Pokémon: A Revolução escrita por Kaox


Capítulo 3
Ansiedade




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O coração de Willian disparou, um vulcão de adrenalina e emoção explodiu pelo seu corpo. Naquele momento ele havia se tornado uma criança de novo, com todos os seus sonhos e ilusões vindo à tona de uma só vez. Estava pronto para responder com entusiasmo, quando:

– Caralho, você tá louco, Rick. – A voz de Allan foi como uma agulha espetando sua imaginação, aquele moleque estranho era especialista em ser estraga-prazeres. – Como você fala de uma coisa dessas aqui no meio da rua? Se alguém ouvir estamos fodidos.

– Ele não está louco, ele sempre foi louco. – Disse Serena.

– Porra gente, vocês são muito cagões. – Rick fez uma profunda cara de decepção. - Tudo bem, bando de viados, vamos rápido até minha casa discutir, então. Se alguém for arregar, já avise agora.

Arregar era a última coisa que Willian pretendia fazer, ainda mais sendo aquele o convite que esperou receber por toda a sua vida. Conferiu a reação de seus dois outros amigos. Allan, que raramente demonstra suas emoções, desta vez parecia nitidamente entusiasmado, ele podia não ser muito ativo, mas coisas perigosas sempre despertavam sua curiosidade e determinação, e Willian sempre acreditou que isso se devia a vontade do garoto de provar seu valor para os outros. Já quando olhou para Serena, notou algum tipo de dúvida pairando sobre a cabeça da garota, porém quando ela lhe retribuiu o olhar, seus olhos se encheram de confiança e deixaram claro que iria encarar o desafio. Sim, ele sabia que seus parceiros não iam decepcioná-lo.

Os quatro seguiram em silêncio até a casa de Rick, quer dizer, os três, porque o rapaz negro a cada instante dizia coisas como: ‘’ Que foda, isso vai ser muito louco’’, ou ‘’ Caralho, não posso mais esperar!’’. Embora tanto estas frases, quanto todo o resto, passaram completamente despercebidos para Willian, uma vez que este estava completamente absorto em suas fantasias.

Não demorou muito e chegaram ao local. Willian conhecia muito bem aquela casa, afinal a frequentava desde os seis anos de idade, época em que conheceu Rick. De fato, o rapaz foi seu primeiro grande amigo, eles se encontraram pela primeira vez durante um ato de repressão do governo na escola municipal de Dalaron, onde os agentes invadiram a instituição de ensino no meio do horário de aula para prender alguns professores suspeitos de propagar e ensinar aos alunos ideias contrárias ao regime governamental, obrigando todas as crianças presentes a esperarem confinadas em uma das salas. Na oportunidade, tentaram juntos arrombar a porta para fugir e acabaram apanhando dos guardas, desde então os dois estabeleceram um profundo laço de amizade, fortalecido pelo espírito rebelde que compartilham.

Ao adentrarem, foram cumprimentados pelo pai de Rick, o senhor Martin Simons, um homem alto, muito gordo e de cabeça calva, seu rosto era bochechudo, com olhos negros e saltados, e um semblante sempre descontraído. Quando ele avistou os rapazes, abriu um largo sorriso e falou:

– Hahaha, então trouxe sua gangue, filho? – Ele se levantou e foi em direção ao quarteto – Como vão, crianças? Dessa vez pretendem queimar ou explodir a cidade inteira de vez?

Todos o cumprimentaram e Willian, que realmente tinha admiração por aquele homem maluco, não podia perder a chance de lhe responder com alguma besteira:

– Ainda não, senhor Simons, precisamos primeiro descobrir uma forma de prender todos os habitantes no mesmo lugar para assegurar que todos morram.

Martin começou a rir, deu uma leve pancada nos ombros de Willian, e disse:

– Ah Will, meu jovem Will... é por isso que gosto tanto de você, nunca se importa com essa chatice de politicamente correto, embora isso um dia ainda vai te custar um belo pipoco no meio da testa. – Ele então fingiu uma cara de tristeza e completou – Mas por favor, quantas vezes eu já lhe disse para não me chamar de senhor? Isso me faz lembrar que já sou um tiozão e que pareço um Snorlax com artrose, Hahaha.

Serena já demonstrava alguma impaciência, ela realmente odiava esse tipo de papo retardado, e Rick constantemente se sentia constrangido pelo comportamento do pai, apesar de ele mesmo ser uma cara bem extravagante. Como Martin era muito rápido para perceber esse tipo de coisa, esfregou as mãos e disse:

– Bom, meus fedelhos, já estou cansado de olhar para vocês, parem de perder tempo comigo e vão logo fazer o que quer que seja.

