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16, Maio.

Eu mal consigo digerir tudo o que aconteceu ontem, é tanta coisa para minha cabeça que eu acho que vou explodir ou morrer a qualquer momento. Minhas palavras são banhadas por lágrimas e eu rogo por paz interior enquanto há tempo. Que Deus esteja por mim pois nem eu estou mais.

Meu aniversário foi há quatro dias, meus próprios pais esqueceram de mim, Jason foi o único que me deu parabéns e na escola as pessoas nem notaram que aquele tinha sido meu dia. Quando cheguei em casa havia um bolo e meus pais gritaram “surpresa”, eu fingi estar feliz e fingi que estava muito agradecida, mas no fim daquele dia foi á Jason que eu abracei agradecendo por ter lembrado eles.

Não é isso que eu temo agora, isso só é a cereja em cima do grande problema que é meu sorvete.

Ontem aconteceu a festa de Megan e eu fui para tentar mostrar á ela e Toddy que ainda estou forte mesmo sem os dois me ajudarem a resolver o “problema monstro”. Cheguei na festa e bebi muito, eu precisava de coragem para qualquer coisa que fosse acontecer ali. Eu estava rodeada de pessoas que me ameaçavam por ter descoberto o que eles fizeram.

Era quase duas da manhã quando todos estavam tão bêbados quanto eu, tinha começado a chover fraco e eu já tinha topado com Toddy pelos corredores, mas ele só volta a aparecer quando eu estou no banheiro, ele entra atrás de mim e tranca a porta.

–O que você quer aqui? –Perguntei. –Me estuprar de novo? Porque não sei se você sabe mas só se perde a virgindade uma vez. –Eu ri.

–Eu queria conversar a sós com você, eu precisava de um tempo sozinho na sua companhia.

–Calma papai, o demônio que você implantou na minha barriga já está abaixo do bueiro.

–Troian, você nunca esteve gravida... –Disse Toddy. –Eu usei camisinha naquela noite! –Ele me surpreende.

–O quê?

–Sua gravidez era psicológica. A Megan me contou sobre o teste... Você nunca esteve gravida Troian.

–Estive... –Coloco as duas mãos na parede e tento me apoiar pois estou perdida dentro de mim mesma, eu estou ficando louca. –Eu...

–Troian, você nunca esteve gravida! –Ele afirmou mais uma vez.

Eu estava em choque, completamente desnorteada. Toddy estava certo, eu nunca estive gravida. Eu me autodestruí, acreditei e dei vida a algo que nunca foi real.

–Porque você fez aquilo? Porque você iniciou essa história toda? Você é o culpado pelo trapo que sou hoje.

–Porque eu te amava, porque eu ainda te amo e estava cansado de não te ter. Eu fui um idiota por ter usado da sua embriaguez, me desculpe.

–Fale isso de novo.

–Me desculpe.

–Não isso idiota, a primeira parte.

–Porque eu te amava?

Eu beijo seus lábios e ele me recebe com a mesma ferocidade que eu, lhe agarro e enfio as unhas em sua costa, começo a ser tomada por um poço de desejo e tesão que surgem de pontos diferentes do meu corpo, então ele me abastasse mais uma vez como antes, tão doloroso quanto na primeira vez. Eu mal suporto ficar calada, por isso dou alguns gemidos e lhe arranho para extravasar minha dor. Quando acabamos, vejo Toddy caindo sobre meu corpo e saindo de dentro de mim.

–Eu queria isso há tanto tempo. –Ele diz.

–Eu te odeio. –Digo sorrindo.

Naquele instante eu pensei que tudo acabaria bem, mas é ai que o horror começa, se só por um segundo eu tivesse mudado o rumo de minha história... Talvez eu não estivesse tão ruim quanto estou agora, talvez eu não quisesse morrer tanto quanto quero nesse momento.

Quando sai do banheiro junto com Toddy vi Megs me encarando por trás de uma multidão, e foi em seus olhos que encontrei o troco pelo que ela me fez passar. Ela viu que eu poderia fazer aquilo por querer, que eu tinha o poder de ter o cara que ela queria quando ela não podia!

–MEGAN. –Eu grito atrás dela.

