–- Não consigo dormir. – Disse dando um sorriso de canto e voltando o olhar para as estrelas.

–- Porque não? – Ele pergunta, sinto-o buscando meu olhar.

–- Pesadelos. – Respondo, fechando os olhos, em um suspiro, tentando afasta-lo de mim mentalmente, sabendo que eu era incapaz disso. Eu não queria, não mesmo, mas eu sentia que aquele sonho se tornaria mais real a cada minuto que ele continuasse ao meu lado, deste jeito. Meus olhos marejavam só de pensar em afasta-lo, mas todos temos um sacrifício a fazer.

–- Liah. – Ele diz em um suspiro. – São apenas sonhos. – Sinto o toque quente em meu rosto frio por causa do vento gelado. – Eu nunca vou deixar nada acontecer a você. – Abro os olhos e sorrio levemente.

–- É talvez você tenha razão. – Disse tentando tranquilizar, tanto a ele quanto a mim, mesmo não acreditando muito na teoria. Acariciei seu rosto e ele fechou os olhos. – Acho melhor voltarmos, alguém pode notar nossa falta.

–- A esta hora da noite? – Ele perguntou sarcástico.

–- Eu divido o quarto com Lu e você com o meu irmão. – A palavra Irmão ainda era habituável para mim. – E não se sabe o que pode acontecer, nunca se sabe quanto tempo temos. – Suspiro, cansada. – e também estou aqui a mais tempo que você, pensei demais para uma noite.

–- Tudo bem. Vou te levar de volta.

–- Não precisa. – Digo rápido demais. – Fique aqui e verifique todos, se estão cansados. Eu posso encontrar o caminho de volta sozinha. – Dou um beijo rápido em sua bochecha e salto da árvore, sem esperar uma resposta, e corro de volta para o castelo.

No dia seguinte, acordei com a luz do sol batendo no meu rosto e o canto dos passarinhos na janela. Abro os olhos e procuro por Lucia, mas não a encontro. Coloco o colete, calço a bota, escovo o cabelo e refaço a trança. Ouço batidas na porta.

–- Pode entrar. – Digo e logo a porta é aberta com Suzana entrando no quarto.

–- Olá Liah. – Diz ela sorrindo gentilmente.

–- Oi Suzana. – Responde sorrindo também, por educação. Não que eu não gostasse de Suzana só estava um pouco preocupada para ser simpática. – Tudo bem? – Perguntei receosa.

–- Na verdade, não. – Ela responde dando um longo suspiro cansado. Esse único e longo suspiro me fez ver sua tristeza, me sentei ao lado dela, por instinto, afagando suas costas.

–- Em que eu posso ajudar Suzana?

–- Na verdade estou preocupada com duas coisas. – Esperei que ela prosseguisse. –n Não quero continuar brigada com Lucia, sempre fomos tão próximas. Quero minha irmãzinha de volta. – Ela me olhou, esperando que eu dissesse algo. Analisei a questão por um segundo. Lucia e Suzana estavam brigadas por causa de uma única pessoa, meu irmão, pelo amor dele, nenhuma das duas quer desistir, mas Caspian já fez sua escolha e era obvio para todos nós menos para essas duas.

–- Su – Suspirei tão cansada quanto ela. Fechei os olhos, para não ver a dor em seu rosto quanto disse a ela a verdade. – Acho que deve fazer as pazes com sua irmã, afinal Caspian já fez sua escolha. – Senti esperança emanar do corpo dele, lá do fundo. – E sinto lhe dizer que não é você.

–- Acho que já sabia disso. – Ela respondeu depois de alguns minutos em silencio, abro os olhos e vejo um sorriso fraco.

–- E a outra coisa? – Perguntei mais querendo mudar de assunto do que realmente interessada.

–- Eu realmente estou preocupada com o fato de toda nossa volta. – Ela viu a duvida estampada em meu rosto. – Bom não a sua volta, afinal você realmente pertence a este lugar, mas a minha e a de meus irmãos, não era para voltarmos, só Eustáquio poderia voltar. – Agora estava claro o que ela queria dizer.

Todos os dias antes do baile, que eu não estava com Lu em cair parável, eu estava na biblioteca estudando a historia de Narnia. Os quatro tronos foram ocupados, depois de Jades, e aqueles que o ocuparam, filhos de Adão e de Eva, não deveriam voltar, pois não pertencia a este mundo, a não ser quando a profecia desconhecida estivesse prestes a se cumprir. Isso significava que todo este mundo estava em perigo. Arfei como se tivesse prendido a respiração a varias horas quando foram apenas segundos. Algo realmente grande estava por vir e o pior é que não sabíamos o que era.

–- O que foi Liah? Você sabe de alguma coisa? – Perguntou Suzana sacudindo gentilmente o meu ombro. Fechei os olhos e procurei acalmar a minha voz.

–- Não foi nada. – Menti, esperando que ela não notasse a nota falsa em minha voz. – Você deve ter razão quanto a isso, mas não sabemos de nada ainda. Acho melhor você ir conversar com Lu agora e deixar isso um pouco de lado. – Sorrio, ela assente, agradece e sai. Assim que ela fecha a porta corro para a minha mochila.