O grupo subiu as escadas e entrou no quarto de Rick, um aposento modesto, extremamente bagunçado, cheio de réplicas de armas e pôsteres de pokémons ferozes ou de mulheres nuas em poses eróticas, o que nitidamente deixava Serena muito desconfortável, embora seus amigos não pareciam se importar ou ao menos notar seu constrangimento. O anfitrião então fechou a porta e falou com um sorriso triunfante:

– Bom, como eu ia dizendo antes dos frescurentos me interromperem, meu tio Lucius é um cara cheio de mutretas, ele raramente para em um lugar e até onde sabemos, está residindo em Pallet. – Fez uma pausa e começou a falar de forma mais lenta e misteriosa – Esta semana ele veio até aqui nos visitar, mas obviamente também veio fazer alguma coisa a mais. Eu sempre me dei bem com ele, ele é um cara muito foda, então consegui convencê-lo a me dizer o que era. Depois que eu soube, implorei para me levar junto, ele aceitou tranquilamente, mas convencê-lo a levar alguns dos meus amigos foi uma tarefa muito mais complicada, portanto agradeçam a mim. – E bateu no peito, fazendo questão de demonstrar o quanto se considerava o foda.

Rick tinha a necessidade se auto afirmar e inflar o ego a cada vez que falava, diante disso, Allan fez um sinal negativo e entediado com a cabeça, Willian deu seu sorrisinho irônico e Serena não se conteve:

– Agradeça a mim por nunca ter te assassinado!

– Mal-agradecidos! – Fez uma careta – Enfim, se querem vir conosco, nos encontre às quatro horas em ponto na entrada do supermercado Collins, vocês sabem onde é.

Todos agora estavam muito entusiasmados, mas ao mesmo tempo apreensivos, já haviam feito coisas perigosas e loucuras antes, mas nunca haviam se envolvido com algo assim. Desta vez, se fossem pegos não seriam apenas advertidos ou tomariam uns tapas, estavam se intrometendo em algo considerado crime contra a nação e poderiam ser presos, torturados, ou coisa até pior. O governo punia severamente qualquer pessoa envolvida com batalhas, e quando se tratava de ligas piratas a pena de morte era muito comum, sendo muitos inclusive executados em praça pública.

Ficaram durante mais um tempo comentando sobre o que estavam para presenciar e jogando conversa fora, depois decidiram ir embora para que cada um cuidasse de seus preparativos para o grande dia. Quando alcançaram a porta, o pai de Rick se aproximou:

– Já vão, meus jovens? – Desta vez ele demonstrava um semblante diferente, um misto de compreensão e preocupação, coisa que Willian jamais havia visto no homem – Sabe garotos, vocês já são crescidos e podem, ou melhor, devem tomar suas próprias decisões, e isto é algo de que não pretendo privá-los, mas não sou burro e sei quando estão optando por um caminho perigoso. Rick, meu filho, você têm conversado muito com seu tio desde que ele veio, não me leve a mal, eu amo aquele cara, Deus sabe quantas coisas nós já passamos juntos, mas ele optou por um rumo muito difícil e se coloca em risco a cada dia. Já perdi muitos de meus amigos, inclusive meu outro irmão, Mike, todos por se envolverem contra o regime. Pensem muito bem no que estão fazendo, e acima de tudo, tomem cuidado, zelem pelo bem de vocês e das pessoas que amam. Por favor, Rick, não me faça enterrar meu próprio filho, isso é algo que esse velho coração arrítmico não vai aguentar.

Um longo segundo de silêncio e incerteza se passou, foram pegos de surpresa por aquelas palavras. Martin, que percebeu ter assustado os jovens mais do que imaginava, recuperou seu ar cômico e tentou descontrair o ambiente:

– Hahaha! Muito bem, já percebi que meus pequenos foras da lei não são tão destemidos como eu imaginava. Agora, se me derem licença, preciso cagar. Sumam da minha frente e vão viver a vida de vocês!

No caminho para casa, o contato com Martin fez com que Willian não pudesse deixar de pensar em seu pai. Já faziam mais de dois anos que havia sumido, é incrível como o tempo passava e a ficha não caia. De fato, Anton esteve longe de ser um pai presente, trabalhava para o Centro Governamental de Pesquisas Pokémon (CGPP) e estava constantemente em outras cidades, às vezes ficava fora por vários meses. O que realmente pesquisava era um mistério e quando o garoto o perguntava, fazia um olhar esquivo e dizia que um dia o mundo todo iria saber. Ainda assim, era com o pai que mais se identificava, durante a infância adorava quando saiam juntos para observar e estudar os pokémons , e principalmente quando passava horas e horas escutando as suas incríveis histórias. No passado, ele havia sido um grande treinador e ido desafiar os melhores em várias regiões longínquas. Willian tentava arduamente esconder que sentia muita, mas muita falta de seu pai.

Quando chegou em casa, ficou aliviado por lembrar que a mãe não estava e passaria o dia todo com sua avó, portanto não teria de aguentar nenhum incômodo. Passou o resto do tempo ansioso, não conseguia pensar em nada além da liga pirata e do que estava para testemunhar. O momento estava chegando, estava agora um pouco nervoso e experimentava uma sopa de sentimentos empolgantes, pegou o que achou que devia e partiu.

Ao chegar, ficou desesperado por um instante ao perceber que não reconhecia ninguém, após isto olhou no relógio e viu que ainda faltavam quinze minutos para a hora marcada. Sua agonia continuou por mais oito minutos, pensamentos como ‘’Cacete, será que estou no lugar errado’’, ou ‘’Será que essa porra de relógio está errado e eles foram sem mim?’’ passavam voando em sua cabeça, até que avistou Serena e Allan chegando juntos. Os três ficaram ali por mais alguns minutos, quando, nas exatas dezesseis horas em ponto, um caminhão com um desenho de um grande Lickitung parou em frente deles.

