Já se passava da meia noite e ela ainda não havia chegado. Olhava pela janela ansioso, na esperança de encontrá-la vindo em sua direção. Porém, apenas o vazio da noite cobriu o espaço. Aquilo estava lhe incomodando, afinal, ela não era de se atrasar daquela maneira.
 Fechou as cortinas e adentrou seu quarto sem mais nenhuma esperança. Sabia que aquilo teria que acabar algum dia, afinal, era tudo tão errado e proibido. Ele era apenas um boneco e ela sua musa. Ela era tão viva, e ele tão morto. Aqueles pensamentos melancólicos apenas faziam com que se arrependesse de ter se tornado uma marionete. Aquilo podia ser feito da maneira certa, queria apenas ser humano para fazê-la feliz da maneira que merecia, mas a mesma se recusa a deixá-lo. Ou pelo menos recusava...
 - Me desculpe o atraso. – disse-lhe a dona daquela doce voz, entrando pela janela.
... Ou não. Era teimosa, e secretamente aquilo era o que mais gostava nela.
 - Sakura... – Ela arrepiou-se ao ouvir tal nome ser pronunciado com seriedade. – você sabe que isso não poderia durar para sempre.
 - Então você está terminando comigo? – havia um tom de medo naquela pergunta.
 Ele virou-se para fitá-la. Surpreendeu-se ao ver um sorriso largo depositado em seu rosto angelical. Incrível como há meio minuto ela parecia preocupada, e agora, estava sorrindo como uma criança inocente. Realmente, aquela garota era uma caixinha de surpresas. Desviou o olhar para os orbes de esmeralda e notou que os mesmos, apesar de seu sorriso, exalavam tristeza e preocupação. Ao ver aquele semblante triste, teve vontade de abraçá-la, acalmá-la, e garantir a ela que tudo estava bem e que não passava de um maldito mal entendido. Mas estava decidido, apenas a dispensaria de forma indiferente, afinam marionetes não tinham sentimentos, certo? Errado. Fazia aquilo justamente por amá-la. Mas que droga de sentimento altruísta!
 - Não há nada a terminar por aqui. Afinal, pelo que eu saiba, nunca nada foi ao menos começado. – disse com tamanha frieza. – Apenas... Vá embora daqui.
 Deu uma olhada rápida em direção da jovem, e obteve lágrimas como resposta. Se fosse humano, estaria chorando naquele momento. Desejava voltar com suas palavras, mas firme até o final manter-se-ia.
 Ela aproximou-se dele com os olhos ainda mareados. Tentou tocar-lhe o rosto, mas o mesmo recuou.
 - O que eu preciso fazer para lhe provar que eu o amo? – perguntou-lhe a garota, com a voz ainda fraca.
 Não obteve respostas. Aproximou-se dele e tocou-lhe a face, implorando com seus olhos que ele não se afastasse. O ruivo deixou-se levar por um breve momento, mas logo se recompôs, tentando afastá-la de si. Aquele toque apenas fazia com que desejasse nunca ter dito tais palavras.
 - Já lhe disse para ir embora. – depôs o ruivo, calmamente.
 A rosada o impediu de afastar-se mais ainda dela, envolvendo seu rosto com as mãos e aproximando suas respirações.
 - Eu te amo, Sasori-kun. – disse sua musa, com a respiração sendo dificultada, devido ás lágrimas que teimavam em correr pelo seu rosto. – Sei que provavelmente não sente o mesmo por mim. Mas não tente afastar-me de ti.
 - Como você pode amar alguém que nem ao menos é vivo? Entenda que não posso e nunca poderei fazê-la feliz. Vá atrás de algum humano.
 Apenas afastaram-se, encabulados. Sakura que não aceitava aquilo, aproximou-se e envolveu seus braços no pescoço de Sasori e iniciou um beijo repleto de... Amor. O ruivo abraçou a cintura da mesma e correspondeu. Esqueceu-se dos motivos que fizeram-no resistir aquele doce perfume de flor de cerejeira. Aquele toque macio. Aquele sorriso cativante. A ela. Simplesmente não resistia a ela. Sakura era sua vida, e ele sabia disso, apenas não queria admitir. Por que ela tinha que deixá-lo daquela maneira?
