Os primeiros dias de repouso forçado de Ginny estavam deixando todos com os nervos exaltados, principalmente Harry. Ginny estava frustrada por seu final de gestação não estar sendo como planejava, nervosa por pensar que seus filhos não estavam bem e estressada com toda essa situação e os cuidados excessivos que recebia.

–Ginny? Hermione entrou apressada no apartamento da cunhada. –Está pronta?

–Quase! Ginny respondeu do quarto, sua voz sufocada pela blusa que tentava vestir. –É só porque eu estou grávida que esse inverno está durando mais que o normal?

–O inverno acabou há duas semanas, Ginny.

–Faz duas semanas que eu não saio de casa? Perguntou Ginny assustada.

–Não. Hermione riu do desespero dela. –Você está de repouso há quatro dias.

–Repouso você quer dizer prisão domiciliar.

–Sem drama, por favor. Hoje você irá sair!

–Para provar meu vestido de noiva. Ela murmurou desanimada.

–Já vi noivas mais animadas, principalmente quando se trata do próprio casamento. Hermione começou a empurrar Ginny delicadamente para fora do quarto. –Animo, Ginny!

–Estou animada! Ela respondeu sendo levada para fora do seu apartamento. –Só não tanto quanto você e o resto da minha família.

Hermione estava cumprindo suas obrigações como dama de honra de Ginny, parecia mais que o casamento era de Hermione, assim como o chá de bebê que ela planejava. Ginny muitas vezes se sentia culpada por deixar tudo nas mãos da cunhada.

–Está lindo, Ginny! Hermione a elogiou durante a prova do vestido. –Esse é definitivamente o vestido certo.

–Você disse o mesmo para os últimos três vestidos. Ginny se olhava no espelho, não tinha certeza sobre o vestido. –Eu pareço um vaso branco, isso é ridículo! Deveria me casar só depois que os meninos nascessem e eu conseguisse perder todo esse peso extra!

–Por isso que eu disse definitivamente. Hermione começou a ajeitar o vestido, fazendo com que ele ficasse certo no corpo de Ginny. –O importante é que você irá se casar com o homem que você ama e juntos serão uma linda família.

–Mas as fotos irão ficar horríveis e... Ela se calou ao ver o olhar repreendedor que Hermione lhe lançava, Ginny sorriu e concordou. –Está bem, esse será o vestido.

–Finalmente! A cunhada ergueu as mãos agradecendo, parte do seu trabalho como dama de honra já estava encaminhado. –Voltaremos semana que vem para os últimos ajustes.

–Claro, porque semana que vem eu estarei com uns dois quilos a mais e... Ginny se calou novamente ao receber o mesmo olhar repreendedor. –Será um prazer voltar e experimentar o meu lindo vestido.

A loja que estavam não ficava muito longe do prédio onde Harry trabalhava e para aproveitar a oportunidade que teve de sair de casa, Ginny pediu a Hermione que fossem fazer uma visita surpresa a ele.

–Vejo que alguém não está cumprindo o repouso. Disse Martha ao ver Ginny se aproximando.

–Foi por um bom motivo. Ela respondeu. –Fui escolher o meu vestido de casamento. Harry está ocupado?

–Um bom motivo. Martha concordou. –Sua última reunião foi cancelada, mas uma mulher chegou de repente e eles estão conversando na sala de reuniões.

Martha sugeriu que Ginny e Hermione esperassem Harry em seu escritório, assim Ginny poderia sentar e relaxar no sofá. Harry tinha sua própria sala de reuniões que ficava ao lado do seu escritório, podendo assim ter acesso rápido a ambos os lugares. Geralmente utilizava a sua sala de reuniões apenas quando tinha uma reunião importante ou se muitas pessoas iriam participar. Quando Cho apareceu no final da tarde, Harry a conduziu para a sala, assim teriam mais privacidade para conversar sobre qualquer coisa que justificasse a aparição surpresa dela.

–O que você quer que eu faça? Cho perguntou. –Posso vender ou você pretende mantê-lo?

–Foi para isso que você veio até Londres? Perguntou Harry incrédulo. –A tecnologia já nos permite ter essa conversa sem precisarmos estar no mesmo ambiente.

–Depois de quase sete anos juntos, você não consegue ficar na mesma sala que eu? Ela riu para disfarçar a tristeza que sentiu ao ouvir as palavras dele.

–Desculpe, não foi isso que eu quis dizer. Ele tirou o óculos e coçou os olhos cansadamente. –Só não é o melhor momento para reviver os problemas do passado.

–Será que você pode deixar o trabalho de lado pelo menos uma vez para que possamos conversar? Cho segurou os braços dele. –Será que você pode pelo menos fingir que esses sete anos que vivemos não foram um erro?

–Não é apenas o trabalho, minha vida está uma bagunça e...

–Você será pai, não é? Ela o interrompeu, Harry a olhou confuso. –Eu vi umas lembrancinhas em cima da sua mesa.