Mas o emaranhado loiro corre rápido para a sala principal e para chorando pra me encarar.

–Você sabe o quanto ele significava pra mim! –Ela afirma.

–Claro, porque minha virgindade era tão barata quanto um bombom. Não é?

Ela fica em silencio até que volta a ter fúria nos olhos carregados de maquiagem.

–Essa festa é pequena demais para nós duas. –Como eu queria que ela não tivesse falado isso...

Se minha resposta a seguir fosse diferente, eu poderia ter mudado todo o trajeto da história de Megs e ela estaria aqui ao meu lado neste momento, mas ela não está, ELA JAMAIS ESTARÁ!

–Eu ainda estou aproveitando... Se alguém tem que sair... Este alguém é você. –Eu respondi.

–Você está me expulsando de minha própria festa?

–Considere-se expulsa de minha vida também. –Respondi.

Então ela saiu pela porta para nunca mais voltar. Eu precisava me tornar uma Troian 2.0, uma garota diferente da que se abala, alguém inatingível... E este seria meu primeiro passo! O primeiro passo que deveria me levar ao topo do mundo, mas que acabou me arrastando direto para as chamas pavorosas abaixo ao abismo que era o fogo do inferno.

Quanto eu viro de frente para o monte de pessoas, vejo alguém empurrando outra pessoa e logo duas mãos voam em meu pescoço, ela começa a bater minha cabeça no chão. Lyla está em cima de mim me sufocando enquanto Jhon tenta puxar seu braço e os demais jovens da festa começam a abrir uma roda.

–Sua vagabunda, você contou para ele. –Ela diz enquanto me dá tapas.

Eu chuto sua barriga e tento me afastar mas ela me vem com socos enquanto Jhon grita:

–Ela não disse nada... Eu descobri sozinho.

Sobre o que eles estão falando?

Ela puxa meu cabelo e me dá dois tapas e começa a arranhar a parte dos meus ombros, começo a sentir a queimação na minha pele e depois estou vomitando na sua cara e o resto cai em mim mesma.

Todo mundo ri e Lyla se afasta, quando tento me limpar e dar uma folga á mim mesma enquanto todo mundo está rindo... Outras mãos puxam meu cabelo me arrastando pela sala.

–Veja o que você causou. –Francia diz.

Eu começo a gritar e chorar mas ninguém me ajuda. Estou deixando meu próprio ser para me enterrar em uma caixa cheia de vergonha. Lyla e Francia começam a me socar enquanto a garota das drogas me acusa:

–Você contou ao diretor, agora vai me pagar por isso. –Eu queria morrer ali mesmo. Eu não tinha falado nada para Jhon e muito menos para o diretor.

–Eu não fiz nada. –Eu dizia.

–EU CONTEI. –Alguém grita.

Os tapas param e quando abro o olho vejo Jhon se pronunciando.

–Eu vi você e achei ridículo o fato de uma vadia como você estar vendendo drogas na escola e destruindo famílias. E eu descobri sozinho LYLA, eu vi as marcas. –Eu apanhei por ele?

–Mas ela...

–Todo mundo sabe sobre as drogas Francia. –Diz Jhon.

As meninas se afastam de mim e me deixam chorando enquanto as pessoas ao meu redor ficam rindo do quão idiota eu fui por apanhar. Eles começam a jogar seus copos com bebidas em mim e me chamam de perdedora e vagabunda. Estou em completo ardor quando vejo Toddy se aproximando de mim, eu miro minha mão em sua direção, rezando para que ele me ajude a levantar mas ai alguém do time de futebol diz:

–Vai cara, ou você está com peninha?

–Pena? Disso? –Ele debocha de mim. –Não.

Sou vitima de seu copo. Todos continuam rindo enquanto tento levantar e saio pela porta, começo a andar na chuva.

–POR QUÊ? –Grito olhando pro céu. –VOCÊ NÃO EXISTE! EU TE ODEIO DEUS. VOCÊ NÃO ESTÁ AI NÃO É?

Continuo chorando enquanto vago pelo caminho longo até minha casa.

–ONDE ESTÁ O MISERICORDIOSO ENQUANTO EU SOFRIA ALI ATRÁS?

