O Homem ligou e mandou Jack ir logo ao trabalho. Jack se arrumou e pensou em quem atenderia hoje. O Homem o recebeu no Arkham. Jack sentou-se em sua mesa e esperou um paciente. E depois outro. E outro. Que chato. Enfim, acordou e sorriu para aquela criança loira ao seu lado, e agradeceu por ter mudado de vida.

Harley Quinn dormia, com ar orgulhoso, em uma cama de casal luxuosa na mansão em que estavam. Jack sentia falta de dividirem uma cama de solteiro, mas pelo menos agora pareciam um casal de verdade.

Na noite anterior, após a poeira baixar, Harley decidiu que seria arriscado ficarem no quarto no zoológico onde atacaram, pois provavelmente seriam descobertos, então se lembrou de um velho amigo que tinha várias casas pelo país, Falcone.

Ela explicou que eles eram muito amigos e ele a oferecera uma das casas para quando ela quisesse usar. Jack estava exausto e queria descansar, então só topou rapidamente, e foram.

Agora, acordado, enquanto observava o luxuoso aposento, viu retratos do sujeito com diversas mulheres diferentes, até que uma foto o chamou atenção. Era Falcone e Harley brindando vinho, comemorando alguma coisa, mas ela parecia diferente, mais nova. Jack sentiu uma pontada de ciúme e começou a imaginar mil coisas, mas decidiu esperar Harley acordar antes de fazer uma tempestade em copo d’água.

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– Acorde, Mr. J! – Harley chamou. – Já são 10h!

“10h? Não eram 7h?” Jack pensou, então se deu conta que acabou caindo no sono. Quando se lembrou do que pensava antes de dormir, abriu os olhos, franziu a testa e se preparou para reclamar, mas se deteve ao ver Harleen com os cabelos molhados sobre sua camisola, marcada pelo seu belo corpo e um pouco molhada.

– Harls?

– Bom dia!- Ela se aproximou e o beijou.

– Você está incrível. – Puxou-a e fez com que ela se deitasse ao seu lado.

– Joker, lavei o cabelo agora, se eu deitar vai me dar caspa! – Reclamou e se sentou na cama.

– Ui, desculpe. – Jack debochou e deitou sua cabeça no colo da namorada, que o fez cafuné.

– Hoje temos que destruir as coisinhas de alguém, não é?

– Você tem certeza que isso é necessário?

– Eu quero que você apague todas as suas relações com sua vida antiga, Mr. J.

– Mas o que teremos que fazer, especificamente?

– Eu sugeriria que explodíssemos sua casa e seu carro, amo explosões. Mas você mora em prédio, acabaria machucando outras pessoas.

– Achei que você não ligava para isso.

– Mr. J, não me entenda mal. Como eu te disse em uma das consultas, eu quero ser livre, faço tudo o que faço em busca da minha liberdade. Realmente não me importo se acabar machucando alguém, se eles estiverem em meu caminho.

Por esta, Jack não esperava. Ele sorriu, aliviado, pois pegava-se várias vezes pensando em como teria que se acostumar com a dor gratuita.

– Harls, como você conheceu esse tal Falcone?

– Lembra que te contei sobre como comecei minha vida no crime? Com 18 anos, que ia para bares, dormia com homens mais velhos e roubava o dinheiro e bens deles depois? – Jack assentiu, mas logo arregalou os olhos e quase reclamou, se não tivesse sido interrompido rapidamente por Harley. – Não, Falcone não foi um deles. E antes que você pergunte, não dormi com ele, obrigada. Enfim, continuando, ele acabou ouvindo falar de mim e veio me cumprimentar. Disse que gostou do meu estilo, e que poderia me ajudar se eu quisesse entrar no submundo. Começamos a praticar crimes juntos, e ele me apresentou novas pessoas. Uma delas foi a Hera, minha melhor amiga.

– Hera Venenosa?

– Sim!

– A que fugiu junto com você com a Circuito Elétrico... Aliás, Harley, ela gosta de você?

