no local e ver como o outro havia caído, poderia até vender na internet. Não, daí sim ele perderia o olho que lhe sobrara.

A porta bateu na parede, era o moreno exaltado. Seu cabelo não estava nada bem.

- Brigou com a chapinha, foi? – Perguntou Lavi, entre gargalhadas.

- Idiota. – Resmungou. – O que você quer? – Perguntou, levantando uma sobrancelha. Para pessoas que não o conhecem, achariam que ele estaria considerando algo, mas estava era duplamente irritado.

- Meu travesseiro. – Deu um sorriso travesso. – Não quer subir. – Fez um falso biquinho.

Kanda revirou os olhos, irritado e se aproximou de Lavi.

- Não sei pra que me chamou, você não tá aleijado. – Disse Kanda, naquela mesma expressão, mas mesmo assim subindo a almofada do outro e se virando rapidamente, sem olhar nos olhos de Lavi. Ou no olho. Mas daí não daria a mesma sensação de olhos. Sim, fica mais poético. Continuando...

- No momento estou e... – Segurou o braço de Kanda, impedindo este de se mover.

- O que mais? – Rangeu os dentes, quase se controlando para não cortar o ruivo em pedaços.

- Eu... Quero... – Começou, mas se calou quando o moreno levantou uma sobrancelha.

- Você não quer nada, você vai levantar e pegar o que você quiser. – Bufou, fazendo força e conseguindo se soltar do ruivo. Que, antes de falar, riu maliciosamente.

- Não se arrependa depois. – Disse num sussurro, fazendo força para se levantar.

Kanda podia jurar que ouviu aquilo, mas, não, ele andava a muito ouvindo vozes. É, era isso. Certo, a curiosidade era maior, tanto que se virou para perguntar.

- O qu... – Mas não pôde continuar, o ruivo já estava de pé e o puxou pela cintura, com um olhar calmo e um sorriso sedutor. Kanda estremeceu. – Você é louco? – Perguntou, tentando disfarçar seu rubor com uma arrogância única. Lavi teve vontade de rir, mas ao invés disso selou seus lábios com os dele, não de um modo doce, não, não combinaria com ele, fora de um modo selvagem, mas intenso.

O moreno não relutou, apenas relaxou nos braços do ruivo, colocando suas mãos em seu rosto. Romperam o beijo quando o ar lhes faltaram, mas as mãos de Kanda continuaram ali. Se olharam por um segundo, e o moreno sabia que seu rosto estava da cor do cabelo de Lavi, então sorriu envergonhado.

Num ato automático, Lavi depositou um beijo na testa do moreno. Foi estranho, ele não planejara isso, mas queria mais. E então se inclinou para tocar novamente aqueles lábios, numa forma mais calma e carinhosa. Tão doce. Mas então precisaram de ar, suas bocas se romperam e um sorriso travesso repassou pelos lábios dos dois.

Lavi inclinou seu rosto, de modo que sua boca estivesse respirando levemente descompassada na orelha do moreno, e então sussurrou:

- Eu te amo. – Sorriu, dizendo o que realmente queria a tanto tempo.

Mas ele não esperava uma resposta do moreno.

- Eu também te amo. – Disse, envergonhado, mas dando graças pelo ruivo não o estar encarando nos olhos. Seu rosto estava pegando fogo.

Porque seus corações começaram a bater tão rápido? Ou o de Lavi, ou de Kanda... Não sabiam. Só sabiam que provavelmente no dia seguinte, Kanda fingiria esquecer e tornar a tratá-lo daquele modo habitual.

Mas daí, Lavi iria lembrá-lo do que acontecera naquele dia, às duas horas da tarde.