Os gritos aliviam a dor que sinto em meu peito. Como pode alguém tão bom quanto dizem, deixar um de seus filhos sofrer a tal ponto? Eu nunca mereci nada do que passei. Eu era uma garota boa, respeitava meus pais, amava meu irmão, ia á igreja nos domingos de manhã e posso contar ás vezes que ajudei em alguma instituição de caridade. Adotei cães, dei comida aos pobres uma vez. Não lembro de ter difamado ou humilhado uma só pessoa, mas do nada... Ele mexe os pauzinhos em minha história. Tudo era perfeito até aquela maldita festa, eu poderia simplesmente não ter ido e tudo continuaria perfeito.

Minha melhor amiga me trocou por ingressos, o cara mais famoso da escola me estuprou, eu tive uma gravidez psicológica, meus pais esqueceram de mim, desejei meu irmão, e só Deus sabe o quanto eu queimarei no fogo do inferno por isso, ajudei uma suicida que por fim acabou me dando tapas, vi uma vendedora de drogas e permaneci calada. Não importava o quanto eu fizesse, ou o que eu fizesse, eu sempre acabava no mesmo ponto. Chorando sozinha, morrendo por dentro, transformando a capa que meu corpo é, em uma maldição destruidora.

–EU NUNCA FIZ POR MERECER ISSO. –Grito mais uma vez.

–QUER UMA CARONA? –Olho pra trás e vejo um cara se encolhendo no meio do frio... Jhon está tão ensopado como eu.

–Sua? Pra me bater ou pra me jogar bebida na cara? –Pergunto.

–Cuida, eu estou tremendo muito aqui.

–Você parece uma galinha arrepiada. –Digo chorando. Por um segundo consigo sorrir por trás de toda o borrão que meu rosto se tornou.

–E você será uma galinha morta se não voltar comigo... –Ele diz.

Eu sorrio e sigo até ele, ele passa a mão por cima do meu braço e beija minha cabeça enquanto andamos em direção ao seu carro. Um momento afetuoso, uma demonstração de que mesmo banhado em porcos, um deles saiu imune á grande lama.

–Entre. –Ele ordena.

Faço o pedido e logo partimos pela rua em direção a minha casa.

–Me desculpe Troian. –Diz ele me encarando.

–Só mantenha os olhos na estrada ok? Já basta estarmos bêbados.

–Eu jamais terei como me desculpar por isso.

–Jhon, só olhe para a rua e tudo estará bem.

–Troian... Me perdoe.

E então eu ouço o vidro da frente se estilhaçando, uma freada brusca e nossas respirações ofegantes.

–AI MEU DEUS. –Jhon grita.

–O que foi isso? –Pergunto encarando o vidro embaçado.

–Eu atropelei alguma coisa...

–Era uma pessoa não era?

–Eu não sei... Eu...

Ele fica em desespero e sai do carro, eu saio atrás dele e corro para um gasalho preto no meio da pista.

–AI MEU DEUS. –Grita Jhon se jogando no chão.

–MEGAN! –Eu grito me jogando ao seu lado.

Coloco sua cabeça em cima de meu colo e começo a dar pequenos tapas em seu rosto para que ela acorde ainda que eu duvide que ela vá levantar. Megan está com um golpe profundo na testa, tem muito sangue saindo de lá. Seu pescoço tem um caroço alto que eu tenho a certeza de ser algum rompimento interno, ela quebrou o lugar! Seus olhos estão sem vida, como se estivesse enxergando algo que não estava ali. Há sangue descendo entre os dentes e o cabelo dela começa a ficar manchado.

–Por favor acorde, você tem que acordar, levante. –Peço começando a chorar.

Massageio seu peito e faço respiração boca a boca.

–O que essa vadia fazia andando no meio da rua?

Ela só saiu da festa por minha culpa, se eu não tivesse mandado ela sair...

–A gente tem que levar ela pro hospital. –Digo.

–NÃO! Ela está morta, eu serei preso e você também por ter sido cumplice...

–Eu não fiz nada.