–É, eles chegam no próximo mês. Harry já estava acostumado com a expressão das pessoas quando dizia “eles”. –São gêmeos, Theo e Nathan.

–Parabéns, Harry. Cho o abraçou com lágrimas nos olhos. –Espero que os bebês tragam muita alegria para a sua vida.

–Cho! Ele a chamou, Cho havia se desvinculado do abraço e saia apressada da sala.

Harry seguiu Cho até a sua sala e parou de repente ao ver Ginny, Hermione e Cho se olhando sem entender o que estava acontecendo. O silêncio começava a ficar constrangedor, Harry estava tenso e não sabia o que dizer, Hermione resolveu quebrar o silêncio da maneira mais normal que veio a cabeça.

–Ginny e eu estávamos aqui perto e viemos fazer uma visita...

–Mas acho melhor irmos embora, Hermione. Ginny completou, nada confortável com a situação.

–Não, nós só estávamos conversando. Harry explicou rapidamente. –Hermione, Ginny esta é Cho.

–Prazer em finalmente conhecê-la, Hermione. Cho as cumprimentou com um aperto de mão. –Prazer em conhecê-la, Ginny, e parabéns pelos meninos.

–Obrigada. Ginny aceitou o aperto de mão, apenas porque Hermione havia feito o mesmo e não queria ficar com a imagem de mal educada.

–Acho melhor ir embora. Cho entregou um envelope a Harry. –É uma proposta pelo apartamento, se quiser vender. Estarei em Londres até segunda-feira.

Harry aceitou o envelope e Cho foi embora se despedindo de Hermione e Ginny com um breve aceno que foi respondido do mesmo modo. Assim que a porta se fechou atrás de Cho, Harry começou a se explicar.

–Eu juro que não sei por que Cho veio até aqui para me entregar isso...

–Harry, está tudo bem. Ginny o interrompeu tranquila. –Vocês apenas conversaram, não é?

–Sim, apenas isso. Ele respondeu aliviado, pois pensou que ela não entenderia. –Achei que você iria ficar brava ou algo do tipo.

–Também achei. Hermione comentou.

–Porque eu seria mal educada ou ficaria brava de conhecer a quase noiva do meu noivo? Ginny parou e pensou no que acabara de dizer, sorriu ao entender a reação deles. –Entendi.

–Certo, já que ninguém irá ficar brava e não terá nenhuma briga. Hermione foi até a mesa de Harry e pegou as amostras das lembrancinhas. –Vocês já escolheram qual será a lembrancinha?

Ginny e Harry se olharam, Hermione estava nessa pressão sobre a escolha das lembrancinhas há vários dias.

–Pensando bem, eu estou brava por encontrar a quase noiva de Harry. Ginny brincou, apenas para irritar a cunhada e sua brincadeira deu certo.

–Estou falando sério, Ginny! Ela pegou os dois modelos e entregou a eles. –Vocês não iram sair daqui até ter escolhido!

–Ginny está de repouso, não pode fazer isso com ela. Harry entrou na brincadeira. –Quer que os bebês nasçam antes do tempo?

–Pelo menos a lembrancinha terá sido escolhida! Será que é tão difícil escolher?

–O que acha, Harry? Ginny se segurava para não rir. –O modelo com os ursinhos de roupa azul ou os com roupa verde?

–Hmm... Harry fingiu pensar seriamente. –É uma decisão difícil, temos que escolher hoje?

–Por favor!

–Está bem! Ele não queria ver a amiga mais brava. –O azul.

–Tem certeza? Hermione perguntou, não tão certa se era a melhor escolha. –A lembrancinha do chá de bebê já é azul.

–Então, será o verde.

–Mas o enfeite de boas-vindas que ficará na porta do quarto do hospital é azul. Ela explicou.

–Hermione, eu confio na sua escolha. Ginny a tranquilizou. –Até agora você tem sido a melhor tia e madrinha do mundo, tenho certeza que irá escolher o melhor, como sempre.

–Obrigada. Hermione soltou os ombros, como se uma carga enorme houvesse saído de cima deles. –Quando chegar a minha vez, espero que vocês façam o mesmo!

Por ter sua última reunião cancelada, Harry foi embora mais cedo com Hermione e Ginny. Hermione os mandou direto para casa, afinal amanhã seria um longo dia e eles precisavam estar descansados para aguentar o grande chá de bebê que os esperava. Ginny foi passar a noite na casa de Harry, ficando mais perto da casa do irmão e da cunhada.

–Boa noite! Lily os cumprimentou com beijos e abraçou. –Chegaram bem na hora do jantar!

–Estou morrendo de fome! Harry respondeu. –O que Olivia fez para o jantar?

–Eu fiz o jantar hoje, Olivia está de folga.

–Achei que ficaria o dia todo na universidade, mãe. Ele não deu muita importância, pois sua mãe cozinhava tão bem quanto Olivia.

–Eu só fui assinar os papeis da minha aposentadoria e...

–Você se aposentou? Ginny e Harry perguntaram ao mesmo tempo, incrédulos.

