Aquele velho par de Los estava completamente imundo por causa de tanto uso. Já havia passado das 4 da manhã e não havia um pingo de sono em seus olhos. Ele perdia a noção do tempo quando ia para aquele lugar, excluído do resto do mundo inútil e colorido.

Pegou uma cadeira velha de praia azul e amarela que havia encontrado na pequena casa de madeira, simples e caindo aos pedaços, mas que para ele passava muito conforto, colocou a cadeira lá fora para se sentar e ver as árvores camufladas na escuridão, ouvir as rãs, grilos e outros pequenos insetos que por ali viviam e ficar sem pensar em absolutamente nada. Puxou d bolso de sua camisa xadrez desleixada um maço de cigarros, retirou um, levou até a boca e o acendeu.

– Que estupidez – disse ele para si mesmo com um sorriso irônico na cara, enquanto pensava nos dois dias que passará naquele lugar.

Continuara sem pensar em nada, deixara p barulho da água corrente do riacho que ficava por perto dominar seus pensamentos, e ficar ali parado, simplesmente sem fazer nada, deixar aquela liberdade de pensar no que quisesse dominá-lo.

Parecia que não tinha sexo, não tinha idade, apenas ficava vagando por aquela inútil cidade que ele havia deixado para trás por um curto tempo, não tinha aparência também por isso estava usando as suas roupas favoritas que eram sujas e horríveis para o resto das pessoas. Parecia que não tinha simplesmente nada, apenas aquela sensação de estar dentro de um buraco se sentindo tão pequeno, fora de controle, perdendo sua alma.

O cigarro havia acabado há um tempo e Los acendeu outro, já havia passado das cinco da manhã e ele nem perceberá. Estava extremamente focado no vácuo que havia em sua mente.

– Que porra que eu sou? – falou ele para si mesmo, como alguém que não estava pensando em nada conseguia se chamar de um pedaço de bosta? Como alguém que era um nada conseguia pensar em se chamar de um pedaço de bosta?

Ele pegaria a primeira arma que visse ali mesmo e acabaria com a própria vida de uma vez por todas, mas não, ele não queria estragar o único momento de paz e liberdade que teve até hoje, desde o momento em que nasceu. Naquele momento em que em sua cabeça passou a pensar em um suposto suicido, vieram suas lembranças ruins, e por menos incrível que pareça, eram muitas. Por segundos ele as viu se passar diante dos seus olhos e quis estourar seus próprios miolos por elas terem passado assim, em uma fração de segundos, carregando todas as emoções que foram sentidas em cada uma delas, mas todas juntas.

– Seu inútil! – gritando tão alto que fez certo eco nas árvores, ele estava cansado de acordar e se ver na porra do espelho em toda santa manhã.

– Por favor, me tire daqui! – gritou novamente desta vez, caindo lágrimas de seus olhos.

Ele iria acabar com a própria vida, mas vieram as pequenas e simples coisas que mais lhe importavam em mente.

– Los – disse uma voz saindo da casa – cara, acalme-se – era Sam, um dos seus melhores amigos.

– Eu sou um idiota – Los se ajoelhou e começou a chorar feito uma criança.

Ele sentiu os braços de Zoe, sua melhor amiga abraçá-lo por trás e dizer que ele não era um idiota, sua voz o acalmava. A voz de seus dois melhores amigos lhe deixava em paz, mas mesmo assim ele continuava a chorar.

– Que diferença vai fazer? Eu vou morrer nesse mundo doente – repetiu Los que tremia e estava mais pálido que seu normal.

Zoe e Sam depois de um tempo, conseguiram o levar para dentro da casa e lhe deram um copo de leite com achocolatado e biscoitos, algo que ele adorava comer a noite, e ficaram ali o observando comer em silêncio. Quando terminou ele colocou o copo na pia da cozinha e se virou para subir as escadas para ir deitar, mas antes disso Zoe o interrompeu.

– Não vai escovar os dentes? –

Sacudiu a cabeça negativamente.

– Quer ter cáries?-

E com isso ele se dirigiu ao banheiro sem nenhuma vontade, e escovou os dentes. Logo que terminou voltou a andar até o seu colchão que em vez de um lençol era uma toalha de mesa e um cobertor velho e um travesseiro macio. Ele se deitou e demorou um pouco para adormecer. Sam e Zoe vieram para ver como ele estava, tudo normal por enquanto, mas quando os dois viraram as costas, Los disse:

– Idiota – e pegou no sono para viajar no seu mundo de bons pesadelos.

Ele só queria sentir aquela incrível sensação de liberdade novamente. Era tanta liberdade que o deixava doente dele mesmo.