Era uma noite fria de janeiro, o vento batia nos meus ombros e balançava meus cabelos , mas eu não ligava...
Talvez outrora, quando eu ainda achava que a Lua minguante parecia um sorriso que iluminaria precariamente eu e meu namorado... Não, ex-namorado, agora... Numa caminhada pelas ruas do condomínio dele.
Mas não, hoje nem o frio, nem a Lua me impressionam mais, tudo que me valia de alguma coisa foi por água abaixo.
Todos meus planos, esperanças, sonhos, sorrisos, tudo, jogado sem piedade no fundo poço da decepção.
Agora tudo que me resta é um corpo vazio, sem sentimentos, que perdeu tudo, talvez até a razão.
Eu poderia me vingar, não... De que adiantaria, só provaria que eu sou uma má perdedora. Eu perdi, aceito isso.
Talvez não devesse dizer isso, mas as circunstancias dessa perda foram de tal maneira, abruptas e devastadoras, que palavras bonitas não me farão melhorar.
O garoto que eu amava, respeitava, que considerava um herói, me deixou... Preferiu seguir em sua missão egoísta... A missão a qual EU o ajudei! Mas ele não pode me agradecer, ou nem teve a consideração disso...
Aqui estou eu, numa ponte, observando as estrelas acima da minha cabeça e o rio que corre sem cessar metros abaixo. Sentia meu corpo se arrepiar com a brisa gélida. Estou em cima da cerca, qualquer movimento em falso eu cairia, não que eu me importasse, minha vida é inútil uma hora dessas.
Ele enlouquecera... Sim... Cegou-se com o poder, cegou-se com o ódio e com seus objetivos, que não viu que estava perdendo a humanidade...
Cometeu erros... Erros que ele não estava acostumado a cometer... Agora ele está morto, simplesmente pois não me permitiu ajudar-lhe como poderia.
Mas o que poderia fazer? Os acontecimentos da última semana não dependeram de mim, provavelmente se dependessem, não teriam acontecido.
Olhei para trás, a rua estava deserta, nem mesmo os postes funcionavam, a única iluminação era a Lua Minguante e as estrelas. No começo da rua alguém corria, ainda estava longe demais para eu distinguir como tal pessoa era.
Não liguei, já fora curiosa, mas isso em outro tempo, numa época em que a curiosidade era divertida, hoje, já não me importo mais.
Voltei a olhar o rio, sempre correndo, como se nada o fizesse cansar ou desanimar... Como eu desejo ser assim...
-Misa! Pare! Por favor! – um grito? Talvez... Mas não quero ouvir, já fiz minha escolha, desculpe-me, mas nem você pode me parar...
Respirei fundo, um odor adocicado encheu minhas narinas, reconheci como o cheiro de Damas da Noite, minha flor preferida, ali perto deve haver uma árvores.
Usei minhas mãos, que antes me seguravam á beirada, para me impulsionar.
Senti o vento me envolver, numa falha tentativa de me impedir de cair.
A Água estava á poucos centímetros, já estava quase sentindo sua superfície fria e úmida...
Meu corpo caiu na água... Ela estava fria... Muito fria... Eu afundava lentamente sem força de vontade para nadar...
A corrente me levava enquanto o ar se esvaia de meus pulmões... minha cabeça bateu em algo e a minha consciência foi se perdendo...
Agora eu o encontraria... No abismo que existe entre o céu e o inferno... No poço das decepções e sonhos que não se realizaram... No destino onde todos que tentam julgar o próximo vão... Mas eu estaria com ele, então para mim, lá seria meu paraíso eterno.