Lumos

Minha irmã recebeu a carta? Certo, bom pra ela, esperarei mais alguns dias, de repente a coruja que está trazendo a minha tenha se atrasado um pouco.
[...]

Passaram-se duas semanas, e nada da minha carta, já olhei na caixa do correio umas 3 vezes, somente hoje, não aguento mais as piadinhas de minha irmã. Falando no capeta, olha quem vem chegando!
— Oi maninha, chegou sua carta?-
— Não, e pelo jeito nem vai.-
— Então Carrie como é ser o aborto  da família?! 
A soberba em suas palavras me atingem de tal forma que nem mesmo consigo pensar em uma resposta.
[...]

Hoje é dia de levar minha irmã na estação. Eu sou um aborto? Existem casos raros onde abortos também manifestam magia, e se eu fosse um desses casos? Me recordo vagamente de momentos em que coisas estranhas aconteciam ao meu redor, objetos voando ou quebrando sem nenhuma razão aparente, não pode ser que eu seja um aborto.
Estávamos lá, entre as plataformas 9 e 10, minha irmã com o maior sorriso no rosto, enquanto eu escondia minha frustração escondendo meu rosto nas vestes de meu pai.
— Minha filha, espere aqui, você não pode atravessar, eu vou entrar com Lucy, mas não se preocupe, seu pai ficara aqui com você. – Orientou mamãe com uma expressão triste.
— Tudo bem, eu espero – Respondi enquanto a primeira lágrima escorria queimando por meu rosto, sinto minha garganta em um nó.
Mamãe atravessa o portal com minha irmã, e eu abraço papai bem forte na esperança de que tudo fosse um grande pesadelo.
— Papai, isso é um pesadelo, não é?- Vejo meu pai abaixar-se, se igualando a mim.
— Não se preocupe minha pequena, vai ficar tudo bem! 
Senti meus olhos marejados, abraço meu pai mais forte que posso. Esse era definitivamente o dia mais triste de toda a minha vida. Coloco as mãos sobre os olhos em uma tentativa sem sucesso de cessar o choro. 
—Papai, eu nunca fui ruim, fui?
—Claro que não meu amor, você é a filha mais maravilhosa que um pai poderia ter.
—Então porque desse castigo? 
— Carrie, as pessoas são diferentes e únicas, todos trilhando suas próprias jornadas. Talvez essa só não seja a sua e está tudo bem.
— Mas eu quero essa jornada, papai! Esse sempre foi meu sonho! Andar pelo castelo, conhecer cada cantinho onde você e mamãe se conheceram, aprender sobre criaturas mágicas, estudar na mesma escola que o melhor bruxo de todos os tempos. Esse sempre será o meu maior sonho!
— Para que estudar onde o melhor Bruxo estudou, se você mora com ele?
—A fala sério pai, não estou falando de você, estou falando de Harry Potter, ele derrotou “você sabe quem”. – pronunciei “você sabe quem” quase em um sussurro.
—Então eu não sou mais o melhor bruxo? Você mentiu pra mim por todos esses anos?
—Pai, eu era uma criança e você ainda é o melhor, só que em segundo lugar. – Falei quase sorrindo. No mesmo momento mamãe surge em frente a coluna.

—Filha, sabe quem eu vi colocando seu filho no trem?
—Quem?-
—Harry Potter – Vi seus olhos brilharem
Eu estava sem ar e as lágrimas já rolavam novamente por meu rosto, então eu tive uma ideia.

—Mamãe e papai, eu não posso deixar que isso acabe comigo, não vou desistir sem tentar.- Disse isso antes mesmo deles entenderem o que eu quis dizer, saio correndo. Eu teria que tentar e se desse errado, o máximo que poderia acontecer, seria acordar em um hospital e se eu perdesse a memória seria melhor ainda, ao menos eu não lembraria o quanto eu queria ser uma bruxa. Antes que meus pais pudessem associar o que estava acontecendo,  atravesso  a parede.

Eu estava boquiaberta, eu consegui, eu atravessei, eu sou uma bruxa. Sentia alguém encostar em mim, era meu pai e minha mãe, eles estavam sorrindo, e eu chorando com o maior sorriso do mundo nos lábios. Sem pensar duas vezes, eu me virei e sai correndo na direção de Harry Potter.

Ele estava dando tchau para um menino que o olhava da janela, eu parei na sua frente.
— Olá, sou Carrie Longbottom, sua fã- Tenho certeza que a expressão no meu rosto era de uma maluca.
— Olá Carrie, então você é uma Longbottom? – Ele disse gentil.
—Sim, mas você conhece os Longbottom? – Nessa hora meu coração já estava mais acelerado que nunca, ele conhece alguém da minha família.
—Claro, Neville Longbottom – Espera, ele conhece meu pai?!
—Você conhece meu pai? - Ouço alguém gritar que o trem já estava quase partindo - Com licença, foi um prazer enorme te conhecer, mas preciso ir, adeus! - Corro a procura de Lucy, teria que mostrar a existência de magia em mim, mesmo que mínima.
 Subo no trem, indo de cabine em cabine, até que entro na última e a encontro ao lado de um garoto loiro.
—Carrie? O que você está fazendo aqui? Como atravessou a passagem? 
—Surpresa querida irmã! 
—Você pode ter magia, Carrie, mas ainda assim não vai para Hogwarts, precisa descer antes que o trem parta – Nessa hora eu gelei, era verdade, eu não havia recebido minha carta, não poderia estudar em Hogwarts.
—Talvez algo tenha dado errado, talvez eles esqueceram que somos gêmeas
— Obvio que não, já ouviu falar de alguma falha assim em Hogwarts? Você não pode seguir. Desça do trem ou você vai se encrencar quando chegarmos lá.
— Mas algo não está certo, eu posso sentir - Minha voz soa quase inaudível. Sinto a garganta dar um nó e ouço o som do trem partindo.