– Claro que ela gosta de mim, somos melhores amigas!

– Digo, além de amizade.

– Ah, Mr. J, é complicado. Fomos “amigas com benefícios” por muito tempo, mas nunca tivemos nada concreto, então é como se nunca tivesse acabado, mas nunca tivesse começado. Só nos consideramos amigas.

Jack riu.

– Inesperado.

Harley riu também, e se levantou.

– Algum dia os apresento formalmente. Agora vamos nos preocupar com a continuação do Projeto Destruição.

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Jack estranhou entrar em sua própria casa com olhar desconfiado. Ele conhecia os vizinhos, ele tinha a chave, a diferença era que agora ele era procurado pela polícia, e a vizinhança inteira sabia que ele se tornara um criminoso.

Harley percebeu sua angústia, e perguntou o motivo.

– É estranho, estamos entrando pela porta da frente, mas estamos prestes a cometer crimes contra o patrimônio privado de Jack Nickled, no caso, eu. E estou com medo que algum vizinho apareça.

– Pudinzinho, você é o vilão. Eles que têm medo de você, não você deles. Fica tranquilo. Só viemos pegar os elementos mais preciosos para você, não vamos fazer mais nada.

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Não era muita coisa. Como a vida de Jack era parada, saíram de lá com um álbum de fotos, um suéter, o jaleco que ele usava para trabalhar e uma frigideira. Esperaram anoitecer e foram para o lago da cidade, Harley com a moto que Jack roubara no dia que se tornara o Joker, e ele no seu próprio carro.

Jack saiu do carro e deixou as coisas no chão, afastadas. Harley afastou também a moto, abriu o porta-malas do carro e pegou um galão de gasolina. Jogou sobre o carro, e tirou do bolso uma caixinha de fósforo.

– Eu quero que você faça isso, Jack.

– O-O prazer é todo meu. – Ele tentou soar confiante, mas tremia de medo. Pegou a caixinha, tirou um palito e o acendeu. – Hoje, oficialmente, declaro morto o psiquiatra sem graça Jack Nickled. – Jogou no carro, que teve reação imediata, e ficou em chamas. Não demorou para que o fogo chegasse no tanque de gasolina do carro e ele explodisse.

Harley pegou o álbum de fotografias e abriu, riu das fotos do Jack pelado: “Está bem melhor agora” – fez questão de acrescentar, e o entregou. Ele hesitou, mas jogou o álbum no fogo. Ambos sabiam que era importante ter certas recordações, então Harley permitiu que ele guardasse algumas fotos, tipo as com a mãe.

O suéter tinha sido presente da avó, mãe do pai, o maldito pai que o batia. Por mais que a avó fosse um doce, Jack não hesitou e jogou o suéter com gosto no fogo do carro.

Já o jaleco, Jack optou por algo mais teatral. Embolou-o, jogou para cima em direção ao carro, e enquanto ainda estava no ar, ele atirou nele.

A frigideira era só um símbolo, já que ele a usava para fritar ovos todas as manhãs, e o Joker não fritava ovos toda manhã como um carinha normal indo ao trabalho. Isso era tão Jack.

Harley segurou sua mão, enquanto ambos observavam o carro em chamas.

– Por que está tão sério, meu amor? – ela perguntou, e Jack forçou um sorriso. – Este é o seu batismo. Seu novo nascimento, sua nova vida. Você é tipo Hannibal Lecter, ex psiquiatra, atual psicopata. Temos que comemorar.

– Já estamos comemorando, não?

– Claro que sim, mas preparei uma comemoração além.

– O que isso quer dizer?

– Isso quer dizer: Eu, você, vinho e uma noite inteira para comemorar da forma que quisermos. Vamos?

Jack sorriu.

– Não temos tempo a perder.

E se beijaram, diante do lago e do carro em chamas. Jack se deu conta que nunca antes se sentira tão bem e tão vivo. Voltaram à mansão com a moto e deram início à grande comemoração da transição do antigo psiquiatra, para o caminho da liberdade.