Naquele meio tempo que estudei sobre Narnia, também procurei e aprendi muita coisa sobre mim e minhas duas mães. Eu sou uma bruxa branca, não só controladora de elementos, mas daquelas que fazia feitiços também. Caspian não sabia disso, os livros que falavam sobre as bruxas e suas poções e magias tinha um cadeado complicado, para abrir os livros precisava-se de fazer as dobraduras de ar e neve. Só quem tivesse os poderes de todos os elementos (só as bruxas brancas) poderia abri-los. Minha mãe adotiva, Sarah, era de Narnia e muito amiga de minha mãe verdadeira, Meredith. John, marido de Sarah e meu pai adotivo, também era de Narnia. Eles fugiram para o meu mundo comigo, a pedido de meus pais, que também era uma bruxa branca. Algo (que até agora eu não sei o que é) iria acontecer e minha mãe se sacrificou por isso, por mim. Sarah era sua aprendiza e antes de seu acidente na terra me ensinara o manuseamento dos elementos (Agua, Ar, Terra, Fogo, Neve e Eletricidade). Eu havia pegado o livro de Sarah e tentado aprender, mas para o meu azar estava em uma língua que eu não conhecia que antes eu julgava ser latim. Eu tinha guardado este livro na mochila que vim para Narnia. Nela havia vários itens de magia e proteção. Eu havia feito um feitiço na mochila (que parecia ter mais coisa do que parecia), por isso ela era mais pesada, porque tinha livros de magia e pergaminho com mapas e profecias ainda não cumpridas.

Tirei de dentro da mochila tudo o que eu não precisaria no momento e deixei em cima de uma mesa que tinha no quarto. Deixei apenas os livros, os pergaminhos, os acessórios e o machado dentro da mochila, peguei o lança flechas e sai do quarto. Encontrei Caspian ao lado da minha porta.

–- Ah! Olá Caspian. – Dei um meio sorriso para ele. Ele me olhou de cima a baixo.

–- Aonde vai? – Ele perguntou. Não sabia o que responder então disse uma meia verdade.

–- Treinar.

–- E pra que a mochila? – Ele perguntou ainda desconfiado. Ele pensava que eu iria fugir? Suspirei e revirei os olhos.

–- O que? Não confia na sua irmãzinha? – Disse com um tom brincalhão.

–- Não quando ela esta aprontando algo. – Ele respondeu com um sorriso de canto.

–- Prometo que estarei de volta antes do anoitecer.

–- Leve alguém com você pelo menos. – Ele disse.

–- Levarei Rose. – Disse. Talvez ela pudesse me ajudar. Foi Quando me lembrei de uma coisa. – Mas, antes de ir chame Edmundo e Eustáquio para mim, devo uma luta á eles. Estarei esperando no pátio. – Dei as costas ouvindo o riso leve de Caspian. Encontrei Rose no corredor a caminho do pátio, o que me poupou tempo de ir procura-la.

Eu já estava no pátio, sem o casaco apenas com o machado na mão direita e cinto com uma adaga. Caspian, Pedro, Lucia, Edmundo, Suzana e Eustáquio chegaram juntos, alguns “soldados” e entre outros já estavam ali ao redor, querendo ver. Não duvidava que houvesse apostas internas. Pedro veio até mim.

–- Liah – Ele começou a dizer e eu pus um dedo em seus lábios.

–- Relaxe sente-se e assista ao espetáculo. – Digo sorrindo de canto e o deixando ao lado de Rose.

–- Então Liah quem será o primeiro? – Perguntou Eustáquio, claramente animado.

–- Que tal os dois de uma vez? Assim talvez eu possa me divertir um pouco. – Digo presunçosa. Eles se olham e dão de ombros.

Eustáquio tenta atacar primeiro, eu apenas esquivei. Edmundo tenta me atacar pela esquerda. Pego a adaga do cinto e desvio a espada de mim. Os dois tentam varias vezes me atacar, mas eu era mais rápida e lutava como quem dançava. OS dois pareciam tentar ataques em conjunto, tentando burlar minha defesa. Eu não podia desperdiçar mais muito tempo com aquela brincadeira, então dei minha carta final, o meu checkmate. Fiz com que as duas espadas voassem longe. A de Edmundo parou mais perto. Dei uma rasteira em Eustáquio o fazendo cair com o peitoral para cima. Puxo Edmundo pelas costas da blusa e posiciono a adaga em seu pescoço enquanto o machado estava no pescoço de Eustáquio.

–- Um único movimento e os dois morreriam se fossem realmente meus inimigos, mas eu sou uma boa pessoa e não vou fazer isso. – Guardo a adaga e coloco o machado em meu ombro direito. Alguns aplaudem, os outros estavam de bocas abertas. Vou até Rose e pego minha mochila e a puxo para dentro da floresta. Andamos até achar uma clareira, Onde tinha um pequeno lago e varias arvores em volta.

Contei para ela tudo que eu sabia, ela não se alterou em momento algum, sempre com o sorriso gentil dela. Ela se prontificou a ajudar e disse que sua mãe era uma feiticeira branca e que aprendera algumas coisas com ela. Rose, me ajudava a traduzir os livros com aquela língua esquisita, e me ajudava com gestos de mão e o mais importante, os pergaminhos.

Já se passava três dias que treinávamos naquela mesma clareira, tanto em magia quanto em elementos, armas e físico. Descobri que o lança flechas, tinha um segundo mecanismo. A parte superior se abria em dois, um para cada lado (direita e esquerda) e lançava a normal (para frente). As flechas poderiam ser colocadas venenos.

Eu e ela estávamos estudando a profecia, algo que nos desse alguma dica, alguma brecha sobre o que estávamos lutando. Quando fomos interrompidas. Um exercito vinha em nossa direção, não havia como correr ou se esconder agora. Quando ouvi uma voz feminina que eu reconheceria em qualquer lugar, saindo dentre os soldados.

–- Liah? É você mesmo?