–Eles não vão querer saber... Eles só vão dar um jeito de te prender sem lhe ouvir. Eu estou bêbado e você também, eu não deveria estar dirigindo, e você... Você desviou minha atenção.

Ela estava morta, meu Deus, Megan está morta, aqui agora... Não importa o quanto ela tenha sido uma vadia nos últimos dias, ela estava ali... Em minha perna, sangrando pela ultima vez. Quase conseguia imaginar ela gargalhando e pulando gritando ‘te peguei’ como se tudo fosse uma pegadinha. Mas não era, ela não respirava. Megan tinha partido da festa por minha causa.

Começo a entrar em desespero e é ai que ouço o som do porta malas sendo aberto.

–Nós iremos enterrar ela! –Jhon anuncia.

–Não... Não... Não...

–CALA A BOCA! –Ele bate na minha cabeça. –Eu vou culpar você por isso se não me ajudar a esconder o corpo, tem suas digitais no corpo e todo mundo notou a distancia de vocês duas na escola... Será fácil lhe incriminar.

–O quê?

–Porque você matou ela Troian? –Ele me encarou com um olhar psicopata. –Meu pai é o chefe de policia da cidade, ele pode manipular a história para que eu seja o santo, mas... E você Troian?

–Eu nunca te ajudaria com isso.

Continuo abraçada com Megan quando vejo ele apontando uma chave de roda pra mim.

–Então serão dois corpos a ser enterrados...

Jhon dirigiu por minutos incontáveis para fora da cidade, entramos no meio da floresta em um ramal e quanto chegamos em uma pedra grande no formato de um elefante, ele tirou o corpo de Megan de dentro do porta malas, arrastou ela por todo o chão até que estivéssemos distante de tudo.

–CAVE! –Ele mandou.

–O quê?

–CAVE LOGO! –Ele continuava apontando a chave de rodas de forma ameaçadora.

Minhas unhas ainda estão cheias de terra e eu jamais me perdoaria pelo horrível fim que aquela noite teve. Eu jamais poderia contar sobre isso para alguém. Decidi arrancar as folhas iniciais para esconder parte do que falei para Megan após o exame... São menos duas folhas deste diário que vão estar guardadas por toda a eternidade dentro do romance de Romeu e Julieta que emprestei.

Por mais assustador que possa ser... Nessa manhã acordei e olhei pela minha janela para encontrar Jhon me vigiando.

Troian Fields.

–

Meu Deus. Eu não tenho como decifrar metade das informações que tenho... As senhas dos armários de Troian são na verdade as datas de seu nascimento e a data em que Megan morreu.

O corpo de Megan jamais foi encontrado, por isso ela continua desaparecida. Jhon tem um envolvimento tão grande nessa história quanto qualquer outro dos citados anteriormente.

Eu sou um poço de segredos exatamente como Troian era e ela teve o fim que teve! A corrosão interior em mim grita por respostas absolutas. Olho pela janela e a chuva começa a banhar o vidro, coloco um casaco e abro a porta vagarosamente, ouço a conversa de meus pais na sala e vejo que é impossível partir por ali.

Volto ao meu quarto e abro a janela, é alto demais para que eu pule mas eu estou completamente insano neste momento então pulo para a grana e caio torcendo o joelho. Uma poça de lama mela minha camisa e eu levanto rapidamente para abrir o pequeno galpão na costa da casa, pego uma pá e corro pelo meio da selva em direção ao norte.

Sinto o vento frio e o medo me corroendo, atravesso em uma rua paralela á minha e continuo em direção ao centro, não muito distante dali pulo um portão negro de ferro enquanto trovões caem no horizonte.

O vento é frio e a terra fede a morte, corro por algumas seções até ler o nome Troian Fields na placa de cimento.

Enfio a pá na terra e começo a me afundar na lama que crio, são horas cavando enquanto a chuva me coloca sete palmos abaixo da terra. A água cobre todo o buraco cavado e eu sinto a pá finalmente bater em algo solido.

Uma sanguessuga aparece em meu braço e eu lhe arranco fora. Não dá pra ver o caixão por baixo de toda essa lama então eu mergulho na morte literalmente e abro a porta de madeira para descobrir que o caixão de Troian Fields estava vazio este tempo todo!