–Por que o espanto? Ela riu da reação deles. –Agora terei mais tempo para ajudar vocês com os bebês.

–Lily, não precisava fazer isso. Disse Ginny sentindo-se culpada.

–É, mãe. Harry concordou com Ginny. –Nós vamos dar um jeito.

–Vocês não querem que eu fique com os meus netos? Lily perguntou séria, eles balançaram a cabeça negando. –Ótimo, então assunto encerrado. Irei ser uma avó presente na vida dos meus netos. Podemos jantar?

Ginny e Harry não falaram mais nada, Harry ficou feliz pela decisão da mãe, aquela rotina agitada de professora universitária não era mais a rotina ideal para Lily.

O jantar estava delicioso e como forma de agradecimento Harry e Ginny foram lavar a louça, Ginny apenas ficou sentada no banco da bancada da cozinha, pois ninguém a deixou fazer nada. Antes de irem dormir, Lily preparou um chá para tomarem enquanto conversavam sobre o dia.

–Eu fiz uma promessa comigo mesma que não iria perguntar sobre isso. Ginny começou a falar quando ela e Harry estavam no quarto indo dormir.

–E agora você vai manter a promessa ou...? Harry questionou, pensando em mais uma daquelas conversas sem sentido que Ginny tinha quando estava muito cansada.

–Por que Cho estava chorando? Ela foi direto ao assunto. –A conversa foi tão ruim assim?

De todos os assuntos, esse era um que Harry não esperava falar. Tentou inventar qualquer resposta, porem sabia que seria errado enganar Ginny.

–Porque ela viu as lembrancinhas dos meninos em cima da minha mesa. Por fim, ele resolveu dizer a verdade. –E lembrou-se do filho que quase tivemos.

Nenhuma palavra conseguia sair da boca de Ginny, essa não era a resposta que esperava. Ela estava surpresa com a revelação, demorou alguns minutos para poder dizer alguma coisa.

–Como assim, você e Cho quase tiveram um filho? Para começar, foi tudo o que ela conseguiu dizer.

–Cho e eu estávamos juntos há, acho que um ano, eu ainda me adaptava a mudança de país e Cho descobriu estar grávida. Não era o momento certo.

–Ela... Vocês... As palavras não saíram de sua boca, era muito doloroso pensar nessa possibilidade estando grávida.

–Não, nós não tiramos. Harry não deixou que ela falasse aquilo. –Com dois meses de gestação, Cho teve um aborto espontâneo.

–Sinto muito.

Desde que Cho teve o aborto, Harry nunca havia falando com ninguém sobre isso. Várias lembranças, arrependimentos e sentimentos vieram à tona que por todos esses anos, Harry guardou para si.

–Se não fosse essa gravidez, Cho e eu não teríamos ficado todos esses anos juntos.

–O que teria acontecido? Ginny o encorajou a falar.

–Os últimos anos da minha vida teriam sido melhores, com menos culpa e discussões. Ele disse sincero.

–E provavelmente nós não estaríamos aqui hoje, vivendo tudo isso. Ela sentiu pena dele e de Cho, por terem vivido algo em que ambos estavam infelizes. –Você não vai sentir o mesmo sobre nós no futuro?

–Não! Harry respondeu rapidamente, nunca havia pensado nessa possibilidade. –Eu te amo, Ginny! Nem por um momento, eu pensei que o mesmo poderia acontecer conosco!

–Tem certeza? Ginny murmurou, todas as dúvidas e incertezas estavam novamente na cabeça dela. –Por que a probabilidade de acontecer é grande.

–Por que isso agora? Achei que estávamos bem! Harry estava confuso, esse assunto não se tratava deles, mas sim do passado.

–Eu preciso de um tempo...

–Tempo? Ele não entendeu. –Tempo para que? Nós não temos tempo para sem sentido!

–Preciso pensar. Ela respondeu convicta do que dizia. –E você também.

–Eu?

–Sim, ou você quer repetir o passado e que nós tenhamos um relacionamento, no qual ambos sejam infelizes?

–Isso é ridículo! Harry esbravejou. –Você se arrepende de ter aceitado o meu pedido de casamento?

–Não.

–Então nós não temos nada para pensar. Ele andou até a cama que Ginny estava sentada e a beijou. –Diferente de Cho, você é o amor da minha vida. É com você que eu quero acordar todos os dias, ter filhos e viver uma vida feliz.

–Harry, nós...

–Ginny, eu não me sinto feliz assim, há muitos anos e isso aconteceu porque eu te conheci. Você com esse seu jeito alegre de viver, sem ressentimentos e arrependimentos. Por favor, vamos deixar o passado para trás e viver o que temos hoje.

A melhor forma que Ginny encontrou para demonstrar que concordava com tudo que Harry havia dito, foi jogar-se em seus braços e beija-lo. O passado que ambos tiveram os levou a hoje estarem juntos, mas não havia mais importância e ficar relembrando e se arrependendo do que já tinha acontecido. O presente estava acontecendo bem na frente deles e o futuro, assim como os bebês, estava com os dias contados para chegar.