 Ela apartou o beijo e o olhou no fundo de seus olhos.
 - “Quem nem ao menos é vivo?” – enfatizou as palavras que lhe foram ditadas anteriormente. – Nesses últimos meses me senti muito mais viva do que em toda minha existência. Quero apenas você. Por favor, faça-me sua e de mais ninguém.
 - Não renuncies tua honra por pena, sei que ainda sente algo pelo Uchiha. – Sim, aquilo foi dito com uma pontada de ciúmes na voz. A vontade de tê-la apenas para si, mesmo sendo seu maior desejo, era algo inadmissível.
 Ela voltou a fitá-lo nos olhos. Aquelas esmeraldas sinceras, não seriam capazes de mentir para ele. Ela conseguia controlá-lo apenas com o olhar de uma criança inocente. Sabia que havia alguém sensível por trás daquela melancolia toda!
 - Uchiha Sasuke não passa de uma peça insignificante de meu passado. Ah, se eu pudesse mudá-lo...
 Ele se impressionou com a resposta da mesma. Embora não quisesse admitir, ela o fizera mudar, mesmo que isso não fosse notável aos olhos de quase todos. Mas apenas a opinião dela lhe importava. A opinião daquela que o fez sentir vivo, pela primeira vez.
 - Sei exatamente como se sente.
 Ela olhou aquele semblante que transmitia sentimentos de arrependimento e raiva. E rapidamente entendeu o que o mesmo queria dizer.
 - Sasori... Eu amo você do jeito que é. Não mude nada em si. Acredite, sentir a dor que eu sinto agora não é nada agradável. – exprimiu a garota, com os olhos cheios novamente.
 - Ora, não diga tamanha besteira, mulher! – explodiu o homem, com os olhos ainda arrependidos. – Ser uma pessoa normal... Se eu soubesse como a vida seria melhor, como eu poderia lhe fazer feliz. Mas não posso. E é por isso que eu peço novamente para que se retire.
 Arrasada. Não continha as lágrimas, que teimavam para descer. Não conseguia conter o choro abafado, causado por aquele que mais amava.
 - Não irei embora. – surpreendeu-lhe Sakura, desta vez mais confiante. – Irei lhe dizer mais uma vez. Você me faz sentir viva. Você me faz sorrir. Você me faz contar as horas para ver você. Amo e aceito você como é, seja um boneco ou não. Por favor, não tente me afastar, não terás sucesso nessa missão. Não amo Uchiha Sasuke... Eu amo você... Akasuna no Sasori. Pode ao menos me entender? Pode ao menos me dizer o que sente?
 Aquelas palavras definitivamente haviam mexido com ele. Quer dizer, não as palavras... Mas a garota que as pronunciava.
 - Eu... Você... Não imagina o quanto eu te... Amo. Sim, é isso. Eu amo você de maneira incontrolável, de maneira tão forte. E é exatamente por isso que quero deixar você livre, para viver com alguém que realmente possa fazê-la feliz. Marionetes têm sentimentos, mas os humanos não entendem isso...
 - Eu entendo! Eu amo você, peço que fique comigo! Irei lhe mostrar as belezas que existem no amor. Não preciso que um humano me faça feliz, quero apenas você. – havia uma pitada de esperança em sua declaração.
 - Tenho medo de que você se arrependa. – respondeu-lhe o ruivo.
 Ela o fitou nos olhos com uma expressão sorridente e viva, diferente da de uma hora atrás. Ele correspondeu ao seu doce sorriso.
 - Sei que nunca irei me arrepender. Amo você a cada dia mais.
 - Eu também. – disse o ruivo com um sorriso nos lábios.
 A rosada o puxou para um beijo apaixonado. Lágrimas se misturavam com o sabor de seus lábios. Lágrimas não mais de lástima e tristeza... Lágrimas que expressavam alegria. A alegria de finalmente se entregarem ao sentimento tão belo. Se abraçavam em silêncio, e os beijos que no início eram calmos, ficaram intensos. Se amaram com todo deleite. Se sentiram vivos... Mais do que nunca.