– Aeee, suas bichas! – Rick gritou, riu, e bateu com força do lado de fora da porta – subam logo ou vão ficar pra trás!

Além de Rick, dentro do carro estava um homem igualmente negro, que aparentava seus trinta e cinco anos, corpo definido e saudável, cabelos crespos e rebeldes e usando óculos escuros. No rosto, mantinha um sorriso ousado e confiante.

– Fala moçada! Então são vocês os amigos desse mala! – Fez uma reverência com a cabeça – Não vai ter muito espaço, vocês vão ter que se espremer.

E, de fato, não tinha, para caberem os quatro no local de passageiro, os três garotos se espremeram e Serena foi no colo de Willian, o que o fez ter de unir muito as pernas para disfarçar seu pinto erigindo.

– Bom, me chamo Lucius, prazer em conhecê-los. Deve ser difícil pra vocês suportarem um maluco como o Rick.

– Ah... você nem imagina! – Respondeu Serena. Todos, menos o próprio Rick, soltaram risadinhas.

Lucius então fez uma expressão séria, como se estivesse em uma relação profissional, e disse em voz baixa:

– Bom pessoal, vou pedir para que procurem não comentar nada sobre nosso destino durante o trajeto. E já vou alertando que todo e qualquer tipo de gravação será proibida lá dentro.

Seguiram o percurso em silêncio, os jovens mais pela ansiedade, já Lucius por sua convicção de que deveria sempre manter o máximo de seriedade em suas tarefas. Dirigiam-se para o extremo sul da cidade, a região mais isolada de Dalaron. Durante o caminho foram abordados duas vezes por policiais. Na primeira vez, Lucius teve de descer, mostrar um cartão e explicar ao guarda que carregavam alimentos para um hotel e que os rapazes iriam ajudar a despachar, embora ficou claro que o policial não se convenceu. Ele revistou o veículo e quando constatou que havia apenas comida, fez uma cara de desagrado e deixou-os prosseguir. Na segunda, quando estavam bem próximos ao destino, três guardas, cada um acompanhado de um grande e feroz Arcanine, os mandaram parar e apontaram suas armas. Os quatro adolescentes entrarem em pânico, mas o homem mais velho apenas tirou os óculos e fez um sinal estranho com as mãos e a passagem foi prontamente liberada.

– Porra, tio! Que merda foi essa? – Disse Rick, com uma voz que parecia pertencer a alguém que acabou de ver um fantasma.

O motorista fez um leve sorriso com o canto dos lábios:

– Heh! Digamos que... são velhos conhecidos.

– Conhecidos? – Rick fez uma cara de incredulidade - Mas eles são policiais!

Allan cortou qualquer resposta que pudesse vir de Lucius e disse de forma lenta, mas irritada:

– Aff... como você é burro. Nunca ouviu falar de esquema de suborno?

Aquilo certamente deixou Rick constrangido e ferira seu orgulho. Poucas coisas o envergonhavam mais do que passar por ingênuo.

Enfim, pararam o caminhão. Na hora em que desceram, um homem, sem dizer absolutamente nada, entrou rapidamente no veículo e o dirigiu para a continuação da rua. Eles estavam bem em frente a um velho bar, quase caindo aos pedaços, com uma placa que anunciava ‘’O Slowpoke Chapado. Bar e Lanchonete’’.

Willian engoliu em seco e sentiu um clima de tensão ao redor. Aquele lugar fedia e não parecia nada agradável. Quando cruzaram a porta, o fedor se alastrou ainda mais, agora reconhecidamente uma mistura de álcool e mijo, o bar por dentro era ainda mais imundo e surrado do que parecia. Ali havia um velho e gordo garçom, ao seu lado estava um Slowbro de boca aberta e olhando vagamente para o nada. Nas mesas havia apenas um homem estranho e mal encarado fumando, com um copo meio cheio de Whisky a sua frente. Ambos tampouco disseram nada, apenas olharam com o canto dos olhos para os recém chegados e Lucius fez o mesmo sinal que havia feito anteriormente. Seguiram o tio de Rick em direção a uma porta, este tirou uma chave dos bolsos e a abriu, e assim entraram em uma espécie de dispensa, cheia de bebidas e sacos de comida espalhados. A tensão de Willian deu lugar a um misto de confusão e vontade de rir, algo que lhe era peculiarmente característico em momentos estranhos. Um longo segundo de incerteza pairou no ar, por fim o homem que os guiava rompeu o mistério, ele levantou uma portinha no chão que revelou uma escada de mão e um porão. Todos desceram, o local estava completamente escuro, até que Lucius ascendeu uma lanterna em direção a uma porta de metal, retirou um cartão e passou-o por um dispositivo magnético. A porta se abriu para o lado e eles entraram.


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Notas finais do capítulo

- No próximo capítulo finalmente teremos nossas amadas batalhas! xD



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